Ficou um silêncio na sala durante alguns segundos. Maurício não ia e nem voltava, estava totalmente embasbacado.

– Professor? – perguntou Miguel.

– Ahn… Bom dia, pessoal.

O homem voltou a si e fechou a porta.

– O meu nome é Maurício e vou substituir o professor Ricardo durante algum tempo. Como alguns de vocês devem saber, o professor de vocês teve que viajar para o norte do estado para cuidar de sua mãe, que está muito doente.

E Maurício foi andando até a mesa e se sentou observando a todos tentando disfarçar toda aquela cena.

A aula correu tranquilamente como qualquer outra.

– … E é por isso que a variabilidade genética é tão importante. – disse Maurício largando o giz sobre a mesa. – Bom, pessoal, essa foi a nossa aula de hoje. Espero que tenham gostado.

O homem sorriu observando cada um. Logo o sinal bateu mais uma vez.

– Podem ir pro recreio.

Maurício ficou ajeitando uns papéis na mesa distraidamente enquanto os alunos saíam da sala.

– Anda, vai lá falar com ele! – ele ouviu o cochicho e quando olhou para olhar a jovem Ana Luísa estava parada na frente de sua mesa com os olhos arregalados e sem saber o que dizer.

– S-senhorita? – perguntou Maurício confuso, corando um pouco ao observar aqueles belos olhos verdes.

– Ahn… Bem…

– Professor, ela queria te fazer uma pergunta. – disse Eloá abraçando a amiga de lado.

– Sobre o que? – perguntou ficando um pouco curioso, talvez assustado.

– É que… É que… - o maior desejo de Luísa naquele momento era matar Eloá e Clarisse, mas infelizmente havia testemunhas demais. – Professor, eu queria perguntar se é possível um animal de uma espécie ter um filhote com outro de uma espécie diferente.

Pergunta idiota. Mas quem disse que vinha alguma coisa em sua cabeça além disso?

– Tipo… Um cachorro e uma mulher.

– Que pergunta mais estranha, senhorita. – Maurício riu da situação tentando disfarçar o nervosismo. – Mas, em resposta a sua pergunta, existem sim possibilidades de seres de espécies diferentes, mas que tenham um ancestral bem próximo em comum. Por exemplo, podemos ter híbridos de uma tigresa e um leão, galinhas e galhinhas d’angola… Animais “parecidos” sabe. Agora, de cachorros e seres humanos eu nunca ouvi falar.

– A tá! – disse Luísa já fugindo da sala. – Obrigada, professor!

Clarisse e Eloá saíram atrás da menina rindo e a zoando. Enquanto isso, Maurício ficou sozinho na sala e deu um longo suspiro.

– “Eu não posso me envolver. Não depois daquilo…”