Enquanto nós esperamos escrita por Tia Lety


Capítulo 1
Capítulo 01- Oi, meu nome é Emma


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas '-'

Tia Lety



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/601147/chapter/1

Sabe qual é o problema de você ter leucemia? Não é nem por causa dos sintomas nem nada, é a sua mãe. Ela não pode dizer para as amigas: "Eu tenho uma filha de 17 anos chamada Emma.". Claro que não! Ela tem que dizer: "Eu tenho uma filha de 16 chamada Emma e ela tem leucemia.". E isso era o que estava acontecendo com dona Sarah. Ela tem que falar para Deus e o mundo que sua filha tem uma doença mortal! Meu pai é piloto de avião e adivinha... Minha mãe é aeromoça. Não é uma coisa de dizer: estou surpreso de como eles se conheceram. E por fim, me tiveram com três anos de casados.
Dês dos meus 10 anos eu sabia dessa doença. O que meus pais fizeram? Me colocaram em centros terapêuticos de doentes. Piorei muito e fiquei internada por meses no hospital. Aos 12, voltei para casa e fiquei controlando a leucemia por base dos remédios, mesmo sabendo que não havia cura, a vida inteira tomando as mesmas cápsulas, as mesmas gotas...
Aos 13, voltei para a escola, e fui atanazada por uma garota chamada Emily Keys e suas colegas. Até hoje ela faz isso. Tem 3 séries à mais do que eu, mas ela deve ter repetido umas quatro vezes. Meu cabelo era raspado na época por conta da quimioterapia, mas agora já cresceu e até gosto dele.
Amanheci e tomei mais uma cápsula. Minha mãe deixa todas as manhãs ao lado da minha cama os remédios que tenho que tomar.
Toquei a ponta dos pés no chão e senti o gelado percorrer minha espinha. Vesti uma calça, um casaco e botas. Estava nevando lá fora. Minha mãe subiu no meu quarto e entrou sem bater. Começou a dizer que eu sou sensível ao frio e tinha que me agasalhar. Ela me encher de casacos e cachecóis. Eu só queria ser tratada como uma filha comum, sem ser a doente da família.
Cheguei no colégio e Emily Keys tirou meu gorro e debochou:

—Nossa meninas! Ela tem cabelo agora!— ela levantava o gorro

—Devolve isso agora Emily!— tentava pegar o gorro, mas Emily era alta

—Opa! Cuidado aí, não quer ir para o hospital de novo não é?

Eu estava de saco cheio disso. E era todos os dias! Eu só queria ser uma adolescente comum, que estuda no segundo ano do ensino médio, se preparando para a faculdade, se é que eu vou aguentar até lá. Se Deus quiser sim, não sei
exatamente eu quero me formar, mas eu quero ter um futuro.
Peguei meu gorro e fui para a sala. O frio estava me matando. Nossa professora de biologia havia chegado e eu tinha um trabalho para apresentar. A maioria das lições de casa eu faço sozinha, então não era nenhuma novidade subir e falar para a sala inteira. E eu odeio isso.
Todos me assistiam em silêncio até começarem a cochichar. Sério, não estava tão ruim assim a apresentação. Uma aluna chamou a professora. Ela me olhou e pôs a mão na boca, controlando um grito.

—Emma, seu nariz está sangrando...

Senti o peso dos comentários na sala. Tipo "Olha, tadinha dela...", "Talvez ela volte pro hospital... Coitada.". Eu não quero que as pessoas sintam pena de mim! Eu não quero que as pessoas pensem que eu sou frágil, ou uma garotinha doente que precisa de proteção. Eu só quero ser a Emma, a garota do ensino médio alegre.
Controlar o olhar das pessoas era difícil. Sorrir? Não se pode, todos já sabem. Eu apenas saboreio minhas lágrimas a noite em silêncio, sem ninguém ouvir. Me acho imperfeita... Tudo a minha volta está longe do meu alcance.
Coloquei um dos dedos abaixo do nariz e olhei novamente, estava sangrando mesmo. Eu fui para a enfermaria e a enfermeira controlou meu sangramento.
Foi tudo tão rápido, meus pais vieram correndo. Meu pai me pegou no colo e o sangramento voltou. Os olhos estavam todos em direção a mim. Escondi meu rosto no ombro de meu pai e chorei. Não liguei para nada, não me importei com
quem ouvisse ou o que falasse... Eu já sabia, mas não admitia, eu sou infeliz. Nunca consegui sorrir de verdade, nunca tive um motivo real para levantar da cama todos os dias.
Fiz um monte de exames e meus pais falaram com os médicos em particular. Eu estava sentada do lado da sala onde eles conversavam, mas não ouvia nada, tinha uma parede de vidro onde eu podia vê-los. Fiquei de joelhos e os observei. Minha mãe quase cai no chão e começa a chorar, meu pai a segura, triste também.
Sentei-me no banco e pensei comigo: outra temporada no hospital. Senti um aperto no peito e chorei, mas sem fazer escândalo ou fungar, apenas derramava lágrimas sentada. Eu queria que Emily Keys estivesse aqui agora, para sentir o que eu estou sentindo, o que eu estou passando. Ela jamais entenderia o que é ter uma doença mortal.

Um garoto caminhava arrastando soro consigo olhou para mim e sorriu. Seus cabelos jamais eram loiros, eram uma cor única. Era lindo... A cor do cabelo! Precisavam de um corte. Ele tinha olhos cinzentos e uma barba leve. Mesmo sorrindo, ele tinha um olhar cansado e farto dos hospitais.
Afinal... Por que eu estou o estudando? Nem o conheço! O sorriso dele me chamou a atenção. Meu coração estava acelerado, como se fosse explodir. Devia ser um sintoma da doença sei lá...

—Emma!— chamou minha mãe. Eu a olhei e ela riu— Eu te chamei cinco vezes e você nem olhou.

—Desculpe... Eu estava... Distraída.— percebi que a minha mãe tentava esconder sua tristeza— O que foi que o médico disse?

—Bem...— ela fungou— Você vem ficar aqui por um tempo e... Fazer quimioterapia de novo.

Senti meus olhos pesados. Minha mãe sabia que eu odiava quimioterapia por conta do cabelo. Eu esperei muito para o meu cabelo crescer, e agora vai voltar para a estaca zero.

Meu pai me ajudou a fazer minha pequena bagagem para o hospital. Eu sabia o que se passava na cabeça dele. Estávamos ficando sem dinheiro para pagar o aluguel da casa. Ele e a mamãe tinham parado de trabalhar a muito tempo para cuidar de mim. Me sentia uma criança de cinco anos, que não podia se cuidar sozinha. Meu pai é aquele homem que consegue se manter no controle, mas no meu quarto, ele não conseguiu manter. Sentei ao lado dele e o abracei.

—Pai, eu vou ficar bem. Volte a trabalhar, aos fins de semana vocês me visitam.

—Emma, não vai ser todo o final de semana, dois durante o mês se der sorte.— ele fungou— Se eu não trabalhar, vão cancelar o seu plano de saúde.

—Ei... Eu vou ficar bem. Tenho várias coisas para me distrair lá no hospital, o centro de apoio, as enfermeiras.

—Tem certeza que vai ficar bem?— assenti com a cabeça— Vou pedir para Bela ir lhe visitar todos os dias certo?

—Tudo bem.

Bela era minha babá dês dos meus primeiros dias de vida, meu pai limpou as lágrimas e pegou minha mochila.
Meus pais me deixaram no hospital. Entrei num quarto guiada pela enfermeira.
Havia um paciente deitado na maca ao lado, estava tomando soro e eu não conseguia ver seu rosto. Pelo seu jeito, parecia muito triste. Eu tinha várias coisas para fazer hoje, um monte de exames, o centro terapêutico e mais e mais exames...
A enfermeira me acomodou no quarto e se foi. Ela me disse que eu teria que fazer vários exames, só me deixaria descansar um pouco. Sentei na minha maca e esperei o tempo passar, até ouvir um miado.

—Fica quieto garoto...— cochichou o garoto da maca ao lado

Me aproximei um pouco do garoto e vi um gatinho branco com um pouco de pelos dourados. Sorri e o garoto olhou para mim surpreso. Mas quem ficou surpresa fui eu, ele era o menino do corredor, que sorriu para mim.

—Por favor, não conte às enfermeiras.— pediu

—Tudo bem. Eu... Gosto de gatinhos...— fiz carinho no bichano

—Meu nome é Josh.— disse ele sorrindo

—Eu sou...— fui interrompida pela enfermeira entrando na sala

Ela pediu para eu acompanha-la. Josh foi também, sempre arrastando o soro consigo. Entramos em uma sala onde tinha várias pessoas, com um rosto sofrido e acompanhadas de lágrimas. Algumas tinham o cabelo raspado. Sentei no chão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostaaaado!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Enquanto nós esperamos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.