Dream - Imagine Dragons

MINHAS CRIADAS TIVERAM QUE FAZER um esforço considerável para me tirar da cama pela manhã. O colchão confortável e os lençóis macios eram um convite tentador para que eu permanecesse ali pelo resto do dia. E depois de ter meus pedidos por mais cinco minutos negados, finalmente me levantei.

Apesar de ter insistido que eu era capaz de me virar sozinha, elas fizeram uma tremenda cara de espanto e alegaram que aquela era a principal função delas. Ao passo que eu havia sido derrotada pelos argumentos das três, deixei meu constrangimento para trás e permiti que me despissem e me ajudassem com o banho.

Mesmo amuadas e tímidas, elas até que eram agradáveis. E o jeito como eram atenciosas comigo me fez pensar em Lily, em como as coisas estariam sendo para ela agora que eu não estava mais em casa para distraí-la... Se fosse possível levar alguém para me fazer companhia no palácio eu a teria levado sem pensar duas vezes.

Enquanto elas me maquiavam fiquei sabendo seus nomes. Leah, Tessa e Cali.

Estávamos com o horário bem apertado, então enquanto Tessa terminava de arrumar meu cabelo, Leah e Cali vasculharam os vestidos até encontrar um que fosse adequado para o café da manhã.

O vestido que elas escolheram pareceu aos meus olhos, assim como todos os outros, deslumbrante. Era de um azul turquesa bem leve, sem mangas e definitivamente combinava com a bela manhã que se sucedia em Angeles.

Retirei o roupão e permiti que elas ajustassem alguns pontos necessários. O decote era composto por alguns detalhes prateados, nada espalhafatoso, mas certamente bastante notável. A cintura alta fixou-se a minha com maestria e ao passo que todos os detalhes estavam acertados, eu me sentia verdadeiramente linda.

Não charmosa, encantadora ou bonitinha, eu me sentia linda de verdade. O espelho gigante acoplado a parede permitia com que eu me visse por inteiro, e era como se eu estivesse vestindo um pedaço do céu.

Minhas criadas olhavam por cima do meu ombro para o meu reflexo e pareciam bastante satisfeitas. Tanto pelo resultado, quanto por terem me feito ficar sem palavras para elogiá-las.

No horário marcado me dirigi para o lugar onde Kaya nos encontraria e nos guiaria para encontrar o príncipe. Abri a porta do meu quarto e esperava encontrar todas as garotas prontas, mas haviam apenas quatro do lado de fora.

Eu era capaz de deduzir, pela forma como retorciam as mãos, que estavam absurdamente nervosas. Afinal, íamos conhecer o príncipe, pessoalmente. Respirei fundo e tentei não me desesperar com aquela ideia. Me dirigi para o lugar onde elas estavam e tomei o maior cuidado possível para não tropeçar na bainha do vestido.

Enquanto esperávamos mergulhadas num silêncio desconfortável, comecei a me sentir nervosa e impaciente. Por que tinham que demorar tanto? Felizmente uma das portas que ficavam no final do corredor se abriu e Lori surgiu. Vestia um vestido cor de salmão tomara que caia, e o jeito como caminhava na minha direção, aflita e apavorada, me fez gostar ainda mais dela.

— Você está linda — comentei, quando ela se aproximou.

Ela sorriu nervosamente.

— Obrigada — sua voz era pouco mais que um murmúrio. — Você parece um pedaço do céu.

Sorri e segurei uma parte do vestido.

— Eu sei, não é fantástico? — soltei um suspiro e peguei as mãos dela entre as minhas, estavam surpreendentemente frias. — Fique tranquila, tudo bem? Se continuar dessa maneira terá um troço antes de conseguir dizer “olá” para o príncipe. Você vai se sair bem!

— E se eu cometer alguma gafe? — indagou aflita. — E se eu cair? E se o vestido rasgar durante a reverência? E se...

— Lori! — soltei uma breve risada. — Por Deus, controle-se! Teria que ser uma onda muito grande de azar para tudo isso acontecer. Apenas concentre-se e seja você mesma, você viu quando a rainha America disse isso. Além do mais, se alguma dessas coisas acontecer, saia da saia justa como uma verdadeira dama.

Ela soltou o ar pela boca e passou as mãos pelo vestido. Em seguida, me encarou e soltou os músculos.

— Obrigada. De verdade.

— Não há de quê — respondi.

Quando todas já estávamos prontas, Kaya finalmente surgiu e pediu que para que a seguíssemos. Eu sentia meus saltos afundarem na tapeçaria macia e desejava profundamente poder estar descalça. O vestido era longo e arrastava no chão, ninguém sequer perceberia...

Descemos as escadas e adentramos o chamado Salão das Mulheres, onde — Kaya explicou depois —, nenhum homem podia entrar sem a autorização da rainha. Uma espaço feito sob medida especialmente para as mulheres do palácio.

Ainda assim, naquela manhã, trinta e cinco cadeiras estavam dispostas enfileiradas no salão. Haviam alguns câmeras circulando por ali como moscas e ao fundo, um sofá vermelho estava disposto, parecendo um pouco deslocado naquele ambiente.

Me acomodei com Lori numa fileira central localizada do lado esquerdo. Após nos avistar, Brittany arrastou Miranda até o nosso lado e sentou-se, o rosto parecendo completamente diferente devido a tensão que ela sentia.

O vestido amarelo dela contrastava com seus cabelos, e ambos pareciam ter uma luminosidade surreal. Quando jogou-se na cadeira ao meu lado, tive o súbito pensamento de que se eu era o céu, ela era o sol.

Miranda também trajava um vestido em camadas de cor azul marinho, os cabelos estavam presos em um coque e algumas mechas caíam-lhe pelo rosto. Sua aparência era autêntica e confiante.

Antes que pudéssemos ter qualquer contato com o príncipe, porém, Kaya posicionou-se num espaço amplo diante de nós e explicou o que se sucederia. Ela nos explicaria apenas o básico a respeito do que teríamos que fazer durante o café com a família real, e logo depois o príncipe Nicholas estaria ali para conhecer cada uma de nós.

— Como você acha que ele deve ser? — indagou Brittany, num tom de voz urgente. — Digo, televisão às vezes engorda um pouco, sabe...

Olhei para ela para me certificar se estava falando sério, e quando encontrei seus olhos tive uma súbita vontade de rir.

— Para ser sincera, eu não faço a menor ideia.

A meia hora seguinte foi um completo tédio enquanto ouvíamos Kaya dizer quais talheres deveríamos usar, como deveríamos nos portar a mesa e o que podíamos ou não fazer. Tive que fechar os olhos por um momento para tentar guardar na mente tudo o que ela estava dizendo. Regras demais. Normas demais. Parecia imensamente complicado.

Ao passo que ela terminou, permaneci de olhos fechados. Empurrando todas aquelas informações para o fundo da minha mente, obrigando-as a se fixarem lá.

Ouvi quando as portas do Salão das Mulheres foram abertas e foi como se uma verdadeira corrente elétrica tivesse sido ligada ali dentro. Abri os olhos e notei que todas as meninas estavam tentando se arrumar de alguma forma. Lori passava as mãos pelo vestido, Brittany afagava os cabelos e até Miranda parecia mais ereta.

Girei minha cabeça na direção em que elas estavam olhando e lá estava ele. Parecia não se intimidar pelos trinta e cinco pares de olhos que estavam grudados nele. Os cabelos loiros estavam arrumados majestosamente, apenas um único fio parecia rebelde o suficiente para não ficar no lugar, o terno bem passado estava bem ajustado... Ele sorria de maneira descontraída e quando postou-se ao lado de Kaya diante de nós, comecei a repetir para mim mesma o quanto aquilo tudo era errado.

O que eu estava fazendo ali? O que eu poderia conversar com ele? Observando o rosto das outras meninas eu podia ver a maioria delas arfante, coradas e com o olhar hipnotizado. Elas realmente o queriam, ou talvez quisessem ser apenas parte da realeza, mas não importava. Diferente delas eu estava ali apenas para fugir da pressão imposta pelos meus pais, para tentar descobrir qual era o meu verdadeiro propósito na vida.

De repente me senti patética, uma completa estúpida. Entrar para a Seleção para fugir dos meus próprios problemas? Onde eu estava com a cabeça?

Olhei por cima do ombro e encarei o vão que aquelas portas exibiam. Será que se eu saísse correndo alguém tentaria me impedir? Será que me deixariam ir embora se eu alegasse que eu não queria o príncipe?

Comecei a me sentir completamente perdida. Desejava imensamente que Theo estivesse ali, eu tinha certeza que ele teria as palavras certas para me dizer e me acalmar.

“Vamos, Lexi, não seja boba...”

Na nossa frente eu já havia perdido o que o príncipe Nicholas havia dito. Agora lá estava ele, erguendo a mão como um verdadeiro cavalheiro e conduzindo a primeira Selecionada até aquele sofá.

Mal conseguia me concentrar no que Brittany e Lori conversavam, meus olhos estavam grudados no que se sucedia a nossa frente. Garota por garota era conduzida até aquele sofá, sentavam-se com o príncipe e começavam o seu show. Me questionei quantas delas haviam ensaiado aquilo durante toda a vida. Elas sorriam de maneira doce para ele, que retribuía de uma maneira educada, um gesto simples que as deixava a ponto de derreter.

Lori foi a primeira de nós quatro a ser conduzida até lá, olhando por cima do ombro e respirando fundo para se manter calma. Pisquei para ela tentando parecer centrada, mas eu era a próxima e parte de mim não desejava levantar daquela cadeira.

Senti um bolo se formar na minha garganta e involuntariamente minhas mãos começaram a suar. Meu coração acelerava conforme os minutos se arrastavam, e uma ligeira sensação incômoda apoderava-se no meu estômago.

Lori levantou-se e tive que lutar contra o ímpeto de me virar e correr.

A caminhada até onde ele se encontrava pareceu mais longa do que de fato era. Quando estava próxima o suficiente parei e fiz uma reverência. Me ergui novamente a ponto da já encontrá-lo de pé.

“Brittany não terá com o que se preocupar”, pensei. “Ele é mais bonito pessoalmente.”

— Senhorita — ele tomou minha mão e nos sentamos. — Seu nome?

Na primeira tentativa nem eu entendi o que eu tentei pronunciar, por isso pigarreei e respirei fundo.

— Alexia, Alteza.

— Alexia — pronunciou devagar. — É um nome muito bonito.

Concentre-se, Alexia!

— Hum, obrigada.

Silêncio.

— Então, o que está achando disso tudo? — ele abriu os braços para indicar o amplo espaço a nossa volta, seu tom de voz era extremamente formal, mas havia algo a mais ali... tédio.

Certamente ele já deveria ter feito aquela pergunta para as outras inúmeras garotas que já haviam estado ali. Repetir aquele mantra para todas deveria ser cansativo.

— É o tipo de coisa com as quais minhas personagens ficariam encantadas — comentei.

— Suas personagens? — indagou, confuso.

— Gosto de escrever.

— Ah. — Pausa. — E quanto a você?

— Eu?

— Sim, o que acha disso tudo?

— Com sinceridade?

— Lógico.

Ponderei por um momento e o encarei. Seus cotovelos estavam apoiados nos joelhos, de uma maneira até mesmo engraçada. Tentei enxergá-lo como se não fosse um príncipe, como se fosse apenas um garoto descolado da escola.

E me peguei pensando que ele era o tipo de cara que se tivesse me convidado para ir a um baile, eu aceitaria.

— Acho tudo uma grande loucura — soltei. — Digo, é tudo maravilhoso de certa forma, mesmo que não tenha sido com isso que eu tenha sonhado. Agora, não consigo nem pensar em como eu agiria se houvessem trinta e cinco rapazes disputando por mim...

Ele soltou uma risada.

— Está querendo me dizer que na sua província não haviam um monte de rapazes atrás de você? — ele arqueou uma das sobrancelhas, de modo provocativo.

— Não, não havia! Se houvesse eu não estaria aqui!

O príncipe Nicholas ponderou a respeito da minha resposta e ficou em silêncio por um momento. Me questionei se eu não havia ultrapassado algum limite e comecei a repassar minhas palavras.

Por fim ele sorriu.

— Certamente eles perderam uma grande chance — respondeu, em seguida segurou minha mão novamente e a beijou. — Foi um prazer conhecê-la, senhorita Alexia.

Ele pronunciava meu nome de uma tal forma, quase musical. O encarei por um momento e finalmente me levantei.

— Igualmente, Alteza.

Enquanto me dirigia de volta para o meu lugar, Brittany já se levantava para me suceder, quando nos cruzamos ela sussurrou.

— Como ele é?

— Simpático — respondi.

Ela pareceu satisfeita.

Quando me sentei ao lado de Lori, me sentia profundamente mais aliviada. Observei novamente enquanto Brittany sorria de forma graciosa para o príncipe e suspirei.

Ao menos eu havia sobrevivido a primeira etapa.