– Jasper! – Seus olhos transmitiam a dor que estava sentindo. – Fica comigo Jasper, por favor! – Gritava sem me preocupar com os gritos da equipe que diziam “ Ele está fugindo” e “ Policial ferido”.

Um dos tiros do Red Velvet havia atingido o meu grandalhão, direto em seu estômago. O sangue escorria por minhas mãos, na tentativa de fazer pressão contra o ferimento, quem sabe assim, eu estaria ajudando-o. Harry permaneceu ao meu lado até que os paramédicos, em fim, chegaram. Ele cuidou da garota, que aos prantos, implorava para voltar para casa.

– Estou bem, Lottie. – Sua voz, tão baixa e fraca, ecoou por meu ouvido ao segurar minha mão. – É só um arranhão. – Ele tentou rir, mas sentiu pontadas de dor por isso.

Os paramédicos o levaram rapidamente até a ambulância estacionada em frente ao prédio.

Eu era incapaz de desatar os nós que nossos dedos formavam. Meu cérebro já não tinha controle sobre meus passos, que seguiu a maca até dentro do veículo, e de lá, segui caminho até o hospital mais próximo.

– Charlotte. – Ele me chamou sonolento. – Eu sei que não é o melhor momento... queria te entregar essa noite, mas não sei se estarei em casa então... – Procurou algo em seu bolso esquerdo.

– Jasper, não se esforce tanto. – Meus olhos arregalados imploravam para que ele descansasse.

– Toda noiva precisa de um anel. – Não. Aquele não era o momento certo, mas teve o mesmo impacto que um “ momento certo” teria. Suas mãos tremulas procuraram a minha, e com minha ajuda o anel com um intenso brilho, vestiu meu dedo. – Agora não tem volta.

– Eu não quero voltar. – Sorri encarando os equipamentos que estavam ligados ao seu corpo. – Teve sorte de estar com o colete, poderia ter sido muito pior.

– A bala ultrapassou alguns milímetros de pele, o sangue foi apenas uma consequência da colisão... alguns pontos e o garotão estará bem. – O paramédico murmurou na tentativa de me acalmar, mas não conseguiu. No fundo eu sabia que tudo aquilo era minha culpa. – Não é a primeira vez que isso acontece, os coletes a prova de balas deveriam passar por novos testes. – Ele continuou, tentando amenizar o clima que havia se formado no pequeno ambiente.

– Não foi sua culpa, Charlotte. – Jasper parecia ler meus pensamentos.

– Precisamos que saia agora e nos deixe fazer o nosso trabalho. – O paramédico começou a mover a maca para longe de mim, indo rapidamente para a sala de cirurgia.

Não sabia ao certo o que fazer. Jasper esteve comigo desde que essa loucura começou, e agora, sem a presença dele ao meu lado, eu não sabia para onde ir.

Olhei ao meu redor procurando algum lugar para me sentar, o cheiro forte de sangue me deixou ligeiramente atordoada.

– Oi. – Ouvi uma voz feminina e familiar ecoar pela minha cabeça. – Sinto muito pelo o que houve. – Lauren estava parada em minha frente, segurando dois copos de café que pareciam deliciosos. – Posso me sentar ao seu lado? – Perguntou um pouco vermelha.

– Claro. – Tentei sorrir, mas isso só fez com que eu sentisse o quão mal estava. – Pensei que estivesse trabalhando.

– Hoje é meu dia de folga. – Ela me entregou um dos copos de café, e eu agradeci por colocar algo em meu estomago. – Ethan me ligou e pediu para que eu viesse, ele achou que não fosse gostar de vê-lo primeiro.

– Ethan está errado. – Comentei, a interrompendo.

– O que eu tenho que fazer para te tirar daqui? – Seus olhos negros me hipnotizaram. – Tem uma loja de vestidos de noiva perto daqui.

– Eu preciso de um vestido. – Esfreguei meus olhos na tentativa de me despertar. – É loucura! Sabe o tanto de coisa que precisa resolver para poder se casar? – Encarei-a como nos velhos tempos. – Acho que vou precisar de uma dama de honra competente para isso.

– Posso me voluntariar? – Concordei com a cabeça e um lindo sorriso se formou em ambos os rostos. – Então, vamos para a primeira parte da nossa missão: Encontrar o vestido ideal.

~X~

Londres; Kensigton; Wedding ideal Dresses; 1pm.

Oito vestidos haviam passado por mim, todos dignos de realeza, com detalhes incríveis e preços altíssimos. Eu me olhava ao espelho, vestida como uma noiva, e via uma parte de mim saindo das cinzas e recuperando-se da melhor maneira possível.

– Acho que não encontrarei nada hoje. – Vesti o roupão e esperei até que a lojista me trouxesse mais alguns vestidos. – Todos eram lindos mas nenhum parecia fazer o efeito certo em mim.

– Que efeito espera? – Lauren colocava um dos vestidos em sua frente, imaginando-se em meu lugar.

– Quando assistia Say yes to the dress, eu via as noivas chorando ao encontrar o vestido ideal. Deve existir algum sentimento especial nisso. – Sorri ao vê-la rodar junto do vestido.

– Charlotte, talvez eu esteja errada, mas ao reparar a personalidade forte que tem... acho que esse vestido será o ideal. – Ela me mostrou um vestido totalmente diferente dos outros, porém meus olhos brilharam ao vê-lo.

– Vamos experimentar. – Peguei o cabide de sua mão e entrei novamente na sala para provar o vestido número nove.

Esse, em especial, era um pouco mais complicado de ser colocado do que os demais, precisando da ajuda da lojista que parecia incrivelmente feliz por estar fazendo aquilo.

– É um design exclusivo da Vera Wang. – Ela comentava. – Nunca foi mostrado para nenhuma cliente. Acho que estávamos esperando a pessoa certa. – Um sinal foi dado para que eu me virasse e encontrasse o espelho.

Aquela não pode ser eu. E se fosse, que sorriso incrível era aquele que acompanhava o mais lindo dos vestidos? Meus olhos azuis, agora ainda mais claros do que o normal, pareciam brilhar como um diamante puro. Minhas mãos tremeram ao encostar em cada detalhe do pano de seda que chegava até o meu joelho e logo em seguida dava espaço a uma renda fina e branca que, conforme os centímetros, se tornava um degrade de rosa até o mais intenso vermelho. Era um famoso vestido sereia, justo nas partes certas, mostrando todas as curvas que eu possuía no meu corpo, e que, antes de provar esse vestido, eu não gostava.

– Charlotte! – Lauren me encarou boquiaberta. – Esse é o vestido! – Ela sorriu feito boba e ficou de pé ao meu lado.

– Não será ousado de mais eu usar algo que não seja inteiro branco? – Perguntei sem retirar os olhos da minha imagem refletida no espelho.

– Você é ousada demais para usar algo inteiro branco.

~X~

Londres; Saint Faith Hospital; 3pm.

Um bom tempo havia se passado desde que voltei da loja de vestidos, extremamente realizada com a compra que havia feito, apesar do preço torturador. Esperava notícias sobre Jasper, que aparentemente estava na sala de cirurgia retirando a bala de seu corpo.

– Charlotte Reid? – Um enfermeiro gritou por mim. – Está tudo bem. O paciente não terá sequelas e permanece dormindo, mas está permitida no quarto C48, segundo corredor à direita. – Ele sorriu, quase maliciosamente, e permitiu minha passagem até onde meu noivo, ainda acho estranho chama-lo assim, estava.

Com passos rápidos, cheguei imediatamente no quarto de Jasper, a porta estava entreaberta e não hesitei em entrar. Um médico fazia anotações em sua prancheta, de costas para mim.

– Com licença, ele está bem? – Perguntei novamente somente para obter as informações de um médico.

Caminhei ao outro lado da cama, onde Jasper estava, e segurei sua mão delicadamente, deixando caricias ali.

– A cirurgia foi um sucesso, ele é um rapaz forte e... – Sua voz parecia esfaquear meu coração com as lembranças que surgiram em minha mente.

Encarei o médico ao meu lado, vendo que ele fazia o mesmo.

Meus olhos não podiam acreditar no que estavam vendo. Minhas pernas amoleceram e foi preciso que eu soltasse das mãos de Jasper, para poder me apoiar na cama, impedindo um tombo desnecessário.

– Eu só posso estar ficando louca. – Bati em minha bochecha algumas vezes, fechando e abrindo os olhos com força. – Você... você está morto! Como... como?

– Oi, Charlotte.