RED velvet escrita por Juliana Moraes


Capítulo 21
Homeless




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Londres; Brixton; Reid’s old house; 3pm.

Não era dificil encontrar o caminho para minha antiga casa. Brixton não ficava muito longe de Londres e era um caminho fácil se seguir todas as placas que a estrada disponibilizava.

Na metade do caminho percebi que havia esquecido minha maleta de evidências, lembrando que somente algumas luzes estavam no porta malas do meu carro, e talvez não funcionassem muito bem.

Algumas ruas antes de chegar até o meu destino, parei em uma loja de conveniências gerais. Uma boa detetive sabe como improvisar os materiais de perícias, pelo menos os mais importantes.

Caminhei entre as prateleiras pegando tudo o que me serviria. Alguns grafites para lapiseiras, uma lupa, algumas pinças com diferentes pegadores, alguns sacos plásticos com lacradores, envelopes, luvas de látex, desodorante aerossol, chave de fenda, fita adesiva, pincel, lanterna e cotonetes.

Mais dois minutos dirigindo e estava em frente a antiga casa onde boas lembranças aconteceram.

Tive consciência de que toda casa tinha algo para ser investigado, mas começar por um cômodo que não fosse o porão, seria perda de tempo.

Estava tudo do jeito que eu havia deixado. Até mesmo as teias aranhas estavam do mesmo jeito que me lembro da última vez que estive aqui, com Jasper.

Encontrei uma pequena abertura no chão de madeira, muito bem parafusado e oco.

Posicionei a lanterna em minha direção e coloquei as luvas de látex, para que nenhuma digital minha fosse encontrada em evidências importantes, que eu esperava encontrar. Ajoelhei em frente a tábua de madeira, que eu estava prestes a abrir, e deixei a arma ao meu lado, por precaução. Em um pequeno pote, com a chave de fenda, amassei todo o grafite até que ele virasse um pó fino e brilhante e com o pincel, de cerdas finas e redondas, despejei todo o pó de grafite sobre os parafusos e sobre a madeira.
Rapidamente foi possível ver as digitais deixadas ali. Algumas maiores do que outras, pude deduzir que se tratavam de digitais masculinas e femininas. Com um pedaço de fita adesiva, retirei as digitais do piso e as guardei cuidadosamente em um envelope, cada digital em seu devido lugar.
Havia uma digital que parecia gordurosa e com a ajuda da lupa tentei identificar alguns sinais com as demais digitais encontradas, elas não batiam. O pós de grafite não fixa em digitais com resíduos gordurosos como a que eu acabara de encontrar, portanto, usei o desodorante aerossol para que as saliências fossem possíveis de serem analisadas. Refiz o mesmo com a fita adesiva, marcando no envelope, com caneta vermelha “ Importante”. Este seria o que eu analisaria primeiramente.

Desparafusei a madeira e encontrei um pequeno baú antigo, em mármore preto e verde musgo. Parecido com a caixa de joias que minha vó possuía, porém em um tamanho menor e com um cadeado de cobre impedindo que qualquer outro o abrisse. Utilizei a lupa novamente encontrando um fio de cabelo castanho avermelhado, não combinava com minha mãe nem com ninguém que eu conhecesse. Com a pinça de pegador fino, retirei o cabelo de cima do baú e guardei-o em um envelope.

Segurei o baú cuidadosamente, sentindo o peso do objeto. Tentei abri-lo com a chave que sempre esteve no colar que eu ganhei do meu pai, e para minha surpresa o baú abriu revelando inúmeros envelopes brancos, todos com evidências do caso antigo.

– Digitais, fios de cabelo, DNA suspeito... Confirmação do suspeito. – Li as marcações no envelope e na mesma hora soube que não poderia abri-los para uma espiada.

– Lottie! – Jasper me chamou do topo da escada, para que eu não me assustasse.

– Jas! Encontrei evidências que confirmam o suspeito. – Mostrei os envelopes para ele, que sorriu com minha coragem de estar em um porão imundo e escuro, sozinha. – Só tem uma coisa... como vamos fazer a analise dessas evidências?

– Temos que contar para a equipe, todos precisam saber. – Ele se ajoelhou ao meu lado e colocou luvas para me ajudar. – Olha... tem um envelope com seu nome. – Ele me entregou após apalpar o conteúdo do mesmo. – Parece um pedaço de papel...

Retirei o papel, várias vezes dobrado, de dentro do envelope e o li em voz alta.

– Chareid’s Pub, 34, local street, Southbank. Um endereço. – Rasguei o papel após decorar o endereço informado. – Temos que ir até lá.

– Temos que marcar uma reunião com todos. – Ele segurou minha mão, impedindo-me de levantar. – É importante que todos saibam, Lottie.

– Mais proteção para mim? – Ironizei, mesmo sabendo que era o que ele queria. – E quanto a você? Quem vai te proteger do meu caos?

– Se você é o caos, não me importo em ser ferido.

~X~

Londres; Southbank; Claireid’s Pub; 6pm.

– Todos estarão em nosso apartamento oito horas. – Jasper desligou o telefone enquanto estacionava perto do local indicado.

– Podemos caminhar por Southbank antes de entrar no pub? – Perguntei assim que desci do carro.

Eles deu a volta no carro, elegantemente, e chegou ao meu lado em um instante. Segurou minha mão fria e entrelaçou nossos dedos me puxando para mais perto, para que pudéssemos caminhar à beira do rio Tâmisa.

O tempo mudava gradualmente. Era fim de primavera e o casaco não era tão necessário quanto nos finais de tarde de outono, mesmo assim, casaco era sempre necessário para esconder uma arma sem que ela tire toda sua atenção.

Sentamos em um dos bancos vagos e admiramos a London Eye, que aumentava seu brilho de acordo com as luzes do sol que desapareciam. Me deliciei com a companhia de Jasper, que me fazia rir com coisas que eu encarava como sem graça. Ele me fazia sentir o mundo e não apenas vive-lo. Uma coisa importante que tenho em mente, desde o primeiro momento em que o vi, é que nada é por acaso. Nenhum encontro acontece por coincidência. Há mais entre o céu e a terra do que possamos imaginar e o destino faz parte do milagre envolvido. Mesmo no meio de tanta loucura, eu nunca me senti tão feliz como estava com ele.

– Eu tenho medo que minhas forças acabem. – Sussurrei sentindo uma leve brisa atingir meu rosto me obrigando a fechar os olhos.

– Se suas forças acabarem, você pode usar as minhas. – Seus braços envolveram meu corpo, me puxando para mais perto. – É engraçado ouvir você dizer que está com medo, quero dizer... você não parece ter medo de nada. Você usa três armas quando está de tpm. – Ele riu me fazendo corar.

– Tenho medo de acabar morta pelo emprego que escolhi, temo que minha coragem acabe e que você desista de mim pelo caos que eu sou. – Tentei não encara-lo, mas ele puxou meu rosto para me dar um beijo longo e adocicado.

– Quando me apaixonei por você, eu também me apaixonei pelo seu caos. – Um breve riso ecoou abalando o meu mundo e fazendo meu coração disparar. – Eu também tenho um caos.

– Esse caos tem nome? – O puxei em direção ao pub.

– Marie West.

– Sua mãe. – Encarei-o rindo. – Devo concordar. – Paramos em frente ao endereço que encontrei. – Nada pessoal, mas ela me assustou. – Suas mãos passaram pelo meu cabelo e seus olhos me encararam fixamente, por um momento achei que isso fosse uma reprovação.

– Ela assusta a todos. – Beijou minha testa e sorriu torto. – Primeiro as damas. – Abriu a porta para que eu entrasse.

Era um lugar agradável, do qual eu frequentaria com meus amigos e pagaria uma boa rodada de chopp. Um balcão de madeira, com dois garçons e inúmeras garrafas de bebidas por todos os cantos, algumas mesas estavam vazias e as outras lotadas de empresários, jovens e policiais conversando e aproveitando o final do expediente.

– No que posso ajudar? – Um dos garçons perguntou, sorridente.

– Olá, eu gostaria de uma informação. – Mostrei meu distintivo para o rapaz, que arregalou os olhos mas continuou a sorrir. – Me enviaram um envelope com esse endereço, eu gostaria de saber o motivo. – Ser direta era sempre a tática que dava certo com garçons e balconistas.

– Qual o seu nome? – O rapaz perguntou um pouco confuso.

– Charlotte.

– Charlotte Reid? – Confirmei com a cabeça achando um pouco estranho. – Quando entrei trabalhar aqui, a primeira coisa que Daniel me pediu era para que ele me avissasse caso alguma Charlotte Reid entrasse aqui.

– Daniel?

– Meu chefe! Por favor, me sigam... – Ele pediu para que passássemos pelo balcão e seguíssemos seus passos até uma grande porta de madeira no final do corredor. – Fiquem à vontade.

Jasper abriu a porta, entrando em minha frente como um bom policial faria. Entrei logo atrás esperando encontrar algum detetive muito importante, que me explicaria tudo sobre o caso e como acabar com o mesmo.

– Com licença. – Pedi encarando o homem grisalho que estava sentado na poltrona de couro marrom, de costas para nós. – Meu nome é Charlotte Reid e eu recebi esse endereço por algum motivo... – Minha voz falhou no mesmo momento em que encarei a face do homem em minha frente, meus olhos pararam sobre aqueles olhos azuis, que pareciam brilhar ao me ver, senti meu corpo ser atingido por náuseas e tudo em minha volta girar. – Pai!


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Notas finais do capítulo

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