Meu doce amor

Capítulo único

Por Mereditth

"Você vai, mas é sempre pra mim que você volta, e espero que continue assim por um bom tempo, porque eu te amo"

— Mereditth

♪

Suigetsu sabia e sempre soube que Karin iria olhar para ele alguma vez, mesmo que demorasse um tempo, ela iria esquecer a paixão obsessiva que nutria pelo Sasuke e deixaria vir a tona o verdadeiro sentimento que possuía pelo jovem de cabelo branco com tons levemente azulados.

Nem se importava de esperar por ela, da mesma forma que ela nem se importava de esperar pelo Sasuke. A realidade que perseguia aqueles dois era de um ciclo inacabado, com vários furos e misturas sem sentido.

O que levava uma mulher a perseguir um homem que não a queria, e sempre a esculachava? Era a pergunta que vivia habitando a mente do jovem.

Suigetsu era o melhor amigo dela e isso ele tinha certeza e como um bom amigo, teve que encorajá-la a confessar seus sentimentos pelo Sasuke.

O Hōzuki sempre fingia estar de bom humor e que não se importava com nada, escondia seus ciúmes de um modo inteligente.

Ele fingia emoções.

Ele fingia que não sentia.

Ele fingia que estava nem ai para ela.

Ele fingia que não se importava com ela dando em cima de Sasuke.

Ele apenas fingia, porque o que ele sentia era totalmente o contrário.

Se perguntassem a ele o que ele sentia por Karin, o mesmo responderia que apenas se incomodava com ela.

Isso era uma afirmação verdadeira.

Karin o incomodava.

Incomodava muito por sinal, mas era um incômodo que ele adorava ter.

Talvez fosse o único que adorava fazê-la se sentir irritada.

Adorava brigar com ela por motivos bobos.

Adorava ser o único a saber que seu hobby favorito era colecionar perfumes.

Amava apanhar dela.

Amava provocá-la.

Amava o jeito agressivo que ela tinha, e a admirava por nunca ter mudado.

E amava mais ainda como ela ficava sem jeito e espancava-o por isso.

O modo que ele sorria de lado após uma briga.

Mas odiava quando ela mudava na frente do Sasuke, não era uma mudança normal e sim drástica que qualquer um perceberia. Inclusive o Uchiha que odiava essas coisas.

Talvez o Uchiha mais novo não a odiasse-a, mas sentia uma leve pena, ele amava outra pessoa e isso estava nos olhos dele, que mesmo frio, dava para notar. Mas Karin não se conformava.

Eles estavam quase no final do terceiro ano do ensino médio, era o ano das despedidas, dos choros e a aproximação de muita gente, término de casal, formação de novos casais, entre outras coisas.

— Suigetsu. Eu decidi. — Karin estava com o olhar fixado na janela, olhava a movimentação alheia de outros estudantes que passeavam pelo pátio.

Suigetsu arqueou a sobrancelha e suspirou bem alto, fingindo incômodo.

— O que você decidiu, Karin? — perguntou demonstrando desinteresse pelo assunto.

— Eu decidi, irei me confessar para o Sasuke — respondeu, agora olhando nos olhos roxos do rapaz, ele se surpreendeu um pouco.

— Oh... — Riu. — Qual é a vez que você diz isso, Karin? Milésima? — questionou cruzando os braços, estirando-se na cadeira do colégio.

— Dessa vez estou falando sério, idiota! — rebateu um pouco irritada pela pouca convicção que o amigo demonstrou.

— Igual das outras vezes — retrucou, cruzou a perna direita de modo preguiçoso.

— Só preciso de um pouco de... coragem... — disse com a voz baixa.

— O quê? — questionou Suigetsu, ele tinha escutado perfeitamente, mas foi a primeira vez que ele havia escutado Karin pedir um pouco de coragem.

— Você ouviu! — retrucou, quase pulando em cima dele.

— Calma... eu entendi! — disse em modo defensivo.

Karin segurou com as duas mãos a parte de cima da cadeira de madeira e fez uma expressão nunca vista pelo rapaz de cabelo branco.

Suigetsu respirou fundo, ele só iria dar um pouco de coragem a ela, nada demais.

— Escute, Karin... — começou a falar, pousou seus dois cotovelos em cima da mesa escolar e encarou profundamente os olhos vermelhos da mulher a sua frente, tentou fazer de tudo para não haver quebra de contato visual. — Você quer coragem? Eu te darei. Vá, eu estarei esperando você aqui, se algo ocorrer lá, é só você voltar correndo para mim e me abraçar, estarei aqui, não sairei nem sumirei, mas é melhor você ir agora.

Karin arregalou os olhos, nunca imaginou que Suigetsu tivesse aquele lado dócil, quando conversavam, sempre virava briga, o tempo todos eles passavam brigando um com o outro, e ela gostava disso.

Seu coração acelerou e ela levou a mão ao peito, apertando-o. O que foi aquilo? Era impossível que ela estivesse sentindo algo pelo desgraçado que fingia odiar? Não mesmo...

Era o que ela achava.

— Você realmente acha que eu devo ir? — perguntou mais uma vez, nunca demonstrava sua fraqueza para ninguém, mas ele foi o primeiro a ver.

Suigetsu suspirou com um tom de chateação, o que irritou profundamente Karin, ele apoiou seu cotovelo na mesa e levou sua mão do queixo até a boca, olhou para a janela, ignorando-a.

Karin deu um tapa na cabeça dele.

— Não me ignore! Estou falando com você, idiota — disse irritada.

— A resposta está no seu coração, Karin, se você acha que deve ir, vá — apontou, depois olhou dentro dos olhos dela. — Isso tudo é apenas você que sabe. — Levantou e pegou a mochila que estava jogada no canto, colocou-a no ombro. — Bom, estou lá embaixo esperando por você, boa sorte na sua milésima confissão — comentou e riu.

Suigetsu viu a figura fragilizada dela e sentiu dó, se aproximou e passou a mão no cabelo macio e com cheiro de melancia dela, a mesma ergueu os ombros, assustada.

— Ei... você está estranho hoje — comentou. — Você está bem? — perguntou preocupada. — Está com febre? — Pôs a mão na testa do rapaz, ele se esgueirou do toque dela.

— Estou bem, isso é óbvio, principalmente mentalmente, já que ela é melhor que a sua — respondeu e foi saindo. — Até daqui a pouco, Karin — avisou e parou. —Vou me encontrar com a Ino, talvez comecemos a namorar, afinal, nossa relação não é nem um pouco igual a sua e a do Sasuke — provocou.

♪

Karin ficou só na sala grande e vazia, sentiu um leve frio percorrer sua espinha, sem entender nada, lágrimas surgiram em seus olhos, sua garganta travou, fitava as costas largas de Suigetsu desaparecendo cada vez mais, até que sumisse completamente de sua vista.

Suigetsu era seu melhor amigo de anos, convivia o tempo todo com ele, mesmo que muitas vezes ele a zoasse, sempre desse uma opinião ao contrário da sua e vivessem brigando, mas eram assim que melhores amigos agem, certo?

Melhores amigos não sentem atração um pelo outro, não sentem o coração bater pelo outro. Isso foi de certa forma uma reação estranha que sentiu em seu corpo, seu amor era devoto apenas ao Sasuke e era isso que ela almejava.

Suigetsu a enojava.

Mas gostava da companhia dele.

Quer dizer, ela amava.

Nunca se deu conta do tamanho do sentimento que sentia por ele.

Nunca gostou da aproximação dele com a Ino, ela era bonita, sim, a Ino era incrível, e era por isso que ela se incomodava.

Nunca contou para ele que sentia ciúmes dele com a Ino e que não tinha gostado nada da aproximação repentina dos dois.

A realidade era que Karin sabia muito bem porque estava chorando naquele exato momento, sabia o motivo de sentir sua respiração falhar e seu coração acelerar, sabia e sempre soube os motivos.

Ela amava Suigetsu.

Estava com medo de perdê-lo para Ino, estava com medo de não tê-lo por perto nunca mais, de não ser mais o centro de atenção do mundo dele, estava com muito medo disso.

Talvez sua obsessão por Sasuke fosse por conta do seu medo em revelar seus verdadeiros sentimentos ao seu melhor amigo, medo de uma rejeição.

Talvez fosse tarde demais para os dois.

Ou talvez não fosse.

Ele lhe deu a coragem suficiente para se confessar, ela se aproveitaria dela e diria seus nobres e verdadeiros sentimentos.

Karin se bateu na cadeira e pegou sua mochila, botou-a no ombro e saiu correndo.

Ela sabia que amava Suigetsu, sempre soube.

Começou a acelerar mais ainda os passos quando se encontrou no corredor.

— Suigetsu! — gritou ofegante quando o viu caminhando de forma despreocupada enquanto olhava o pôr do sol pela janela.

O Hōzuki virou apenas a cabeça para trás, para fitar a figura feminina que estava a poucos metros de distância dele, franziu o cenho estranhando ela estar cedo demais procurando-o.

— Karin...? — indagou arqueando a sobrancelha.

Ela estava com a respiração descompassada, não sabia o que dizer agora, apenas tinha percorrido a metade do percurso, ainda faltava a parte mais difícil.

— Você não vai falar nada? Deixa eu adivinha, o Sasuke te deu um fora de novo...

— Cala a boca, idiota! — interrompeu-o. Suigetsu se assustou e virou-se completamente para ela. — Você não vai encontrar a Ino?

— Bom... eu estava no caminho para tal, até você me parar e agir toda estranha. O que houve? — perguntou, se aproximando um pouco.

— Eu quero falar com você — disse.

— Bom, pode falar, estou pronto para te escutar — avisou e deu um sorriso de lado.

— Suigetsu, eu... — começou a dizer e travou.

— O quê? Você o quê? Me ama? Pf, eu já sabia disso — retrucou de modo brincalhão, como se estivesse esnobando-a.

Karin franziu o cenho e cerrou os punhos.

— Algum problema se eu amar você, Suigetsu idiota? O que é que tem demais para você me esnobar por causa disso? — perguntou irada, ele estava tirando sarro dos sentimentos dela.

— Karin... eu... — começou a dizer, mas ficou sem fala.

— Não tem o que dizer, certo? Eu amo você, Suigetsu! Sou apaixonada por você! Satisfeito? — indagou gritando.

Karin virou seu corpo, pronta a ir para o caminho oposto aquele, não queria que ele visse suas lágrimas e nem nada do tipo. Sem aviso prévio, sentiu uma mão segurando seu braço e a puxando para um beijo.

Suigetsu puxou-a pela cintura e segurou seu cabelo, queria explorar tudo o que era seu por direito, tudo. Tudo o que o idiota do Sasuke não quis.

Seu cabelo era macio e sedoso, Karin envolveu seus dois braços no pescoço dele e deixou-se levar pelo beijo apaixonado, dava para perceber que ali havia sentimento, apenas para ele.

Karin parou o beijo de supetão.

— O que acha que está fazendo, Suigetsu?! — perguntou arregalando os olhos. — Por que me beijou?

— Você tem certeza que não sabe a resposta, Karin? Vamos lá, eu sei que você é mais inteligente que isso — respondeu ao cruzar os braços, deu um sorriso de lado que fez o coração dela saltar.

— Não consigo pensar em nenhuma resposta plausível — retrucou ofendida.

— Oh... — Passou a mão pelo cabelo, puxando alguns fios para trás, se aproximou dela e puxou a bochecha esquerda da mesma, fazendo-a bater nele. — Achei que você fosse esperta, Karin — ele fez uma pausa dramática, olhou dentro dos olhos dela. — Eu amo você, Karin — concluiu.

Karin deixou que lágrimas escorressem pelo seu rosto alvo, lágrimas de alegria. Estava feliz pela primeira vez na vida.

Suigetsu novamente a beijou, de uma forma muito mais apaixonante do que a outra vez.

A realidade era que Suigetsu sempre soube que uma hora ou outra ela iria voltar para ele.