RED velvet escrita por Juliana Moraes


Capítulo 6
Big Ben


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo seguido do outro só porque hoje é meu BIRTHDAY!

Boa leitura!



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– Você fala como se fosse um assassino. – Murmurei friamente, permitindo-me a dar uma bela garfada na refeição em minha frente.

– Talvez eu veja filmes demais. – Ele riu fazendo o mesmo que eu. – Eu não sei nada sobre você, detetive Reid.

– Charlotte. – O corrigi. Apesar de gostar muito de ser chamada de detetive, acho que quando o expediente acaba Charlotte é sempre a melhor opção. – O que quer saber sobre mim?

– Seu namorado não ficará bravo se descobrir que passei a noite aqui?

– Não tenho namorado. – Sorri não me importando em responder as perguntas que eu sei que ele começaria a fazer.

– Ethan não é seu namorado? – Seus olhos castanhos me encararam com certa curiosidade.

– Por que achou isso? – Perguntei dando de ombros, já que ele não era o primeiro a pensar que Ethan e eu tínhamos uma relação amorosa.

– Ele é o único que te trata com apelidos dentro do departamento, achei que...

– Achou errado. – O interrompi sabendo quais seriam suas próximas teorias.

Um devastador silêncio se formou na pequena sala de estar. Ambos já havíamos terminado a refeição e toda a garrafa de vinho, parecíamos incomodados com a presença do outro, como duas crianças que são obrigadas a fazer amizade pois seus pais são amigos muito próximos.

– Estava delicioso, obrigada.

– Eu?

– O jantar. – Sorri achando graça no jeito desleixado que ele demonstrava. – Mais alguma pergunta sobre mim? – O encarei seriamente enquanto retirava os pratos da mesa, para leva-los a lava-louça.

– Porque me perturba tanto? – Dessa vez, suas expressões não demonstravam nada além de seriedade.

– Nunca tive intensão nenhuma de perturbar você. – Respondi friamente, não entendo o que ele quis dizer com aquela pergunta. – Se o fiz, peço desculpas.

– O problema deve estar em mim. – Ele me ajudou a colocar as coisas no devido lugar.

– É mais provável que sim. – Sorri ao vê-lo fazendo caretas de reprovação em relação ao que eu havia dito.

Peguei alguns cobertores e travesseiros de dentro do meu armário e deixei-os em cima do sofá para que Jasper se ajeitasse.

Um certo desconforto me atingiu por saber que teria toda visão sobre ele, e ele sobre mim, durante toda a noite. Desvantagem em viver em um estúdio.

– Estou com um pouco de sono... – Observava-o se ajeitar no sofá de couro marrom. – Tudo bem dormir no sofá? – Preocupei-me.

– O sofá não será nenhum problema. – Ele sorriu retirando a camiseta de manga longa que vestia.

Uma enorme tatuagem de dragão foi revelada desde seu peito até sua costela, fazendo que cada detalhe do seu corpo definido me desse arrepios.

Senti minhas bochechas corarem após vê-lo rindo do meu olhar malicioso que caminhou por cada centímetro do seu torso nu. Ele parecia não se importar com isso, achando graça em tudo o que eu fazia.

– Boa noite, West. – Fui em direção a minha aconchegante cama, deitando-me e apagando as luzes que haviam ali.

– Tenha bons sonhos, Charlotte.

~X~

Londres; Kensigton; Charlotte’s studio; Quinta-feira; 7:25 am.

Acordei mais cedo do que de costume, devido a presença perturbadora de Jasper em meu sofá.

Preparei um café expresso forte, do jeito que gostava, e sentei na varanda para ler um livro, ou pelo menos tentar, já que o ronco do meu colega era ensurdecedor.

Observei atentamente a rua em movimento, meu carro estacionado sobre o gelo agora derretido e as pessoas que passavam por ali sempre tão rapidamente, cada uma seguindo um rumo diferente. As mães mais preocupadas passavam com seus filhos entupidos de casacos, pobres crianças que não conseguiam se mover devido o tamanho de suas roupas; Executivos passavam falando ao telefone, sempre com uma maleta na mão e voz firme como se estivesse xingando alguém; Carros extremamente caros, devido as mansões que existiam ao redor, e muita pressa em chegar ao lugar destinado.

Estamos sempre com pressa, sempre imperfeitos. Nosso ponto de chegada sempre estará lá e mesmo assim insistimos em correr para alcança-lo. O número de coisas que está ao nosso redor e deixamos de ver por causa da correria do dia a dia, é infinita. Muitas vezes uma canção tocando no rádio de alguém pode fazer você seguir mais leve, mas isso não acontece pois a pressa será sempre a prioridade da modernidade.

– Bom dia, detetive. – Jasper despertou-me de meus pensamentos.

– Olá, West. – Encarei seu sorriso estonteante e seu torso ainda nu como se algo o ilumina-se, como se ele fosse o próprio sol. – Ainda é muito cedo.

– E o que faz acordada tão cedo? – Ele parou ao meu lado para observar o mesmo que eu.

– Admirando as pessoas. – Ele procurou algo a ser admirado na rua suja que eu observava. – Aquele homem... – Apontei delicadamente para o rapaz que passava. – Todos os dias ele passa por aqui, sempre empurrando o carrinho do filho, com a mochila de super-herói nas costas. Quando está chovendo ele segura o guarda-chuva sobre o garotinho e permanece se molhando até chegar a seu destino... ele nunca está com pressa e nunca o vi sem um sorriso no rosto, mesmo quando está debaixo de tempestades. – Sorri para Jasper que agora tinha as mesmas expressões que eu. – Há coisas que merecem ser admiradas.

– Ele é sozinho? – Parecia interessado.

– Uma gangue atacou sua esposa matando-a, ela ainda estava grávida e o parto teve que ser feito as pressas... eu prometi a ele que pegaria o culpado. – Engoli a seco lembrando dos detalhes desse caso. – E quando fiquei cara a cara com o assassino, o matei, sem nem pensar nas consequências.

– Matar faz parte de ser da polícia. – Parecia tentar me confortar com suas palavras.

– Quando alguém ameaça, sim. Quando alguém se rende, não.

~X~

Londres; The West End; Departamento de polícia; 2:34pm.

– Alguma novidade sobre o caso, detetive Reid? – Harry entrou na sala e caminhou em minha direção. – Precisamos dar alguma resposta para a mídia.

– Nada ainda, senhor. – Respondi sem desgrudar meus olhos do quadro em minha frente. – As poucas digitais encontradas são das faxineiras que encontraram o corpo, seria impossível que elas tenham feito isso. O polônio no vestido tinha a quantidade exata para matar uma pessoa e não ser radioativo. Quem está fazendo isso não quer matar ninguém que não seja de sua escolha...

– Temos que para-lo antes que outra vitima seja feita. – Ele deu leves tapas na costa de Ethan. – Peguem-no.

Não poderíamos chamar nosso assassino de serial killer. Esse era o nome dado à alguém que mata mais de três pessoas usando o mesmo método e a mesma assinatura. 457 matou duas pessoas, pelo menos que nós sabemos, e ambas usando métodos diferentes. A probabilidade de que ele venha a se tornar um serial killer era gigantesca, afinal, crimes como o do museu de cera não acontecem somente uma vez, eles acontecem para serem mostrados.

– Lottie, o sangue seco encontrado na cena do crime mostrou o DNA de um homem, sem fichas no sistema.

– Não temos um nome. – Deduzi. – Quem é esse filho da ...

– Pessoal, liguem a TV. – Derik entrou na sala com uma caneca de café na mão procurando o controle desesperadamente.

As pinturas feitas na rua de frente ao parlamento, dizem 457, o tom de vermelho assustou a maioria das pessoas que passavam por aqui ao ir em direção ao trabalho. – Uma imagem aérea mostrou a rua de Westminster, toda extensão pintada de vermelho e 457 escrito várias vezes. – Nada foi informado sobre esse caso e vídeos da câmera de segurança das ruas, foram pichadas para que rostos não fossem revelados...

– Westminster, agora! – Harry entrou na sala para pegar a chave do carro e nos dar uma nova ordem.

~X~

Londres; Westminster; Parlamento Inglês; 4pm.

Toda a rua foi interditada para que nosso trabalho pudesse ser feito. A claridade dos raios de sol por trás da nuvem, dificultavam o processo de luminol e de recuperação de digitais. Muitas pessoas passavam por lá curiosas, principalmente turistas que encaravam aquela investigação como algo digno de uma foto.

Harry tentava manter todos os repórteres calmos, sem deixar que nenhuma informação sobre o caso escapasse por sua boca.

– Lottie, achei cinco latas de spray vermelho na lixeira. – Ethan apontou para a lixeira revirada, e mostrou as latas ensacadas como se fossem algum troféu.

Jasper e Derik espirravam luminol por toda área em que a tinta vermelha estivesse, deixando todos surpresos quando toda a rua pintada de vermelho começou a brilhar em tom de azul, com a reação do luminol com o sangue.

– É sangue. – Jasper murmurou pra mim e começou a coletar amostras para analise. – Temos que coletar tudo, não pode conter somente o sangue de uma pessoa...

– Polícia... polícia! – Um rapaz, muito bem arrumado, saiu do parlamento e correu em minha direção desesperado. – Policial... tem uma mulher pendurada no relógio! – Ele apontou para o famoso Big Ben e segurou meus braços com força. – Tem alguém lá dentro! – Sua voz era tão sufocante quanto os seus dedos ao redor de meu braço.

– Aqui é detective Reid, reforços para Westminster no Parlamento Inglês. – Peguei o pequeno rádio de contato em meu bolso e murmurei ofegante aquelas palavras. – Repito. Reforços para Westminster no Parlamento Inglês. – Retirei a arma do meu bolso e entrei no parlamento, onde inúmeras pessoas começaram a sair desesperada. – Harry, não deixe ninguém sair sem identificação! – Gritei para o superior sabendo que ele voltaria atrás daquelas pessoas para orienta-las.

Derik, Ethan e Jasper estavam logo atrás de mim. Todos armados e preparados para o que viesse a acontecer.

Era nessas horas que meu coração batia tão forte quanto as batidas de um tambor. O medo percorria minha espinha, mas como sempre, eu fingia que ele não existia, ele não poderia existir nesse trabalho.

– Derik e Ethan, vão pela esquerda. – Havia duas escadas que nos levavam até o grande relógio. – Jasper, comigo pela direita. – Nos separamos e cuidadosamente subimos os degraus, tentando ao máximo não fazer nenhum barulho.

Uma porta impedia nossa passagem, estava trancada e antes que eu pudesse pensar em algo, Jasper me empurrou para trás e arrombou a porta com uma das pernas musculosas que ele deve ter. Revistamos todo o lugar rapidamente e sem nenhum suspeito, seguimos para o próximo andar.

Mais alguns lances de escada e estávamos no maquinário do relógio, de frente com uma mulher pendurada em uma corda. Cabelos loiros, pele pálida, olhos fechados, pulso mutilado com os números 457 e um vestido de...

– Veludo vermelho. – Jasper sussurrou começando a tirar fotos enquanto eu revirava o pouco espaço que tínhamos em busca de alguma pista.

Um ensurdecedor barulho de arma disparando ecoou pelo meu ouvido, me deixando alerta.

– Era só um rato Derik! – Ethan parecia brigar com o moreno que acabara de atirar em um camundongo imundo. – Nada. – Ele murmurou cabisbaixo após chegar no maquinário. – E ele ataca novamente...

– Gosta de chamar a atenção, não se importa em ver sangue... tortura. – Tentava montar um perfil rápido sobre nosso assassino enquanto ligava para Harry. – Preciso de Lauren aqui, o mais rápido que ela conseguir. – Desliguei e encarei os três rapazes que me olhavam sem saber por onde começar. – Conforme descemos desse labirinto, vamos analisando o local... sem matar nenhum bichinho Derik. – Sorri empurrando Jasper, para que ele andasse rapidamente.

~X~

Londres; The West End; Sala de interrogatório; 5pm.

Toda poeira e imundice que existia na torre do Big Ben dificultou nosso trabalho, era como procurar uma agulha no palheiro, e isso nos fez voltar para o departamento com as poucas evidências que tínhamos.

– Chris Torrent... – Entrei na sala de interrogatórios pronta para conseguir respostas. Comecei a colocar as fotos das vítimas em cima da mesa, em sua direção e analisei atentamente suas expressões, que continha muita repulsa. – Já viu algum desses rostos antes? – Perguntei cruzando o braço e parando ao seu lado.

– Eu não sabia que Richard estava morto... – Ele abaixou a cabeça para não encarar as torturantes imagens, mostrando o primeiro sinal de que não era nosso assassino. – Ele me entregava fertilizantes químicos fortes e por um preço muito bom.

– E quanto as mulheres? – Puxei a primeira vítima para mais perto.

– Nunca a vi. – Revirou o rosto.

– O que tem a me dizer sobre polônio 210? – Caminhei ao redor da mesa, ficando em sua direção e o encarando corajosamente.

– É um veneno muito radioativo, não precisa mais de duzentos grays para matar uma pessoa... por que está me perguntando essas coisas? – Finalmente ele me encarou, seu olhar confuso tentava não observar as imagens em sua frente.

– Estamos em busca de um assassino, Senhor Torrent. – Retirei as fotos da mesa, colocando-as de volta na pasta. – O assassino que eu procuro não teria repulsa em ver uma morte como essa, você passou no teste, mas sugiro que qualquer informação que obtenha nos informe em primeira mão, ou será dado como cúmplice e pegará férias de vinte e cinco anos na prisão. – Sorri vendo-o assustado e pedi para que os policiais acompanhassem-no até a saída do departamento.

Dez interrogatórios foram feitos, as mesmas perguntas, o mesmo método usado com as fotos, tudo feito com muita descrição e profissionalismo. Cinco pessoas tiveram repulsa em suas faces após ver as imagens em sua frente, apenas dois conheciam Richard devido suas entregas ilegais que danificavam o meio ambiente. Ninguém se encaixou no nosso perfil de assassino, nenhum interrogado parecia mal o suficiente para os crimes que haviam acontecido.

– Elas são parecidas. – Jasper estava ao meu lado observando as fotos das vítimas. – Loiras, olhos azuis, poderia até dizer que eram irmãs...

– Nossa última vítima se chama Megan Lannes, estava desaparecida a mais de quatro semanas, assim como a primeira. – Lauren nos entregou fotos do corpo e toda autópsia. – Marcas no pulso que diziam 457, coordenadas e linhas pontilhadas na costa, envenenamento por polônio 210 e, a única coisa diferente, é que todo seu sangue foi drenado.

– Obrigada Lauren. – Sorri para minha amiga, que pegava a bolsa rumo a sua casa. – Ethan, a analise de tinta e de digitais já estão prontas? – Gritei para meu bom amigo do outro lado da sala.

– Amanhã. – Murmurou desanimado.

– Esse desanimo merece várias doses de tequila. – Propus. – O que acham?

– Se você prometer ficar bêbada, eu vou. – Jasper me encarou malicioso como se somente nós dois estivéssemos ali.


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Notas finais do capítulo

Utilizo muitos ~X~ pois gosto de separar as cenas como se fossem um filme.

Não deixem de adquirir uma cópia do meu livro ( foi primeiramente publicado no Nyah! ) http://www.protexto.com.br/livro.php?livro=706

Fica mais fácil de entender o que está acontecendo.

See ya later xx