Mistérios da Meia-Noite escrita por LadyWolf


Capítulo 17
Capítulo XIII: O fim da noite


Notas iniciais do capítulo

Um dos capítulos mais fofos ;*



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Ana Luísa POV

"Apenas fiquei observando Maurício sair pela porta dos fundos da cabana. Meu Deus, onde havia me metido? Em um dia era uma menina comum. De segunda a sexta ia a escola, aos domingos de manhã ia para a igreja e cantava no coral. De uma hora pra a outra viro uma perseguida por um lobisomem tarado e meu professor é um lobisomem que tenta me proteger. Depois o homem ainda dá um treco e acha que eu sou a tal Rosa que ele matou há anos atrás quando se transformou em lobisomem. Para completar a situação não posso voltar para casa porque o tal do Bernardo pode vir atrás de mim. Deus, o que eu fiz para merecer isso!?"

Luísa levantou-se do sofá e trocou o vestido rasgado pelas roupas que o professor havia trazido. Realmente elas ficaram muito grandes, mas nada que uma dobradinha ali e aqui não ajeitasse. Aquele cheiro... Maurício tinha um cheiro tão bom. A despertava uma memória distante que ela não fazia a mínima ideia o que era.

A garota caminhou até a janela e passou a mão no vidro embaçado. Maurício estava dentro de costas dentro do rio. A água chegava até sua cintura, deixando suas costas largas e musculosas espostas. Era possível ver sangue e diversos ferimentos por todo o seu corpo, o que a fez ficar um pouco preocupada. Queria ir lá fora, cuidar de cada machucadinho que houvesse... Mas seu medo era maior. Não seria certo uma aluna ver seu professor nu e... Ele era homem. Sabe-se lá o que ele poderia fazer. Bem, pior que Bernardo com certeza não faria.

Luísa se afastou da janela e foi se sentar no sofá. Lembranças tomaram conta de sua mente. Lembrava-se muito bem do primeiro dia em que viu Maurício. Ela havia acabado de sair da igreja e ele estava bem do outro lado da rua. Seus olhares se encontraram... Podia sentir exatamente o que tinha sentido naquela hora. Um arrepio, talvez um friozinho na barriga..."É besteira, Luísa.", repetia para si mesma. Mas sabia que não era. Era amor a primeira vista. Um amor que jamais poderia se concretizar... Seus pais, a igreja, ninguém no povoado iria aceitar aquilo... E seu pai iria querer matar Maurício, com certeza.

Impaciente, a garota se levantou e começou a andar pela casa. Tinha tantas perguntas, mas não achava resposta para nenhuma. A cabana era velha, bastante antiga, mas alguns dos móveis eram novos. Maurício deveria ter os comprado durante os meses que deu aula no colégio da igreja. Foi então que, após andar um pouco, ela reparou na porta com um grande cadeado entre correntes. Quando passou a mão pelo mesmo as correntes e o cadeado caíram no chão. A garota engoliu seco se perguntando o que teria atrás daquela porta. A mão foi até a maçaneta um pouco trêmula e ela a virou para baixo. A fechadura fez um "clack" e a porta se abriu.

Era um cômodo quase do tamanho da sala/cozinha. Tinha prateleiras para todos os lados abarrotadas de livros, potes com coisas escritas em uma língua estranha que ela nunca havia visto antes e... Vidros grandes cheios de animais imersos em um líquido amarelado. Eram cobras, ratos, aves e até um...

– Senhorita Luísa? - perguntou Maurício aparecendo atrás dela.

A menina deu um grito e quase teve uma parada cardíaca quando viu o homem.

– Calma, sou eu. - disse ele pondo a mão no ombro da menina, que se afastou.

– O que significa isso!? - perguntou apontando para o corpo do homem imerso em líquido no maior dos vidros.

– Calma, não é o que parece. - Maurício suspirou. - Aqui é o laboratório do Vovô. Ele passa o dia inteiro aqui, praticamente, fazendo pesquisas. Ele busca fórmulas para a cura de doenças, encantamentos e até uma forma de me livrar da maldição do lobisomem.

– Tá, mas precisa mesmo ter um corpo humano?

– Bem, esse homem já havia morrido quando Vovô pegou seu corpo. - disse passando a mão no cabelo. - Bem, pelo menos é o que ele diz. Eu nunca tentei tirar ele daí.

– Então tem possibilidade dele estar vivo?

– Sinceramente, eu não sei. Aquele velho não me deixa ficar aqui sozinho de jeito nenhum. - ele riu se lembrando das vezes que foi expulso. - Como conseguiu entrar aqui? A porta não estava trancada?

– Eu só toquei no cadeado e ele caiu no chão.

– Isso não é comum, Vovô nunca deixa de trancar a porta do seu valioso laboratório. - disse pensativo.

Em seguida Maurício reparou na mesa totalmente bagunçada. Havia vidros, folhas e livros para todos os lados. A um canto tinha um pilão recém-utilizado, já que estava sujo. Ele se aproximou do caldeirão e viu que a lenha debaixo dele ainda emitia calor, chegando a conclusão que Vovô também o usara recentemente. E juntando tudo Maurício entendeu que ele saiu com muita pressa. Pressa demais até para trancar o próprio laboratório direito.

– Professor?

– Oi? Ahn... Ér... Luísa, vamos dormir tá?

– Mas...

– Está bem tarde e eu estou cheio de dor.

– Tá...

Os dois saíram do laboratório e o homem trancou a porta com a corrente e o cadeado. Apesar disso, sabia que aquilo ainda ia dar o que falar.

– Você pode dormir no sofá. - disse pegando algumas cobertas no armário. - E eu durmo no chão.

– Não, que isso. Deixa que eu durmo no chão e você...

– Não, senhora. Você dorme no sofá e pronto. - ele fez uma cara de bravo, logo em seguida piscando para a menina.

Depois dessa Luísa não teve como recusar. Então deitou-se no sofá e Maurício a cobriu com um tecido de lã bem quentinha. Em seguida fez sua cama no chão e se deitou.

– Boa noite, senhorita.

– Pode me chamar da Luísa. - disse ela sorrindo.

– E você pode me chamar de Maurício.

– Está bem, Maurício. E... Obrigada por me salvar.

– Ah, aquilo? Não foi nada...

– Claro que foi, você sabe muito bem que poderia estar morto a uma hora dessas...

– É, talvez tenha sido. - ele sorriu e bocejou logo em seguida.

Fez-se silêncio durante uma hora. Luísa estava muito bem acordada observando Maurício dormir. De repente ela ouviu um gemido, reparando que vinha do homem.

– Maurício?

– Hum? - ele gemeu novamente.

– Está tudo bem aí?

– S-sim, tudo ótimo... - disse levando a mão ao tórax.

– Não parece.

Luísa levantou e foi até o homem, sentando-se ao lado do mesmo.

– Está doendo?

– Um pouquinho só.

– Me deixa ver.

– Não é nada...

– Deixa.

Maurício viu o rosto sério de Luísa e suspirou. Em seguida se sentou e tirou a blusa. Um grande corte que ia do peito até abaixo do umbigo do homem.

– Olha só isso!

– Não precisa se preocupar.

– Me preocupo sim.

– Eu sou um lobisomem, Luísa. - disse pegando na mão da garota. - Logo esse ferimento vai cicatrizar. Só está demorando um pouco porque é muito profundo.

– É verdade isso?

– Sim, olha. - disse mostrando o pescoço. - Os ferimentos já sararam, vê?

– Nossa, que poder incrível!

– É uma das coisas boas de ser um lobisomem. - disse piscando.

– Mas eu vou cuidar de você. - disse fazendo bico.

– Como queira. - ele a olhou nos olhos.

A menina ficou totalmente vermelha. Maurício riu e a deu um beijo na testa.

– Sabe, você me lembra muito a Rosa...

– Por isso você teve um ataque naquela hora?

– Ah, aquilo... Talvez.

– "Talvez, talvez, talvez"! Você só sabe dizer isso!

Maurício riu e empurrou a garota para o chão e fez-lhe um ataque de cócegas. Luísa ria muito, se mexendo de um lado para o outro sobre as cobertas.

– Mau! Não! - ela ria.

A palavra "Mau" veio como música aos ouvidos de Maurício. A única pessoa que o chamava assim era Rosa. Ele parou com as cócegas e riu dela.

– Chato! - disse de bico.

– Agora vamos dormir.

Maurício virou-se para o outro lado e fechou os olhos. Uma vontade incontrolável de fazer carinho no homem tomou conta da menina que acabou se entregando a ele. Luísa fez cafuné em Maurício até finalmente adormecer. O resto da noite foi tranquila e foi só isso que aconteceu. Mais nada.


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