Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 9
Capítulo 09


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem, chuchus. ♥



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Like I Can — Sam Smith

— SENHORITA, TEM CERTEZA de que não está brava pela minha demora?

Tessa contorcia nervosamente as mãos na frente do corpo enquanto eu tentava de todas as maneiras lhe dizer que tudo estava bem, que eu não havia ficado zangada.

— Tessa, se acalme — disse, segurando as mãos dela entre as minhas. — Você foi de muita utilidade, se não tivesse aparecido eu não sei o que teria feito. Sério, não fiquei nem um pouco brava com você.

Um pouco receosa, ela assentiu lentamente.

— Agora eu tenho uma tarefa para vocês — disse, tentando amenizar o clima. — Hoje a noite vocês me arrumarão não para jantar junto com as outras Selecionadas, mas para jantar com o príncipe.

Os queixos de Leah e Cali caíram, Tessa pareceu se esquecer na hora de qualquer problema. As três começaram a tramar imediatamente o que iriam preparar para a noite, o que me permitiu um pouco de paz ao me sentar na sacada.

Os jardins do palácio eram de dar inveja, e imaginei minha mãe vendo-os pessoalmente, certamente ela seria capaz de passear por eles durante horas. Postados aos portões do palácio os guardas pareciam triplamente mais atentos do que de costume. Permaneciam imóveis e com os olhos fixos no que quer que estivesse na frente deles.

Depositei sobre a mesa que havia ali meu pequeno caderno de anotações, havia feito questão de levá-lo comigo. Aquele era meu fiel escudeiro, meu amuleto da sorte.

Passei pelas primeiras páginas e deslizei os dedos pela folha. Nunca fui das mais caprichadas com a minha letra, mas era possível considerá-la bonita. Os textos eram datados, e poderiam facilmente serem considerados como a minha linha do tempo. Falavam desde as flores que eu havia plantado no jardim de casa, até meus vergonhosos antigos relacionamentos. Nada que houvesse tido muita importância, mas que de alguma forma haviam contribuído para o que eu havia me tornado.

Finalmente cheguei a uma página em branco, girei a caneta entre os dedos e observei a paisagem a minha volta. O sol morno do início da tarde deixava tudo parecendo mais tranquilo. O clima de Angeles era perfeito e convidativo.

Repassei todos os acontecimentos da noite anterior, desde os rebeldes até o príncipe Nicholas. Novamente uma sensação de que eu havia sido imprudente demais me dominou. Gostasse eu ou não, ele era o responsável por decidir quem ficava e quem saía do palácio, poderia decidir muito bem com quem teria mais de um encontro, e se quisesse me deixar por último, que poderia eu fazer? Fiz uma nota mental para me desculpar a respeito da minha indulgência quando nos encontrássemos para jantar.

Fitei novamente o papel, e senti a frustração se instaurar no meu peito. Toda ou qualquer ideia que eu havia tido alguns minutos antes desapareceu, me deixando ali, imóvel e com a sensação de ser inútil.

Espiei por cima do ombro para dentro do quarto e minhas criadas haviam se retirado. Eu estava sozinha.

De repente a ideia de solidão me pareceu assustadora. Quem eu era? O que eu tinha? A quê ou quem eu poderia me agarrar? Meus pais? Parecia pouco provável. Theo ou Mike? Um dia eles se casariam e teriam muito mais com o que se preocupar do que a irmãzinha confusa. Lily? Não fazia sentido.

Empurrei o caderno para longe e me levantei bruscamente. Comecei a caminhar em círculos pelo quarto tentando ocupar minha mente com algo realmente importante. O príncipe já havia mandado uma criada em particular me comunicar que iria me encontrar às oito, então decidi me apegar firmemente a essa ideia.

“Mantenha-se ocupada, mantenha-se ocupada”, repeti para mim mesma.

***

O vestido que minhas criadas separaram para que eu usasse era, assim como todos os outros, divino. A tonalidade de azul marinho contrastava com a minha pele, meus olhos por baixo da maquiagem suave pareciam ainda mais iluminados, e meus cabelos caíam feito uma cortina pelos meus ombros. A única coisa que me fazia indagar se aquele traje era correto, era a abertura que ele possuía nas costas.

— Isso não seria considerado indecente? — indaguei.

As três sorriram.

— Não mesmo, senhorita — respondeu Cali.

Leah terminou de retocar alguns detalhes e por fim deslizou um colar prateado pelo meu pescoço. Estava tudo pronto, eu estava pronta.

Me dirigi até a sacada para tomar um pouco de ar e me agarrei a borda da mesma. Respirei fundo três vezes e comecei a ensaiar como diria a minha desculpa. “Olha, Alteza, foi mal por ontem eu estava meio louca...”, horrível!

Fechei os olhos por um momento e senti a brisa fresca da noite tocar meu rosto. Tentei me acalmar dizendo que não havia nada a temer, era apenas um jantar. Além do mais, era a minha chance de saber o porquê de eu ter sido notavelmente “excluída”.

— Senhorita — disse uma voz tranquila, atrás de mim.

Virei-me e encarei o príncipe, por cima do ombro dele avistei minhas criadas, postadas lado a lado com as mãos juntas próximo ao peito em expectativa.

— Alteza — curvei-me brevemente.

Cordialmente ele estendeu o braço e dessa vez eu me segurei a ele. Leah ousou fazer um sinal de positivo para mim quando passamos por elas e nos dirigimos para o corredor.

Seguimos em silêncio durante algum tempo, e eu preferi continuar assim até que chegássemos ao nosso destino. Subimos escadas, dobramos a direita e a esquerda, e enquanto isso fiz uma nota mental de ter bastante cautela quando saísse pelo palácio sozinha.

Finalmente paramos diante de uma grande porta dupla, uma deixa para que nos soltássemos. Dentro do cômodo situava-se uma sala ampla, porém, consideravelmente vazia. Um piano estava em um canto, uma imensa lareira localizava-se do lado esquerdo e uma mesinha singela de madeira estava empurrada desajeitadamente contra uma parede.

— Venha — chamou o príncipe.

Atravessamos a sala e paramos diante de mais uma porta, esta simples e bem escondida, que eu mesma não a havia notado.

Tirando apenas uma chave do bolso, ele abriu-a e ficamos diante de um lance de escadas que se dirigia para cima. Lâmpadas acopladas a parede nos guiavam na subida e não permitiam que caíssemos em algum degrau.

— Aonde vamos? — finalmente perguntei.

— Não muito longe, estamos chegando — disse ele, subindo os degraus na minha frente.

Os saltos do meu sapato faziam um barulho desconcertante, e torci para que realmente estivéssemos próximos de chegar. O príncipe parou novamente, dessa vez empurrou uma porta destrancada e sobre seu ombro pude ver a noite do lado de fora.

Estávamos no terraço do palácio e quando pude ver tudo claramente, a vista de Angeles completamente iluminada era indescritível. Um imenso tapete de luzes, absurdamente belo, de tirar o fôlego.

Equipada majestosamente no centro do mesmo estava uma mesa, contendo todo o tipo de comida. Eu não havia notado o quanto estava com fome até aquele momento. O príncipe Nicholas dirigiu-se até ela e puxou uma cadeira para que enfim pudéssemos nos sentar.

— Vinho? — ele perguntou.

Eu não tinha o costume de beber, mas precisava molhar a garganta com algo que não fosse água ou suco. Precisava de combustível.

— Sim — respondi.

Aguardei enquanto ele servia o conteúdo para nós dois e depois de um brinde, me servi de um grande gole. Senti o conteúdo doce e suave contra meus lábios e suspirei.

— Bem, Alteza, eu... — pigarreei. — Gostaria de me desculpar pela minha imprudência ontem.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Estávamos todos muito nervosos, imagino que com você e as outras garotas não seria diferente. Afinal, nenhuma está acostumada com ataques de rebeldes.

Assenti lentamente. Tudo bem, a parte que eu havia ensaiado já havia passado, e o que deveria vir agora? Relanceei os olhos na direção dele e em seguida me concentrei na cidade.

— O que acha da vista? — indagou ele.

— É linda — disse, com sinceridade.

— Escreveria sobre ela?

Encontrei o olhar dele. Curioso, astuto e decidido; inclinei ligeiramente a cabeça e inconscientemente também me vi tentando decifrá-lo, tentando enxergar além do que ele de fato demonstrava.

— Daria um bom romance — dei de ombros. — Ou um belo poema.

— Escreve poemas?

— Vez ou outra, não é muito a minha praia.

A minha praia?”, retruquei para mim mesma. “Por favor, Alexia, melhore!

Nos servimos com a comida e enquanto eu saboreava aquele delicioso rosbife, tive a certeza de uma coisa. O príncipe não estava interessado em saber o que eu escrevia ou deixava de escrever, ele estava ganhando tempo.

— Quem mais já esteve aqui? — perguntei.

Antes de me responder ele tomou uma grande quantidade de seu vinho.

— Brittany veio aqui no nosso segundo encontro — respondeu.

Larguei involuntariamente o garfo contra o prato, aquela situação estava se tornando insustentável, pelo menos para mim. Senti uma sensação estranha em meu peito, mas decidi ignorá-la.

— Olhe para mim — eu disse, encarando-o fixamente. Os olhos azuis do príncipe se concentraram nos meus. — Se vai me mandar embora, seja breve e direto, mas não faça um teatro para isso.

— Desculpe?

— Por favor — soltei uma risada sarcástica. — Acha mesmo que ninguém comentou o que você fez? Um encontro com “todas”, dois com Brittany e eu jogada para escanteio. Se sou tão desinteressante ao passo de não merecer o mínimo de atenção, então me mande embora. Não vim ao palácio com a intenção de ser posta como uma das esculturas.

— Se eu tivesse que mandá-la embora já teria feito — replicou ele, sério.

— E o que está querendo? — rebati. — Fazer piada com a minha cara?

— Não é da minha índole...

— Pare! — eu disse abruptamente, e ele se calou me olhando com estupefação. Se eu iria embora depois daquele jantar, já não fazia diferença. Por mais que não tivesse uma relação exemplar com meus pais, ninguém iria pisar em mim. Nem mesmo o príncipe. — Não preciso que justifique seus atos para mim, não mesmo. Afinal, você que manda! A única coisa que eu quero, é que seja justo.

— Eu poderia tê-la mandado embora no dia em que nos conhecemos — começou ele, notei o leve quê de irritação em sua voz, certamente eu o havia atingido em um ponto delicado. — Naquela manhã eu não pude notar nada entre nós, você parecia tão... indiferente, desinteressada. Mas decidi lhe dar uma chance, achando que quem sabe você pudesse ver o real propósito disso tudo aqui e que pudesse se dedicar. De todas as outras garotas que foram embora depois daquele breve encontro, você foi a única de quem decidi testar o potencial. Resolvi começar a convidá-las uma a uma para que pudesse conhecê-las, na minha concepção você foi sim a última. O fato de ter encontrado Brittany duas vezes ao invés de tê-la convidado, se deu porque acabei descobrindo que ela e eu temos muitas coisas em comum.

Olhei para ele com um misto de perplexidade e descrença.

— Me desculpe, Alteza, se não faço jus aos pré-requisitos para ganhar o seu nobre coração. Mas nada do que acabou de dizer faz sentido. Se é para agir dessa maneira, é muito mais fácil dispensar todas nós e tentar conquistar uma mulher através do método mais tradicional...

— E o que acha que eu estou tentando fazer? — rebateu ele.

— Quanta experiência com garotas você tem? — eu já havia chegado num ponto em que as consequências não faziam a menor diferença. — Se você acha que Brittany é a garota certa para você, que vocês podem dar certo, então fique com ela. Sei que estamos aqui a poucos dias para uma decisão, mas é assim que as coisas acontecem lá fora. As pessoas se conhecem, se acham umas nas outras e então se agarram a isso.

— Alexia, o único motivo de não tê-la chamado antes foi apenas por achar que você não gostava de mim. A forma como olhava e como continua me olhando é completamente diferente das outras — com o tom de voz dele soando mais ameno, captei a sinceridade pura em suas palavras. Era hora de começarmos a jogar limpo um com o outro.

— Não sei se isso é permitido, mas que se dane — murmurei, passei para a cadeira mais próxima dele e o encarei. — Nicholas, muitas das garotas que estão aqui sempre tiveram de alguma forma o sonho de conhecê-lo e de poder, quem sabe, conquistá-lo.

— E você não?

— Longe de mim — respondi com um breve sorriso. — Sempre tive outros planos, outro ideal para minha vida. Quando aquele formulário chegou na minha casa a primeira coisa que tive vontade de fazer foi queimá-lo, mas eu tive o incentivo de pessoas importantes para não o fazer. Nunca passou pela minha cabeça que um dia eu estaria aqui, e quando eu fui chamada, bem, foi uma surpresa. Não é que eu não goste de você, eu... apenas não se pode começar a gostar de alguém do dia para a noite.

Apenas quando terminei de falar foi que notei que eu havia detido toda a atenção dele sobre mim. Engoli em seco e desejei que minha taça estivesse ao meu alcance, já havia exposto muito do que eu achava ali, talvez até um pouco a mais. Quantas regras eu havia infringido apenas naquele encontro?

— Compreendo — ele disse, após um minuto desconfortável de silêncio. — Espero que possa desculpar a minha indelicadeza por tê-la feito passar por algum constrangimento e... desculpe a minha inexperiência.

— Bem, acho que ambos devemos mútuas desculpas, sinto muito por isso — indiquei a mesa. — Acho que arruinei nosso jantar.

Ele segurou minha mão sobre a mesa, um pouco inseguro ao realizar aquele gesto, mas quando eu permaneci imóvel, ele a afagou. Em seguida, riu.

— Na verdade acho que você acabou por salvá-lo, seria bem ruim ter que comer com todo aquele clima desconfortável — suspirou. — E eu estou faminto.

Felizmente o resto da noite não foi nenhum desastre; finalmente Nicholas e eu pudemos conversar abertamente um com o outro, sem ressentimentos e privações. Depois de ter posto para fora tudo o que eu pensava, dispensei completamente o vinho.

Ao passo que demos o jantar por encerrado, fizemos todo o trajeto de volta ao meu quarto, que pareceu surpreendentemente mais rápido. Parei ao pé da porta, com uma das mãos na maçaneta, enquanto ele continuava parado no corredor.

— Foi uma noite agradável — comentei.

Ele sorriu, avançou mais um passo, segurou minha mão entre as suas e depositou um breve beijo. Senti minhas entranhas se revirarem, um gesto daquele era de deixar qualquer uma desconcertada.

— Boa noite, Nicholas — disse, já entrando no quarto.

Tive um breve vislumbre de seu rosto antes dele responder.

— Boa noite, Alexia.

Então eu fechei a porta.





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