RED velvet escrita por Juliana Moraes


Capítulo 11
Blood Diamond


Notas iniciais do capítulo

" You and I like a diamond in the sky..."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/603028/chapter/11

Londres; Brixton; Reid’s old house; 11pm.

Entramos cuidadosamente na casa abandonada, sentindo uma onda de nostalgia me atacar ao ver que tudo permaneceu como era antes, um pouco mais sujo e com muitos mais roedores pelos encanamento, mas mesmo assim ainda era o lugar onde minhas mais lindas lembranças aconteceram.

Mesmo depois de discutir, e muito, com Jasper sobre não querer companhia nessa parte do caso, ele negou qualquer possibilidade de me deixar sozinha. Por um lado me senti segura e confiante, por outro desconfortável e com receios de que ele afundasse tudo.

– Por que se mudou daqui? É a casa dos sonhos de qualquer um. – Jasper cochichou se aproximando de mim, seus olhos atentos a cada centímetro da casa.

– Quando meus pais morreram eu sabia que tudo ficaria mais difícil, então me mudei porque queria ter daqui apenas boas lembranças. – Admiti sentindo falta dos bons e velhos tempos.

– É uma boa teoria.

Levantei, com a ponta da minha bota, o tapete empoeirado encontrando uma pequena passagem para o porão.

– Lembro do meu pai escondendo algo valioso lá em baixo. – Retirei o cadeado frouxo e abri lentamente a passagem. – Pode iluminar enquanto eu desço? – O encarei aflita fazendo-o concordar.

– Tome cuidado. – Sua voz era serena com alguns toques de açúcar, não parecia mais o mesmo rapaz da semana passada, que insistia em discordar e opinar em tudo o que eu fazia.

Com dificuldade desci os degraus da escada de madeira velha e cheguei sã e salva no porão mal iluminado. Esperei até que Jasper fizesse o mesmo, ajudando-o com a iluminação da escada.

Uma analise completa do local foi feita pelos meus olhos sem mover nenhum passo. Lembrava perfeitamente bem do dia em que o porão foi fechado para passagem, eu segui meu pai por alguns minutos e o vi perto da parede dos fundos, ao lado do armário velho que minha avó havia deixado aqui para uma venda que nunca aconteceu. Procurei algo diferente entre as paredes e quando não o encontrei, pedi a ajuda do grandalhão para retirar o armário de onde ele estava, colocando-o do lado oposto de onde eu estava.

– Aqui. – Observei o pequeno buraco cimentado de forma desigual ao restante. – Ele escondeu aqui, tenho certeza.

Jasper procurou por algo ao seu redor, encontrando logo ao lado um martelo enferrujado.

– Deixa pro papai... – Uma martelada violenta, e inesperada, foi dada na parede. – De nada. – Ele sorriu torto pegando a caixa de prata, que havia caído no chão e me entregou-a.

Tentei abri-la mas ao pensar em tal ato, parei no mesmo momento.

– Vamos embora, não podemos abrir aqui.

Uma coisa que sempre nos diziam no treinamento da polícia era que a entrada será sempre mais fácil que a saída. Todas as vezes que entrávamos em um local o coração pulsava menos do que no momento em que saíamos do mesmo. O motivo? Simples! Sempre que estamos indo a algum lugar estamos de mãos vazias, apenas em busca de algo que nos surpreenda, mas ao sair estamos com ladrões, assassinos e evidências que se perdidas poderá mudar todo o rumo de uma investigação quase perfeita.

Eu estava com a prova mais importante do caso em mãos, se eu a perder voltarei do ponto zero novamente, mas após descobrir que nosso assassino pode estar totalmente ligado a morte dos meus pais, eu daria minha vida para proteger essa caixa.

– Senhores. – Alguém nos chamou assim que saímos da casa, fazendo meu coração disparar. – Posso saber o que estava fazendo nessa casa?

– A casa é minha. – Murmurei sem dificuldade ao ver o policial em minha frente. Segurei a mão de Jasper, entrelaçando nossos dedos e encarando-o por um breve momento, com olhar apaixonado. – Estávamos fazendo uma visita de rotina, sabe como é né? Nosso casamento se aproxima e pensei em visitar nosso novo lar para decidir quando começaremos a reforma.

– Eu tenho certeza que essa casa é do Senhor Josh Reid. – O policial murmurou convicto.

– Conhecia meu pai? – A curiosidade conseguiu passar pelo meu disfarce.

– Charlotte? A pequena Charlotte? – Ele me encarou confuso. – Desculpa Lottie, não te reconheci, você cresceu muito e... já vai se casar! – Ele ficou tão animado que parecia ser o convidado de honra do nosso casamento que não iria acontecer. – Foi bom te rever, desculpe o incomodo.

Sorri gentilmente e voltei minha caminhada até o Range Rover estacionado logo no final do quarteirão. Jasper segurava fortemente a minha mão, que não seguiu minhas ordens e continuou com os dedos entrelaçados nos do grandalhão.

– Tudo bem grandalhão... – Encarei seus olhos castanhos e involuntariamente deixei um sorriso escapar. – Já pode soltar minha mão.

– Você a segurou então você que a solte. – Ele se aproximou, fazendo com que meu corpo encostasse no carro logo atrás de mim. – Sabe, eu sempre achei que seu nome ficaria melhor com West no final.

– Eu estava começando a gostar de você, não estrague tudo agora. – Murmurei irônica, fazendo-o rir sem graça. – Vou te levar para casa, se vai ficar virar meu segurança precisará de roupas limpas. – Abri a porta do carro para que ele entrasse, fazendo-o rir ainda mais com minhas atitudes fora do controle.

~X~

Londres; Southwark; Jasper’s apartamento; 1:37 pm.

Jasper cantarolava um canção enquanto tomava banho, um demorado banho. Estava o esperando em sua pequena e muito bem organizada sala, cheia de troféus de futebol e fotografias onde todos retratados pareciam inquestionavelmente felizes. Tentei deduzir quem eram aquelas pessoas, seu pai era evidente nas imagens devida sua semelhança com o filho, seus avós, um cachorro Golden que parecia ter o tamanho de um urso e uma garota loira e linda abraçando-o em um das fotos de destaque, não que eu me importe em quem ela seja, mas não irei negar que fiquei curiosa em saber suas origens, afinal Jasper disse que não tem namorada.

– Desculpe a demora. – Ele me assustou.

– Quem são eles? – Perguntei apontando para as fotos em minha frente, ignorando meu cérebro que só gostaria de saber sobre uma pessoa na foto.

Encarei seu corpo nu enrolado com uma toalha verde musgo, a água escorria por todo seu corpo e eu sabia que ele não estava fazendo aquilo sem intenção nenhuma.

– ... E essa é minha irmã. – Ele apontou para a garota loira na foto e algo relaxou dentro de mim. – Devíamos ficar aqui essa noite, tem aquecedor. – Ele sentou no sofá marrom e ligou a TV sem preocupação nenhuma em se vestir.

– Onde está sua mãe? – Tentei mudar o meu foco. – Quero dizer, ela não está em nenhuma foto...

– Ela desapareceu. – Seus olhos me encarara fixamente se tornando algo frio e ameaçador, deduzi então que esse era o assunto proibido.

– Pode me ajudar a abrir a caixa? – Pedi fazendo caretas. – Está cadeado.

Ele observou o cadeado por alguns minutos e depois encarou meu pescoço sorrindo.

– A chave. – Ele apontou para meu colar. – Foi seu pai quem te deu?

– Sim... alguns dias antes de morrer. – Retirei o colar no mesmo momento como se ele começasse a me dar choque.

Jasper o capturou rapidamente e com dificuldade tentou abrir a caixa. Sentei ao seu lado, aflita, torcendo para que ele conseguisse esse feito. Mais alguns segundos se passaram até que o barulho do cadeado se abrindo fez meu coração congelar.

Coloquei a caixa em meu colo e retirei tudo o que havia lá dentro, o que não era muito. Uma carta em papel antigo, amassada inúmeras vezes, e um saco de veludo preto amarrado com todos os nós que existiam.

“ Se essa carta foi encontrada, isso significa que obtive o triste fim que tanto temi. Não sei em quais mãos essa caixa irá tocar, mas se fosse de minha plena decisão, ninguém saberia da existência desse caso.
Sou o agente Josh D. Reid, essa é uma prova valiosa do caso Red Velvet, ou como eu prefiro chamar, diamante de sangue. Uma bela joia não deveria ter como substância o sangue humano, e mesmo tendo a certeza de que esse é um argumento valido, sei que a humanidade é insana demais para negar algo que brilhe tanto.

Com uma bela despedida peço que entreguem qualquer grão de poeira encontrado nessa caixa, para a policia, e digam que Harrison Steven é o autor das vinte e duas mortes.

Se permite pedir algo mais, diga a minha filha Charlotte Reid que a amo com todo o coração e que tudo que fiz foi para protege-la. “

– Harrison Steven. – Jasper parecia tão assustao quanto eu. – Temos um nome...

Segurei firmemente o pacote de veludo preto e com ajuda de uma tesoura, consegui abri-lo, revelando em minhas mãos um lindo diamante.

– Red Velvet. – Sussurrei impressionada com o brilho que aquela pequena joia possuía. – O tão procurado diamante de sangue. – Os olhos arregalados de Jasper não conseguiam acreditar que aquele pequeno pontinho precisou que vinte e duas pessoas morressem.

– Temos que dar um fim nisso. – Ele fechou minha mão e a segurou forte. – Se ele está matando todas essas garotas para fazer outra joia e para chamar a nossa atenção, imagina o que ele fará com a gente quando descobrir que estamos com essa pedra? – Ele tem a total razão e eu odeio admitir isso.

– E o que faremos, Jasper? – Meu semblante era visivelmente preocupado.

– Ficaremos aqui esta noite e amanhã resolveremos tudo.

– Harry não pode saber de nada, ele vai me tirar do caso. – Meus olhos imploravam segredo.

– Não irei contar para ninguém, Charlotte. Mas acho que seria uma boa ideia contar a Ethan e Derik, eles são sua equipe e vão te ajudar em tudo. – Palavras sábias saiam de sua boca como se ele fosse um livro de conselhos. – Podemos subentender muita coisa, e deixar somente o básico no quadro dos casos, assim Harry não irá descobrir.

Ele estava comigo. De corpo, alma e coração. Era possível ver toda a vontade que ele continha em me ajudar nesse caso a ponto de se arriscar em esconder algo que, eu tenho absoluta certeza, pode acabar com toda uma carreira profissional. Não sei qual foi a primeira impressão que tive de Jasper, mas a opinião que formei sobre ele agora era totalmente oposta a do primeiro dia em que o vi.

– Obrigada. – Sussurrei ao pé do ouvido.

– Posso saber por que?

– Por estar aqui comigo. – Respirei fundo sentindo meus pulmões doerem, eu precisava de um tempo sozinha, para pensar e raciocinar nos fatos ocorridos, mas preferia mil vezes estar na companhia dele, por mais estranho que isso seja ao vir de mim.

– Acho que vou vestir uma roupa. – Ele se levantou segurando a toalha e mostrando que mais tatuagens estampavam seu corpo. – Se quiser tomar um banho, tem roupas limpas no armário, vai ficar grande mas é sempre um bom pijama. – Seu sorriso torto iluminou uma parte de mim que a muito tempo viveu congelada.

– O que quer dizer com “ There’s Always a sunchine”? – Li a frase tatuada em sua costa.

– Acredito que até mesmo as pessoas mais sombrias tem uma parte que ilumina alguém, como um raio de sol entre as nuvens de uma tempestade. – Apoiou sobre o batente da porta e me encarou com os braços cruzados. – Gosta de tatuagens, senhorita Reid?

Fiquei de pé e retirei meu suéter quente, ficando somente com uma pequena blusa cropped preta, deixando amostra as tatuagens que possuo na costela.

– Essa é a que eu mais gosto. – Ele chegou um pouco mais perto para admirar o desenho. As digitais dos meus pais formam uma fotografia da minha família em frente ao Big Ben. – Cinco horas de muita dor. – Sorri ao vê-lo com um ar encantado.

– Vejo uma outra aqui perto da sua cintura. – Ele puxou meu corpo e abaixou o bolso da minha calça até que a segunda tatuagem aparecesse, bem no quadril. – Turn the pain into power.

– É o trecho de uma música, de um grupo irlandês que coincidentemente gostamos.

– The Script. – Ele riu baixo, ainda sem me soltar. – Pelo menos tem bom gosto, Lottie.

– Sempre tive. – Seu hálito de menta invadiu meu pulmão me deixando sem ar. – Não vai se vestir? – Perguntei encarando seu corpo se arrepiar.

– Depende, você quer que eu me vista? – Seu olhar encantador passou para algo malicioso em questão de segundos, ficando ainda mais bonito.

– Não. – Fechei meus olhos para não ver suas expressões, muito menos vê-lo rindo de minhas bochechas coradas.

– Seu desejo é uma ordem. – Suas mãos frias passaram pela minha coluna até chegar em minha nuca, onde seus dedos entrelaçaram-se em meu cabelo fazendo-me abrir os olhos.

Seus lábios não demoraram muito para tocarem os meus. E durante esse momento, as borboletas em meu estômago começaram a fazer sentido. Não poderia mais negar que na luta eterna entre meu coração e minha mente, meu forte e ingênuo coração acabaria ganhando. Não estou dizendo que deixei com que me apaixonasse por esse grandalhão metido a besta, não sei se posso amar alguém tão intensamente como um dia amei, mas acho que não me fará mal tentar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não deixem de adquirir uma cópia do meu livro ( foi primeiramente publicado no Nyah! ) http://www.protexto.com.br/livro.php?livro=706