She Is The One escrita por elizabeth beans


Capítulo 4
3º Capitulo




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CAP. TRÊS


Escola Católica Saint Castille, Outubro de 2007


A bibliotecária Anna, uma mulher solteirona de seus quarenta anos e alguns quilos a mais, ajudava Renesmee Cullen a encontrar um livro raro que esta jurava já ter visto por ali em outra ocasião.

Era uma primeira edição e a bibliotecária teimava em discutir que eles não o tinham em estoque, definitivamente.

Como na maioria dos dias, durante o quarto e quinto período de aulas, o lugar estava vazio a não ser pelas duas, em sua missão literária.

Anna gostava bastante de Renesmee e se podia dizer que eram amigas.

Talvez, pensava a bibliotecária, ela fosse realmente a única amiga que a garota tinha em toda Saint Castille já que não era lá muito popular com sua simplicidade, timidez e fama de esquisita. O que não era de todo verdade.

Renesmee era uma pessoa muito inteligente e doce. Ultrapassada a primeira etapa de convivência, era possível vislumbrar um ser humano bem humorado e alegre, alguém verdadeiramente agradável de se ter por perto.

O que acabava com tudo, como sempre, era a mania das pessoas de nunca se aproximarem do que ameaçava ser diferente demais. Todos naquele lugar estavam perdendo em não dar o beneficio da duvida àquela garota.

Anna fazia o que podia pela amiga quando a via ser alvo de maldades e perseguições, que não eram pouco freqüentes, nas mãos da turma de “poderosas” do colégio, lideradas por Stacy Wheir, popular, superficial, filhinha de papai e insuportável.

- Ahá, eu achei! – Renesmee pegou o grosso livro com as duas mãos e o abraçou como se abraçasse um ursinho de pelúcia. Depois olhou para ele com uma cara de admiração e reverência e então fez uma espécie de dancinha da vitoria enquanto continuava a abraçá-lo e repetir: achei , achei , achei!!!

Anna gargalhou enquanto presenciava a cena.

- Ai, Anna! – a garota falou para ela com um sorrisão nos lábios e um suspiro. – Meus pimpolhos vão ficar tão felizes com essas historias e olhe... – abriu o livro mostrando-o. – Tem todos esses desenhos antigos e lindos que posso mostrar pra eles.

A bibliotecária olhou admirada para o livro que tinha gravuras primorosas como ilustração e então se admirou um pouco mais com Renesmee e sua paixão por seus alunos do jardim de infância. Eles eram a vida da garota desde que ela fora designada como substituta da Srtª Hills, no mês passado.

As duas estavam voltando pelo grande corredor do centro quando ouviram o barulho estridente de uma risadinha feminina. Anna parou e colocou os dedos nos lábios para que Renesmee também fizesse silencio. Olharam para o corredor de onde vinha a risadinha e puderam ver duas pessoas.

- Ai Jake, vem logo, larga de ser careta! – Stacy Wheir puxava o namorado pela gola da camiseta.

- A mulher vai pegar agente. Eu não quero levar uma droga de suspensão! – Jacob Black reclamava com as sobrancelhas franzidas e um olhar de desagrado.

Stacy começou a desabotoar a própria blusa com uma só mão enquanto a outra apontava para o peito do namorado.

- Tem certeza, bebê? – dizia manhosa.

As espectadoras viram quando o rapaz puxou a namorada para si com urgência, beijando-a e prensando-a contra a parede de traz, no corredor onde estavam.

A loira tinha as mãos firmes na nuca do namorado e uma de suas pernas abraçou o quadril dele. Um gemido escapou por seus lábios cheios de gloss enquanto Renesmee virou-se sufocada, querendo sair dali bem depressa.

Mas Anna estava apenas preparando um bom flagrante quando pulou de onde elas estavam, há apenas alguns instantes, para junto do casalzinho e sacou um bloco de advertências do bolso dizendo em alto e bom som:

- Muito bem, Srtª Wheir, A Srtª está interessada em catalogar periódicos ou limpar os corredores? - e sorrindo sarcasticamente: – É claro que sempre podemos suspendê-la!

E enquanto a bibliotecária preenchia o bloquinho com os nomes de Jacob e Stacy e o garoto olhava para a namorada com aquela cara de “Eu te avisei!”, Renesmee esperava sentada de cabeça baixa no banco próximo ao guichê de empréstimos.

Ela se repreendia por qualquer sentimento infantil e impossível que ainda continuasse nutrindo por Jacob Black, o garoto dos seus sonhos, e também da metade das garotas do colégio, que estava mais longe de ser seu do que o homem estava de ir a Marte.


Mais tarde naquele mesmo dia ...



Renesmee corria apressada até a oficina da escola, a fim de conversar com Cory Monyrood sobre os mimos que a diretora encomendara para o dia das crianças. Tinha por volta de quinze minutos até que o sinal do intervalo soasse e seus pimpolhos voltassem para a classe.

- Sr. Monyrood, Sr. Monyrood ... – chamou adentrando o lugar aparentemente vazio. – Cory!!!

- Ele saiu. – respondeu uma voz rouca e encantadora que Renesmee sabia muito bem a quem pertencia.

Jacob Black acabava de rolar de baixo de um carro no outro extremo do galpão, vestindo apenas um jeans. Renesmee pensou que não conseguiria corar nem mais um grama ao ver o abdômen totalmente definido do rapaz se contraindo lindamente no esforço de se levantar e vir até ela, sem nenhuma pretensão de colocar a camisa.

Abaixou a cabeça e falou para os próprios pés evitando o motivo de sua infinita vergonha.

- Eu poderia deixar um recado para ele? – e sua voz era tão baixa que ela viu o garoto chegar mais perto, se esforçando em ouvir. Sentiu-se estúpida e inadequada e continuou olhando pra baixo.

- Claro! – ele respondeu, limpando suas mãos em um pano encardido que puxara de qualquer lugar pelo que ela ainda podia ver. – Fala aí. – incentivou.

- Diga ao-ao Sr. Monyrood que a-a Srtª Cullen veio saber quantos mimos já-já estão prontos, porque dois garotos novos chegaram à-à escola essa semana e ele vai-vai precisar fazer mais do-do que estava programado. – ela gaguejou com muito esforço.

- Certo então... Mais dois brinquedos para o primário, anotado! – Jacob sorriu naturalmente para a garota que continuava a olhar para baixo.

- Obrigada! – ela agradeceu ainda sem conseguir levantar a cabeça e então fez menção de se virar para ir embora. Acabou se desequilibrando em uma caixa de ferramentas que estava no chão e torcendo o tornozelo, caiu como uma fruta madura.

- Opa! – Jacob correu até a garota que já exibia uma careta de dor e massageava o próprio tornozelo. – Me deixa ver isso. – pediu amistosamente.

- Não se incomode, não é nada! – a garota disse e tentou se levantar sozinha.

Não pode conter o gritinho de dor quando o pé machucado protestou lhe dizendo que sim, ali havia alguma coisa que era mais do que NADA.

- Vou te levar a enfermaria! – disse o rapaz, pegando-lhe no colo antes que ela pudesse se desvencilhar dele como certamente faria.

Renesmee ainda tentou com vários: “Não precisa!” e “Por favor me deixe!” ou “Posso ir andando!” mas ele já havia deixado a oficina, segurando-a firme e sem dificuldade em seus braços desnudos, aconchegando-a contra seu peito liso e igualmente pelado, enquanto Renesmee sentia o coração bater tão desesperado no peito que ameaçava passar-lhe os ossos e cair no chão.

Só pra fazer a garota esconder o rosto no abraço de Jacob e respirar ainda mais fundo, no mesmo momento em que atravessavam o corredor o sinal tocou alardeando a saída do sexto período, fazendo com que a escola inteira tivesse uma visão privilegiada daquela cena, ou melhor, dando a Stacy Wheir uma visão privilegiada daquela cena.

Stacy podia farejar uma vadia aproveitadora a quilômetros de distancia.

Não era exatamente fácil ser a garota mais bem sucedida daquela escolinha católica ridícula e ela sabia que era mais difícil ainda manter o seu namoro com Jacob Black, o melhor partido que poderia arranjar.

“Quando se está no topo, é preciso se manter no topo”, era o que dizia sua mãe e Stacy certamente confiaria em uma mulher casada com um senador, para lhe dizer o que deve ser feito, já que ela definitivamente soube o que fazer com sua beleza e seus muitos talentos e agora tinha tudo o que poderia querer da vida.

Pois bem, estava preparada para lidar com a concorrência. Todas aquelas moscas gordas em cima de seu homem apetitoso demais.

Mas a loira precisava admitir, jamais considerou Renesmee Cullen como um de seus obstáculos nesse quesito, mesmo porque aquela lá nunca seria capaz de chamar a atenção de um cara por mais do que piedade.

Tinha um horror particular por aquela garota desde que se podia lembrar. Se ao menos fosse qualquer outra, só mais uma garota feiosa e insignificante, sem nada a oferecer em concorrência... Um aviso bastaria. Algo para colocá-la em seu lugar.

Mas Cullen era diferente. Stacy sentia uma estranha vontade de esmagá-la sempre que a via; esquisita, aberração. Quase como um favor à sociedade ao extirpá-la do convívio das pessoas normais.

E certamente não gostou nem um pouco de vê-la nos braços do seu Jake, como se tivesse algum direito de estar ali. Ou pior que isso, como se de alguma forma ainda mais deturpada, ela pertencesse ali. Se encaixasse...

Medidas teriam de ser tomadas!



No dia seguinte, no vestiário feminino...


A garota Cullen banhava-se apressada afim de não perder um segundo sequer de seu almoço onde aproveitaria para conversar com Carmen que prometera lhe fazer biscoitos com confeito colorido para o dia das crianças.

Era o primeiro ano de Renesmee a frente de uma turma e mesmo que ela não fosse mais do que uma estagiaria quebrando um galho para diretoria enquanto era dispensada das aluas de credito extra, sentia-se muito feliz em ter essa oportunidade para estar junto de seus amados pimpolhos e não iria medir esforços para que os pequenos tivessem o melhor dia das crianças de todos os tempos.

Cobriu-se com a toalha felpuda que trouxera de casa e olhou para todos os lados, no vestiário vazio procurando por alguém que pudesse vê-la desnuda. Tinha muita vergonha do próprio corpo e sempre fazia de tudo para escondê-lo, embora sua tia Alice vivesse para lhe dar bronca quando manifestava esse fato em voz alta.

Várias vezes a tia usara Renesmee nas campanhas publicitárias para sua boutique, e sempre, em respeito aos pedidos da moça, fizera fotos que escondessem seu rosto.

Renesmee não conseguia enxergar onde estavam toda a delicadeza e beleza que sua tia sempre ressaltava que ela tinha. Quando se olhava no espelho só via um amontoado de ossos, apatia e certa flacidez por ser uma garota de muitos livros e nenhum exercício físico.

Foi em passos largos até seu armário, que sempre mantinha trancado como uma salva guarda dos possíveis trotes.

Com um calafrio de pânico encontrou tudo revirado. A tranca não fora suficiente para detê-los dessa vez.

Rezou para que não tivessem levado tudo e com certa alegria percebeu que a maioria das roupas continuava ali. Amassadas e meio fora de ordem, mas ainda intactas pelo que poderia ver.

Vestiu-se e arrumou-se o melhor que pode e se pôs a sair dali.

Já no refeitório, passou pelas mesas mais ao fundo, como sempre evitando estar no caminho de qualquer pessoa e pegou sua bandeja, virando-se de costas para receber sua comida.

A primeira piada passou despercebida. Da segunda vez que alguém lhe gritou o nome, ela apenas continuou pegando a sua comida e fingiu que não ouvira, mas logo as gargalhadas se alastraram pelas mesas de estudantes e um coro de “Cullen VADIA” soou da boca de alguns garotos.

Renesmee virou-se em pânico para a grande audiência, tentando perceber algo de errado em sua roupa que não tivesse percebido antes.
Stacy Weir apareceu a sua frente com um sorriso brilhante e satisfeito e lhe entregou um panfleto vagabundo, dando-lhe tapinhas no ombro.

- Da próxima vez que se machucar, Cullen... – ela disse com uma voz de falsa amizade. – Vá se ARRASTANDO até a enfermaria!

E então a loira se virou para continuar a distribuição de panfletos enquanto uma Renesmee atônita olhava para o papel em suas mãos.

Uma montagem bastante convincente dela mesma no corpo de uma garota nua e obscena e um slogan que dizia: “A virgem do buraco fundo”.

Seus olhos se arregalaram enquanto ela tentava correr pra fora do refeitório ainda sobre os coros insistentes de “Cullen VADIA” e as grandes ondas de gargalhadas. Com certeza aquilo tinha sido pior do que qualquer coisa que já lhe fizeram.

Uma mão grande e firme a parou já na porta. Ela sabia que estava chorando vergonhosamente.

- Eu sinto muito! – Jacob Black disse com olhos sinceros enquanto tirava de suas costas algo que estivera pregado em seu sweater e ela via ali o mesmo folheto, que usara suas costas como outdoor.

Então foi isso que as garotas armaram quando invadiram seu armário. Ela não se surpreendida realmente, embora estivesse louca para desaparecer e rumar para o mais longe possível daquele lugar.

- Se quiser denunciá-la a diretoria, eu vou com você. – o rapaz soou solene e parecia bastante irritado.

Reunindo toda a coragem que nunca esperou ter e mesmo assim, abaixando sua cabeça sem poder fitar-lhe os olhos, Renesmee disse num fio de voz, mas ainda alto o suficiente pra ser ouvida.

- Obrigada, Black... Mas não preciso da sua pena!

E continuou o seu caminho pelo corredor, até dar de frente com uma tia Alice esbaforida que não parava de pedir desculpas por não ter conseguido vir a tempo de impedi-las.

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