O chicote negro circulou, chicoteando as costas do escravo sem nenhuma piedade. Pedro, o rei, havia ordenado que todos os escravos passagem por um adestramento extra por terem dado uma festa na vila da cidade na noite passada. O fato, era que nem todos possuíam a liberdade que mereciam.

Josué fechou seus olhos com ignorância, procurando com todas as forças afastar as dores que o chicote lhe causava. A ferramenta marcava sua pele, causando rasgos fundos, no qual se era possível ver sua carne. Seus olhos lagrimejaram. Havia aceitado ser um dos escolhidos para representar o seu povo, os escravos, e não iria dar as costas agora. Não queria se ajoelhar e se entregar ao rei.

Josué não possuía mais família, mas era muito conhecido por entre o seu povo, pela sua compaixão por todos e o desejo de não só mudar o seu destino, mas de conhecer o mundo. Com dificuldade, por fim, abriu os olhos, nos quais sem a sua concepção escorreram lágrimas.

– Levanta-se, porco imundo! - Gritou por fim o Feitor, cessando as chicotadas. Com dificuldade, Josué se levantou. As correntes pesadas e grossas que lhe prendia pelas mãos e pelos pés lhe difcultava os movimentos, e a dor em seu corpo era agoniante. Não estava preso como de costume em um tronco forte de madeira, mas sim jogado ao chão da praça principal do reino. Este era um aviso mudo de humilhação. - Levante-se de uma vez! - O feitor gritou, chutando-lhe as costas com sua botina.

Foi levado outra vez ao chão, agoniado. Não sentia mais a dor em suas costas. Na verdade, toda a dor se transformara apenas em um forte pulsar de músculos.

Tudo isso era por culpa da sua cor? Da sua crença em Deus? Não entendia porque o seu destino deveria ser assim. Porque ele e seu povo não poderiam ter a chance de se sentar em uma mesa belíssima e repleta de comidas, com roupas limpas e cabelos penteados? Porque ele não podia ser o escolhido a ser um dos cavaleiros do Rei?

Antes de se lembrar de onde estava, seu corpo foi tomado por uma febre forte, e sua mente apagou-se.