Juntos Contra o Clichê escrita por VILAR


Capítulo 1
O prólogo deve acabar logo


Notas iniciais do capítulo

[CAPÍTULO EDITADO 16/05/2016]
Olá, amores! Estava planejando reescrever os primeiros três capítulos há muito tempo, mas sempre desistia e iniciava um novo. Hoje finalmente tomei coragem. Demorarei algum tempo para editar o próximo (2), então não atrasarei muito para postar o capítulo 13.

NÃO CONTÉM INFORMAÇÕES NOVAS.

Beijos ♥

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Não esperava muita coisa desta minha nova fic, mas me diverti tanto escrevendo que vou levá-la para frente. Bom, se tiver algo para melhorar espero que me digam.


Beijinho, beijinho. Tchau, tchau.



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A poluição sonora na qual teria que aturar todos os dias para chegar à nova escola me incomodava. Me contorcer para atravessar este mar de gente que seguia na direção contrária me incomodava. Ouvir todas essas pessoas respirando ao mesmo tempo chegava a me dar dor de cabeça. Meus ouvidos estavam acostumados com o som tranquilo do interior, cujo único barulho ensurdecedor era os das cigarras onipresentes.

Mas do mesmo jeito estava feliz.

Nascida e criada em um município de apenas oito mil habitantes, acostumada com as mesmas faces, construções, caminhos, atitudes e até mesmo árvores, que, como diziam os mais velhos, estavam ali desde muitos anos antes de cristo. Embora todos saibam que era apenas uma história para entreter as crianças, ninguém ousava contestar. Havia pessoas da minha antiga escola que acreditavam neste conto até hoje. Estava enjoada da mesmice proporcionada pelo minúsculo pedaço de terra que chamávamos de município.

Sempre me senti presa naquele lugar; tudo era distante daquela pequena vila. Para chegar à cidade mais próxima, a qual continha os únicos entretenimentos para jovens, por exemplo, demorava cerca de uma hora. Pagar uma passagem absurda e aturar uma hora de viagem debaixo do sol, sufocada pelo excesso de passageiros, só para ir ao cinema não era uma coisa que acontecia com frequência. Nossas únicas ‘saídas’ eram para ir à casa de outra pessoa.

Quando avistei a imensa construção acinzentada me recordei da minha atual situação. Hoje é meu primeiro dia como estudante do terceiro ano do ensino médio em uma cidade nova, apelidada carinhosamente pelos meus conterrâneos de ‘cidade grande’. Aproximando-me, percebi o quão espetacular o local era. Estava estática na frente do portão de grades pretas admirando as inúmeras janelas devidamente polidas da minha nova escola. Achei que escolas assim só existiam em filmes estrangeiros.

Ainda é difícil engolir que havia conseguido passar na prova para entrar nesta belezinha, a segunda melhor escola do estado. Se esta já é assim, me amedronta imaginar o estado da escola classificada em primeiro lugar. O orgulho irradiava do meu peito a cada segundo que dedicava meu olhar à construção. Quando minha madrinha afirmou para mim que conseguiria uma vaga para eu poder realizar a prova de admissão não estava brincado – sempre foi uma mulher de palavra. Devo também agradecer seu amigo que me ajudou, segundo ela. No fim, consegui passar em primeiro lugar, ganhando uma bolsa integral.

Adentrando os portões depois de um longo tempo de admiração, a ficha caiu. Não tem nenhum aluno perambulando por aí. Ninguém. Zero. Cogitei a ideia de ter visto o horário errado, mas eles foram bem claros quando me ligaram pela segunda vez e afirmaram que o horário do primeiro dia seria de dez da manhã às duas da tarde. Conferi o horário no meu pequeno smartphone. Ainda são 9h45. Continuei andando pelo caminho de algum tipo de pedra em direção à porta de vidro aberta, entrada definitiva para a escola. Tentei não deixar meu queixo cair enquanto rodava minha cabeça por todos os ângulos possíveis a fim de conhecer melhor meu novo local de estudos.

Love Love Melody passou pela minha cabeça.

Tudo isto parece muito com a história do meu mangá favorito de romance. Em resumo, a protagonista, uma menina delicada, tímida e pobre, acaba de passar para a melhor escola do Japão, infestada de patricinhas e mauricinhos que acabam por atormentá-la todos os dias. Sozinha na sala, esperando todos se retiraram para poder ir embora sem ser xingada, conhece seu príncipe encantado dormindo por cima da carteira. O rapaz maravilhoso, conhecido por ser o rei do colégio devido a sua beleza e inteligência, abre os olhos misteriosamente enquanto a menina o encarava. E, como mágica, os dois se apaixonam de forma intensa. Clichês sempre dão certo. Espero que o meu comece o mais breve possível.

— O que você está fazendo aqui há esta hora? – a voz rouca me assustou, escapando todo o ar que continha em meus pulmões. Virei para trás rápido, observando o senhor de mechas grisalhas me encarando com as sobrancelhas franzidas.

Recuperei um pouco do ar e empurrei dos meus lábios: – Estava prosseguindo para minha aula, senhor. – não escondi meu suave tom irritado, tanto pelo susto, quanto por atrapalhar meus devaneios sobre o futuro.

O senhor passou o olhar pela minha blusa de uniforme, pousando sobre o símbolo, um livro aberto com um marcador escrito o nome da escola, que ficava próximo ao meu seio, me deixando desconfortável. Quando estava prestes a me afastar dando alguma desculpa esfarrapada, soltou: – Você levará uma grande bronca. – e, antes que pudesse indagar sobre, se retirou, empurrando um latão com rodinhas.

Apresso-me em direção a porta do país das maravilhas, me sentindo a verdadeira Alice, ansiosa para conhecer a construção por dentro. Um tapete marrom escuro acompanhava a largura da porta, evitando que entrasse com os sapatos sujos. Limpei meus tênis com pena por ter que sujar algo tão bonito. Quando levantei o olhar, estranhei. A pintura de fora era cinza e branca, a de dentro marrom escuro com algumas partes de dois tons de bege. Não combinavam. Mesmo assim a beleza da parte de dentro reluzia em meus olhos, mesmo não tendo tanto objetos pelo corredor principal. Os detalhes na parede, algumas plantas e as portas altas e compridas se encarregavam de todo luxo do local. Nas primeiras passadas havia apenas duas portas, uma de frente para outra, com plaquinhas em cima escritas ‘secretaria’ e ‘atendimento’. Continuei andando até o final do corredor, que continha uma bifurcação e uma escadaria logo na frente. No lado esquerdo estava uma placa maior com os avisos de ‘diretoria’ e ‘sala dos professores’, do lado direito ‘refeitório’. Subindo as escadas, dando de cara com a parede, havia outra placa: ‘salas de aula do primeiro e segundo ano’. Será que estou no caminho certo?

Assim que pisei no andar das salas de aula deparei-me com outra escada ao lado, junto com uma placa: ‘salas de aula do terceiro ano’. Então estava, sim, no caminho certo. Antes de subir, arrebatada de curiosidade, caminhei até o meio do corredor que ficava as salas da aula e reparei na decoração. Seguia o mesmo padrão do andar de baixo, mas as portas eram de vidro. As salas de aula também não pareciam tão grandes. Acompanhada do eco dos meus passos e de algumas vozes distantes, segui para o terceiro andar.

Puxei do meu bolso o pequeno papel que continha a numeração da minha sala. Desamassei-o e encarei o número 3001 quase apagado, resultado da minha ansiedade do último mês. Sorri involuntariamente. Ao contrário do segundo andar, este, logo na frente da escada, estava uma sala – sem a porta de vidro – cuja placa dizia ‘reforço’. Ao lado esquerdo, a primeira por ao lado da escada, estava a sala 3001. A ansiedade mal cabia no meu peito, resultando em mãos trêmulas. Encostei-me à parede ao lado da sala, inspirando e expirando, tentando acalmar meu coração com a contagem regressiva. Estava dez minutos adiantada, devia apenas ter poucos alunos na sala de aula, porém o nervoso não me abandonava.

Empurrei meu corpo para a porta de vidro e, logo quando toquei a maçaneta, observei uma figura mais velha, carregando uma mochila, vindo em minha direção. Congelei. Poucos segundos depois, o sinal. A porra do sinal que anunciava a liberdade dos alunos. Só pode ser brincadeira.

Mais alguns segundos paralisada e percebo a porta se abrindo. Não consigo ficar mais pálida. A pessoa que se assustou com a minha presença, velha demais para ser um aluno, me encarou confuso. Um professor sério me fitando através de seus óculos sem armação. O professor abriu a porta e estacionou, impedindo o restante dos alunos de passar. – Quem é você? – sua pergunta, apesar de ser óbvia, me pegou de surpresa. Eu não consegui dizer algo apropriado e gaguejei muito. – Acalme-se. – sua repreensão me deixou constrangida, mas consegui dizer algo claro desta vez.

— Sou Sophie Novais, aluna desta sala... – tentei falar sorrindo, porém tenho certeza que não foi bem assim, forcei demais e minhas bochechas estavam duras de ansiedade. Sua expressão acompanhou minha fala como uma facada.

O professor voltou para sala logo depois de fazer um sinal para eu aguardar aqui fora. Ele, com todo sua autoridade, mandou os alunos sedentos pela liberdade de volta para seus lugares. Todos estavam evidentemente insatisfeitos com sua súbita ordem, mas obedeceram sem remediar. Meu coração não estava preparado para encarar tantas pessoas de uma vez. Já prevejo as notícias do Jornal Nacional: ‘estudando enfarta antes de entrar na sala de aula. E mais: a cachorrinha Malu que consegue realizar truques incríveis’. Só espero que pelo menos o William Bonner anuncie.

Interrompendo a narração da minha tragédia, o professor anunciou: – Bom, hoje temos uma nova aluna para apresentar a turma.

Congelei. Nova aluna o caralho. Que merda está acontecendo? Era para eu ter começado hoje como todo mundo. A confusão deixou a prisão dos meus pensamentos, transparecendo pelo meu corpo. Cerrava as mãos para controlar a tremedeira, às vezes limpando a palma soada na calça.

 – A situação dela é complicada. – continuou o senhor de face entediada. – Mesmo que esteja atrasada duas semanas não a ajudem recuperando a matéria dada.

Duas. Semanas.

Minha garganta ressequida pelo ar entrando livremente pelo queixo caído e os olhos tentando saltar da minha face foram os meus companheiros enquanto caminhava para frente da turma assim que o professor me chamou. Estou sem tempo e o discurso que preparei para parecer legal e simpática já havia escapado da minha mente no momento em que ouvi o sinal batendo. Caminhei de forma desengonçada e não conseguia enxergar direito para onde estava indo, então parei em um local aleatório na sala e tomei coragem.

— Prazer em conhecê-los. – alunos. Alunos demais. Quer dizer, não tantos, mas o suficiente para me sentir uma formiga sendo pisoteada por um gigante Colossal, por exemplo. – Me chamo Sophie. – estava encarando o teto, usando de forma errônea a dica de um tutorial do YouTube que ensinava a não abaixar a cabeça na hora de se apresentar. Minha cabeça estava olhando alto demais e parecia que eu estava esnobando todo mundo. – e conto com vocês a partir de hoje. – a frase não ficou muito japonesada? Causarei uma má impressão logo nos primeiros minutos.

Não, isso indica que sou tímida. Ótimo. É um bom começo, apesar de tudo. As tímidas sempre ficam com os melhores. Talvez eu devesse ter vindo com um coque frouxo e um copo da Starbucks.

Eu ainda estava paralisada na frente da classe inteira enquanto o professor explicava algumas coisas para os alunos, que estava ocupada demais observando com atenção nos meus futuros pretendentes para prestar atenção. Ainda estava em choque por tudo o que estava acontecendo, entretanto preciso enfrentar o meu terror para o meu bem maior: amor! Finalmente poderei sonhar com todo aquele romance meloso da maioria das séries norte-americanas de romance. Quando estiver passando por algum momento de vida ou morte e o meu príncipe aparecer do nada... Sim, nada melhor que isso.

Na sala permaneciam várias pessoas de aparências distintas, todavia seguia o mesmo cronograma que a maioria das escolas: na frente os bonzinhos e atrás os bagunceiros, que sentavam sem postura. Ao observar sem tentar ser chamativa demais, pude comprovar uma das frases que meu subconsciente sempre me diz: “quem é rico, é bonito”. E, meu deus, as pessoas aqui deveriam ser podres de ricas. Vários garotos me chamaram atenção – se não foram todos, pelo menos. A sala reunia diversificados tipos de beleza, do careca ao cabeludo, do negro ao caucasiano, do sarado para o sem músculos; todos eram bonitos até demais. Vai ver que meu cérebro está criando essa miragem para não me desapontar por ter abandonado minha vida antiga. Só tenho a agradecer.

Os alunos sentados nas últimas carteiras de cada fileira me encaravam furiosos. Não os culpo. Até eu sabia o quão sagrada é a hora do recreio. Dois me fitavam transmitindo toda sua raiva, alguns mexiam no celular e os outros olhavam pela janela. Os que sentavam na frente apenas fingiam prestar atenção no que o professor estava falando porque, convenhamos, por mais que o aluno fosse do tipo certinho, ninguém estava dando a mínima para suas falas fúteis. Podia sentir a irritação do professor atrás de mim por estar impedindo seu horário descaço. Talvez uma partida de pôquer com os outros professores.

— Sophie Novais! – o meu nome sendo pronunciado em tom alto por uma voz grossa assustou-me, mas desta vez não soltei um grito. Meu cérebro sabia a minha situação e que se eu gritasse só daria mais motivos para esse professor me odiar. O senhor continuou me olhando, esperando que fizesse alguma coisa.

Desviando meus olhos dos seus para esconder a minha vermelhidão de vergonha, torcendo para não levar outro sermão, cochichei: – Me desculpe, eu não ouvi o que o senhor disse. – por um instante achei que minha cabeça voaria para a minha cidade natal. Tenho certeza que mentalmente ele chegou a me estripar dez vezes seguidas. A risada dos alunos a nossa frente o deixou ainda mais irritado, que ordenava a ficarem quietos.

O professor repetiu. Era apenas para ocupar meu lugar, que agora fica no meio termo da sala; onde ficam as pessoas que não são santas e nem arruaceiras, os conhecidos por ficar em cima do muro – Os sem graça, como diria meu antigo amigo. O professor liberou a sala antes mesmo que eu pudesse começar a caminhar ao meu destino e fui engolida por mais uma onda de pessoas. Coloquei minha mochila em minha mais nova mesa e também deixei o lugar, vivaz para começar meu último ano na escola.


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Notas finais do capítulo

*Love Love Comedy é um mangá fictício.
*referência usada aqui foi de Shingeki no Kyojin, quando citei o Titã Colossal.