Londres; Kensigton; Charlotte’s Studio; 7:23am.

Envolvimento foi a única coisa que eu evitei desde que meus pais faleceram. A sensação de ouvir as batidas do seu coração, como se ele estivesse pulsando ao lado de seu cérebro, era tudo o que eu tentei evitar. Não queria me dar ao luxo de me apaixonar, não que isso fosse algo pelo qual eu não esperasse anos atrás, quando ainda tinha uma mãe que me dizia “ Você precisa de um namorado, Charlotte.” , mas como tudo mudou, eu também optei por uma mudança: solidão.
Não estou tentando dizer que amar é ruim, muito pelo contrário, está no topo da lista de coisas maravilhosas que o cara lá de cima reservou para nós, porém quando estamos envolvidos com alguém, ao ponto de sentir borboletas no estômago, estamos também frágeis como vidro, qualquer deslize e teremos que passar meses recolhendo os pedaços do nosso pobre coração.

Jasper estava com a cabeça em meu peito, seus braços sobre minha barriga e sua mão na minha, como se me segurasse para que em nenhum momento eu pensasse em fugir dali. Vê-lo dormir tão tranquilamente espantava todos os pensamentos ruins que eu costumava ter pela manhã, todos os problemas pareciam pequenos ao saber que ele estaria comigo a partir de agora, mas ainda existia uma preocupação rodeando-me.

Eu era humana, mortal e com sentimentos que saiam de dentro dos meus olhos a cada amanhecer. Tais razões me levam a pensar que não sou a pessoa certa para ele, talvez nunca haja a pessoa certa para alguém como Jasper, não nessa vida, ninguém seria bom o bastante.

– Bom dia Sunshine. – Sua voz rouca despertou-me. – Parece que ainda estou sonhando. – Seus braços me puxaram para mais perto, como se isso fosse possível, e um lindo sorriso torto estampou sua face.

Eu devia deixa-lo. Não posso machuca-lo, e estar ao lado dele fará com que isso aconteça. É com um destino de tragédias que foi destinado a mim.

– Dormiu bem? – Seus olhos fixaram-se ao meus fazendo meu coração disparar e um imenso sorriso surgir em meu rosto.

Seja qual for o meu destino, deixa-lo não será parte dele.

~X~

Jasper estava ao meu lado, no sofá de couro gelado, o laptop em seu colo e seus dedos nas teclas digitando ferozmente.

– Não há muito sobre ele. – Algumas páginas se abriram e rapidamente puxei o eletrônico para minha direção, para melhor ler.

“ Harrison Steven foi o único sobrevivente do incêndio ocorrido nessa terça-feira, vinte e cinco de julho de dois mil e dois, em uma fábrica de mutações químicas e biológicas, Diamond Biology Ltda. Não sabe ao certo qual foi a causa inicial do incêndio, teorias dizem que essa tragédia foi fruto de uma rebelião ocasionada pelos quinhentos e cinquenta e dois funcionários que foram demitidos na última semana. Harrison afirmou estar em sua sala de analises clinicas quando os gritos começaram e o alarme de incêndio foi disparado. Uma vida foi salva, mas as queimaduras de terceiro grau deixarão marcas que nem o tempo poderá apagar...” Li atentamente a pequena manchete sobre o acidente que deixou cicatrizes no Red Velvet, nada que nos informasse algo precioso.

– Podemos dar uma olhada...

– Eu sabia que teria essa ideia. – Me interrompeu batendo na perna, como se estivesse apostando consigo mesmo. – Sim, podemos ir até lá. Não, não iremos sozinhos. – Ele sorriu segurando meu rosto e me dando um beijo barulhento na bochecha. – Quanto mais pessoas, maior será a sua segurança.

– Isso não se trata apenas de mim. – Murmurei inconformada por ele estar pensando somente na minha segurança.

– Isso se trata de nós.

~X~

Londres; Shoreditch; Diamond Biology Ltda; 11:38am.

Derik e Ethan não negaram meu pedido para que nos acompanhassem na destruída Diamond and Biology Ltda. Harry passaria o dia longe do departamento, tornando nossa aventura ainda mais fácil, porém não menos perigosa.

Deixamos as maletas na porta e posicionamos as armas e lanternas para que pudéssemos entrar em segurança. Derik estava em frente, Ethan ao seu lado direito e Jasper ao esquerdo, deixando-me para trás como uma garota indefesa que não sabe usar uma arma, por sinal eu carregava duas comigo.

– Limpo! – Derik gritou após o único barracão que ficou de pé ser revistado. – O cheiro é insuportável! – Murmurou após segurar uma das maletas com os equipamentos.

O fogo tomou conta de tudo, deixando apenas um pequeno barracão, provavelmente uma entrada da fabrica, em pé. As paredes estava pretas devido as chamas e havia cinzas por todos os cantos, além do cheiro de fumaça e decomposição.

Espirramos o luminol por todo o local, esperando alguns minutos até que a luz negra nos revelasse algo. O chão estava imundo demais para que o brilho surgisse sem nenhum outro reagente.

– Charlotte. – Jasper retirou os óculos e o entregou para mim. – Você precisa ver isso. – Apontou a luz negra para o chão e esperou até que eu encarasse o mesmo.

O chão brilhou como diamante, cada centímetro começou a brilhar informando sangue. Litros e litros de sangue.

– Impossível! – Meu cérebro ainda tentava deduzir uma razão, ou até mesmo formular uma teoria. – Me agachei para pegar amostras dos resíduos e levar urgentemente para a analise, não queria passar mais nenhum minuto ali dentro.

– Tenho uma digital na lixeira. – Ethan murmurou retirando a digital encontrada no metal da pequena porta para a lixeira. – O cheiro está mais forte aqui.

Caminhei em sua direção para ajuda-lo a abrir a porta emperrada. Foi necessários alguns empurrões e várias batidas de ombro até que ela cedeu mostrando o caminho que fazia até a caçamba de lixo embaixo do prédio.

– O lixo não deve ser retirado a anos... Meu Deus! – Meus olhos encararam a caçamba logo em baixo de nós. Meu estômago revirou e não resisti a imensa vontade de colocar todo o café da manhã para fora.

– Lottie! – Jasper segurou meu cabelo e minha cintura, impedindo que eu caísse.

– Doze! – Gritei encarando-o aflita. – Há doze corpos lá embaixo.