Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 36
Trinta e seis




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A noite estava fria e silenciosa. Algumas pessoas andavam apressadas para chegarem em casa. Mas duas delas moviam-se silenciosas nas sombras.

Ao chegarem na rua onde se localizava a casa de Von Gorthel, Julian e Gerard esquadrinharam a área. A ausência de soldados fazendo a ronda era reconfortante, mas isso os fez ficaram ainda mais cautelosos.

Gerard tocou no ombro de Julian indicando onde eles deveriam ir. A dupla moveu-se para os fundos da propriedade. Um muro alto a cercava. Mas uma parte da casa era ligada a uma espécie de garagem e essa garagem tinha um portão que não era vigiado.

– Venha. Por aqui. - Gerard indicou o caminho.

Como na noite que chegara à Paris fugindo da patrulha alemã, Julian curvou-se e andou rente ao muro só erguendo-se quando se juntou a Gerard no portão.

– Está vendo aquela construção? Ela é construída num aclive. Numa das pontas, o teto é alto suficiente para atingirmos o parapeito do andar de cima. É só dar um impulso e segurar o parapeito e subirmos o corpo. Caminharemos por ele até a segunda janela, que é do quarto de madame Von Gorthel. Desculpe. - Gerard desculpou-se ao ver a carranca do outro ao mencionar o sobrenome de Hanna. - Você fica conversando, tomando chá ou qualquer outra coisa. E eu vou verificar o cofre. Entendido?

– Sim. - Julian respondeu. Seu coração batia forte não pelo que estavam prestes a fazer, mas por que dentro de alguns minutos iria reencontrar Hanna. Será que ela estava bem? Se aquele bastardo a tivesse machucado ele iria se arrepender.

Os dois começaram a escalar o muro, atentos a qualquer movimentação da casa. Ao pularem para dentro da propriedade, permaneceram quietos por alguns instantes. Gerard sentia a adrenalina correr pelas suas veias tornando-o mais alerta do que nunca. Não queria se distrair, mas não pôde deixar de pensar em Lucille deitada na cama dormindo tranquilamente depois de terem feito amor. A lembrança do corpo macio de sua esposa o deixou excitado. Todo o tempo do mundo não seria suficiente para que ele saciasse a saudade que sentira dela. Dos seus beijos, do seu sorriso. Mas ele tinha coisas importantes para fazer agora, ele pensou sacudindo a cabeça para clarear as ideias.

Alguma coisa estava errada, ele percebeu. Fez sinal para que eles se escondessem atrás de uma cerca viva.

– O que foi? - Perguntou Julian.

– O carro de Von Gorthel ainda está na garagem. Tem alguma coisa errada. Essa hora, ele já teria saído. - Gerard olhou para a casa. As luzes do segundo andar estavam apagadas, exceto por uma luz suave que refletia em uma das janelas. Justamente o do quarto de Hanna. No andar térreo, uma luz brilhava onde era o escritório de Von Gorthel.

– Droga! - Gerard socou uma mão na outra. - Vai me dizer que justamente hoje, Von Gorthel cansou de visitar as mariposas de Paris!

– O que vamos fazer? - perguntou Julian.

– Bem, eu disse que você vai ver Hanna e vou cumprir minha promessa. Se você for corajoso o suficiente para visita-la sob as barbas do marido dela.

– Eu gostaria muito que você não me lembrasse desse fato. E sim. Eu a amo o suficiente para isso.

– Bom... Então vamos lá Romeu ver a sua Julieta. - Gerard disse, para zombar dele.

Julian somente balançou a cabeça. Aquele cara era muito folgado!

Os dois atravessaram o pequeno gramado até a pequena construção. Julian fez um apoio para Gerard que alcançou o telhado com agilidade. Indo até a parte mais baixa do telhado, ele estendeu a mão para Julian pensando na ironia da coisa. Até pouco tempo atrás seriam capazes de se matar por Lucille. Mais uma coisa que ele sempre agradeceria a Hanna. Lucille não iria gostar que ele matasse a pessoa que ela resgatara das ruas quando rapazinho.

– Agora só falta o parapeito. - ele avisou quando sua atenção foi distraída para outro ponto. - Abaixe-se!

Os dois deitaram-se no telhado enquanto um facho de luz percorria a propriedade.

– Verificação da propriedade. Nada de mais. - Gerard comentou.

– E você não sabia disso?! - Julian respondeu.

– Sabia. Você ficou preocupado?

Julian preferiu nem responder.

– Não estamos perdendo tempo?

– É verdade. - Aquilo era tão natural para Gerard que parecia que ele estava num passeio, não prestes a invadir a casa do homem mais poderoso da França.

Os dois homens se levantaram e com um pequeno pulo alcançaram o parapeito. Com cuidado, pularam a balaustrada que servia de balcão e Gerard atingiu a porta balcão do quarto de Hanna e com um canivete conseguiu abri-lo. Ele moveu-se para o lado dando passagem a Julian, sem antes adverti-lo

– São duas da manhã. Haverá outra vistoria às três da manhã e outra às quatro. Siga o caminho que fizemos e não será pego.

– E você?

– Eu vou ver o que consigo. Vou verificar se Von Gorthel já foi dormir ou se está pensando na vida. - nos momentos de perigo, Gerard sempre procurava agir de forma leve. Atribuir mais seriedade à situação a tornava mais tensa. - Aproveite a noite, Desmonts. - Com agilidade, ele saltou para o próximo balcão.

Julian entrou no quarto e fechou a porta balcão. Ele esquadrinhou o local. O quarto era maior do que muita casa que ele conhecia. Tinha até uma sala continua com uma pequena biblioteca e um piano. Ele continuou olhando o aposento até ver a moça deitada. Julian aproximou-se. A luz suave do abajur a iluminava parcialmente, mas mesmo assim ele viu manchas escuras nos braços da moça e no rosto. Aquele miserável iria pagar por ter feito sua amada sofrer. O rapaz respirou fundo para se acalmar, mas suas mãos tremiam de raiva.

Chegou mais perto da cama e seu coração encheu-se de amor pela moça adormecida. Hanna era tão doce e pura. Tão diferente das outras mulheres. Ela parecia uma donzela do século dezenove, totalmente ignorante das coisas do mundo. Mas Hanna já conhecia o lado cruel dos homens. Von Gorthel não era exatamente homem que se prezasse pela sensibilidade e Julian não queria nem pensar no que ela sofrera nas mãos daquele monstro. Sim, ele teria que ser muito paciente para não assustá-la no momento que eles fossem mais íntimos um com o outro.

– Hanna... Hanna. - ele chamou.

A moça abriu os olhos e ele pressentindo que ela iria gritar, colocou a mão sobre sua boca.

– Sou eu, Julian.

Ele viu que ela havia se acalmado e retirou a mão.

– Julian? Oh meu Deus! É você! - ela abraçou-se a ele a beira das lágrimas. - Você está bem?

– Sim. Aqueles soldados não eram páreos para um rato de Paris como eu. Consegui fugir sem problemas. Mas e você? - ele se afastou um pouco olhando o rosto dela.

Hanna percebeu que ele via a mancha avermelhada em seu rosto e ficou constrangida.

– Estou bem, fique tranquilo.

Julian levantou um dos braços dela. As manchas pareciam mais escuras à luz do abajur.

– E isso aqui? Hanna, não me peça para ficar tranquilo quando você sofre esse tipo de violência.

– Julian, isso não é nada. Acredite-me. Otto já me machucou muito mais que isso.

Ele levantou-se da cama, passando a mão pelos cabelos numa tentativa de se acalmar.

– Você não tem ideia da vontade de ir lá e matar esse desgraçado com minhas próprias mãos.

Hanna levantou-se também. Os dois ouviram um tilintar de correntes.

– O que é isso? - ele perguntou.

Hanna baixou os olhos para o chão, constrangida.

– Otto queria ter a certeza que eu não iria fugir.

No tornozelo da moça havia um grilhão ligado a uma corrente. A corrente estava presa à um dos pés da cama. Julian ficou estarrecido.

– Esse homem é louco! Eu vim com o propósito de levar você daqui, mas diante disso... - ele suspirou desanimado.

Hanna caminhou até ele.

– Mesmo que eu estivesse livre, eu não poderia fugir. Ele cumpriria sua promessa de destruir o orfanato e mandar as crianças para um campo de concentração.

– Acha mesmo que ele faria isso com inocentes?

– Otto é capaz de tudo, Julian. Por isso eu tremo só de imaginar ele encontrando você aqui.

Ele foi até ela e a abraçou. A moça encostou a cabeça no peito largo e suspirou.

– Ah, Hanna! Minha Hanna! Pois eu gostaria e muito que ele nos encontrasse assim bem juntinhos.

Hanna levantou a cabeça e olhou para ele com os olhos arregalados, mas relaxou ao ver que ele ria.

Os dois permaneceram alguns instantes sentindo seus corações baterem juntos só ouvindo o tique taque do relógio.

– Julian... - ela murmurou.

– Sim minha querida?

– Quando você disse que me amava, disse também que queria fazer parte de mim.

– Sim. - ele se afastou dela, segurando seu rosto nas mãos. - Eu quero ser parte de você, sentir o que você sente.

– Eu também quero ser parte de você. - ela declarou. - Mais do que isso. Que nós sejamos um só. Quero pertencer a você de corpo e alma... Assim como meu coração já pertence.

Julian a olhou seriamente.

– Hanna, você sabe o que está dizendo? Eu não tenho nada para lhe oferecer, a não ser o meu amor, a minha vida. Mesmo quando solteira, você era acostumada ao luxo. E depois de seu casamento então...

– Nenhuma riqueza no mundo vale esse pesadelo. - ela se afastou dele apertando as mãos nervosamente. - Foi horrível. Ele realizou comigo todo tipo de violência que um homem pode fazer com uma mulher. Ele me bateu, me chamou de nomes que eu nem sei o que significam. Eu me senti violada em todos os sentidos, Julian. Eu... Eu... - ela começou a chorar

Julian correu até ela e a abraçou forte enquanto os soluços sacudiam o corpo da jovem.

– Shhh. Não, meu amor. Não chore. Esqueça-se disso, por favor. - Julian já estava ficando desesperado ao ver o sofrimento de Hanna.

– Eu não posso... Está gravado em meu corpo a ferro.

– Então vou tirar essas marcas desse jeito. - ele começou a beijar o rosto molhado de lágrimas, sentindo o gosto salgado delas. Passou a beijar o cabelo dela, sentindo seu perfume.

– Humm... Como um campo de rosas...

E continuou descendo pela orelha, olhos. A ponta do nariz pequenino e arrebitado como o de uma criança. As bochechas e atingindo os lábios entreabertos. Sentiu a respiração dela em seus lábios e a beijou com suavidade como se tocasse as pétalas de uma rosa. Nada de sofreguidão ou de línguas entrelaçadas. Tudo numa calma sobre humana que ele nunca pensaria ser capaz de possuir.

Continuou beijando a descendo pelo pescoço e a curva suave dos ombros.

– Minha querida, se você não me pedir, eu não vou conseguir parar. - ele murmurou contra a pele dela.

Hannah segurou rosto dele e disse:

– Eu não quero que você pare. Eu quero ser mulher em seus braços. Ame-me. Deixe que eu pertença a você. Deixe-me conhecer o verdadeiro amor entre um homem e uma mulher.

Ele não disse nada, apenas a ergueu nos braços. O tilintar da corrente o fez apertar os lábios de raiva. Mas ele não queria pensar em Von Gorthel ou em suas loucuras. Aquela noite pertencia a Hannah e ele. Ninguém mais caberia naquele quarto enorme.

Ele a depositou na cama e apenas a observou. A luz do abajur deixava sua pele com brilho perolado. Ela é como uma joia, ele pensou. E ele era o feliz possuidor de tal raridade.

Julian tirou sua camisa juntando-se a ela na cama. Hannah nunca tinha visto um homem despido. Em suas núpcias permanecera de olhos bem fechados. Apertados a ponto de doer. Mas agora ela os mantinha abertos, como se não quisesse perder nada.

Julian continuou a beijá-la e a acariciá-la com as pontas dos dedos. Ele ajoelhou-se na cama e puxou ela para seus braços. Hanna ajoelhou-se frente a ele. Pegou nas mãos dela e disse em seu ouvido.

– Toque-me. Sinta-me, Hanna.

Julian levou as mãos dela até seus ombros e as desceu até seu peito onde Hanna sentiu as batidas fortes foi coração.

Hanna olhou nos olhos dele e eles demonstravam tanto amor que ela não teve medo. Tirou as mãos do peito dele e as levou para seus ombros deslizando as alças da camisola, revelando seus seios. A luz do abajur iluminou os seios de bicos rosados. No momento em que ela baixou a cabeça envergonhada, ele levantou seu rosto.

– Não tenha vergonha de sua beleza, meu amor. Você é linda!

– Você acha?

Ele levantou a mão com se jurasse.

– Palavra de honra. - afirmou com voz solene. - Eu posso?

Ela acenou afirmativamente. Julian os espalmou fechando os olhos quando os sentiu sobre suas palmas. Deu um suspiro de prazer ao deslizar os polegares sobre eles, fazendo movimento circulares sobre os mamilos.

Hanna sentiu seu corpo formigar como se tivesse levado um choque elétrico. Ela estremeceu e sentiu algo estranho em si. Tipo um calor que subia de seu âmago em direção aos seus seios que ela sentia queimar ao toque de Julian.

E quando ele a deitou sobre a cama, os lábios tomaram o lugar das mãos. Ele passeava seus lábios no vale entre os seios, subindo até o pescoço e descendo novamente até os seios. Sua excitação atingira um nível insuportável, mas ele ainda se controlava para não assustá-la.

Ele levantou a cabeça e olhou o rosto dela. Hanna estava com os olhos fechados e sua face apresentava um rosado decorrente da excitação que ele provocava.

– Fique assim, meu amor. - ele pediu a deixando por alguns segundos. O tempo suficiente para tirar o resto de suas roupas. Logo ele juntou-se a ela novamente.

Hanna sentiu a diferença no mesmo instante. Onde antes era roupa agora ela sentia pele. Quente e macia. Suave e rígida contra suas coxas. Uma urgência tomou conta dela, suas mãos adquiram vida própria e passeavam dos loiros cabelos de Julian até as suas costas.

– Hanna, eu preciso de você. Agora, meu amor... - ele sussurrou contra os lábios dela, a voz rouca de desejo.

– Sim, eu também preciso de você, Julian. Eu quero ser sua.- os olhos dela brilhavam como duas safiras.

Depois de beijar os lábios dela, Julian moveu-se sobre ela posicionando-se entre as pernas dela. Hanna era baixa, mas tinha as pernas esguias. Suavemente, ele levantou a camisola dela, mas retirando-lhe a peça íntima.

A moça arquejou quando sentiu a peça deslizando por suas pernas. Julian passou as mãos por suas pernas subindo em direção às coxas. Ele alcançou a cintura dela e a trouxe para cima de si. Encaixou as pernas dela em volta dele e voltou a deitar-se sobre ela,

– Meu amor, agora eu vou me mover contra você. Você está pronta pra me receber? - ele perguntou acariciando-lhe o rosto.

– Estou com medo de me machucar...

– Nunca! Nunca machucarei você, meu amor. Serei paciente, eu prometo.

– Você já está sendo. - ela pegou o rosto dele e o beijou.

Julian moveu-se contra ela, sentindo-a tão tensa quanto se fosse virgem. Ele começou a beijá-la no pescoço, nos seios e nos lábios ao mesmo tempo em que se movia contra ela.

Hanna sentiu a penetração e seu corpo enrijeceu-se contra a invasão de seu corpo. Mas os beijos ternos de Julian em seu corpo a lembraram que aquele era um ato de amor, não um ato bestial de posse. E ela começou a sentir a mesma urgência de antes. E instintivamente, começou a se mover também no mesmo ritmo.

E assim cada vez mais a entrega dos dois foi ficando mais intensa, mais forte até que os dois atingiram o êxtase que os envolviam em ondas deixando-os exaustos um sobre o outro.

Passado o êxtase, Julian rolou para o lado e levando Hanna consigo, ele perguntou:

– Como você está, minha linda?

– É sempre assim? Como tocar o céu com os dedos?

– Assim para sempre, meu amor. A nossa união será assim para sempre.

A moça aconchegou-se ao peito do rapaz.

– Veja, meu querido. A noite se aproxima do fim.

– Então é chegado o momento da despedida. Mas eu não quero ir.

– Mas você deve ir. Logo a luz da aurora virá e você estará visível. Não seja insensato, meu amor.

Ele a beijou emocionado com a poesia de suas palavras. Mas as palavras dela continham a verdade. Se ele fosse visto à luz do dia, com certeza seria preso. Julian levantou-se e começou a se vestir.

Hanna abriu a gaveta do criado mudo e dela tirou um lencinho rendado. Ela sentou-se na cama e estendeu o lenço a ele.

– Fique com isso. Será minha presença junto a você.

Ele pegou o lenço e olhou o bordado e viu as iniciais.

– HV?

– Hanna Verthesohn. Meu nome de solteira.

Ele beijou o lenço sentindo o aroma de rosas.

– Ficará sempre junto de mim. E será como se eu a tivesse em meus braços.

– Agora vá, meu amor. Se lhe prenderem não sei o que será de mim.

Ele inclinou-se para ela e a beijou apaixonadamente.

– Esteja pronta. Eu lhe tirarei daqui. Não vou demorar, eu lhe prometo.

– E eu estarei lhe esperando. - Os olhos dela brilhavam com se estrelas estivessem neles.

Apesar da aurora que se aproximava, Julian a beijou novamente. Os dois separaram-se e ele foi para a varanda. Depois de um último olhar, ele saltou pela balaustrada e desapareceu das vistas dela.

Hanna recostou-se nos travesseiros, rememorando o ato realizado por eles. Seu coração acelerou ao lembrar o momento da entrega. Ela ouviu o tilintar da corrente que a prendia. Mas isso não teve mais o poder de deixá-la triste. O amor de Julian a libertaria de todas as correntes. Físicas ou não.


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