RED velvet escrita por Juliana Moraes


Capítulo 9
Just the truth


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, fico feliz com os comentários e pela atenção que estão dando a essa estória.

Tenham uma boa leitura e passem mais tarde nos comentários para tomar uma xicara de café.



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Londres; The West End; Departamento de polícia; Segunda-feira; 11pm.

– Bom dia rapazes. – Caminhei em direção a minha mesa, onde uma pilha de pastas estavam ocupando o pouco espaço que ela possuía.

– Bom dia Lottie. – Derik e Ethan me cumprimentaram em um único som, como uma canção que não deu certo.

Encarei Jasper na mesa em frente a minha, ele parecia preocupado demais para me desejar um bom dia, ou fazer qualquer outra coisa que não fosse escrever em sua agenda antiga.

– Alguma novidade? – Perguntei analisando o quadro, que ainda estava do mesmo jeito que deixei.

– A tinta usada no museu é idêntica a usada em Westminster. – Derik encostou sem corpo em minha mesa para poder me atualizar. – O avião foi queimado e controlado por substâncias químicas, e adivinha? Após as cinzas serem limpas, toda a extensão do avião tinha 457 estampado.

– Avião, veludo vermelho, loiras de olhos azuis. O que ele quer nos dizer? –

– Que ele tem bom gosto? – Ethan brincou admirando as fotos das vítimas. – Elas se parecem com você, Lottie. – Esse comentário inofensivo mudou completamente o rumo dos meus pensamentos.

Passei a observar as fotos das garotas no quadro branco, qualquer semelhança na cor do cabelo e dos olhos podia ser apenas mera coincidência, mas em minha cabeça tudo se tornou um sinal perturbador. Como é que o assassino as encontrou? Porque ele estava fazendo isso, justo com garotas que contem essa mesma característica? O que eu faria se estivesse no lugar delas? Existem milhões de perguntas sem respostas sobre esse caso.

– Nove garotas com as descrições que você me passou estão desaparecidas. – Jasper despertou-me de meus pensamentos ao jogar uma lista com nomes em cima de minha mesa. – Contatei a família de todas, e por coincidência ou não, o último lugar em que foram vistas foi no bairro Shoreditch.

– Temos um ponto de encontro. – Sorri animada com a informação, mas ele não fez o mesmo contendo um olhar depressivo como jamais vi antes. – Está tudo bem?

– Desde quando você se importa? – Toda grosseria do mundo parecia habitar seu corpo. – Se quer ir para Shoreditch, então vamos logo. – Pegou as chaves do carro, que estavam em cima da montanha de pastas, e caminhou em direção a porta.

~X~

Londres; Shoreditch; Pub&Art; 1pm.

Tentei não me importar com o mau humor de Jasper, que insistia em ser grosseiro comigo a cada dois segundos.

O sorriso torto e radiante que ele possuía parecia uma lembrança distante agora. Até mesmo sua postura de galã dos filmes de Holywood havia desaparecido.

– Ninguém lembra de ter visto essas garotas. – Murmurou assim que voltou de uma conversa demorada com o dono do pub, cuja as garotas foram vistas pela última vez. – Acho que podemos ir embora. – Seus olhos vermelhos não me encararam por nenhum segundo sequer, como se eu não estivesse ali em nenhum momento.

– Espera só mais um minuto. – Cambaleei rapidamente até o balcão, onde um garçom servia alguns drinks, e me apoiei no mesmo. – Olá. – Murmurei jogando todo o charme feminino que eu sabia que existia em mim. – Meu nome é Charlotte, e o seu? – O rapaz me encarou sorridente e após servir os senhores ao meu lado, se aproximou dando toda a atenção para mim.

– Vincent. – Seus cotovelos se apoiaram próximos do meu. – Em que posso ajudar, Charlotte?

– Preciso muito saber se já viu essas garotas nesse mesmo lugar. – Mostrei a foto de ambas as vitimas, e de algumas outras que estavam desaparecidas, provavelmente com o nosso assassino 457.

– Eu me lembro dessa. – Apontou para Alisson. – Sempre aparecia aqui nas noites de quinta-feira, com um grupo de amigos. Temos ótimas promoções durante a semana... nunca te vi por aqui antes, Charlotte.

– Não costumo frequentar Shoreditch. – Admiti sendo sincera. – Mas, quem sabe eu não volte na quinta-feira. – Pisquei para ele e retirei um cartão de meu blazer azul marinho. – Se lembrar de alguma coisa sobre essas garotas, me liga. – Ele pegou o cartão com todo cuidado que um homem poderia ter e guardou-o no avental preto imundo. – Temos um encontro na quinta-feira. – Sussurrei para Jasper, que mais uma vez, resmungou incomodado.

O caminho parecia ter dobrado a distância com o silêncio avassalador de Jasper. Não importa o quão irritante ele possa ser com aquele sorriso, extremamente bonito, no rosto, vê-lo assim era mil vezes pior.

Pensei em perguntar novamente se algo estava acontecendo, mas ele não responderia às minhas gentis perguntas, não hoje.

– Preciso abastecer. – Estacionou no posto, algumas quadras do departamento, e desceu do carro ao pegar sua carteira.

Sua maleta estava em meu pé e um envelope, escondido atrás dela, estava me incomodando um pouco.

– Uma olhadinha não faz mal. – Rapidamente abri a pasta e retirei algumas fotos do arquivo, para que pudesse devolve-la antes que Jasper percebesse uma movimentação estranha no carro. Aumentei o zoom da imagem no máximo, lendo cuidadosamente cada palavra escrita.

“ ... após uma perícia detalhada sobre o caso 4821, o departamento de polícia de Dublin, deduziu segundo provas e evidências analisadas, que o policial James Conan West suicidou-se...”

Ao ler aquela parte do texto deletei todas as demais imagens, me sentindo culpada por ler algo tão íntimo de alguém.

Esse era o motivo do mau humor, totalmente compreensível, de Jasper. Ele havia descoberto que seu pai suicidou-se sem motivos aparentes, e isso derreteu meu pequeno coração de gelo.

– Não vamos voltar para o departamento. – Murmurei assim que ele entrou novamente no carro. – Quero te mostrar um lugar... – Peguei a chave de sua mão e, delicadamente, obriguei-o a trocar de lugar comigo para que eu dirigisse.

~X~

Londres; Kensigton; Studio’s apartamento; 3:17pm.

Pedi para que Jasper me acompanhasse entre os tantos degraus que a escada para o terraço possuía. Ele permaneceu em silêncio, com um olhar confuso que poucas vezes me encarou hesitando em me perguntar “ O que está acontecendo?”.

Havia dois bancos de madeira perto do baixo muro do terraço, a altura era indiscutivelmente alta, mas a vista parecia ser de outro mundo.

– Por muito tempo, quando eu me sentia triste, meu pai me trazia aqui e falava que olhar para essa cidade maravilhosa colocaria um sorriso no meu rosto. – Segurei sua mão, não compreendendo meus atos, e guiei-o até o banco. – Muitas vezes isso funcionou.

– Qual sua intensão em me trazer aqui, Charlotte? – Seu mau humor não havia se amenizado, e eu sabia que isso não ocorreria tão rápido.

– Boas intensões, acredite ou não. – Sentei no banco ao lado dele e admirei a linda vista em minha frente. – Quando meus pais morreram, eu passei dias aqui em cima... como se pudesse estar mais perto deles por um momento. – Ri ao lembrar dos terríveis dias em que passei. – Eles eram tudo para mim e só Deus sabe o quanto sinto falta deles. – Encarei Jasper, que estava com os olhos aguados. – Mas quando vejo o quanto o mundo se tornou terrível, eu sinto inveja por eles estarem em um lugar melhor do que eu... era para eu estar naquele avião. – Não tinha certeza de que ele estava atento as minhas palavras, mas eu precisava dizer isso em voz alta.

– Meu pai se matou, Charlotte. – Eu sabia que a magia do terraço faria com que ele falasse o que estava entupindo seu coração. – Ele era meu melhor amigo, minha mãe, meu pai, tudo. Tínhamos problemas como qualquer outra família, mas e daí? – Voltou a encarar o topo do Big Ben, muito longe de onde estávamos. – Ele era viciado em jogo, entrou em dividas que não teríamos como pagar mesmo se vendêssemos tudo... a única forma de acabar com isso era sua morte. – Ele engoliu a seco todas aquelas palavras e encarou o chão demonstrando toda a dor que habitava seu corpo. – Podíamos dar um jeito, juntos. Mas ele escolheu me deixar, escolheu pagar a divida do jeito mais cruel que poderia existir e agora... – Seus olhos inchados me encararam fixos. – Eu não tenho ninguém.

– Jasper, sei que pode me doer dizer isso em voz alta, mas você pode contar comigo. – Segurei sua mão, recebendo um fraco sorriso torto como resposta.

– O que faria no meu lugar?

– Eu não sei. – Admiti. – “ O passado não pode ser curado.” – Citei uma frase da querida Rainha Elizabeth I. – Talvez seguiria em frente já que foi uma decisão deles, mesmo que isso cause severos danos. – Respirei fundo. – Se eu descobrisse que meus pais se mataram ou foram mortos naquele voo... – Encarei o nada como se o vento batesse em meu rosto me acordando para a realidade. – Voo 457!


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Notas finais do capítulo

See ya later xx