Mistérios da Meia-Noite escrita por LadyWolf


Capítulo 4
Prólogo - Parte III




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O velho guiou Maurício até uma clareira distante, onde havia uma velha casinha de madeira.

– Seja bem-vindo. – disse abrindo a porta e esperando Maurício entrar.

– Com licença. – disse entrando na casa.

Era um lugar bastante humilde. Os móveis que havia ali eram velhos e surrados parecendo ter, pelo menos, uns cinquenta anos de uso. Eram espaços bem pequenos, tendo somente como divisão uma porta com um cadeado grande e enferrujado.

Antes que Maurício pudesse perguntar alguma coisa, o senhor lhe disse para tomar um banho no rio logo atrás da casa. Enquanto isso lhe arrumaria roupas e algo para comer. O homem aceitou, estava precisando mesmo de um banho, e saiu da casa pela porta dos fundos.

Havia realmente um pequeno riacho atrás da casa. Sem titubear, Maurício entrou na água. Ele passou as mãos pelo corpo, tirando o sangue das mãos e do rosto. Seus joelhos e cotovelos estavam machucados. Quando ia sair da água deu de cara com uma túnica cinza muito bem dobrada sobre a grama. Como não vira o velho? Enfim, ele foi se vestir e retornou a cabana.

– Oh, Maurício. A túnica lhe caiu bem.

– Obrigado. – ele agradeceu e sentou-se em uma das cadeiras da mesa.

– Espero que esteja com fome. – disse com um sorriso enquanto servia um pouco de sopa em uma tigela. – Aqui.

O misterioso ancião pôs a tigela sobre a mesa na frente de Maurício que ficou olhando a comida um tanto curioso.

– Obrigado. – o homem empunhou a colher, levou em um movimento leve até a sopa e em seguida até a boca. – Está muito boa. É sopa do que?

O velho segurou o riso.

– O que foi? Por que está rindo?

– Nada…

– Então, a sopa é do que?

– Içá com gengibre.

– Içá? É algum tipo de pássaro?

– Não…

– Mamífero?

– Não.

– Ahn… Anfíbio?

– Nem…

– Peixe?

– Passou longe.

– Se não é nenhum desses… - Maurício parou, olhou para o velho e depois viu a formiga de traseiro grande boiando. – Não… não pode…

– Sim, pode.

– Então isso é sopa de… FORMIGAS!?

– Sim. – disse ele se sentando e pondo outra tigela sobre a mesa, dessa vez a sua frente. – Formigas possuem valor nutritivo, não sabia? Pode não ser muito, mas tem.

– Ah…

– Escute Maurício, se não quiser comer não precisa, tá? Posso colher algumas frutas ou cogumelos no bosque, está cheio deles.

– Não precisa se incomodar, senhor… – disse dando um sorrisinho sem graça. – Desculpe, não sei seu nome ainda.

– O meu nome?

– Sim.

– O meu nome se perdeu junto com a minha história.

– Como assim?

– Eu abandonei o meu passado, Maurício. Abandonei as pessoas que amava, tudo. – disse fazendo uma pausa na fala. Seu olhar se entristeceu um pouco. – Deixei tudo para trás por um sonho.

– Que sonho?

– Desde menino eu sabia que não era como as outras pessoas. Eu sonhava demais… Sonhava com um mundo em que todos seriam felizes. Mas não foi bem assim que acabou acontecendo. Minha mãe e minha irmã foram violentadas e mortas por um homem que até hoje não esqueço o rosto, meu pai vivia drogado… Então acabei fugindo para um monastério em terras do outro lado do oceano. Os monges me acolheram e vivi entre eles conhecendo o que sei sobre a natureza, os sentimentos… Mas durante a Segunda Guerra Mundial o monastério foi bombardeado e eu fui o único que sobreviveu. Então, mais uma vez, fugi para onde pudesse ficar seguro. E aqui estou eu em terras brasileiras há trinta e dois anos. – por fim, o velho coçou a barba e tomou um pouco da sopa. – Está um pouco salgada.

– E como sabe o meu nome? Me conhece de algum lugar?

– Hehe. – o velho riu. – Eu sou telepata, Maurício. Posso ler mentes, chegar ao seu subconsciente. E por isso eu sei muito bem o que aconteceu.

Maurício não disse nada.

– Pois bem, vejamos. O seu nome é Maurício Linhares, vinte e um anos. Na última lua cheia você foi caçar e foi mordido por um lobo e…

– Nossa, você sabe mesmo das coisas. – interrompeu Maurício impressionado. - Mas o que aconteceu ontem à noite?

– O lobo que te mordeu era amaldiçoado.

– O que?

– Ele foi amaldiçoado por um feiticeiro há… Sete anos atrás.

– Tá de brincadeira né?

– Não. – o velho ergueu a colher na direção do jovem. – Maurício, você é um lobisomem.

– Você tá gagá? Só pode. Deixe-me ir. – disse o rapaz já se levantando.

– E o que explica você ter “apagado” na noite de ontem e acordado no meio da floresta cheio de sangue pelo corpo? E esses machucados nos cotovelos e joelhos? Seu vômito também não saiu lá muito normal.

– PARA, TÁ? Já chega! – disse batendo na mesa.

– Não seja criança e aceite logo isso! VOCÊ É UM LO-BI-SO-MEM!

– Não… Não… - Maurício se sentou novamente levando as mãos a cabeça desesperado. – Então aquelas visões…

– Sim, Maurício. Você matou Rosa.

– NÃO! – as lágrimas correram pelo rosto do homem que chorava muito. Seu coração estava destruído. Jamais iria se perdoar por ter matado o amor de sua vida.

Foram momentos de silêncio. Só se ouvia os soluços entre o choro de Maurício, que não acreditava no que havia feito.

– Escute. – disse o ancião se levantando e agachando ao lado dele. Os ossos estalaram. – Nem tudo está acabado.

– É claro que está! Eu matei minha amada! E não posso voltar ao povoado, devem estar me perseguindo.

– Ah, isso é verdade.

– Então não me diga que “nem tudo está acabado” porque está.

– Maurício, eu posso ajudá-lo a controlar a transformação e te ensinar muitas outras coisas. – disse gentil. – Mas para isso você tem que ficar aqui comigo. Topa?

Os dois ficaram em silêncio novamente. Mas agora o olhar do jovem estava fixo no do ancião. Será que poderia ajudá-lo mesmo? Será que aquela maldição tinha como ser controlada?

– Obrigado, senhor.

O velho riu. A partir de então Maurício passou a viver naquela cabana antiga com o ancião - que passou a chamar de “vovô” - por longos anos.


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Notas finais do capítulo

[ E finalmente terminamos o Prólogo! Que comece a verdadeira história! ]
Vamos ouvir a música mais uma vez para dar um suspense MUAHAHAHAHA
https://www.youtube.com/watch?v=UNG8MlbYWRo