A mocinha e o vilão escrita por Tia Lety


Capítulo 2
Capítulo 02- O vilão


Notas iniciais do capítulo

oiiiiii!! obg por estarem acompanhando, lendo, enfim!, obg!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Tia Lety



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narração de: Eric

Aquela garota realmente não sabe com quem está lidando. Ela se sentou para o fundo da sala, acho que um pouco assustada. Lancei para ela o meu olhar mais intimidador possível. A garota levantou uma sobrancelha e fez um gesto atrevido com os braços. É oficial? Ela está declarando guerra comigo?

Isso era até engraçado. O rosto dela vermelho de raiva me animava. A professora de biologia entrou na sala. Eu nunca vou deixar de dizer de como essa professora é gostosa. Carl entrou na sala quase atrasado e sentou ao meu lado, jogando sua mochila de toneladas na carteira. Ele fedia à cigarro, como sempre.

Nós somos amigos faz muito tempo. Carl me deu a minha primeira garrafa de vodka. Ele me apresentou um dos meus maiores vícios: o álcool. A escola proíbe qual quer tipo de bebida alcoólica, então escondo meu vício numa garrafinha de plástico, quem iria suspeitar?

Minha vida não é um mar de rosas. Meu pai é um bêbado nojento que bate na minha mãe, e sempre que posso, a defendo. Ninguém sabe disso, nem Carl, aliás, Carl sabe poucas coisas sobre mim, quase nada. Se você quer definir ele em palavras, defina em "anti-livros". Até o cheiro o deixa enjoado. Algo me fez despertar dos meus pensamentos:

—Eric... quer responder a questão doze do seu módulo? A resposta é a, b ou c?

Era a professora de biologia. Eu nem sabia do que ela falava, nem o que queria, nem sabia direito em que órbita eu estava. Balancei a cabeça em sinal negativo. Ela fez uma cara desapontada e eu quase que sinto o mesmo. Até seu olhar se direcionar para o fundo da sala. Olhei por cima de meu ombro e a garota atrevida levantava o braço.

—A resposta da questão doze é a opção b.— disse ela, olhando pra mim

Estava cansado dela.Ah! O que essa mala quer? Quer me desafiar? Beleza... Vamos ver quem é melhor que quem...

Brinquei com o meu alargador enquanto tentava prestar atenção na matéria. Bebia na minha inocente garrafa até acabar todo o seu líquido. Minha visão já estava meio turva. Olhei para minha mão e vi sujeira debaixo das minhas unhas. Era graxa. Meu pai era mecânico, e eu ajudava nos negócios de vez em quando, só para receber dinheiro eu o ajudava. Mas agora, eu o dei um murro e sai do meu emprego. Preciso de dinheiro para bancar minha bebida.

Quando a aula acabou, falei da história da garota para Carl e ele riu.

—Aquela garota é Agnes, a garota mais certinha do colégio. Notas exemplares, uma vida social invejável e blá blá... É uma good girl.— ele parou por um momento— Eu duvido você pegar um dos livros dela e dizer: "livros são para manés".

—Por que eu faria isso?— perguntei

—Porquê eu pagaria uma cerveja pra você hoje.

Aquilo era minha motivação de desafios.

Andei até a garota, tomei um livro de sua mão e o folheei. Agnes tentava tomar da minha mão, mas ela era muito pequena. Ela já estava ficando vermelha de raiva, era engraçado, e esse era um dos motivos que me fazia querer irritá-la. O livro era da Jane Austen "Orgulho e Preconceito". A amiga estava assistindo, querendo fazer alguma coisa, mas estava incerta.

—Que livro idiota.— falei

—Idiota é você!— disse ela, tentando pegar o livro

—Para quê você lê? Não serve para nada!— falei

—Diferente de você...— Agnes conseguiu tomar o livro de mim— eu tenho um futuro. E ele será a base de letras e da literatura.

Eu ri. Balancei o queixo dela, a fazendo ficar mais vermelha.

—Quem te deu esse direito?!— berrou ela

—Eu fiz porque eu quis.

—Agnes... deixa.— chamou a amiga

A garota puxou Agnes, antes que ela me desse um soco. Andei até Carl e ele bateu palmas rindo. Acho que eu ia ganhar uma bebida grátis hoje. Fui com Carl para uma lojinha onde íamos sempre, e achamos os amigos dele. Eles estavam fumando. Compramos cerveja e sentamos no muro. Tomei um longo gole e limpei minha boca. Eu era mesmo um canalha. Meu pai bate na minha mãe por causa do álcool, da cerveja, da cachaça. E eu aqui, bebendo feito um louco. A vida é tão irônica. Carl e seus amigos desceram do muro e o picharam.

Eu não sei por quê eu agia assim. Sei que é errado. Sei que beber é errado, sei que espancar é errado, mas mesmo assim eu faço isso.

—Hey Eric! O que está fazendo? Está perdendo toda a diversão!— chamou Carl

—Já desço.

—Ele está apaixonadinho pela garota lá da sala.— disse Carl aos amigos

—Não estou.

—Ele está sim!

Desci do muro e cerrei os olhos para Carl. Carl era o tipo de garoto punk. Cabelo moicano alto, alargador, ele era magricela e vivia fazendo coisas erradas, como estuprar garotas. Não posso dizer que Carl é um vilão, porque eu também sou. Eric tem um sangue ruim também.

—Eu nem gosto dela.— falei

—Aquela garota é esquentadinha garotão... É bem o seu tipo.— disse Carl, e seus amigos riram

—Meu tipo? Ela nem bebe.

—Eu duvido você pegar ela.— desafiou um dos amigos de Carl

—Eu ganharia o quê?— sorri

—Cerveja grátis por toda a vida.

Aquilo foi A aposta. Imaginei bebendo tudo que eu queria sem gastar nem um tostão! Mas seria realmente um desafio conquista-lá. Assenti com a cabeça, aceitando o desafio.

Fui andando para casa e vi um sebo. Talvez precisassem de um funcionário ou coisa assim. Coloquei o capuz e entrei no sebo. Os livros estavam empoeirados e tinha uma garota tocando violão na entrada. Mesmo empoeirados, os livros estavam organizados de ordem alfabética e alguns por autor. Impecável.

Senti alguém tocar no meu ombro. Me virei e vi Agnes. Ela se assustou quando me viu. Estava com os cabelos amarrados, blusa, calça jeans e um avental. Estava com um rosto suado e cansado. Acho que Agnes só não me dava um soco porque estava cansada demais para isso.

—O que você está fazendo aqui?!— perguntou ela

—Eu vim procurar emprego.

—Aqui?!

—Por que não?

Agnes esfregou as mãos no rosto. Já estava ficando vermelha. Ela caminhou até o balcão e tirou uma prancheta e uma caneta.

Ela começou a me entrevistar, batendo o pé no chão.

—Tá! Está aceito! Que droga...— disse ela

Andei pelo sebo e parei em uma estante. Agnes me observava e cruzava os braços. Com certeza ela devia está pensando que eu não gostava de livros, e que eu era um idiota.

—Soltei o mundo para segurar sua mão.

—O que disse?— Agnes caminhou até mim

—É do escritor brasileiro Caio Fernando de Abreu e...

Agnes olhava para mim sorrindo, sarcástica. Eu gostava de ler. Só não queria admitir para ela. Meu orgulho era maior. Olhei para ela e estudei seu sorriso. Suas covinhas fundas eram até fofas. O sorriso dela era lindo. Era como se eu tivesse esquecido de tudo que passamos horas atrás. Agnes podia ser uma garota mais fácil de se odiar.

—Eu sei muito bem de que escritor é essa frase... Você gosta de ler!— disse ela, quase gritando

—Cale a boca!— pedi— Imagina se alguém escuta. Estragaria minha reputação.

—Relaxe, quase ninguém vem ao sebo nesse horário.— Agnes sorriu— Quer ler alguma coisa?

—Vamos nessa.

Agnes correu para dentro de uma sala e tirou um carrinho de compras. Me surpreendi de como ela estava feliz. Ela foi colocando os livros dentro do carrinho e eu a ajudei. Por mais incrível que pareça, eu estava me divertindo.


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