Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 32
Trinta e dois




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À medida que os dias passavam, iam ficando cada vez mais frios. A situação na França ficava cada vez pior, e as mortes começavam a acontecer. As pessoas conseguiam apenas o mínimo para sobreviver, e os menos afortunados perambulavam nas ruas geladas apenas para movimentar os corpos magros.

O Le Moulin interrompeu suas apresentações com a proximidade do inverno. Alguns funcionários foram para suas cidades natais onde a situação era melhor.

Certa noite, Lucille lia sentada numa poltrona ao pé da lareira. Estava sozinha. Depois da discussão por causa de Hanna, Julian havia deixado a sua casa. Por padre Honoré, ela descobrira que ele ficara algumas horas no Orfanato com a irmã e depois fora para o acampamento partisan.

à Mesmo irritada com ele, Lucille rezou para que ele ficasse bem e à salvo.

Então, ela lia A Dama das Camélias, quando ouviu algumas batidas na porta. Ela olhou o relógio na cornija. Eram dez da noite. Não pensou que fosse tão tarde.

Com relutância, deixou o livro sobre a mesinha e se encaminhou para a porta. Talvez fosse Julian. Já era tarde e provavelmente o Orfanato já estava fechado.

Quando abriu a porta, ela viu um homem uniformizado de costas para ela. Por um ou dois segundos, ela sentiu uma irritação por mais uma amolação dos nazistas. Mas quando o homem virou-se para ela, a irritação desapareceu como por encanto.

– O que faz aqui Gerard? - perguntou ela.

– Eu não posso mais ficar longe de você. Eu não consigo mais. - ele lançou-se através da porta, abraçando-a forte e a beijando com volúpia.

A porta foi fechada com violência sem que o beijo fosse interrompido. Gerard levantou o corpo dela encaixando-o no dele. Lucile enroscou as pernas na cintura dele e ele a levou para o sofá.

Mas a empolgação de ambos foi tanta que os dois caíram no chão. Numa confusão de braços, pernas e cetim os dois começaram a rir.

– Nossa! Não foi desse jeito que eu imaginei. - comentou Gerard.

– Mas foi um começo e tanto. - disse Lucille entre as risadas.

Ele encostou o seu rosto no dela, acariciando-a.

– Como eu senti saudade da sua risada... - ele passou a beijá-la - Do seu gosto... Do seu cheiro.

– Gerard... - ela suspirou.

– Ah Lucille. Meu Deus. - a voz dele saia embargada pela emoção. - Meu Deus, eu preciso de você. Eu preciso sentir sua pele, seu calor. Por favor, Lucille. Por favor.

Ele estava implorando por ela. Seu corpo também ansiava pelo dele. A jovem arqueou seu corpo contra o dele, como se isso fosse uma resposta.

Gerard levantou-se.

– Só um minuto, meu amor. - ele começou a avivar o fogo na lareira.

Lucille o observou. Apesar de estar envergando um uniforme do exercito alemão, ela não pôde deixar de admirá-lo. Mas a cruz de ferro que havia no peito dele e a braçadeira com a suástica nazista lhe davam arrepios.

– Por favor, Gerard. Você pode tirar esse uniforme. Ele me faz mal. - pediu ela sentando-se no sofá.

Ele tirou o paletó e sentou-se ao lado dela pegando seu rosto nas mãos.

– Minha amada. Como eu senti falta desses olhos verdes olhando para mim como antes. Esse cabelo negro caindo sobre nós quando fazíamos amor. - ele pegou uma mecha do cabelo e aspirou seu perfume - Seus suspiros em meus ouvidos quando você atingia o êxtase em meus braços. Ah Lucille, Lucille... Minha esposa. Minha vida. Luz do meu viver.

Ela tocou o rosto dele com amor.

– Gerard, meu amor. Meu marido, meu amante. Meu porto seguro, minha rocha. Meu protetor, meu cavaleiro andante. Como sonhei com esse rosto esculpido em rocha, mostrando sua força e a firmeza de seu caráter. Como sonhei com esses braços que me abraçam forte quando a tristeza me invadia. Com seu peito onde eu me aninhava depois do amor.

Um se perdia no olhar do outro, as mãos se entrelaçavam sem que percebessem. Eles escorregaram para o chão suavemente, ajoelhados, um de frente para o outro. As mãos dela tremiam ao abrir os botões da camisa dele expondo o peito forte marcado por cicatrizes. Ela inclinou-se e beijou cada uma delas, fazendo Gerard inspirar profundamente.

Ele a segurou pelos ombros fazendo-a se aproximar e, enquanto a beijava na curva suave do pescoço, desatava o laço que prendia seu penhoar, expondo a camisola de cetim rosa antigo que brilhava a luz do fogo que ardia na lareira.

– Você continua linda, como eu me lembrava durante as noites que passei acordado.

Para sua surpresa, a moça ficou tensa.

– O que foi meu amor.

Ela pegou as mãos dele e as beijou.

– Preciso que você me perdoe por ter tido outra pessoa em minha vida. Eu pensei que estivesse morto, se eu... Se eu... - ela gaguejava tentando controlar os soluços que apertavam sua garganta.

– Shhh. Não se torture, meu amor. Eu devia tê-la procurado, mas em nome do dever, não o fiz. Claude me disse que você esperou por dois anos para ter uma pessoa ao seu lado.

– Claude? Vocês se conhecem?

– Claude é meu meio irmão. Ele usa o sobrenome de sua mãe, que também era francesa como a minha.

Ela ficou boquiaberta.

– Se lhe serve de consolo, ele só soube que você era a minha Lucille quando eu voltei, já em missão. Por muitas vezes ele me avisou para ficar longe, mas quem conseguiria?

– Meu coração sempre soube. Apesar da razão e dos fatos. Meu coração nunca pertenceu a nenhum outro, por que ele sempre foi seu.

– E agora vou tomar posse dele novamente. - Gerard inclinou-se e começou a beijá-la.

A camisola de cetim fez companhia à camisa dele que já estava no chão assim como a calça e os sapatos dele.

Vestindo apenas as roupas íntimas, eles se tocaram, se redescobrindo após tanto tempo de separação.

A moça abriu o fecho do sutiã expondo-se aos olhos do seu amor. Gerard moveu-se para o lado dela e a fez deitar no tapete em frente à lareira. Deitando-se ao lado dela tocou-lhe os seios acariciando-os com a ponta dos dedos. Lucille suspirou de prazer ao senti-los endurecer ao toque dele.

Quando os lábios tomaram o lugar dos dedos, ela arqueou o corpo em direção a ele. Gerard foi distribuindo beijos ao longo do corpo dela e quando atingiu a junção das pernas, retirou a última barreira que a separava dele.

Posicionando-se acima dela, ele a trouxe para si, mergulhando para dentro dela. A sensação que o invadiu foi de estar retornando para casa. Como um andarilho que finalmente encontra seu repouso.

A jovem sentiu a invasão de seu corpo pelo seu homem e lágrimas de alegria inundaram-lhe os olhos. Um sorriso de felicidade abriu-se em seu rosto e ela gemeu.

Apoiando-se nos cotovelos, ele moveu-se contra ela sentindo que sua esposa correspondia aos seus movimentos. Gerard tocou o rosto dela, acariciando-lhe os cabelos e beijando-lhe o pescoço enquanto ouvia os pequenos sons que ela emitia por entre os lábios entreabertos.

Ela sentia-se tão quente quanto o fogo que ardia na lareira e que iluminava os corpos nus. À medida que os movimentos cresciam em intensidade, os sons que Lucille e Gerard emitiam também cresciam até transformarem-se em gritos de êxtase.

Saciados e felizes, os dois permaneceram em silêncio apenas sentindo o bater de seus corações voltarem ao ritmo normal.

***

– Meu amor? - Gerard a chamou.

– Hum? - Lucille respondeu ainda sentindo-se lânguida após o ato de amor.

– Você está bem? Eu não a machuquei? - perguntou ele ansioso. - É que devo ter sido impetuoso, não sei...

– Estou maravilhosa. Você não me machucou.

Os dois estavam entrelaçados ainda deitados no tapete, o fogo já quase morria, e um friozinho já se fazia sentir.

– Você quer subir comigo? Nosso quarto nos espera. - ela moveu-se contra ele.

Ele deu uma risada.

– Eu sei. Mas se eu entrar naquele quarto com você, eu vou esquecer que o mundo lá fora existe. E eu ainda não posso fazer isso.

Ela sentiu o seu coração ficar pequeno.

– E por quanto tempo ainda?

– Só mais algum tempo, querida. - ele sentiu a tristeza nas palavras dela e beijou-lhe o topo da cabeça. - Assim que chegar a ordem de prisão para Von Gorthel, minha missão vai estar completa. As tropas britânicas estão resistindo na África e o tempo que levaram para substituí-lo dará tempo para a resistência se consolidar ao torno do Mediterrâneo. E então o caminho para a libertação da Europa começará a ser construído.

– Eu só queria saber uma coisa: Von Gorthel vai ser preso, mas e a Hanna?

– O que tem a esposa de Von Gorthel?

– Ela vai ficar bem, ou eles vão prendê-la também. - Lucille ficou preocupada.

– Ela irá perder os bens, mas possivelmente irá para a casa dos pais em Munique. - ele se virou para encará-la. - Mas... Por que tanta preocupação?

– Gerard, nós nos tornamos amigas.

Então foi a vez dele ficar boquiaberto.

– Foi por isso que, no dia de sua apresentação, eu senti uma cumplicidade em vocês.

– Eu a conheci há alguns meses atrás. Eu estava na Igreja quando ouvi alguém chorando. Era ela. Estava com um frasco de veneno nas mãos. Estava pedindo perdão a Deus por que ela iria acabar com sua vida. Eu a dissuadi de tal loucura e então ela me contou todo o seu infortúnio.

– E como ela fez isso? Ela mal fala o francês...

E pela segunda vez, Lucille contou o segredo que guardara durante toda a vida.

– Eu falo alemão. Meu pai foi prisioneiro de guerra nos últimos dias da Primeira Guerra e fez amizade com os guardas. Ele os distraia cantando e eles ensinavam alemão para ele. Quando fiquei mais velha, ele me ensinou o que aprendera, inclusive as músicas. E isso me tem sido bastante útil.

– Como?

– Eu também estou fazendo a minha parte na guerra. Ajudo os judeus que não conseguiram sair da França antes da invasão. Nós falsificamos documentos e permissões de saída. Os judeus não têm a estrela de Davi na testa. Quem pode dizer quem é judeu e quem não é? Então nós os escondemos no Le Moulin ou no orfanato e quando os documentos ficam prontos nós os mandamos pela fronteira com a Suíça ou pelo Canal. Tudo através dos subterrâneos de Paris.

– Isso é muito arriscado, Lucille. Se pegarem vocês é execução na certa.

– Todos nós sabemos dos riscos, Gerard. A minha situação não é tão ou mais difícil do que a sua. Foi por isso que eu não fugi com Colette e Pierre depois que você... Ah você sabe.

– Se você tivesse ido, nunca mais teríamos nos encontrado.

Ela se aninhou mais a ele.

– É verdade.

– Mas não se preocupe com Hanna. Os crimes de Von Gorthel não a envolvem. E pelo que eu vi, acho até que ela ficará aliviada em se livrar dele.

– E então ela poderá refazer a vida dela.

– Exatamente. Agora, - Gerard se levantou e Lucille admirou o belo espécime que era seu marido. O corpo definido, rijo. Não espalhafatoso quanto o de Julian, mas igualmente forte. O desejo acendeu novamente nela - vou levar você para cima para que fique quentinha debaixo das cobertas. O que foi? - perguntou quando viu o brilho nos olhos dela.

Lucille deu o sorriso maroto que ele tanto amava.

– Lhe conto quanto chegarmos lá em cima.

O corpo dele reagiu ao calor que emanava do dela. Já imaginava o que ela iria lhe dizer... Ou lhe fazer.


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