RED velvet escrita por Juliana Moraes


Capítulo 14
Dozen




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– Teremos que inventar algo e chamar reforços. – Derik observou-me atento e após encarar o mesmo que eu, fechou os olhos com força. – São recentes, estão em estado de decomposição.

– Doze corpos aqui, mais os outros três que encontramos, temos quinze. Ainda faltam sete vítimas. – Ethan fazia as contas para saber quantas mortes teríamos que enfrentar até chegar o número necessário para a fabricação de outro Red Velvet.

– Droga! – Murmurei apertando minhas mãos contra os olhos. – Isso não pode estar acontecendo! – Chutei uma lata de spray vazia. Jasper me encarou assustado, seus olhos analisaram cada poro do meu rosto e sem pensar em nada melhor para fazer, ou dizer, me puxou para um abraço tão apertado que quase me faltou o ar.

Foi facilmente deduzir quantos corpos havia naquela caçamba enferrujadas, todos estavam enumerados como se fossem testes que não deram certo. A parte mais difícil desse trabalho é controlar o emocional, que quando leva um susto, envia sintomas de enjoo para o estomago que nunca aguenta a pressão de ver algo tão terrível.

Durante os dezoitos primeiros anos da minha vida, preferi acreditar que ninguém poderia ser tão ruim assim. Ao decidir entrar para o departamento de polícia e começar a investigar crimes, percebi que no mundo há lugar para todas as coisas que imaginamos não existir. Não julgo-os como humanos, creio que alguém capaz de fazer mal a alguém não seja de uma espécie criada por Deus.

– Isso já foi longe demais. – Ethan murmurou sentando ao meu lado, permitindo que Jasper fosse até Harry, que parecia confuso, inventar alguma desculpa que justificasse nossa descoberta. – O que ele quer, Charlotte?

– Ele quer o red velvet.

– Ele pode fazer outro diamante de sangue, não acho que seja isso o que ele queira. – Um suspiro saiu de meus pulmões doloridamente, despertando-me de meus pensamentos inúteis. – Ele quer algo mais.

– O que, por exemplo?

– Você.

~X~

Londres; The West End; Sala de autópsia; Sexta-feira; 6pm.

– Todas morreram por envenenamento de pôlonio 210, tiveram o sangue drenado pós morte e a desidratação e má nutrição está evidente. – Lauren murmurava o resultado da autópsia dos doze corpos. – Só isso.

– O que eu fiz? – Perguntei dando de ombros para todas aquelas informações que eu já deduzia. – Quero dizer, devo ter feito algo para que me trate assim.

– Eu contei para você que Jasper era um cara interessante e no dia seguinte você estava dormindo com ele.

– Não foi no dia seguinte. – Senti meu rosto avermelhar. – Não vou me preocupar com isso, não vou mesmo. – Dei de ombros pegando as fichas de sua mão e indo em direção a porta. – Não devemos nos humilhar por alguém que não nos escolheu para amar, não era isso que me dizia? – A encarei com o canto dos olhos e comecei a traçar meu destino.

O salto do meu sapato batia contra o mármore acompanhando as batidas do meu coração. Harry pediu para que eu fosse a sala dele, provavelmente para que eu explicasse o ocorrido do galpão. Jasper havia dito que estávamos a caminho do departamento quando alguém pediu, via rádio, para observar a fábrica abandonada, o cheiro forte estava incomodando a vizinhança, o que não deixa de ser verdade.

– Encontramos a origem do cheiro e, após ver os corpos, ficou evidente que isso se trata do 457. – Encarava-o aflita, com medo de que fosse descoberta.

– Pesquisaram algo sobre a fabrica? – Ele apoiou os cotovelos na mesa e inclinou seu corpo em minha direção.

– O único sobrevivente do incêndio foi Harrison Steven, ele tem todas as características que nos foram dadas. – Engoli a seco.

– Encontre-o! – Ordenou.

~X~

Jasper encarava o quadro em minha frente, seus olhos procuravam algo que poderia estar subentendido no meio a todas aquelas informações. As fotos dos corpos empilhados e da fabrica abandonada pareciam me perturbar de uma maneira enlouquecedora, fazendo com que eu arrancasse-as de lá virando-as para que eu não tivesse pesadelos durante a noite.

– Eu tenho um endereço. – Derik gritou levantando e indo em direção a chave do carro. – Vamos! – Pediu para que o seguíssemos, e assim todos fizeram.

– Onde? – Comecei a perguntar enquanto o elevador fechava.

– Kensigton. – Meu corpo congelou ao saber que ele poderia estar tão perto de mim. – No mesmo prédio em que você mora. – Por um instante, pensei que meu coração havia parado.

– Harry está a caminho. – Ethan me encarou preocupado, e eu sabia que não poderíamos esconder mais nada do nosso superior. – Vamos encontra-lo. – Ele sussurrou chamando a atenção de Jasper, que o encarou com o canto dos olhos.

~X~

Harry deu o sinal para que descêssemos do carro, pediu para o porteiro, e todos que estavam no prédio, para que saíssem do mesmo, deixando-o livre para que fizéssemos nosso trabalho.

– Lottie... – Jasper segurou minha mão, puxando-a para perto dele assim que desci do carro. – Tome cuidado. – Seus olhos pareciam suplicar para que eu ficasse dentro do veículo, e por um momento achei que isso seria o certo a ser feito, mas não o fiz.

Segurei seu rosto delicadamente e depositei um beijo em seus lábios frios, ele sorriu ainda com os olhos fechados.

– Eu vou ficar bem. – Admiti voltando a caminhar em direção a equipe, que já estava longe.

Subimos as escadas, que pareciam infinitas, e ao chegar no andar do Red Velvet, uma música alta, certamente da banda de Rock mais barulhenta que poderia existir, começou a ecoar por todos os cantos. Harry bateu algumas vezes na porta e obviamente não obteve resposta nenhuma. Ele posicionou a arma, já que era o único cuja arma ainda não estava em mãos, e contou até três para que Derik arrombasse a porta e entrássemos no lugar.

– Polícia Britânica! – O moreno gritou furioso caminhando entre os cômodos na tentativa de encontrar alguém, Ethan fez o mesmo. – Está limpo... – Meus olhos se fixaram ao teto, lugar onde nenhum dos rapazes fez questão de observar. Meu corpo havia congelado e certamente minha alma também. – Charlotte? – Ele segurou meu braço e acompanhou meu olhos, se assustando no mesmo momento em que viu o mesmo que eu. – Céus!

O teto do studio em que Red Velvet morava, ou não, estava lotado de fotos minhas, todas em preto e brancos, algumas antigas e outras extremamente recentes. Havia uma em especial, onde eu estava com Jasper, ambos dormindo na mesma cama devido a falha no aquecedor, ela parecia se destacar em meio a todas as outras.

– Tire-a daqui. – Harry gritou. – Jasper, tire-a daqui! – Eu o encarei confusa, como se nada fizesse mais sentido para mim.

Jasper me segurou pela cintura e me tirou do apartamento em questão de segundos. Entramos no elevador e quando estávamos no meio do caminho, ele apertou o botão travando-o entre o quarto e o terceiro andar.

Suas mãos tremulas seguraram meu rosto, provavelmente pálido demais para obter qualquer outra reação. A arma ainda estava em minha mão, apontada para o chão, meus braços sem forças e minhas pernas tremulas como se algo tivesse me golpeado fortemente.

– Charlotte... você está bem? – Sua testa encostou na minha e aos poucos pude recuperar o ar que me faltava. – Você está bem? – Ele repetiu tentando obter alguma resposta. Seus braços me envolveram serenamente e o seu hálito em meu pescoço, despertou-me do escuro.

– O que ele quer comigo? – Finalmente consegui dizer algo. – Jasper, o que ele quer...

– Nós vamos descobrir e iremos captura-lo. – Seus olhos pareciam mais escuros do que o normal. – Você vai ficar comigo, entendeu? Não vou te deixar nenhum segundo sozinha... não vai entrar nesse prédio novamente.

– Eu moro aqui.

– Não mora mais. – Respirou fundo tentando deixar o desespero de lado. – Você vai morar comigo e não vou aceitar não como resposta, você sabe que isso é...

– Para o meu próprio bem. – Encarei o chão sujo do elevador, procurando o botão de destravar. – Preciso que peguem os documentos que meu pai deixou no armário, é tudo o que eu quero do apartamento.

– Pedirei para alguém pegar. – O elevador voltou a seguir seu percurso normalmente. – Agora eu só consigo pensar em te tirar daqui.

~X~

Todos me encaravam com rugas de preocupação na testa. Eu era a nova celebridade do departamento, e isso não era algo pelo qual alguém gostaria de passar.

Ethan estava em meu apartamento pegando algumas coisas que eu pedi, já que Jasper e Harry negaram qualquer pedido meu de voltar lá.

Derik já havia coletado as amostras e as levou para análise no mesmo momento em que pisou no departamento.

Harry puxou uma cadeira em minha frente e pediu para que Jasper e Derik se aproximassem de nós, murmurando algo sobre repassar o que ele diria dizer para Ethan, mais tarde.

– Harrison Steven está atrás de você, detetive Reid. – Seus olhos azuis me encaravam com um certo tom de medo. – Sabe a razão para tal ato? – Neguei com a cabeça, não mentindo sobre isso. – Tem alguma informação sobre o caso que eu não saiba. – Afirmei ainda sem dizer nenhuma palavra, não queria revelar nada a ele. – Bom, eu posso adivinhar? Seu pai era meu melhor amigo, Lottie. Sei tudo sobre os casos em que ele trabalhou e sei também que, por algum tempo, ele perseguiu um químico que estava fabricando um diamante de sangue. Ele descobriu coisas preciosas sobre o caso mais nunca informou uma só linha com o departamento em que ele trabalhava. – Segurou minha mão fazendo-o com que eu encarasse-o novamente. – As atitudes do seu pai o encaminharam para a morte, mas isso você já sabe. Eu sinto muito, querida, sinto mesmo. Mas não pode agir sozinha, somos uma equipe e nosso dever é proteger um ao outro.

– Você não vai me proteger me tirando do caso. – Havia uma certa fúria em meus olhos. – Ele matou meus pais, eu preciso fazer justiça.

– Não é dessa forma que encontrará justiça.

– Mas Harry...

– Não te tirarei do caso, mas não quero que esteja com a gente quando entrarmos em campo. – Ele sabia que estar em campo era a parte em que eu mais gostaria de estar. – Ficará no departamento, ou, se preferir, no carro e entrará no local somente depois que eu permitir e somente para fazer a perícia do local.

– Harry isso é...

– Não vou deixar você se machucar, eu prometi a seu pai que cuidaria de você caso algo viesse a acontecer.

– Se sabia de tudo porque não me disse antes?

– Para evitar que isso acontecesse. – Ele tentou sorrir mas ao ver minhas expressões não conseguiu. – Vamos pega-lo e ele terá o que merece, mas não vamos nos arriscar tanto assim.

– O positivo com traços de B negativo. – Sussurrei sabendo o porquê Red Velvet estava atrás de mim.

– O que? – Jasper sussurrou me encarando confuso.

– Todas as vitimas tem sangue O positivo misturado com A negativo, é o segundo sangue mais raro que existe, o meu, que contem B negativo, é o precioso. Antigamente olhos e cabelo claros eram dados como defeito genético, uma combinação perfeita para que o sangue possua essas características. – Lembro exatamente da conversa que meu pai teve com minha mãe alguns dias antes de morrer, algo sobre meu sangue ser precioso como os das garotas que haviam sido assassinadas. – Ele precisa de vinte e duas gotas do segundo sangue mais raro para obter uma única peça do diamante, todas com traços de DNA diferentes. Mas, segundo a teoria que meu pai formou, uma gota do meu sangue pode se transformar em milhares de Red Velvets. Eu sou o elemento químico perfeito para ele.

– Charlotte, como pode ter certeza disso? – Derik indagou inconformado.

– Um a cada dez milhões de pessoas nasce com esse tipo sanguíneo. Faça as contas.

– Você é o nosso diamante, Charlotte.


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Notas finais do capítulo

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