Naquele momento Sasuke não conseguiu pensar em nada mais relaxante do que deixar o escritório em que trabalhava e seguir até o metrô da cidade, aliviado por finalmente poder ir para casa.

Ele fechou os botões do casaco marrom e escondeu o rosto na gola alta. Já fazia mais de um mês que o inverno havia começado, então ele usava, todos os dias, três blusas de manga longa e rezava para que aquilo fosse o suficiente para quando saísse do trabalho.

Alguns flocos de neves caiam no chão e sumiam entre os sapatos das pessoas. Era como um show de sapateado ao vivo, sem públicos, mas cheio de bailarinos. Havia muitas mulheres e homens ocupados com eles próprios nas ruas de Tókio. Muita gente que não conseguia enxergar o outro por cansaço e, às vezes, por pura vaidade. Sasuke gostava de se considerar entre o meio dessas duas opções.

Naquele frio que congelava o seu nariz e suas bochechas, ele não achava que havia algo mais interessante do que se sentar no sofá e tomar um chá quente. Sim, com certeza não havia nada mais. Apertou o passo e desviou de algumas pessoas em sua frente. Ele finalmente alcançou as escadas e foi descendo lentamente – não havia como ir mais rápido, estava cheio de gente para todos os lados. Talvez fosse hora de ter um carro.

Antes que pudesse divagar sobre as conveniências de um carro, Sasuke passou os olhos, desinteressado, pelas pessoas da escada ao lado. Era a subida. Gente que estava saindo do metrô e que não tinha nada a ver com ele; provavelmente estavam indo para o centro para se divertirem, mas Sasuke só queria sua casa.

Ele não ia perder tempo avaliando cada uma delas individualmente, mas então ele a viu. Um ponto todo branco em meio à escuridão de casacos negros e marrons. Jaqueta branca como sua pele pálida; e o cabelo extremamente denso, como tinta de caneta, caia pelos ombros até a cintura marcada. Era tão azul-petróleo e brilhoso que não parecia ser dela, uma boneca com o cabelo errado.

Sua respiração parou, espantado com aquela visão. Ela era um verdadeiro anjo de maçãs avermelhadas e lábios pequenos e carnudos. Um rosto único e inacreditavelmente lindo no meio da multidão. Seu anjo, porém, segurava a mão de outro homem, um homem loiro que parecia dizer algo engraçado, pois ria. Sasuke não se incomodou que ela estivesse com outro. Nada o incomodava naquele momento, a não ser se perdesse aquela visão.

Ele sentiu necessidade de ir até lá e pegá-la em seus braços, guardá-la como um tesouro precioso. De enchê-la de beijos do ventre até a ponta dos dedos. De cheirar o pescoço e constatar que sim, o cheiro combinava com sua aparência adocicada.

Parecendo não notar a piada que o homem ao seu lado fazia, ela virou o rosto e viu Sasuke. Ao contrário dele, não ficou espantada, tampouco surpresa. Mas corou um pouco mais e encolheu os ombros, como se isso fosse espantar o predador que ele era. Como um coelho assustado ou machucado. Um anjo educado, porém, pois a garota abriu um lindo sorriso que mostrou suas covinhas nada fundas no rosto gordinho.

Ela desapareceu logo depois, subindo as escadas com o namorado – não deixou rastros de seu jeans escuro, nada que informasse o Uchiha de que um dia ela havia estado naquela escada. Uma eternidade pareceu se passar enquanto Sasuke a analisava e um calor subia de sua barriga até a garganta seca. Mas ela havia sumido, então. Nunca iria vê-la de novo. Nem abraçá-la, ou beijá-la como havia desejado por alguns instantes. Seria só uma lembrança sem nome entre tantas outras.

Mas Sasuke soube que nunca encontraria alguém tão linda quanto ela.