Blood Royal escrita por jupiter


Capítulo 1
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. É a primeira vez que escrevo algo relacionado com a história, e estou me esforçando. ♥



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SER UMA TRÊS TINHA LÁ SUAS VANTAGENS, mas com os pais que eu possuía era meio difícil conseguir enxergar alguma delas. Respirei fundo e tornei a olhar para os rascunhos que estavam diante de mim.

Apesar de haverem outros serviços vantajosos que pudéssemos realizar, a minha maior paixão era escrever. Me fascinava a ideia de poder transportar para os outros o que eu pensava, ceder a eles um pouco de tudo o que se passava em minha cabeça. Escrever era a minha paixão, minha válvula de escape, eu era capaz de criar o meu próprio mundo e viver nele sem ser incomodada por nenhum dos problemas que me cercavam.

Mas nem tudo são flores, e minha mãe parecia disposta a ocupar o papel do Exército Inimigo. Era de se esperar que com um filho médico e o outro cientista, ela se opusesse a minha decisão. Ser a filha mais nova acarretava em pressão redobrada, especialmente quando seus irmãos são verdadeiros sucessos.

Aquela manhã em especial, porém, minha mãe parecia muito mais disposta a me infernizar. Gritava ordens a todo momento para a nossa empregada e insistia em lançar indiretas para mim o tempo inteiro.

Eu apertava a caneta com força contra a minha mão, uma tentativa fajuta de afastar todos aqueles gritos e resmungos. Minha paciência estava sendo levada ao limite.

— Mãe, poderia dar um descanso a Lily? — finalmente indaguei. — Os ouvidos dela daqui a pouco estarão sangrando devido aos seus gritos.

Seus olhos me fuzilaram.

— A função dela é servir ao que eu ordeno, diferente de você eu tenho pulso firme — ela voltou-se para a empregada. — Minhas ordens estão fazendo seus ouvidos sangrarem?

A coitada balançou a cabeça veementemente sob o olhar inquisidor de minha mãe.

— De forma alguma, senhora. Estou aqui para cumprir suas ordens.

Minha mãe pareceu satisfeita.

— Ótimo. Termine de preparar o almoço e logo depois termine de arrumar o quarto dos meninos, quero tudo perfeito para quando eles chegarem.

Quase engasguei. Como assim meus irmãos iriam nos visitar e eu não sabia de nada?

— Mike e Theo aqui? — questionei. — Por que não me disse nada?

— Se fosse um pouco mais devotada e deixasse de lado todos esses rabiscos, talvez eu tivesse lhe contado. Eles chegam hoje à noite, tente ser gentil com eles.

Eu a encarei. Avaliei minha mãe por um momento tentando ver por trás de toda aquela aparência que ela mantinha. Ela dizia aquelas palavras como se estivesse pedindo que eu fosse legal com pessoas desconhecidas, talvez esquecendo-se por completo que ambos eram meus irmãos. Havíamos crescido juntos, não havia necessidade de um pedido como aquele.

— Por que é assim comigo? — me peguei cuspindo aquelas palavras. — O que você tanto quer de mim?

A compostura dela vacilou por um momento, disso eu tinha certeza. Seus olhos azuis perderam-se no vazio e ela limpou a garganta antes de me responder.

— Lealdade. Já notou que diferente dos seus irmãos você não faz muito esforço para nos agradar?

Ela não esperou minha resposta. Girou nos calcanhares e me deixou sozinha fitando o espaço vago que ela a pouco ocupava. Então a questão toda era aquela? Eu não os agradava? Parecia patético!

Meus pais queriam exigir de mim o que eles mesmos não me davam. Queriam uma filha carinhosa, mas não faziam por onde para que eu pudesse ser. Queriam gratidão, mas não me apoiavam em nenhuma das minhas vontades. Boa parte do que eu havia colecionado ao longo da minha vida devia-se a um mérito completamente meu.

Durante a batalha que se sucedia dentro da minha casa, era eu contra todos.


***

Mike e Theo chegaram trazendo consigo um pouco mais de ânimo para todos nós. Fui gentil com eles, mas não por conta da minha mãe, e sim porque de um modo ou de outro eles eram minha família e eu gostava deles.

A semelhança entre nós era notavelmente acentuada. Todos tínhamos os cabelos escuros de meu pai, mas os olhos azuis da minha mãe. Mike era o mais velho, tinha vinte e oito anos e era o cirurgião da família. Sua inteligência aguçada havia sido crucial para que ele desse um salto tão grande. Theo não ficava para trás, era apenas dois anos mais novo que Mike e, às vezes, raciocinava tão depressa que era difícil acompanhá-lo. Mas eles tinham uma coisa em comum: eram ocupados até o pescoço; então o simples fato de estarem ali naquele momento tornava tudo mais especial.

Minha mãe e meu pai sentaram-se com Mike após o jantar diante da televisão, cobriam-lhe de perguntas e eu podia enxergar o orgulho estampado em seus rostos.

Me dirigi para o jardim, a brisa fresca da noite me fez sentir renovada.

Estava tão distraída que não notei Theo sentado nos degraus da varanda até ele falar.

— Eles não mudam nunca, não é? Não importa quanto tempo eu passe fora, sempre os encontrarei agindo da mesma maneira.

Me sentei ao lado dele.

— Estão orgulhosos por vocês dois. Não cansam de me repetir isso.

— Eu sei — ele sorriu fitando a rua. — Escreveu alguma coisa nova para o seu irmão favorito?

Eu sorri, mas com certeza houve algo em meu sorriso que o perturbou.

— Lexi?

— Eu não sabia que vocês iriam vir, a mãe não me avisou nada. Não tive tempo para escrever — suspirei. — Você sabe o quanto ela detesta o que eu faço.

Theo me puxou mais para perto e me deu um abraço. Sempre havíamos sido mais ligados, confiávamos um no outro a ponto de fazer confissões. Foi difícil quando ele anunciou que se mudaria. Mas, antes de partir, me pediu que eu sempre lhe escrevesse algo especial, uma forma de nos manter conectados. Por mais que fosse um pensamento meio cruel, sempre tive comigo mesma a sensação de que se tivesse que escolher qualquer pessoa da minha família, seria ele.

Theo era bondoso, atencioso e um ótimo amigo. Nossa relação era verdadeira, nos portávamos como irmãos deveriam ser. Eu o amava com todas as minhas forças, e não eram preciso palavras para saber que ele sentia o mesmo com relação a mim.

— Você é a minha caçula, a minha Lexi — ele disse. Theo era o único que mantinha o hábito de me chamar daquela maneira. — Você é completamente fantástica no que faz, e se precisa de apoio, tem inteiramente o meu. A mãe é cabeça dura, mas sei que no fundo ela aprecia a sua determinação. O pouco de coragem que faltou em Mike e eu para enfrentá-la nasceu com você. Se é isso que você ama fazer, então faça. Seja você mesma, Lexi.

Fiquei em silêncio por um momento. As palavras de Theo ainda rodopiavam em minha cabeça, procurando algum sentido. Alguma coisa na qual se agarrar. Tudo o que eu precisava era ser eu mesma, mas aquele tipo de coisa estava ficando cada vez mais difícil, as coisas estavam se tornando mais estreitas. Eu precisava tomar uma posição, mostrar que poderia ser independente.

Ser eu mesma dentro daquela casa parecia impossível. Não com as obrigações que meus pais queriam me impor. Eu precisava começar avaliar minhas opções, achar a minha real válvula de escape. Precisava descobrir quem eu era e mostrar para o mundo a verdadeira Alexia Walcolt.

— O que seria de mim se você não fosse meu irmão? — sussurrei para Theo.

Ele riu.

— Provavelmente você estaria completamente perdida.

— Amo você, Theo.

— Também amo você, Lexi.


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Notas finais do capítulo

Não deixem de comentar o que acharam. Beijos! ♥