Era uma bela noite de lua cheia, por volta da meia-noite. Maurício e Rosa, um casal comum como qualquer outro, ia para a casa de moça logo após um passeio. O sogro deveria estar soltando fogo pelas ventas. Mas quem ligava? Tudo bem, Maurício ligava - e muito - já que sua amada Rosa era a filha única do coronel daquele pequeno povoado.

– Ai! – disse Maurício parando de andar após sentir uma forte dor no peito.

– O que foi, Mau?

– Nada, Rosa. – disse tentando não apavorá-la. – Vamos logo ou seu pai vai ficar uma fera.

O fato era que desde a última caçada Maurício sentia-se doente, talvez um pouco diferente. Durante alguns dias havia ficado bastante doente, mas aos poucos foi melhorando. Agora o que restava eram as fortes dores no peito que o afligiam todas as noites perto da meia-noite.

Maurício parou de andar novamente e levou a mão ao peito.

– Não acha melhor pararmos um pouco? – perguntou preocupada. Não houve resposta. – Mau?

O homem caiu de joelhos no chão apertando o peito. A dor somente aumentava, fazendo Maurício gritar. Não havia ninguém na rua aquela hora, exceto por um bêbado ou outro capengando por aí. As janelas foram se abrindo e as cabeças surgiram nas janelas para ver quem gritava tarde da noite.

– Vá dormir! – gritou uma mulher gorda na janela.

Maurício nem ouviu.

– Mau, o que você tem? – disse Rosa se agachando ao lado do homem e pondo a mão sobre a do mesmo. – Nossa, você está ardendo em febre!

Os olhos se tornaram amarelos e as pupilas tornaram-se finas como as de um bicho. As veias começaram a saltar para fora, ficando bem marcadas sob a pele. Mais um grito.

– ALGUÉM CHAME UM MÉDICO, POR FAVOR! – gritava Rosa desesperada.

A rua começou a se encher de repente. Os olhos de Maurício foram sugados até a lua. Estava tão linda e brilhante naquela noite… Tão… Rosa de afastou bruscamente. A boca começou a espumar, rosto do homem deu um rebuliço e um focinho com dentes grandes e afiados passou a se formar. Ele berrava de dor. As pernas e braços começaram a mudar de formato, as mãos e pés cresceram assim como as unhas.

– OH, MEU DEUS! – gritou uma outra mulher.

Os pelos de Maurício começaram a crescer rapidamente, cobrindo o seu corpo todo. As orelhas tornaram-se maiores e afiados. E a transformação estava terminada. O bicho chorava baixo, fazendo o som como de um cachorro.

– M-Mau…? – perguntou Rosa assustada. – Maurício?

O lobisomem se ergueu em direção a lua cheia e soltou um uivo arrepiante.

– AUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU!

Houve um grito coletivo das pessoas da cidade. A fera pulou sobre Rosa, atacando diretamente o seu pescoço. A moça caiu no chão, morta. Aquele não era mais Maurício. Agora era somente uma fera com vontade de sangue.