I knew you were trouble escrita por Zombie King


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Oi gente. Essa é a minha primeira história finalizada que eu estou postando aqui. Espero que gostem *--*



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Acordei com a luz do sol sobre o meu rosto, e como de costume, passei a mão sobre a cabeceira da minha cama procurando o meu celular. A tela de bloqueio sempre com uma mesma imagem de um céu estrelado que eu havia achado enquanto vagava pela internet. Ainda eram oito e meia da manhã e eu já tinha que levantar, em pleno sábado. Haviam muitas notificações de várias redes sociais, e a maioria delas, como sempre, não me interessavam e eu sempre deslizava o dedo pra esquerda sobre elas, descartando-as.

Levantei, e me preparei para tomar o café da manhã. Mesma rotina: escovar os dentes, trocar de roupa, arrumar o cabelo e a cama e descer. Eu já fazia isso automaticamente. Quando eu estava arrumando minha cama, ouço minha mãe gritar.

–- Ethan, você vai se atrasar, filho.

–- Já estou descendo mãe – gritei em resposta.

Assim como disse, logo saí do meu quarto, atravessei o comprido corredor que levava às escadas, e logo cheguei à cozinha. O café da manhã estava servido perfeitamente: panquecas, ovos e bacon, waffles, leite, pães, iogurte e é claro, meu preferido, café.

–- Especialmente pra você, filho. Nem acredito que meu homenzinho está finalmente se formando – dizia minha mãe, toda orgulhosa.

–- Não era pra tanto mãe. Eu só estou concluindo o ensino fundamental. Ainda terei muitos problemas com o ensino médio – eu disse, com um leve sorriso no rosto, ao ver minha mãe tão feliz.

Hoje era finalmente o dia da minha formatura. Eu não estava demonstrando muito isso, mas eu estava muito ansioso. Finalmente estava indo para o ensino médio, o que era meu maior sonho, desde que tinha entrado no fundamental.

Meu pensamento foi interrompido pelo som da campainha.

–- Já estou indo – gritou minha mãe, enquanto eu me sentava para tomar meu café.

Ouvi então, o som de uma voz familiar. Era Jasper, meu vizinho e melhor amigo desde o jardim de infância.

–- Bom dia Jasper. Pode entrar. O Ethan está lá na cozinha.

–- Bom dia sra. Collins. Com licença – disse Jasper.

Eu o conhecia há pelo menos dez anos, desde que minha família se mudou para a nossa atual casa, e a família dele foi a primeira a se enturmar com a gente. E como temos a mesma idade, ambos filhos únicos e éramos dois garotos de cinco anos que ansiávamos por companhia para colocar em prática o espírito de destruição que vive em toda criança, nossa amizade foi praticamente imediata, e quando passamos a frequentar a mesma escola, nos tornamos inseparáveis.

–- Bom dia, Ethan – disse Jasper, dando um enorme sorriso, que, além dos óculos, era uma de suas características mais marcantes. Ah, esse sorriso...

–- Bom dia, Jas – respondi saindo do meu pequeno transe – Vejo que está bem animado com os preparativos da formatura.

–- Um pouco nervoso, porém entusiasmado – disse ele, se sentando.

Jasper tinha sido escolhido para ser o orador, ou seja, ele teria que discursar na frente de todos da nossa turma, dos professores e também dos pais dos nossos colegas. Só de pensar nisso, eu já entro em pânico. Não conseguiria me imaginar discursando para tanta gente. Provavelmente eu nem conseguiria falar ou iria desmaiar ali mesmo.

–- Como você consegue estar só “um pouco nervoso” sabendo que vai falar na frente de tanta gente. Eu estaria em pânico – eu disse enquanto mordia um waffle.

–- Você sabe. Eu tenho um dom para falar em público. Pra mim, isso é tão natural quanto você perdendo pra mim no vídeo game.

–- Nem vem, – eu disse prontamente – você só vence quando inventa de jogar aquele jogo maldito de futebol. Mas eu acabo com você em Mortal Kombat – e fiz um gesto imitando um soco no ar.

–- Convencido – ele disse, olhando para o teto e balançando a cabeça em sinal negativo.

Continuamos tomando nosso café da manhã, até que então, minha mãe, que estava se preparando para sair, apareceu na cozinha.

–- Garotos, vamos – disse ela fazendo um sinal com a mão – vou deixar vocês lá no shopping para pegarem os ternos de vocês, assim como tínhamos combinado.

Nos levantamos e a seguimos.

O caminho para o shopping foi o mesmo de sempre, Jasper sentado no banco de trás rindo, enquanto eu, sentado no banco ao lado da minha mãe, discutíamos em que estação o rádio deveria ficar, porque temos gostos musicais completamente diferentes.

Chegando ao shopping, descemos do carro, e minha mãe disse.

–- Agora são dez horas. Volto para buscar vocês às duas. Não se esqueçam de pegar os ternos para a formatura. Divirtam-se garotos – ela disse e acelerou o carro.

–- Então. Vamos nos divertir, garoto – disse Jasper, com “aquele” sorriso.

–- Sim senhor, como queira – respondi, dando um soco de leve no braço dele.

O shopping estava incrivelmente cheio para um sábado de manhã, e resolvemos ver um filme para passar o tempo, que ainda tínhamos de sobra.

Saímos do cinema e fomos comer.

–- Acho melhor irmos buscar os ternos, Jas. – eu disse – Ou você ainda vai comer mais alguma coisa além desses dois sanduíches – esbocei um sorriso.

–- Poxa, cara. Não abusa. Eu tava com muita fome – disse ele, fazendo biquinho.

–- Claro. Você sempre tá – eu disse, levantando – Jas, você não vem?

–- Na verdade, eu tava pensando em ainda tomar um sor...

Puxei ele pelo braço antes de ele terminar a frase.

–- A gente tem que ir logo. Depois você toma seu sorvete – eu disse, ainda o puxando pelo braço, sentindo o toque macio de sua pele. Isso fez com que meu coração disparasse.

Onde eu tava com a cabeça? Não posso ficar pensando essas coisas. Não do Jasper. Ele é o meu melhor amigo e eu não quero me arriscar a perder sua amizade por nada.

–- Ei cara, já pode me soltar – disse ele, meio constrangido.

Eu enrusbesci e o soltei quando percebi que já tinha o arrastado por pelo menos metade do caminho até a loja dos ternos.

–- Me desculpa, cara. Eu me distraí – eu disse, envergonhado, olhando para o chão.

Finalmente chegamos à loja, e rapidamente pegamos os ternos.

–- Simplesmente odeio ter que usar terno – eu disse.

–- Eu não tenho nada contra, até gosto – disse Jasper, olhando pro nada.

–- Olha cara, sobre eu ter te puxado, me desculpe. Eu não sei o que deu em mim.

–- Tudo bem. Eu te entendo. Você deve estar nervoso com essa história de formatura – disse ele, passando a mão pelo seu cabelo preto, perfeitamente penteado.

Pisquei lentamente, tentando não olhar o quão atraente ele parecia fazendo isso.

–- Sim, eu to um pouco nervoso com essa história toda de formatura, mas agora é melhor a gente correr porque a minha mãe deve estar chegando – eu disse, olhando pro relógio e vendo que já estava prestes a dar duas horas.

Assim como o combinado, minha mãe chegou, nos pegou, nos deixou na minha casa e voltou ao trabalho.

Fomos pro meu quarto, e como de costume, Jasper se jogou na minha cama, e eu sentei na minha poltrona.

–- Você consegue imaginar, cara. Daqui dois meses estaremos no ensino médio – ele disse, pensativo – Vai ser completamente diferente. Nova escola, pessoas diferentes, garotas diferentes – ele fez aquele olhar que fazia sempre que pensava em garotas.

–- Nossa, vai ser uma loucura mesmo – eu disse, meio desinteressado no assunto no momento – mas que tal, se a gente jogasse vídeo game agora?

–- Eu só quero experimentar meu terno antes, e acho que seria uma boa você experimentar o seu também – ele disse, pulando da cama e indo em direção ao guarda roupa, onde havíamos guardado os ternos.

Revirei os olhos, e disse.

–- Não to afim de vestir isso agora. Aliás, eu já experimentei lá na loja e já tá de bom tamanho.

–- Você quem sabe, mas eu quero ter certeza que o meu está certo – ele disse já tirando a camisa.

Senti as minhas bochechas ficarem vermelhas e desviei o olhar.

–- Se você preferir, eu te espero lá na sala – eu disse, já me levantando para sair.

–- Não – ele disse rapidamente – eu quero que você me diga se eu fico estranho vestido assim.

Relutante, fiquei no quarto. Não consegui me segurar ao impulso de ficar olhando para ele enquanto ele tirava a roupa. Cada centímetro da sua pele a mostra me fazia ter mais vontade de abraça-lo.

Desviei novamente o olhar. Não posso me deixar preso a esses pensamentos. O que seria da nossa amizade se ele sequer desconfiasse que eu, que eu...

–- Ficou bom? – ele disse, me tirando do meu transe.

Ele já havia vestido o terno, e sorria, esperando eu dizer alguma coisa.

–- F-f-ficou – gaguejei, me levantando prontamente e saindo do quarto. Não queria vê-lo trocar de roupa de novo.

Eu estava vivendo um grande dilema nesse momento. Eu havia começado a sentir um certo tipo de atração pelo Jasper, e eu pensava que isso não era certo. Não queria estragar todos os anos de nossa amizade por um capricho bobo e além do mais, eu tinha certeza que se eu parasse de pensar nisso, iria passar. “É só uma fase”, eu pensava.

Mas como foi que isso aconteceu? Como eu fui me deixar apaixonar pelo meu melhor amigo? Aliás, como eu fui me deixar apaixonar por um garoto? Essa era a minha maior dúvida. Eu sempre gostei de garotas, talvez não tanto quanto eu devesse, ou talvez não tanto quanto meus outros amigos, mas eu pensei que isso não queria dizer nada. Me apaixonar por um garoto nunca sequer tinha passado pela minha cabeça.

Joguei-me no sofá, esperando o Jasper para jogarmos uma partida de vídeo game. Já eram quatro da tarde, poxa, como o tempo tinha passado rápido. Logo ele apareceu, descendo as escadas de três em três degraus, como ele sempre fazia.

–- Preparado pra perder? – ele dizia, me desafiando.

–- O único aqui que vai perder até o rumo de casa, é você – respondi, aceitando o desafio.

Ele sentou ao meu lado no sofá, e começamos a nossa partida habitual de Mortal Kombat. Passamos horas jogando, até que nossa concentração foi interrompida com o barulho da porta se abrindo. Era minha mãe, chegando em casa, como sempre, às sete horas.

–- Ethan Collins!!! – ela gritou – Você já deveria estar se arrumando. Daqui exatamente uma hora temos que estar saindo de casa.

Jasper e eu nos olhamos simultaneamente com o mesmo pensamento de “estamos ferrados”. Ele, entendendo o recado, levantou-se do sofá e foi em direção à porta, e quase como sincronizado, o celular dele tocou, e quando atendeu, eu só ouvi o grito de “Onde você está senhor Jasper” de sua mãe. Essa seria uma situação engraçada, se a minha mãe não estivesse quase soltando fumaça pelos ouvidos. Não pensei duas vezes, e fui escada acima, em direção ao meu quarto, antes que eu fosse fuzilado por ela.

Quarenta minutos mais tarde, já pronto, inclusive vestindo aquele terno que eu detestava, desci novamente as escadas, apenas esperando minha mãe aparecer para finalmente irmos para a tão esperada formatura. Pouco depois que cheguei na sala, ela apareceu, linda como eu nunca tinha visto, com um vestido longo e dourado e o cabelo preso em um coque levemente solto.

–- Você está linda, mãe.

–- Obrigada filho. Você também está lindo, meu homenzinho – ela dizia, sorrindo e com os olhos brilhando.

Ela sempre dizia que eu era o homem da casa, desde que meu pai nos deixou, quando eu tinha sete anos. Não que ele tenha feito alguma falta, pois ela sempre soube se virar sozinha e sempre fez o possível e o impossível para que eu tivesse o melhor. Ela sempre dizia “Aquele peste nunca vai fazer falta nas nossas vidas filho, nós conseguimos ser muito melhores sem ele”. Mas eu sei, que no fundo ela sentia falta dele sim, às vezes. Por isso eu sempre evitava de tocar no assunto.

–- Vamos, filho? – dizia ela pegando as chaves do carro.

–- Vamos – eu respondi, e então senti o meu celular vibrar no meu bolso.

Já dentro do carro, fui ver o porque de meu celular estar vibrando. Era uma mensagem de uma amiga, Bonnie.

Preparado para a ‘grande noite’?”

“Um pouco nervoso, e odiando estar de terno :(“

“Vestido longo também não é o meu forte. Mas fazer o que né? Te vejo na festa ;)”

“Pois é. Até mais ;)”

Bonnie também era uma grande amiga minha. Eu a conhecia há dois anos, quando ela entrou para a minha escola, transferida de outra cidade. Eu tinha muita facilidade em fazer amizade com alunos novos, ainda mais quando eles eram da minha turma, porém, geralmente eles faziam outros amigos depois disso, e eu passava a ser apenas um conhecido. Porém com ela foi diferente, nós mantivemos a amizade, e hoje eu posso dizer que ela é minha segunda melhor amiga, a qual eu posso contar tudo, inclusive aquele certo probleminha sobre o Jasper.

Logo eu e minha mãe avistamos o local da formatura. Era um belo lugar, um prédio que deveria ter dois andares, com a estrutura arredondada e holofotes verdes ligados do lado de fora, indicando que haveria um evento ali naquela noite.

Desci do carro, enquanto minha mãe foi procurar um lugar para parar estacionar o mesmo. Já havia uma quantidade considerável de pessoas esperando. Fui me aproximando das pessoas, tentando procurar algum rosto conhecido, até que escuto alguém gritar meu nome. Me virei e o que vi me deixou boquiaberto. Era Bonnie, e ela estava completamente diferente do que eu era acostumado a vê-la. Ela vestia um vestido azul, daqueles que é mais longo na parte de trás do que na frente e usava um sapato de salto rosa. Seu cabelo preto na altura dos ombros estava perfeitamente cacheado, e estava impecavelmente maquiada e não usava os rotineiros óculos, sem os qual ela era praticamente cega. Acho que a minha expressão de surpresa era muito óbvia.

–- Fecha a boca senão você vai babar – ela disse, no mesmo tom brincalhão de sempre.

–- Você está linda – eu disse.

–- Obrigada – suas bochechas ficavam levemente avermelhadas – Onde está o seu companheiro inseparável, Jasper?

–- Bem, eu ainda não o encontrei, mas ele deve estar prestes a chegar.

–- E o que você decidiu fazer sobre estar gost...

–- Shhhhhh – eu a interrompi, colocando meu dedo sobre minha boca, pedindo silêncio – alguém pode nos ouvir aqui.

–- Me desculpe – ela disse, levantando as mãos em sinal de rendição.

Então a levei para um lugar mais afastado, onde poderíamos conversar.

–- Pois bem, Bonnie, sobre estar gostando de você sabe quem, eu ainda não sei o que fazer. Mas eu acho que isso é só uma fase, vai passar.

–- Eu acho que você deveria falar pra ele. Vai que dá certo? Vocês formariam um casal tão fofo – ela disse, e levou as mãos ao rosto, como se tivesse apertando algo realmente fofo.

–- Você tá louca? E arriscar estragar a nossa amizade por uma bobeira? Afinal, ele nunca sequer deu nenhum sinal de que gostasse de mim, ou sequer algum sinal de que gostasse de garotos.

–- Pois bem. Você quem sabe. Eu acho que você deveria assumir logo seus sentimentos.

–- Sentimentos por quem? – disse uma voz, vindo de trás de mim – Então meu amigo Ethan está apaixonado e não me disse nada.

Me virei torcendo para não ser quem eu pensava que era, mas era exatamente ele. Jasper vinha em seu terno preto, com o cabelo perfeitamente penteado, como de costume, porém sem os óculos, o que deixava seu rosto levemente mais bonito.

–- Não é nada disso, Jas – eu disse, sentindo minhas bochechas enrusbescerem – é só uma coisa que a Bonnie tá me contando. Você deve ter entendido errado.

–- Aham, sei – ele disse, coçando o queixo – A propósito, você está linda, B.

–- Acho melhor voltarmos para junto do pessoal. Minha mãe já deve estar me procurando – eu disse, tentando mudar de assunto.

Jasper sempre foi afim da Bonnie, porém ela nunca deu nenhuma chance para ele, mas conhecendo ele do jeito que eu conheço, essa noite ele não desistiria dela.

Me virei com o intuito de ir em direção à entrada do salão, e quando vi que Jasper tentou ficar sozinho conversando com Bonnie, não pensei duas vezes, peguei na mão dela e a levei comigo, obrigando ele a vir também.

Chegamos onde estava o resto das pessoas e fomos orientados a nos separar, meninos para um lado, e meninas para outro. Os outros convidados já haviam entrado no salão e apenas os formandos ficariam do lado de fora, aguardando o início da cerimônia. Nos entregaram nossas becas e nossos capelos, e fomos organizados em duas filas em ordem alfabética, uma de meninos e outra de meninas.

Quando o relógio marcou nove horas, a cerimônia enfim começou. E então, um por um, os formando iam sendo chamados, e quando eu finalmente fui chamado, abri um grande sorriso, e entrei no salão.

Ele estava impecavelmente decorado, com um tapete vermelho que ia desde a entrada até dois blocos de cadeiras enfileiradas, onde os formandos se sentavam. Espalhados pelo salão, havia as mesas dos convidados, cada uma decorada com arranjos de flores das mais diversas cores, e à esquerda do salão, ficava uma escada, iluminada com luzes verdes, que levava ao segundo andar, que tinha vista para o primeiro andar, e também havia mesas para os convidados.

Entrei e fui em direção aos outros formandos, e sentei na cadeira que foi designada a mim. Procurei com o olhar minha mãe pelo salão, e a encontrei sentada junto com os pais do Jasper.

Logo todos os alunos já haviam tomado seus lugares, e foi dado início à cerimônia. O diretor da nossa escola fez seu discurso e então, um a um, fomos chamados para subir ao palco e pegarmos nossos diplomas. Em seguida, o orador da turma, Jasper, foi chamado para fazer seu discurso.

Ele falou muito bem, melhor do que eu teria conseguido com toda aquela gente olhando para mim, e enfim, a cerimônia havia acabado. Rapidamente, foram retiradas as cadeiras em que estávamos sentados anteriormente, liberando a pista de dança para a valsa com os pais. Dancei bem desajeitadamente com a minha mãe, pois eu não fazia ideia de como dançar, e ela, muito menos. Mas enfim, acabada a valsa, chegou o momento mais esperado da noite: a festa.

O dj começou a tocar, e a pista logo se encheu de alunos. Eu resolvi ficar sentado, não estava muito afim de dançar naquele momento. Peguei meu celular, e fui jogar aleatoriamente qualquer jogo que eu achasse.

De repente alguém puxa meu braço.

–- Hey cara, vamos dançar, ou vai ficar aí sentado feito um zumbi? – dizia Jasper, segurando um copo de uma bebida que parecia ser refrigerante.

–- Tá bom, eu vou, mas não prometo que vou ficar lá por muito tempo. Você sabe que eu não sou amigo de todos ali – respondi.

E isso era a verdade. Apesar de eu ser melhor amigo de um dos garotos mais populares do colégio, eu não tinha muitos amigos. Para falar a verdade, amigos mesmo eu só tinha ele e a Bonnie. Os outros eram no máximo “conhecidos”. Eu sempre tinha a impressão que todos ficavam me olhando quando eu estava com o Jasper, quase como se eu não merecesse estar com ele, quase como se eu estivesse cometendo um crime. “Saia de perto do nosso Jasper”, era o que os seus olhares diziam. Então eu nunca me sentia à vontade para tentar me aproximar de ninguém.

Segui Jasper até a pista de dança, e fiquei junto de Bonnie, enquanto ele foi até um garoto que havia o chamado. Eu vi o outro garoto colocando alguma coisa no copo de Jasper, e suspeitei que fosse vodca. Ele nunca fica o mesmo quando bebe, e sempre acaba se exaltando. Eu odiava aquilo, mas eu não ia dizer nada pra não bancar o chato.

Mostrei aquela cena para Bonnie, que fez um sinal de negativo com a cabeça, como desaprovação. Ela concordava comigo com muita coisa, principalmente com esses defeitos do Jasper.

Fiquei apenas por uns vinte minutos na pista de dança, não dançando, e resolvi dar uma volta pelo lugar. Fui para o segundo andar, onde já não havia quase ninguém e fiquei olhando a pista por cima, enquanto via Jasper se exaltar com as bebidas. De repente, apareceu um grupo de garotos, que pelo jeito, estavam tão bêbados quanto Jasper.

–- Olha só se não é o viadinho do Ethan – um deles disse, enquanto apontava o dedo para mim. Os outros só riram, como se ele tivesse contado a piada do século, e o pior, que eu era a piada.

Eles continuaram lá, olhando, apontando e rindo, e eu resolvi sair dali, e um deles entrou na minha frente, interrompendo meu caminho até a escada. O empurrei para o lado e desci as escadas correndo.

Atravessei o salão, e fui para os fundos, onde havia um lugar a céu aberto com algumas poltronas. Me sentei na poltrona mais afastada, e fiquei olhando para o céu estrelado daquela noite.

Fiquei nessa posição por quase meia hora, quando minha concentração foi interrompida pelo som de passos se aproximando de mim. Olhei, e vi Jasper vindo em minha direção. Eu senti que havia alguma coisa errada, pois ele parecia aflito e ao mesmo tempo confiante. E eu não conseguia parar de pensar sobre o quanto ele parecia lindo usando aquele terno, já desgrenhado. Ele puxou outra poltrona, e se sentou ao meu lado.

–- Porque você não está lá dentro se divertindo como todo mundo? Até os nossos pais estavam na pista de dança – ele disse rindo, mas parecendo inseguro.

–- Não é por nada não. Só não to com cabeça pra isso. E eu não quero ficar lá sobrando enquanto você se diverte com seus outros amigos – respondi, tentando não ser seco, mas querendo deixar bem claro o que eu queria dizer.

–- Ah. Então esse é o problema. Você podia ter me dito antes, eu teria tentado te dar mais atenção.

Por um segundo eu acreditei no que ele disse, e quase sorri. Mas no mesmo momento, eu percebi que eram só palavras ditas da boca pra fora. Ele estava bêbado, e isso estava bem óbvio.

–- Não teria adiantado Jasper – eu disse, secamente dessa vez, e virei para o outro lado, para não ter que encara-lo.

–- Ethan, eu quero te perguntar uma coisa, e eu vou ser bem direto – ele hesitou por um minuto – Você gosta de mim?

–- Que pergunta é essa? – retruquei – Claro que gosto de você. Você é meu melhor amigo, se esqueceu?

–- Não é disso que eu to falando – ele respirou fundo – Eu quero saber se você gosta de mim, do tipo “namorado”.

Por um minuto eu não sabia o que responder. Fiquei apenas encarando seu lindo rosto, enquanto ele ansiava por uma resposta, e fiquei imaginando se haveria alguma chance, mesmo que mínima de ele também gostar de mim, assim como eu gosto dele. Eu não sabia o que responder, quando o inesperado aconteceu. Ele me beijou. Eu não estava esperando por isso, mas retribuí o beijo. Então ele se afastou.

–- Sim, se era isso que você queria saber, eu gosto de você. Aliás, acho que posso dizer que eu te amo – eu respondi, sorrindo de orelha a orelha, e imaginando que finalmente poderia dar certo entre nós dóis.

–- Me desculpa por isso – ele disse, encarando o chão.

–- Porque você deveria se desculpar? – indaguei.

Mas naquele momento eu soube do que ele estava falando. O mesmo grupo de garotos que havia me chamado de viadinho vinha em nossa direção. E o que o Jasper fez? Ele me deixou. Me deixou pra ser zombado por aquele grupo de meninos, que agora estava ainda maior do que antes.

–- Você não achou que ele realmente gostasse de você, achou? – disse um deles.

–- Isso foi só parte de uma aposta que fizemos com ele: que você é um viado, uma bicha, um lixo. Ele só tinha que provar que estávamos certos.

Aquelas palavras me atingiram como um caminhão descontrolado. Cada coisa que eles diziam, só me machucava mais e mais. Então tinha sido tudo parte de uma aposta? Eu não acreditava que o Jasper, aquele Jasper que eu conhecia há tanto tempo fosse capaz de tal traição comigo, a quem ele chamava de melhor amigo.

Todos esses pensamentos passavam pela minha cabeça, enquanto eu era xingado mais e mais por aqueles garotos idiotas, e chegou a um certo ponto que eu não consegui segurar mais minhas lágrimas. Eu chorava feito uma criança que tem o doce retirado de sua boca. Pior, eu chorava feito alguém que tinha acabado de ser traído por aquele que um dia chamou de irmão.

De repente, levantei e saí correndo e uma música passava pela minha cabeça.

“Cause I knew you were trouble when you walked in

So shame on me now

Flew me to places I'd never been

'Til you put me down

Oh, I knew you were trouble when you walked in

So shame on me now

Flew me to places I'd never been

Now I'm lying on the cold hard ground”

Atravessei o salão em direção ao segundo andar, e vi que Jasper estava correndo atrás de mim. Naquele momento eu não queria falar com ele, aliás, eu nunca mais queria falar com ele.

Subi as escadas correndo e corri em direção ao corrimão que dava vista para o primeiro andar.

–- ETHAN, NÃO!!!! EU TAMBÉM TE AMO.

E essas foram as últimas palavras que eu ouvi antes de me jogar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e por favor, deixem seus comentários com sugestões, críticas, dicas, ou mesmo pra dizer se gostou ^.^ E gente, não se esqueçam que os comentários inspiram o autor a escrever mais. Deixe um comentário mesmo que seja pra escrever apenas "gostei" ou "não gostei".