Uma canção de esperança escrita por Lu Rosa


Capítulo 13
Treze




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Ele a segurou pelos braços evitando que ela caísse. Lucille espalmou as mãos em seu peito e os dois trocaram mais um olhar.

Nunca estivera tão perto do capitão e ela sentiu-se hipnotizada perante os olhos dele. Inclinando a cabeça, sua mão subiu do peito para o rosto dele como se estivesse estudando-o.

Pressentindo o perigo, ele a soltou enquanto Claude pigarreou se divertindo com a situação.

Ela pareceu despertar.

– Com licença, capitão. – Lucille desviou-se dele e saiu da sala.

Gerard fechou a porta e olhou para Claude que ainda tinha um meio sorriso nos lábios.

– Esse episódio até serviu pra me deixar menos tenso.

– Que bom. – Gerard ironizou – Pelo menos alguém está se divertindo nessa história.

– Ah Gerard... Foi muito divertido ver você com sua esposa nos braços e ela detestando cada segundo.

– Você não sabe o quanto foi difícil rasgar esse uniforme de cima a baixo e mostrar-me para ela.

– Embora eu ache que ela tenha percebido algo em você.

Gerard tirou o quepe e sentou-se.

– Alguma lembrança?

– É. Fique longe de Lucille o mais que puder. Se ela te reconhecer... Ela vai estar em perigo.

Gerard levantou-se angustiado.

– Ficar assim perto dela, despertou-me lembranças que me atormentam.

– Mas trate de esquecer essas lembranças. Não quero minha principal estrela na mira dos nazistas ou da Inteligência britânica.

Depois dessa, Gerard levantou-se e pegou o quepe sobre a mesa. Irônico, ele fez uma continência ao seu irmão mais velho.

– Sim senhor! Vou fazer a última inspeção para ver se está tudo em ordem.

Está tudo em ordem. Nós somos profissionais. – Claude reclinou-se na poltrona. – Você vai é atrás da Lucille novamente. Gerard, por favor, deixe-a em paz. – pediu novamente.

– Eu não vou atrás dela, Claude. Fique tranquilo. É que Von Gorthel tem olhos de águia, e se não tiver tudo do jeito que ele quer, ele pode querer punir vocês.

– Oh, Senhor! Mais essa ainda?

– Como lidar com os insanos quando eles estão no poder? – Gerard abriu a porta e saiu.

***

Lucille entrou em seu camarim e sentou-se do divã que também lhe servia de cama.

Será que ela havia ficado louca? Apertou as têmporas com os dedos. Como pudera sentir o toque de Gerard no capitão nazista? Quando ela sentiu que ia cair e fechou os olhos, foi como se seu falecido marido a tivesse segurado. Muitas vezes Gerard a segurou daquela forma quando dançavam juntos.

E o rosto? Em seu primeiro encontro com ele, estava longe para perceber. Mas, assim tão de perto, lhe parecera tão familiar... Será que haveria duas pessoas parecidas no mundo. Ou o seu desejo impossível de rever Gerard a fazia vê-lo em qualquer outro homem?

Uma batida na porta a tirou de seus pensamentos.

– Entre! – ela comandou.

O rosto amigável de Henri mostrou-se pela fresta que se abriu.

Mademoiselle, há um homem na portaria querendo vê-la. Diz que se chama Julian.

– Ah, sim! Obrigada Henri – ela levantou-se rapidamente. Sentir os braços de Julian ao seu redor a faria esquecer o toque do nazista.

Ela praticamente correu pelo corredor até os fundos da casa noturna. Próximo à porta Julian a esperava com as mãos nos bolsos. Alguma coisa na postura dele a fez estancar. Parecia que ele pensava em algo muito profundo.

– Julian? – ela chamou. – Algum problema?

Ele sorriu tranquilizando-a.

– Não, minha querida. – mas seus olhos estavam vagos. – Eu só passei aqui para lhe ver.

– Não é só por isso. – ela cruzou os braços. – Diga, Julian. O que aconteceu?

Ele a puxou para mais perto, sussurrando em seu ouvido.

– Encontrei mais dois sobreviventes da emboscada alemã.

Apreensiva, Lucille olhou para ele.

– Julian, por favor, tenha cuidado. A patrulha alemã vai prendê-los se encontrar vocês.

– Fique tranquila. Vamos nos encontrar somente à noite. Temos que refazer planos. Eles querem que eu volte para o acampamento. Que eu os lidere.

– E você vai voltar?

– Tenho que continuar lutando pela liberdade da França. Não se preocupe, não vou me arriscar.

– Por favor, tome cuidado. – ela pediu novamente colocando a mão no rosto dele.

Julian a enlaçou pela cintura e tirando a mão dela de seu rosto, beijou-a apaixonadamente.

Gerard escolheu justamente esse momento para surgir no corredor. Ver sua esposa nos braços de outro o atingiu como um soco no estomago. Fechou as mãos querendo ir separá-los, mas conteve-se. Ele não era nada pra ela. Era uma lembrança. Alguém de seu passado. Queria sair dali, mas suas pernas não o obedeciam. Um homem acostumado ao perigo, que realizava a missão mais letal de sua vida, estava paralisado pela visão de sua esposa, que acreditava que ele estava morto, nos braços de outro homem.

Enquanto Gerard se debatia em sua dor, Lucille e Julian se separaram. Ele afastou-se para um canto, evitando ser visto por eles.

Julian fez um carinho no rosto de Lucille e se afastou. Ela ainda permaneceu no mesmo lugar com os braços cruzados como se querendo se aquecer. Quando se virou para voltar aos camarins, Gerard, ou o capitão Aleksander, estava na sua frente.

– Oh... – surpresa, ela deixou escapar um gritinho. – O que está fazendo aqui?

– Verificando a segurança desse lugar. Devia ter cuidado ao receber seu namorado, mademoiselle. Se fosse outro soldado, teria dado voz de prisão a ele. Essa noite, somente os funcionários podem estar por aqui.

– Ele não é meu namorado, capitão. – ela respondeu de forma altiva. – É meu marido.

Gerard olhou para a mão esquerda dela. A aliança estava ali, naquela mão.

– É mesmo? – ele ironizou. – E ele sabe que você se apresenta como uma mademoiselle?

– Sim sabe. E ele não tem nenhum problema com isso. Gerard sabe que eu sou fiel a ele. E agora, por favor, saia da minha frente.

Ele sentiu um baque. O infeliz ainda tinha o mesmo nome que ele! Isso aqueceu o sangue de Gerard.

– E se eu não sair? – perguntou atrevido.

– Serei obrigada a gritar, capitão. Espero que o senhor tenha a decência de não me prender por isso.

– Bem, nesse caso, só posso fazer uma coisa... – ele se deslocou para o lado, dando passagem a ela.

Mas quando Lucille passou por ele, Gerard a segurou pelo braço, fazendo-a rodopiar e cair em seus braços.

– O que está fazendo?!

Ele não respondeu. Somente baixou a cabeça apossando-se dos lábios dela. Lucille bateu os punhos fechados no peito dele, mas seu abraço não afrouxou. Pelo contrário, ele a manteve mais firme contra o corpo, aprofundando o beijo.

Gerard saboreou o gosto da boca de sua esposa. A mulher de sua vida, que ele nunca devia ter deixado. Ele queria apagar qualquer vestígio do outro que a beijara antes. Daquele que agora dormia ao lado dela, daquele que ela dizia ser seu marido.

Como ele queria poder arrancar a roupa dela e as suas matar toda a saudade que sentira durante esses dois anos que esteve longe dela.

Quando Gerard finalmente a soltou, Lucille estapeou-lhe a face, olhando-o horrorizada. Ele tentou manter uma postura arrogante.

– Por isso sim, eu poderia prendê-la. – ele afirmou. – Mas não vou fazer isso. A senhora apenas está defendendo sua honra.

Ela não disse nada. Apenas virou-se e saiu correndo pelo corredor. Gerard apoiou-se na parede, sem forças. Como poderia manter sua missão adiante, se fraquejasse cada vez que estivesse perto dela?


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