Olho de Enite escrita por Alex Sousa


Capítulo 3
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

□ Oi! Como vai a terça-feira de vocês?

□ Mais um capítulo recém saído do forno para vocês :')

□ Continuei com a escrita no ponto de vista do Henri. Nos encontramos nas notas finais?



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Minha garganta foi a primeira a sentir o gosto ácido oriundo do vomito. Esperei alguns minutos antes de abrir o olho, me recuperando do desmaio e me preparando para o que tivesse acontecido, ou o que estaria por vir.

Apurei o olfato, mas o único cheiro que conseguia sentir era o de vomito, sangue e suor, e por um momento deixei a mente se esvair do corpo, e relaxar antes de me levantar e ter segundos para estudar o ambiente: os espadachins eram treinados para isso, para sobreviver até mesmo nas piores situações.

Concentrei-me e tentei ouvir ruídos de conversas ou movimentação, e presumi que o local que eu estava era bem apertado e circular. Senti algo espetar o meu corpo, e recebi uma onda de dor após movimentar o braço bruscamente, e por um segundo evitei soltar um grito, beliscando a coxa.

Soltei um suspiro e abri os olhos, me levantando do local em que estava deitado. O braço latejou, mas senti um pano enrolado no ferimento, com alguma mistura grossa na cor laranja escorrendo pelos cantos. Estava sem camisa, deixando a mostra o tórax repleto de cortes de espadas e outras lâminas.

Meu corpo era bastante desenvolvido para uma pessoa de dezessete anos, tudo isso devido ao treinamento acirrado na academia de guerreiros: eram dias e noites segurando espadas pesadas, e treinando a resistência em lugares extremos. Meu cabelo era um pouco cacheado, e a pele era morena, características que quase toda a família possuía. Era alto o suficiente para te toda a massa corporal fosse bem distribuída, e parecia muito com um soldado da elite. Os olhos de um castanho bonito e a barba por fazer dava uma imagem de durão, coisa que nem sempre fez parte de sua vida.

O local era escuro, circular e bem apertado, como imaginara. Havia um buraco em uma das paredes, que provavelmente foi usado como entrada, e se não fosse pela vista embaçada, e a dor que atrapalhava a concentração, eu teria percebido alguma coisa.

O primeiro sinal de que algo estava acontecendo foi quando um grunhido alto e agudo pôde ser ouvido, vindo do lado de fora da pequena toca, seguido pelo barulho de flechas cortando o ar e alvejando alguma coisa que evidentemente foi acertada.

Balancei a cabeça para me recuperar e me arrependi pôs apenas trouxe mais dor de cabeça. Levantei-me e avancei até a entrada, me deparando com um caminho longo e grande que lembrava um galho, e por um instante ousei olhar para baixo: a queda era gigante, e dava de cara com rochas pontiagudas. Tentei me localizar, e presumi que estava acampado em alguma árvore Magna (árvores gigantes), o que não seria surpresa já que o caminho é repleto de uma vegetação bastante exótica.

Sentei na entrada da toca com as pernas ao redor do galho, e apurei a visão, vendo algumas silhuetas voando pelas árvores: grandes aves com as asas vermelhas, as pontas de suas penas brilhando como uma lâmina e seus bicos curvados ameaçadoramente apontando para outros corpos.

De relance vi Martim montado em uma das aves, a lança movimentando-se e fincando em algumas outras criaturas que recuavam e grunhiam revoltadas. Ursula finalmente aparecera, o arco armado com pelo menos três flechas no cordel, que em segundos cortavam o ar e avançavam contra algo que não consegui acompanhar. Nicolas apareceu flutuando próximo a mim, havia runas de frente ao seu corpo, que provavelmente era usado como um escudo defletor. Ele pousou na minha frente e arqueou a sobrancelha.

– Até que enfim acordou. – disse ele – Estávamos quase deixando você aí. Mas não seria nada eficaz e justo. Principalmente porque você foi mordido por um lagarto e quase morreu. Se não fosse a Ursula, que estava com o antídoto, meu amigo...

– Onde estamos? – cortei-o no meio da fala, indiferente.

– Estamos quase chegando. Conseguimos te deslocar um pouco, mas seria mortal se continuássemos... – ele ergueu o cajado e uma explosão seguiu contra uma das aves que se aproximava, fazendo-a sumir em meio a uma fumaça esverdeada. Ele voltou à atenção para mim, como se nada tivesse acontecido – E Martim acabou encontrando um ninho de Brumas, e acabou que toda a família se revoltou. E olha onde estamos! No meio de uma batalha.

Brumas são criaturas que lembram a aves, e dizem serem os parentes mais próximos dos extintos dinossauros. As brumas são bastante territoriais, e quando estão no período fértil, acabam ficando ainda mais agressivas e atentas a qualquer ameaça, sendo capaz de estilhaçar até mesmo sua própria espécie caso sintam-se ameaçadas.

– Ótimo. – solto um suspiro e me levanto, reparando em todo o corpo.

As pernas estavam sãs, então uma corrida não me traria problemas. O braço direito estava dormente e ainda doía, mas era aguentável, e seria suficiente para poder conseguir usar a mão esquerda para empunhar uma espada.

E foi apenas pensar na espada que me lembrei da adaga de Enite que meu tio me dera. E essa lembrança me recordou das quatro silhuetas antes de desmaiar.

– Quem eram as quatro pessoas que estavam lá no lago? – perguntei exatamente quando Martim passou voando em cima de uma Bruma e lançou a lança no tronco de uma árvore, para depois se jogar da criatura e alcançar o armamento, usando-o como um galho alternativo. Os cabelos encaracolados voando com sua movimentação exagerada, os braços fortes movendo-se com agilidade para pegar outra lança do suporte e usa-la para escalar a árvore, e a pele branca lembrava alguma espécie de selvagem.

Nicolas por sua parte lembrava alguma pessoa da realeza, os olhos azuis combinando com sua roupa clara, a pele branca e os cabelos tão lisos que dava para se ver onde a raiz tinha início, e o corpo magro e que aparentava ser fraco, mas que fazia qualquer um repensar seu ponto de vista ao mostrar o cajado quase do seu tamanho.

– Não tinha quatro pessoas lá no lago. Só eu, você e o Martim. – respondeu ele, encarando a aproximação de Ursula pelo galho próximo.

Ursula era uma garota alta, cabelo preto e olho esverdeado que se destacava por causa de sua pele bem clara. Havia um corte na bochecha esquerda que sangrava um pouco, e trazia consigo uma aljava vazia e um arco em uma das mãos.

– Precisamos continuar agora, já que ele acordou. – disse ela e acenou para minha direção. Respondi com outro aceno e pesquei minha mochila dentro da toca.

– Minha adaga. Vocês a viram? – perguntei, deslizando a mochila para as costas e ajeitando as alças no ombro. De início a dor foi evidente, mas acabei resistindo e comecei a segui-los pelo galho da árvore até outro ponto que parecia ter sido usado como base por eles.

– Não vimos nada, quando chegamos você já estava lá desmaiado. – respondeu Nicolas quando soltou o cajado de frente ao corpo e uma espécie de plataforma surgiu aos seus pés. Ele foi até o chão flutuando, e olhou para cima para nos procurar.

Ursula soltou um sorriso sarcástico, e tomou à dianteira. Pescou um objeto de seu cinto e o pressionou de modo a transforma-lo em uma flecha um quanto tanto diferenciado: a ponta parecia garras, e todo o seu corpo era feito de algum metal.

– Como vamos descer? – perguntei ignorando a risada e avistando de longe Martim chegar ao chão, acenando para Nicolas.

– Se segura em mim. – disse ela, e soltei um sorriso de nervoso. – Vamos logo. Se segura em mim.

Soltei um suspiro e me aproximei dela, enlaçando sua cintura com as mãos.

Senti quando ela puxou o cordel do arco com a mão esquerda e lançou a flecha de metal, fazendo-a pregar-se em um dos troncos mais baixos. E despreparado fui puxado junto à garota para baixo.

Ela deve ter sorrido de meu desespero, pôs ouvi o barulho sarcástico, ou posso ter me enganado, já que o vento batia fortemente contra meu rosto, e assoprava meus ouvidos.

Aproximei-me ainda mais do corpo dela para evitar que acabasse soltando, e inalei seu perfume. Era uma mistura de flores do campo com madeira, e eu ficaria por mais tempo ali senão fosse por quando pousamos.

Desequilibrei-me e parei desajeitado no chão, quase caindo. Ursula pousou perfeitamente no chão e balançou a cabeça em desaprovação, voltando-se a flecha e a pegando de volta do tronco.

~●~

Ursula havia decidido cobrir nosso caminho pelas árvores, e desapareceu mata adentro.

Nicolas e Martim andavam na frente, e o peso da espada na bainha me desesperava. Parecia que precisava ser retirada de seu descanso e usada para esfolar algo.

Balancei a cabeça e continuei com o caminho.

Andamos por alguns minutos, vislumbrando os primeiros resquícios do reino de Uja mais à frente: pontos e mais pontos altos apontando para o céu como se o ameaçasse. Uma bandeira balançava em um mastro no ponto mais alto do reino, e de longe se via a figura de um tubarão dourado, com os dentes à mostra.

Ouvi Martim soltar um suspiro de alívio, bem quando uma movimentação nem um pouco furtiva ameaçou vindo de algum dos lados.

Foi questão de segundos e instintivamente nós três fizemos uma formação, um de costas para o outro, de modo a proteger o ponto cego do parceiro. E soltei um sorriso quando puxei a espada da bainha e uma leveza tomou conta do meu corpo, como se toda uma energia aglomerada ali tivesse fluído.

E todo meu corpo cambaleou quando Ursula se jogou em nossa direção, cortes jorrando sangue por toda parte e o cabelo sujo de lama e outras coisas que não tive tempo de reparar. Ela segurava o arco armado com uma flecha, e respirava pesadamente.

– Eles me pegaram. Metamorfos... – ela bufou e se aproximou ainda mais. Usou a mão direita para puxar o cordel do arco e atirar contra alguma coisa dentro da mata, e por um instante cogitei a ideia de me aproximar.

– Mas o que...? – outra silhueta saltou de cima de uma árvore e pousou próximo a mim. Devo ter pirado no momento, pôs era a imagem exata de Ursula, a mesma que estava machucada do outro lado.

– Duas Ursulas. – cochichou Martim para si mesmo, e puxou duas lanças de seu suporte. Ele tomou a iniciativa e lançou cada um dos armamentos nas duas mulheres.

A primeira e mais machucada desviou a lança com o arco com tanta facilidade que de longe chegaria a acerta-la. Já a segunda Ursula teve pouco tempo de reação e se jogou ao lado em última hora, recebendo um corte de raspão em seu braço esquerdo.

– Temos uma perdedora. – disse ele e lançou outra lança contra uma das garotas.


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Notas finais do capítulo

□ !!!!!!

□ Que bom que você leu todo o capítulo, ou eu acho que leu. O que você achou? Deixe seu comentário, clique em acompanhar, pois isso me ajuda bastante. Qual será a Ursula de verdade? O que está acontecendo? Quarta-feira, no fanfic repórter.

□ Obrigado pela leitura!