Juntos Contra o Clichê escrita por VILAR


Capítulo 16
O calor interno é tão importante quanto o externo


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem realizou a proeza de estragar o computador pela terceira vez neste ano?
Exatamente. Eu.
Não sei porque ainda me surpreendo com coisas desse tipo.

Enfim, me desculpem pela enorme demora, mesmo. Não foi a minha intensão. Estava tudo quase prontinho quando a minha querida máquina resolveu não ligar mais.

Ok, vamos voltar ao capítulo. Este é bem curtinho mesmo, já que serviu apenas para contar um pouquinho da história da nova integrante.

Espero que gostem c:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/599480/chapter/16

— Vou te dar mais uma chance para pensar no que se meteu. Quer realmente ser amiga desta idiota assim, sem mais nem menos? – gesticulava o número um.

— Nós já somos melhores amigos! – respondia a número três com a sua falta de animação típica.

O segundo dia do retorno das aulas correu com apenas duas coisas em minha mente: atualizar Maria Luiza sobre os acontecimentos e, claro, meu encontro com Leonardo. Estou há dois dias sem dormir direito pensando sobre como será espetacular.

— Ótimo. – suspirou o derrotado. – Agora estou com duas idiotas na minha cola.

Maria Luiza é uma garota reservada, o que contou sobre si resumia em preferências sobre cores e comida, muita comida. Seus olhos eram desdenhosos sempre, mas ela não se incomodava com isso, parecia aceitar muito bem. Sua voz também nunca saía do tom “pode repetir, por favor?”. E ela nunca ficava irritada. Gabriel até mesmo acatou mais um objetivo para realizar antes de morrer, debaixo do tópico “fazer Sophie calar a boca” tem “irritar Maria Luiza”.

A quarta-feira foi bem recebida por Gabriel finalmente ter aceitado que Maria Luiza também sabe sobre o seu segredo. Também foi neste dia que ele desistiu do voto de silêncio, voltando a falar comigo. Os vinte minutos do recreio foram dedicados somente ao seu surto raivoso.

— Não consigo decidir se estou com mais raiva por você ter contado o segredo ou por ter me enganado fazendo aquela cara ridícula para esconder suas notas. – reclamava pela milionésima vez. Suspirei enquanto bebericava o resto do suco que Maria Luiza nos presenteou.

— Eu não te enganei, Gaby. Minhas notas foram realmente ruins.

— Sua nota mais baixa foi um noventa e seis, sua puta! – bateu com os punhos na mesa de madeira, alertando alguns alunos próximos. – E para de me chamar deste jeito. – posicionou seu indicador a centímetros do meu nariz.

Foi na quinta-feira que percebemos como os rumores se intensificaram ao nosso redor. Gabriel e eu pensamos que eram mais alguns absurdos contados ao meu respeito, porém não poderíamos estar mais enganados. Estávamos esperando Maria Luiza no primeiro andar, já que avisou que precisava passar na diretoria antes de irmos embora. Assim que começou a descer as escadas os cochichos e olhares curiosos começaram, todos direcionados para ela. Em meio a sussurros indecifráveis uma palavra estava sendo repetida. Gelo.

— Agora eu me lembrei. – Gabriel nos tirou da concentração dedicada a tentarmos escutar mais alguma coisa. Seu rosto estava dominado pela surpresa, o meu, pela curiosidade. Curvou-se para seus lábios ficarem próximos ao meu ouvido e os tampou com a mão em forma de concha. – Te passo por mensagem quando chegar em casa.

Maria Luiza juntou-se a nós com o ânimo de sempre mordiscando uma coxinha tamanho família da cantina, a segunda do dia. Gabriel disfarçou bem a expressão incrédula de alguns instantes atrás, eu, por outro lado, encarei-a tentando decifrar o que seus pequenos olhos queriam esconder.

Ambos conversaram bobagens até chegarmos à próxima rua, onde o motorista particular aguardava Maria Luiza todos os dias. Não conseguia acompanhar a conversa pelas constantes marteladas da palavra “gelo” estarem atrapalhando meus pensamentos. Tamanha era a curiosidade que acabei não resistindo.

O senhor de terno preto segurava a porta do carro de mesma cor aguardando a pessoa na qual servia acabar de se despedir de nós. Gabriel já deu alguns passos seguindo seu caminho e Maria Luiza já estava devidamente acomodada, mas, assim que o senhor tentou fechar a porta, eu a segurei, sorrindo de ansiedade.

— Por que te chamam de gelo? – inclinei para baixa para ficarmos cara a cara. Seus lábios deram uma leve mexida para o lado e os olhos vazios estavam mais abertos. A primeira expressão em quatro dias.

Logo em seguida ouvi passos pesados se aproximarem rapidamente e, segundos depois, um tapa nas costas que me fez perder o equilíbrio, porém tive sorte pelo senhor musculoso ainda estar segurando a porta. – Isso não é coisa que se pergunte! – advertia um Gabriel irritadiço.      

Ignorei sua bronca e não desviei o olhar de Maria Luiza, mas ela apenas fitava as sapatilhas brancas, aérea. Gabriel logo perdeu para a curiosidade, mesmo já conhecendo a história ansiava por uma resposta.

— O certo é princesa do gelo. – corrigiu nos fitando. Os resquícios da expressão anterior desapareceram, restando apenas seu desdém usual. – Me chamam assim desde a primeira semana que entrei na escola. – pude a respiração do Gabriel ficar mais alta.

Maria Luiza desviou o olhar, voltando-o novamente para as sapatilhas. Gabriel parecia desconcertado, sem saber o que falar e como agir; abria os lábios várias vezes, porém logo os fechava sem proferir um único som.

— Mas isso não é legal? – indaguei, curiosa. Os quatro olhares voaram para o meu rosto. – Você é conhecida como princesa! – afastei o corpo da porta do carro e coloquei as mãos na cintura. – Uma nobre! – sorri.

Gabriel parecia furioso, enquanto Maria Luiza ainda me encara com as pupilas dilatada e os lábios grossos desprendidos um do outro. Uma expressão completa de surpresa.

— Ela obviamente não gosta de ser chamada deste jeito! – meu melhor amigo dirigiu sua voz alterada para mim.

Arqueei a sobrancelha. – Ora – comecei, confiante. –, a princesa tem poder o suficiente para mandar nos plebeus. Se quiser, ordene-os a parar. – soltei um riso leve. Gabriel não pareceu gostar.

Maria Luiza ordenou o motorista a fechar a porta, obrigando Gabriel a se afastar. O senhor de terno ligou o carro esperando a última ordem para dar partida. Por detrás do vidro escuro, com certa dificuldade, pude ver os lábios rosados levemente puxados, formando um fraco sorriso. Não durou muito tempo, Maria Luiza o desmanchou para manifestar a tarefa do motorista.

O carro ainda estava andando devagar quando comecei a correr atrás dele, fascinada pelo sorriso da minha nova amiga. Precisava fazer algo em relação a isso. Gabriel ficou para trás, confuso, me gritando para parar. Mas não podia. Essa era a hora.

Em poucos segundos de corrida o carro preto parou. Logo alcancei a janela a qual Maria Luiza estava próxima. Bati os dedos na janela, recobrando o ar gasto com dificuldade. O vidro escuro abaixou deixando em vista o rosto desdenhoso, pronto para fazer alguma reclamação.

— Não se preocupe em ser chamada de gelo. – comecei, ofegante. Maria Luiza me encarava atentamente. – É somente no frio que encontramos um aconchegante o calor humano. – sorri, ainda arfando.

Um sorriso extenso se formou em seus lábios, exibindo seus perfeitos dentes brancos e grandes bochechas. Seus olhos de obsidianas brilhavam, transmitiam uma alegria sem fim.

— Obrigada. – articulou com a voz calma. Não pude deixar de abrir mais o sorriso.

— Não há de quê! – afastei-me do carro.

O carro voltou a movimentar. Gabriel já havia me alcançado quando acenava e gritava em direção ao automóvel escuro, me despedindo. Fui obrigada a parar quando meu amigo percebeu que estava atraindo a atenção de muita gente.

— O que você falou para ela? – perguntou um Gabriel curioso.

Ponderei com dois dedos no queixo. – A verdade, Gaby. – voltei a sorrir.

Começamos a andar em direção as nossas casas; Gabriel pensando sobre como gastará o fim de semana e eu ansiosa para o primeiro encontro com o meu futuro marido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!