Eram sete horas da manhã. O sino da igreja do pequeno povoado de Piedade soava naquele domingo chamando os fiéis para a missa. O coral de jovens cantava de forma harmoniosa a canção “A Treze de Maio”.

(https://www.youtube.com/watch?v=QPUQfZ79uWQ)

“(…)

Ave, ave, ave Maria
Ave, ave, ave Maria
Ave, ave, ave Maria
Ave, ave, ave Maria”

E a missa correu normal como todo o domingo. O padre deu a benção final e deixou a igreja pela porta da frente seguido em procissão pelos diáconos, coroinhas e o coral. Em alguns minutos os fiéis fizeram o mesmo, alguns indo embora e outros ficando no pátio para conversar ou comprar bugigangas na feirinha.

– Até amanhã, Lu! – disse a ruiva se despedindo da amiga.

– Até amanhã, Clarisse! – disse a menina de cabelos castanhos.

Clarisse e Ana Luísa eram amigas de infância. Se conheceram aos três anos de idade na pré-escola e desde então são inseparáveis. Atualmente estudavam no colégio da igreja, tendo como atividade extra cantar no coral.

– Luísa. – ouviu-se uma voz feminina.

A garota se virou e deu de cara com os pais.

– Mamãe! Papai! – e correu para abraçá-los, sempre muito carinhosa.

– Cantou muito bem, filha. – disse seu pai sorridente.

– Ora, vejam só. É a pequena Luísa! – exclamou o velho e gordo coronel chegando.

– Bom dia, senhor coronel. – disse a garota gentil.

– A filha de vocês tem talento, sabia? Já pensaram em colocá-la em um programa de rádio, desses de calouros?

– Oh, coronel, assim você nos deixa sem jeito. – disse a mãe.

Enquanto os pais conversavam com o coronel, o olhar de Luísa se perdeu meio as pessoas. De repente, a figura de um homem do outro lado da rua o chamou atenção. Aparentava ter trinta e poucos anos, tinha cabelos castanhos e revoltos, olhos acinzentados e barba por fazer. A garota ficou totalmente encantada. O homem também pareceu ter a visto e os dois ficaram se olhando durante algum tempo até que…

– Aninha, vamos pra casa. – disse o pai.

– Vamos, papai. – ela se virou para dar uma olhada no homem, porém já não estava mais lá.

. . .

Na manhã seguinte Ana Luísa acordou bem cedo para ir à aula. Quando estava no caminho encontrou Clarisse e Eloá – filha da empregada da primeira que estudava no mesmo colégio. Eloá era uma negra muito bonita de cabelos cacheados cobiçados por muitas, e de uma gentileza única. O trio foi andando devagar conversando e um dos assuntos que surgiu foi o homem que Luísa havia visto no dia anterior.

– Ele era lindo! Acho que nunca vi um homem tão bonito assim…

– Huhu! Luísa tá apaixonada! – brincou Eloá.

– Não estou não! – reclamou.

Clarisse riu.

– Vocês duas são ridículas. – comentou a ruiva.

Já no corredor da escola foram surpreendidas por Miguel, o representante de turma.

– Ei, vocês estão sabendo que vamos ter um professor substituto?

– Sério? – perguntou Clarisse.

– De que matéria? – perguntou Eloá.

– Biologia. – respondeu.

– Ué, e o Lage? Aconteceu alguma coisa com ele? – perguntou Ana.

– Ele teve que viajar pra cuidar da mãe doente.

– E você sabe alguma coisa sobre esse professor novo? – perguntou Clarisse.

O sinal bateu e o corredor começou a ficar tumultuado. Os alunos iam andando em várias direções para chegar às suas salas.

– Vamos saber agora. – Miguel piscou e para a sala.

As meninas foram atrás bastante curiosas.

. . .

Maurício estava na sala dos professores tentando organizar as ideias para a sua primeira aula. A menina que havia visto no dia anterior não saía de sua cabeça, fazendo-o ficar bastante distraído. Foi então que ouviu o sinal bater. Era o grande momento.

Ele atravessou o corredor – agora mais vazio -, subiu as escadas e viu a porta da sala da Terceira Série do Ensino Médio. Maurício respirou fundo e abriu a porta, ficando estático ao dar de cara com a garota que havia visto antes.