De todos os dias da semana o seu favorito era sexta. Muitos dos alunos de Hogwarts também possuíam essa preferência: Sexta era o dia em que finalmente poderiam jantar no Grande Salão, ou simplesmente relaxar pelo castelo, sem se preocupar com as aulas do dia seguinte. Alguns dias a sexta representava um momento de doce ansiedade para o passeio a Hogsmeade, que, em geral, acontecia aos sábados. Mas não era por nenhum desses motivos que Hermione Granger gostava das sextas feiras.

Às sextas, logo após o período de aulas, ocorria o treino de Quadribol da Grifinória, e apesar de não se dar muito aos esportes, Hermione amava este fato, já que todos os seus amigos mais próximos - Harry, Ronald e Ginevra - participavam do time principal. O que significava ganhar duas horas de paz semanalmente. Não que ela não apreciasse a companhia de seus amigos, de fato, os amava de maneira incondicional, mas precisava de um tempo para si. Algo que eles não compreendiam muito bem.

Por isso, grande parte das vezes que gostaria de ficar sozinha ela usava os estudos como desculpa, para não magoar seus sentimentos dizendo a verdade. Na verdade, a desculpa que Hermione usava não era de todo mentira, já que realmente gostava de estudar. Apenas não estudava o tempo inteiro, como muitos pensavam. Afinal, era, sobretudo, humana. E se cansava como qualquer um naquele castelo.

Na verdade, Hermione nunca chegou a entender o porquê de a verem como uma máquina de aprender, e por mais que gostasse dos elogios ao seu intelecto, os achava um tanto quanto exagerados. Elogios constantes a deixavam ansiosa, já que sentia como se tivesse que manter os padrões a todo momento, sempre com medo de errar e ser julgada.

"A garota inteligente amiga do Potter." Pensou Hermione enquanto andava pelos corredores da escola, indo em direção à biblioteca. "O fato é que ninguém me conhece de verdade." Ela queria que conhecessem.

— Boa tarde, Madame Pince. — Hermione cumprimentou a bibliotecária ao entrar, como de costume. A biblioteca parecia estar vazia.

— Srta. Granger. — A bibliotecária desviou o olhar de seu catálogo, mas não esboçou um sorriso. O seu mau humor típico permanecia, e para ela seus livros pareciam bem mais importantes do que qualquer cordialidade com alunos.

Hermione então começou a andar por entre os corredores estreitos procurando algum titulo que chamasse a atenção. Não tinha feito todo o seu dever ainda, mas estava com um sentimento estranho nesse dia. Não era tristeza, nem cansaço em sua forma pura, mas talvez um pouco de melancolia com ambos. Nem ela sabia como se sentia, mas sabia que não conseguiria se concentrar o suficiente para fazer algo produtivo.

Por isso estava ali para uma leitura casual. Depois de retirar uma grossa camada de poeira das prateleiras procurando algo acabou por escolher um livro de contos. Parecia interessante e não exigia muito de seu cérebro. Com o livro em mãos se dirigiu a uma parte mais reservada da biblioteca, com mesas, cadeiras e poltronas. Não esperava encontrar ninguém ali, afinal os alunos só iam à biblioteca nas tardes anteriores as provas. Mas havia alguém. Alguém que ela nunca tinha visto por ali antes. Usando uma das mesas e lendo "Hogwarts: Uma História" estava Draco Malfoy. Hermione reconheceu o livro de imediato, afinal, já o tinha lido dezenas de vezes. A garota não sabia o que estranhava mais: A escolha desse livro que tanto amava, ou a própria presença de Malfoy ali. O garoto nem ao menos levantou o olhar do livro para reconhecer sua presença, então estava tudo bem.

Ela escolheu uma das poltronas e sentou-se, abrindo seu livro. Hermione então emergiu em sua leitura sobre magos antigos e só notou que algumas horas haviam se passado quando ouviu o ranger da cadeira que Malfoy usava quando se levantou. Ela observou enquanto ele fechava o livro e arrastava a cadeira de volta para o seu lugar. Malfoy desta vez reconheceu a sua presença e a encarou por alguns poucos instantes, saindo em seguida.

Nenhuma palavra foi dita, e Hermione não se incomodou. Afinal, Malfoy não era seu amigo, e já não a incomodava com piadas estupidas e apelidos como nos primeiros anos. Ele havia crescido, e agora Hermione não esperava dele mais que o silêncio. Mas ainda não havia se acostumado com a presença do garoto.

Hermione olhou o relógio na parede e viu que ainda tinha algum tempo até a hora do jantar, então decidiu terminar o conto que estava lendo e ir até o Grande Salão com tempo de sobra para andar devagar, sozinha com seus pensamentos e sentir a brisa que sempre parecia percorrer aqueles corredores.

Chegando ao Grande Salão dirigiu-se à mesa da Grifinória e encontrou seus amigos conversando sobre o treino do dia e sobre a próxima partida, que aconteceria domingo, contra a Lufa-Lufa.

— Ei, Mione — começou Ronald quando ela se sentou. — Deve ter estudado bastante hoje, hein?

— Na verdade não. Só li um pouco. — A reação de seu amigo ruivo foi apenas revirar os olhos, acreditava que ela estava sendo modesta, já que em sua cabeça Hermione Granger vivia em função dos estudos. E o seu "pouco" era relativo, já que para Rony representava "Muitíssimo".

Hermione riu e serviu seu jantar, pois não havia mais o que fazer. Rony não acreditava nela, mesmo a conhecendo há tantos anos. Em seguida engatou em uma conversa com Ginny sobre como todos os bolinhos sem cobertura mesmo teoricamente de sabores variados possuíam o mesmo gosto horrível.

Após o jantar, quando todos se reuniram no salão da Grifinória Hermione decidiu se recolher mais cedo. O salão estava cheio, como sempre, e o seu sentimento de melancolia perdurava. Por isso decidiu ir logo dormir.

— Está tudo bem, Mione? — perguntou Harry quando a morena foi desejar uma boa noite.

— Sim, Harry — Ela sorriu. — Acho que andei demais pelo castelo hoje, estou com sono. — Mentiu.

Harry sorriu de volta e aceitou prontamente tais palavras. Ele não costumava questionar muito as decisões de Hermione, ela era a mais sensata do grupo, afinal.

— Boa noite, então. — Disse Harry. — Até amanhã.

Hermione apenas concordou com a cabeça e seguiu em direção ao dormitório, se jogando na cama ao chegar lá. Pensou que dormiria rápido, mas não foi isso que aconteceu. Milhares de coisas passaram por sua cabeça, deveres, bichano, sua reputação pela escola, a falta que sentia de seus pais.

Ao pensar nisso o sentimento de melancolia pareceu tornar-se mais forte, sentiu um aperto no coração e decidiu escrever para eles no dia seguinte. Alguns dias mais cedo que de costume. Mesmo após anos nessa escola Hermione não conseguia se acostumar com a falta de seus pais. Pensou em Harry, em como ele deveria se sentir e virou-se na cama, incomodada com seus próprios pensamentos.

Dormiu por fim, depois de muito rolar pela cama. Sonhou. Por entre os sonhos, houve um com um garoto de cabelos curtos e loiros, que passou rápido como um flash. Hermione não se lembrou desse sonho pela manhã.