RED velvet escrita por Juliana Moraes


Capítulo 19
Taking pieces




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– Temos uma vencedora! – O capuz foi puxado e o rosto assustado de Lauren foi revelado. – É bem mais fácil atingir um policial quando ele não usa armas. – Um sorriso estrondoso permaneceu em seu sorriso.

Desliguei minha mente por um momento, precisava encontrar uma saída. Observei as tecnologias ao meu redor, haviam maquinas ali que eu jamais saberei qual é a finalidade. Uma fabrica teria inveja dos equipamentos existentes no pequeno barracão, que não deveria ter mais de dez metros quadrados. Perto de onde eu estava, tinha pequenos potes lacrados com polônio 210, e ao lado pequenos frascos e seringas para o sangue. Era essa a saída que eu procurava.

Encarei Ethan ao meu lado e pisquei com os dois olhos, esse era nosso código para “ Eu tenho um plano”, ele afirmou com a cabeça mesmo sabendo que poderia ser perigoso demais.

– O seu problema é comigo, não é mesmo? – Coloquei a arma que eu segurava no chão e retirei a segunda, escondida em minha bota, fazendo o mesmo. – Você quer uma amostra do meu sangue para saber se o seu experimento dará certo... – Caminhei até a bancada com as seringas e levantei a manga da minha blusa, deixando minha veia amostra. – Não entendo porque fazer tudo isso, por algumas gotas de sangue... – Preparei a seringa e a injetei em meu braço, retirando uma ampola cheia de sangue. – Era só pedir. – Mostrei a seringa para ele, que parecia desconfiado dos meus atos. – Qual a próxima etapa? Polônio 210? – Eu sabia que o polônio não reagiria com meu sangue, causando reações nele. Vesti as luvas que estavam ao lado e destampei um quarto do vidro onde a substância estava, derramando algumas gotas do meu sangue ali dentro.

– Não! Idiota! – Ele correu em minha direção e assim, Derik correu em direção a Lauren.

– Fica longe de mim! – Retirei a terceira arma de minha cintura, menor e por isso difícil de ser identificada, e apontei para Harrison que me encarou com fogo nos olhos. – Você nunca vai ter uma gota do meu sangue, nunca! – Minha voz deixou de ser algo calmo e passou a ser o mais alto som que alguém pudera escutar. – Você vai para o inferno!

– Quer que eu mande lembranças para os seus pais? – Ethan retirou as armas que ele possuía, sem dificuldade, enquanto Harry algemava-o. – Você acha que acabou? – Ele gargalhou. – Eu sou uma pequena peça desse quebra-cabeça, Charlotte... e tudo isso foi culpa da sua mãe. – Meu olhos se estreitaram e uma ardência imediata passou pela minha garganta. – Sim, querida! Sua mãe estava ao meu lado o tempo todo e quer saber mais? Foi ela quem planejou tudo... pena que não conseguiu escapar do pequeno acidente que... – Eu o matei. E isso me causaria problemas profissionais, mas eu o fiz. Atirei três vezes em sua direção como uma forma de impedir que mais palavras saíssem de sua boca. Meus joelhos falharam e ao mesmo tempo que o corpo de Harrison, o meu também caiu ao chão, aos prantos. – Você acabou de abrir... a caixa de pandora. – Suas últimas palavras, mesmo sem sentido nenhum, não tiravam de mim a confusão, o medo e o alivio.

– Acabou, Lottie. – Ethan abaixou-se ao meu lado e envolveu seus braços ao meu redor. – Acabou. – Sem conseguir encarar a todos, que me olharam com uma ruga de interrogação na testa, escondi meu rosto no peito de Ethan, que tentou me acalmar de todas as formas possíveis. – Não, não, não Charlotte! Acabou, não tem porque ficar assim.

– Minha mãe esteve envolvida nisso? – Fazia perguntas a mim mesma. – Ele estava blefando, não é mesmo?

– Claro que sim... – Ethan me encarou serenamente e eu agradeci por ele estar lá.

– Vá para casa Charlotte, amanhã iremos conversar. – Harry ordenou, e eu sabia que era uma ordem devido as suas sobrancelhas que estavam juntas demonstrando estresse.

~X~

Londres; Southwark; Jasper’s apartamento; 2am.

– Meu Deus Charlotte! Onde estava? – Jasper estava de pé, com o celular em mãos, provavelmente desesperado atrás de mim. – O que aconteceu? Você parece... – Joguei minhas coisas no chão e o abracei sem me preocupar com o seu ferimento. – Baby, o que houve?

– Eu matei Harrison Steven. – Choraminguei encarando-o.

– Temos que esconder o corpo?

– Não! – Tentei não rir.

– Então isso é ótimo. – Ele beijou minha testa e me puxou até o sofá. – Estava em um caso e não me avisou.

– Você estava dormindo, não quis te acordar. – Respirei fundo e comecei a contar a história para ele. – Ele estava com Lauren, não consegui falar com ela depois disso... usei uma amostra do meu sangue para pega-lo e ele me disse coisas horríveis antes de morrer.

– O que foi que ele disse?

– Minha mãe estava envolvida nisso e que ele é só uma pequena parte do quebra-cabeça.

– Foi um blefe. – Eu queria acreditar nele. – O que mais ele poderia dizer antes de morrer? – Ele me abraçou delicadamente, tomando todo cuidado necessário com seu abdômen ferido. A campainha tocou. – Deve ser a pizza.

– Eu atendo... – Levantei rapidamente indo até a porta e abrindo-a. – Oi. – Encarei a senhora em minha frente.

– Esse é o apartamento do Jasper? – Ela me encarou dos pés a cabeça.

– Você é ...

– A mãe dele. – Senti minhas bochechas corarem.

– Oh! Entre, por favor. – Dei um passo para trás para que ela pudesse passar.

– Mãe? O que faz aqui? – Ele se levantou com dificuldade, tão confuso quanto eu.

– Uma mãe não pode visitar o filho? – Ela o abraçou e eu pude ouvir seus sussurros “ Quem é essa garota?”.

– Mãe, essa é Charlotte. – Sorri ainda em frente a porta. – Minha noiva. – Por um segundo achei que a senhora iria desmaiar. – Longa história.

– Eu... vou tomar um banho enquanto vocês conversam. – Sorri desleixada, pegando as armas em cima do balcão e as levando comigo para outro lugar.

– Armas? – Ela perguntou antes que eu pudesse correr para o quarto.

– Toda detetive precisa de armas. – Seus olhos se arregalaram e eu, para não obter nenhuma reação inapropriada, fui em direção ao banheiro.

Era possível ouvir toda a conversa de onde eu estava, desvantagem ou vantagem de ter a banheira perto demais do sofá da sala de estar.

Jasper parecia feliz com sua mãe ao lado, eles deram várias risadas durante um bom tempo, até que ela começou a fazer perguntas sobre mim e sobre o meu trabalho, como se o filho dela não precisasse usar armas. Primeira impressão? Ela não gostou de mim.

– Ela está morando com você? – Pude ouvi-la.

– Sim mãe, a principio não foi algo que decidimos fazer mas foi necessário. – Ele parecia seguro de cada palavra. – É um pouco complicado.

– Faz um pouco mais de seis meses que está aqui e vai casar, o que aconteceu com seus planos em Dublin? – Ela realmente não gostou de mim.

– Mãe, eu quase a perdi em um dos casos, isso foi o suficiente para perceber que tenho novos planos e todos com ela. – Um imenso sorriso surgiu em meu rosto, posso até dizer que uma luz natural saiu dos meus olhos.

– Mas ela tem três armas! – Sua voz foi abafada com algo, deduzi que seria Jasper pedindo para que ela não gritasse.

– Eu tenho duas, qual a diferença?

– A diferença é que você é um homem e ... – Foi nesse instante que decidi parar de prestar atenção na conversa alheia e obter novos planos para descobrir a verdade sobre Red Velvet.

Harrison afirmou com todas as letras que minha mãe fez parte do desenvolvimento do diamante de sangue. E essa foi uma dúvida que me perturbou desde que atirei nele. Minha mãe, Penelope, era formada em engenharia química e durante muito tempo trabalhou para uma fábrica de transgênicos e mutações genéticas de Oxford. Ela buscava sempre melhorar, não se importante em quem deveria derrubar para isso, para ela era a melhor casa, o melhor carro, as melhores roupas ou nada e sempre conseguiu isso com o próprio suor. Talvez esse seja um ponto que possa ir a favor da teoria a ser investigada. Por outro lado, era fácil notar o amor que sentia por meu pai e, mesmo ausente, nunca faltou com suas responsabilidades comigo.

Eu estava a beira da loucura e precisava encontrar uma forma de encontrar respostas.

– Charlotte, a pizza chegou. – Jasper bateu algumas vezes na porta do banheiro para que eu me adiantasse.

Vesti um moletom da pink, uma calça jeans escura e ugg bege extremamente confortável. Minha sogra poderia estar ali, mas eu não iria continuar de salto depois do dia que tive.

– Então, Charlotte, como pretende resolver as coisas para o casamento.

– Na verdade, já está tudo resolvido. – Sorri vitoriosa. – Já temos as flores, a decoração, o salão, o buffet e o vestido.

– Pensei que não tivesse tempo para resolver tudo isso. – Ela parecia querer me confrontar.

– Sempre há tempo.

~X~

Londres; The West End; Departamento de polícia; 6am.

O sol ameaçava nascer e eu já estava no departamento em busca de respostas. Após uma pesquisa rápida sobre onde estavam os arquivos do caso em que meu trabalhou, descobri que eles estavam no porão do departamento, onde a maioria dos casos são arquivados.

– Bom dia Lottie. – Ethan cantarolou. – O que faz aqui tão cedo? – Segurei a gola de sua camisa e o puxei para dentro do elevador. – O que foi isso?

– O arquivo do caso Red Velvet, em que meu pai trabalhou, está no porão. – O encarei sorrindo. – Adivinha quem vai vigiar a entrada caso Harry apareça por lá?

– Ethan, é claro! – Ele riu baixo achando a ideia divertida. – Qual o plano?

Contei detalhadamente qual era o plano que decidi por em pratica. E Ethan, como um bom amigo, faria tudo exatamente do jeito que falei.

– Bom dia, Edward! – Ele murmurou para o segurança do porão. – Parece cansado... porque não vai tomar um café e eu cuido daqui para você? Só preciso buscar um documento...

– Obrigada dude! – O segurança aceitou no mesmo instante e caminhou em direção ao saguão.

Eu não tinha permissão para entrar no porão desde que o caso Red Velvet voltou a ser investigado. Harry disse que era para a minha proteção, mas isso não era desculpa suficiente para mim.

– Rápido! – Ethan abriu o portão para mim e o fechou no mesmo instante, ficando de prontidão. – Lottie, os casos mais antigos estão a esquerda. – Mudei o sentido dos meus passos no mesmo instante, desequilibrando-me nos saltos e fazendo-o rir.

Havia milhares de prateleiras recheados com caixas e mais caixas sobre os casos, muitos ainda sem solução.

Procurei atentamente na fileira R de casos antigos, e quando meus olhos encontraram a pequena caixa do caso Red Velvet, corri até o mesmo sem me preocupar em derrubar outras caixas. Era possível ouvir as gargalhadas de Ethan.

Não existia pistas sobre o caso, apenas papeis e mais papeis. Comecei a tirar foto de cada pagina encontrada, e mesmo sabendo que levaria tempo para isso, não me apressei. Tinha certeza de que Ethan daria um jeito de me deixar ali por mais tempo.

Resisti a insana vontade de ler os papeis, lendo apenas algumas frases em negrito, ou vendo fotos das antigas vitimas. Quando percebi que não daria tempo para fotografar a ultima pasta, a coloquei dentro de minha bolsa e arrumei as outras caixas que deixei cair no chão.

– O que faz aqui Ethan? – Aquela era a voz que eu tanto tinha medo de ouvir enquanto estivesse aqui dentro.

– Edward pediu para que eu ficasse aqui enquanto ele toma um café. – Ele parecia nervoso. – Quer que eu pegue algo para o senhor?

– Eu mesmo pego. – Eu sabia que ele viria em minha direção e por isso comecei a dar passos lentos até o outro lado do porão, onde duas prateleiras abarrotadas me esconderiam por um tempo. – Onde está... Radmonnd... Rayguell... Recborn... Red Velvet. – Ele segurou a caixa, sentindo o peso da mesma, e voltou a caminhar para fora do porão. – Obrigado Ethan. – Ele não parecia estar no seu melhor dia.

Esperei até que os passos do meu querido chefe estivessem inaudíveis e corri para fora do porão puxando Ethan comigo.

– Foi por pouco! – Ele sussurrou.

– Por pouco? Eu achei que teria um ataque cardíaco ali mesmo. – Sorri para Ethan que fez o mesmo, caminhando em uma direção oposta a minha assim que ele percebeu que eu precisava de um tempo para ler todos os documentos.

Entrei em uma das cabines do banheiro e comecei a ler tudo o que havia conseguido. Cada letra era de extrema importância para a finalização desse caso.

Comecei pelas fotos que havia tirado. Eram papéis que contavam como o tudo começou, quais os investigadores que participaram da primeira parte do caso, motivos e mais motivos pelo qual Red Velvet estaria fazendo isso, teorias infinitas sobre o porquê das mortes, erros, mais teses e finalmente uma afirmação. Assim que ficou claro o porquê das mortes, o caso foi parar nas mãos do FBI, que trabalhou junto com o departamento de polícia para encontrar pistas. O mais estranho de tudo isso, era que nenhum nome, além o de Harrison, foi revelado e ninguém capturado. Havia suspeitas que mais de uma pessoa estava envolvida no crime, como uma gangue ou uma máfia muito secreta.

Perícias apontam que as assinaturas deixadas nas vítimas pertencem a mais de uma pessoa, baseado na analise especifica de letras, tecidos e digitais incompletas.”

Nenhuma prova foi arquivada. Nenhuma digital. Nenhuma gota de suor ou de sangue e nenhum fio de cabelo. O que me deixa ainda mais curiosa.

Provavelmente uma hora havia se passado desde que tranquei a porta da cabine de banheiro que eu estava. Pessoas entravam a todo instante, mas isso não atrapalhou o meu interesse no que estava ali.

Finalmente, peguei a pasta recheada de papeis que faltava e torci para que alguma informação precisa estivesse ali.

Caso 0876-99, Red Velvet, ano 1999.

Anotações sobre as vítimas: Todas as vítimas continham as mesmas características, Loiras, olhos claros e pele pálida. Resíduos de polônio 210 foi encontrado no estômago de vinte e duas, cujo sangue era O negativo com traços B positivo, das vinte e quatro vitimas, cujo sangue era O negativo com traços de A positivo. Corpo foi desovado em becos ao redor do centro comercial de Londres.

Observações sobre as testemunhas: Testemunhas entraram em contradição entre um grupo com três ou quatro pessoas e um único individuo mascarado. Não há descrições sobre as características.

Suspeitos: Harrison Steven, mascarado;
Elliot Simons, encontrado morto em uma antiga fábrica de mutações genéticas;
Penelope Reid, contribuição geral com a fabricação do diamante. Encontrada morta, teorias sobre o caso Reid 0457 no parágrafo 16.3...”

Eu não queria acreditar em nada do que estava lendo.

Parágrafo 16.3 : Teoria sobre o assassinato de Penelope Reid, suspeita do caso 0876-99. Penelope foi morta em um suposto acidente de avião. A caixa preta, periciada por Kristen Steffan, gravou a confissão da suspeita minutos antes da explosão, devido a um homem bomba Kusmoha Medbudah, acontecer. Sua morte foi encomendada pela gangue em que trabalhou, razões para tal ato : Proteção de sua filha cujo o sangue...”

Muita coisa estava subentendida nesses arquivos. Um arquivo policial precisa conter assinaturas de todos que trabalharam no caso, e nessas páginas há apenas vistos do supervisor geral do FBI e do departamento. Nomes de policiais, que eu sei que trabalharam no caso, também não constava na lista, inclusive o nome do meu pai que foi o principal agente a trabalhar.

– Droga! – Deixei um grito escapar.

Um arquivo só é aceito dessa maneira quando algo por trás está acontecendo. Era uma equipe, e ninguém mataria meu pai pelos erros que minha mãe cometeu. Alguém queria deixa-lo calado, alguém que ele conhecia muito bem.

– Alguém aqui de dentro está por trás disso. – Sussurrei incrédula.

Observações e anotações : Harry Shore.”


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando de Red Velvet. Eu estou adorando escreve-la. Se gostam desse tema, romance policial, vão gostar do livro que acabei de publicar MARYLIN, a venda pelo site da editora Protexto