Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 38
Trinta e Oito




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Lucille olhou pela centésima vez o relógio sobre a cornija da lareira. Eram onze horas da noite. Onde Gerard estava? Ele lhe dissera que voltaria no começo da noite, mas até aquele momento nenhuma notícia.

A moça sentou-se no sofá, mas segundos depois tornou a levantar-se andando pela sala. Por que seu coração batia descompassado como se sentindo uma tempestade aproximar-se. Ela embrulhou-se mais no penhoar de inverno que usava. Ele parecia um longo casaco com renda sobreposta a veludo. Por baixo dele ela usava uma camisola longa do mesmo tom de verde de seus olhos.

Quando ela já estava quase apagando as velas para ir dormir, ouviu baterem na porta. Um sorriso acendeu seu rosto e ela ignorou o apertar de seu coração.

– Já pensava que você não viesse... – disse abrindo a porta.

Mas diferente do rosto amado de seu marido, ela deparou-se com os frios olhos azuis de Von Gorthel. Atrás dele, como um cão de guarda, estava o sargento Kroll.

– Ah, mas eu vinha... Eu vinha sim, meu rouxinolzinho.

Lucille tentou fechar a porta, mas o sargento era mais forte e praticamente arrombou a porta. Lucille correu pela sala fugindo de seu captor. Jogando objetos nele.

– Não precisa disso, meu rouxinolzinho. Quero transformar você numa princesa.

– Nem morta! Vou lutar o quanto puder contra você.

– Sim, minha linda! Lute, lute mesmo. Adoro mulheres indômitas.

Traída pela camisola longa, Lucille caiu e o sargento a imobilizou com uma corda e uma mordaça. A moça continuava lutando, mas o aperto de Kroll tirava-lhe o ar a cada mexida dela.

Von Gorthel segurou o queixo da moça deliciando-se com o brilho feroz dos olhos verdes.

– Você será o meu melhor prêmio desde que cheguei aqui. Leve-a para o carro. Nessa noite, serei o homem mais feliz do planeta.

***

Hanna ouviu o carro chegar e foi para a janela. A corrente tilintou com a movimentação, mas ela não se importou. Viu quando dois homens carregavam algo parecendo uma mulher que se debatia e Otto acompanhava a operação de perto. O grupo se encaminhou para uma cabana que havia na lateral do terreno. Algum tempo depois, somente um homem saiu de lá. Entrou no carro e foi embora. Uma luz fraca emanava de lá e Hanna fechou os olhos quando ouviu um grito de mulher. Otto estava praticando seus rituais de sadismo. Que Deus protegesse a pobre moça, Hanna desejou fechando as cortinas e voltando para cama.

Mas parecia que o grito pungente da moça ecoava em seus ouvidos a impedindo de dormir. Uma vontade imensa de chorar a invadiu e Hanna abraçou o travesseiro molhando-o com suas lágrimas e sufocando nele seus soluços.

***

A porta abriu com um estrondo e Gerard invadiu a casa.

– Lucille! Lucille!

Ele viu seus temores tomarem forma ao ver a desordem na sala. Medo e orgulho mesclaram-se em seu intimo ao ver que sua amada Lucille não se entregara sem lutar. O rapaz vasculhou o chão em busca de sinais de sangue, respirando aliviado quando não achou nenhum.

– Vermont! O que aconteceu aqui? – perguntou Julian entrando na sala.

– Lucille foi raptada e eu tenho certeza que por Von Gorthel.

– Então vamos lá na casa do canalha buscá-la.

– Mas quem nos garante que ele a levou para a casa dele? Von Gorthel frequenta alguns infernos aqui em Paris. Casas de péssima reputação. Ele pode ter levado Lucille para qualquer um desses lugares.

– Vou falar com alguns meus contatos das ruas de Paris. Talvez alguém saiba alguma coisa.

– Vou ficar por aqui. Von Gorthel tramou uma emboscada para mim. É bom que ele pense que estou morto. Será fácil resgatar Lucille com o elemento surpresa. Boa sorte, Desmonts.

– Pra você também, Vermont. – E Julian saiu em disparada pela porta.

Gerard foi até a cozinha e bebeu um copo de água, sentindo-a descer pela sua garganta ainda ressentida do aperto do soldado. Ele ouviu um ruído vindo da sala e sacou a arma.

– Olá? Tem alguém aqui? – soou uma voz feminina.

Gerard encaminhou-se para a sala ainda com a arma em punho. Surpreso viu que era madame Von Gorthel.

Madame? O que faz aqui?

– Capitão Vaan Sucher! O que o senhor faz aqui?

– Talvez pelo mesmo motivo que a senhora.

– Eu vim procurar ajuda. Minha amiga Lucille, Otto Von Gorthel a raptou e a mantém em cárcere.

– Onde? – Gerard guardou a arma e já se encaminhava para a saída.

– Em nossa casa.

– Então vamos para lá.

– Mas...

– Agora, madame! – ele pegou na mão dela e a colocou no carro.

– Agora me conte o que a senhora viu. – pediu ele enquanto dirigia pelas ruas.

– Hoje de manhã a porta do meu quarto foi aberta e aquele cão de guarda do Otto entrou com um molho de chaves na mão dizendo que meu marido queria me ver no escritório. Escoltada por ele eu desci as escadas e fui para o escritório. Otto andava de um lado para outro, fumando furiosamente, parecia nervoso.

"- Sente-se." Ele ordenou.

Sentei-me na beirada da cadeira, pronta para fugir. Meu primeiro pensamento foi que ele havia descoberto sobre a noite que Julian e eu passamos juntos. – Hanna corou – Mas não era. A mesa estava coberta de papeis e o cofre estava aberto. "Assine todos esses documentos. Use seu nome de solteira."

"- E por que eu faria isso, Otto?" – perguntei

"- Para garantir a minha fortuna. Se os ratos de Berlim acham que vão me deixar na miséria, não vão."

– Eu fiz de conta de que não sabia do que ele estava falando. Mas Otto sempre estava me dando papeis para assinar. Comecei a assinar os documentos e ele andava pela sala bebendo e fumando. Às vezes ele ficava murmurando: "- Eles não vão me pegar, não vão." "Vou para Suíça, depois para a Argentina. Roemmer me disse que é um bom lugar para se esconder." "Eu e meu rouxinolzinho... Ela cantará para mim."

– Quando eu o ouvi dizendo isso, eu parei de escrever. Então era minha pobre amiga que gritava a noite passada.

Gerard engoliu em seco quando ouviu Hanna confirmar seu mais terrivel medo.

– Desgraçado! Eu mato aquele desgraçado! – ele explodiu batendo repetidas vezes no volante.

De repente ela se deu conta que não sabia do romance entre a amiga e o secretário de seu marido. – Você a ama! Meu Deus, Como pode ser isso?

–Depois vamos conversar sobre os detalhes. E ela está na casa, madame?

Não, Capitão. Está naquele anexo que está sempre trancado. Quando Otto foi para o andar de cima, eu fugi do escritório e pedi para Nannau ficar observando o anexo do meu quarto. Disse a ela que dispensasse todas as criadas e peguei o molho de chaves no escritório antes de sair. Vim para a casa dela, pensando em encontrar Julian.

Nesse momento Gerard estacionava o carro em frente a casa dos Von Gorthel, aliviado ao contatar que não haviam guardas no portão e que o carro do comandante ainda estava na garagem.

Madame, procure a chave do anexo e liberte Lucille. E saiam as duas daqui. Se encontrarem Julian, fiquem com ele. Não deixem ele vir atrás de mim. Eu ainda tenho que procurar outros documentos.

– Para que capitão? Se Otto encontrar você, vai achar que você também vai prendê-lo.

– Não se preocupe comigo, Hanna. – respondeu Gerard chamando-a pela primeira vez pelo nome. – Tenho um trabalho a fazer.

Os dois se separaram e Gerard entrou na casa. Foi direto para o escritório de Von Gorthel. Como Hanna havia dito, o cofre estava aberto e vários documentos estavam sobre a mesa. Ele estava microfilmado alguns com o selo do Terceiro Reich, quando viu pela janela o sargento Kroll indo em direção ao anexo. As duas mulheres ainda estavam lá e nem por um segundo Gerard hesitou. Largou tudo e correu em direção a pequena construção.


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