Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 24
Vinte e Quatro




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– Por sorte Julian não está aqui. Ele teria matado aquele sargento. – comentou Nanette.

– É. E teria sido executado em seguida. – lembrou Lucille. – Seu irmão não costuma pensar muito nas consequências.

– Igual a você, Lucille. E se o capitão não tivesse sido tão condescendente? – perguntou padre Honoré – Você estaria numa prisão agora.

– Por que ele foi tão bonzinho conosco? – perguntou Nanette. – Isso não é bom. Talvez a nossa situação piore.

– Não acredito nisso. Aquele capitão parece ser bem sensato.

– Meu Deus! A Ana! Esquecemos dela. – Lucille correu para fora da sala, subindo rapidamente as escadas.

Mal abriu a porta, a amiga se jogou em seus braços.

– Lucille! Eu estava preocupada. Ouvi gritos.

– Não fique assim. Tivemos um problema, mas ele já foi resolvido.

Foi então que Hanna percebeu o desalinho da amiga.

– O que aconteceu com você?

– Fui atacada por um soldado. Mas, - ela completou vendo que a amiga reagia – ele já foi punido por seu superior e foi levado preso.

– Eu vou falar com Otto. Isso não pode acontecer! – Hanna estava vermelha de indignação.

– E ele saberá onde você está passando as tardes. Não Hanna. O soldado já foi preso e eu tive sorte do capitão não me levar presa também. Afinal eu agredi um soldado alemão.

– Que mundo é esse onde uma mulher não pode nem defender a sua honra? – perguntou Hanna revoltada.

– Mas eu acredito que tudo isso um dia vai ter fim, Hanna. As mulheres não serão mais vistas como frágeis e como mero objeto. Um dia nossas filhas e netas estarão em pé de igualdade como os homens.

– Queria Deus que isso aconteça logo, Lucille. Mas agora vamos descer. Quero ficar um pouco mais com as crianças antes de ir.

As duas começaram a descer as escadas indo em direção à porta principal do prédio.

– Eu tenho uma reunião com alguns amigos. Tem algum problema se eu a deixar sozinha?

– Não. Nenhum. Agora que padre Honoré sabe do meu segredo, me sinto mais segura.

– Está bem, então. Qualquer coisa, peça para Clara me procurar. – Lucille abraçou a amiga.

– Eu direi. E por favor tenha cuidado ao andar por ai, sozinha.

– Eu já disse a você. Eu sei me cuidar. Até logo.

– Até logo.

Lucille atravessou o pátio e começou a andar pelas ruas movimentadas.

***

Gerard entregou o documento ao soldado e agradeceu.

– Por hoje é só, Hans.

– Sim senhor.

– Ah, mais uma coisa! O sargento Kroll já foi levado à suas novas acomodações?

– Sim, senhor. Devo dizer que ele não gostou muito. É verdade que ele apanhou de uma mulher?

– Ela estava defendendo a sua virtude, Hans. Nenhum homem, soldado ou não, tem o direito de forçar uma mulher a ter relações com ele.

– Sabe, capitão. Eu preferia que ele tivesse chegado aqui esperneando e gritando impropérios. Ele estava muito calmo. Pra falar a verdade senhor, eu tenho medo dele.

– Ora Hans. Um soldado não teve temer nada! Deixe de agir como um menino assustado.

– Sim senhor! Mas se eu fosse o senhor estaria preparado. Ele não vai deixar isso sem volta.

– Não se preocupe rapaz. – Gerard bateu nos ombros de seu ajudante. – Eu estou preparado para o sargento Kroll.

Gerard foi até sua cadeira e sentou-se. Que dia! Tudo parecia tão tranquilo até um novo encontro entre ele e Lucille acontecer. Sua esposa novamente o surpreendendo. Lucille era calma, pacífica. Mas os anos a tinham deixado tal igual uma tigresa disposta a defender seus filhotes. Sua esposa soubera bem cuidar de si mesma. Mas ele tremia ao lembrar dela jogada no chão, subjugada pelo sargento Kroll.

Sentiu uma raiva assassina naquele momento. Se pudesse mataria aquele miserável com as próprias mãos.

O telefone em sua mesa tocou tirando-o de seus pensamentos. Gerard respirou fundo algumas vezes e sua voz era tranquila ao atender.

– Capitão Vaan Sucher falando.

– Vaan Sucher, venha até a minha sala agora! – era Von Gorthel. Provavelmente ele já soubera da prisão de seu protegido.

– Sim senhor.

Gerard caminhou até a sala de seu comandante, bateu na madeira e entrou.

Von Gorthel estava de pé na janela olhando o movimento nas ruas abaixo. Estava com um copo de uísque numa mão e um cigarro na outra.

“Desse jeito vai morrer antes que o Reich coloque as mãos nele por traição” Gerard pensou.

– Queria me ver, senhor?

– Sim. Sob qual acusação você mandou prender o sargento Kroll, capitão.

– Dupla tentativa de estupro, senhor.

– Dupla? Esse Kroll... Mas as mulheres apresentaram queixa, capitão. – ele tragou o cigarro jogando a fumaça na direção de seu subordinado.

– Não senhor. Eu apresentei.

– E você é parente delas, capitão?

Gerard sabia que ele iria mandar soltar o canalha.

– Não senhor. Mas eu fui testemunha, assim com outras pessoas.

– Quem?

– O responsável pelo orfanato, padre Honoré e várias ajudantes.

– Nenhum outro oficial?

– Não senhor.

– Bem, - Von Gorthel tragou outra vez o cigarro e sentou-se em sua cadeira. - isso facilita o nosso trabalho. Vamos deixá-lo essa noite na prisão. E amanhã, no primeiro horário quero ele livre, entendeu?

Gerard olhou incrédulo para Von Gorthel e não respondeu.

– Entendeu, capitão? - Von Gorthel insistiu.

Gerard empertigou-se e respondeu:

– Sim, senhor. Posso me retirar?

– É. Claro. Está dispensado.

Gerard perfilou-se e saiu da sala. Von Gorthel deu uma última tragada no cigarro e um gole em seu uísque. O que levara Vaan Sucher a apresentar uma queixa particular contra o sargento. Ele poderia tê-lo punido, mas manda-lo para a prisão? Havia mais nesse caso do que ele contara?


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