Entre a minha casa e a tua, há uma ponte de estrelas. Lembro-me de que brincávamos muito, e nunca pisávamos nas linhas que havia entre as constelações. Quem nos observava, talvez não conseguisse distinguir-nos de macacos. Aliás, pensando bem, cada criança daquela vizinhança agia como um animal diferente. O mais velho e alto e que colava nas provas será sempre o eterno girafa. Bons tempos de infância...

Entre as minhas artimanhas e as tuas, encontramo-nos pela primeira vez numa poça de lama, formada pela chuva. Você acolheu-se em minha casa, nas cobertas branquinhas que Bianchi havia acabado de lavar. E, mesmo assim, pegou um belo resfriado, e Nana, sua mãe, não gostou muito da notícia. Felizmente, ela não me culpou de nada e até sugeriu que brincássemos novamente qualquer hora.

Entre as minhas qualidades e as tuas, graças a ti, percebi o quão leves minhas mão são, e a sincronia que possuo para desenhar as notas do piano. Parecia difícil, mas, quando vi o quanto me incentivaram, não pude permitir meu espírito sequer pensar em desistir. Espero que tenha conseguido lhe orgulhar; senti-me feliz por todos os confins da terra.

Entre meus dedos e os teus, há um fio vermelho, que se enrola, estica, embaraça. Nunca se romperá.

E, entre a terra, descansas tu. Sobre ela, resido eu. Compramos passagens diferentes desta vez.

Devolvê-lo-ei o último buquê de flores que compraste para mim. Dar-te-ei todas as palavras que precisares de ouvir. Não rogo para que volte, desejo que descanse, e nunca lhe esquecerei, tampouco tentarei partir antes da hora. Tudo possui uma ordem cronológica, e mais do que qualquer um, sei o quanto ficaria triste se eu tentasse cometer suicídio.

Sei que irei encontra-lo novamente. Vê-lo novamente.

Pois, dispersar-nos-emos. E, mesmo que isso ocorra na mais funesta escuridão, entre a minha casa e a tua, há uma ponte de estrelas. E, minha moradia, fica num cantinho de teu coração.

Descanse na alegria ambulante, meu querido Vongola. Eternamente, eu lhe seguirei.