“Rudolph, por favor, compareça na direção. Rudolph, por favor, compareça na direção”

Alto falante idiota. Diretora idiota. Escola idiota...Argh!

Ser aluno novato e ser chamado na direção é tipo um brinde que você ganha por ser o Rudolph.

Andei até a sala da direção, que ficava num corredor maluco lá, esperando que meus nervos se acalmassem.

Bati na porta e entrei. A diretora estava sentada olhando minha ficha de inscrição com aquela cara de rato esfregando a bunda no asfalto. Sério, até hoje não sei como eu fui aprovado nessa escola.

–Sente-se, Rudolph.

Ela digitou algo no computador e me olhou através dos óculos de velha. Estava tudo bem, até eu ver a desgraça da Sophie sentada num banco um pouco atrás dela. Isso vai dar merda.

–Pode me dizer por que aquele troço está aqui?

Ela digitou mais algumas coisas e voltou a me encarar com os braços cruzados.

–Bem, Rudolph... Não sei de onde você veio, ou em que escola estudava, mas saiba que aqui nesta escola não toleramos violência.

–Violência?

–Sim, violência. A aluna Sophie, aqui presente, veio te denunciar.

ELA VAI VER A DENUNCIA QUANDO EU...AARGHH!

–Me denunciar pelo que?

–Ameaças.

Aaah desgraçada, agora que eu mato essa garota.

–Eu ameacei essa mini prostituta?

–OLHE COMO FALA NA MINHA SALA, GAROTO!

–A senhora não respondeu a minha pergunta.

–Sim, você ameaçou.

–Onde e quando eu fiz isso?

–Num grupo de redes sociais, ontem.

–Certo e por acaso você viu o tema do grupo?

–O que interessa o tema?

–Aah, interessa muito! Por acaso você sabe por que eu ameacei esse ser infernal?

–Não, por quê?

–Ela fez um grupo nessa rede social para falar de mim e esfregando na cara das outras coleguinhas mentiras inventadas por ela mesma.

–Não acredito.

–Por que não acredita?

–Sophie é uma menina ótima.

–...Ótima?

–Exatamente.

–Só se for no inferno.

–O senhorzinho quer ganhar umas detenções a mais por desrespeito?

–E essa diaba, o que ganha por inventar coisas falsas? Com MEU nome.

– Se você estivesse incomodado com isso, viria reclamar.

–E a senhora por acaso sabe se eu viria ou não?

–Já conseguiu duas detenções, garoto. Quer mais?

–Então, você não acredita em mim e acredita nela?

–Exatamente.

–Olha aqui...

–Suas detenções serão na próxima semana.

Eu me permaneci calado.

–Duas detenções.

–Vou tentar me comportar até lá –bufei com ódio.

–Isso mesmo.

Eu saí da sala da diretora com uma vontade de dar um tiro na cabeça da Sophie. Agora ela vai me pagar, e feio. MUITO FEIO.

Como aquela garota teve a coragem de me denunciar?

–Eita Rudolph, está ficando maluco?

Era a Rebecca com os livros espalhados no chão.

–Acho que estou sim.

Ela abaixou para pegar os livros caídos no chão. Eu me movi para pegar alguns também.

–Eu to com um ódio tão...

–Percebe-se.

Só eu que percebi ou ela não quer mesmo falar do meu ódio?

–Por que está carregando esses livros?

–Ah, estou ajudando à bibliotecária.

–Ué, por quê?

–Hum...digamos que estou devendo uns favores para ela.

–Desde quando você conhece aquela velha?

Rebecca lançou um olhar fulminante para mim. Ok, ela gosta da bibliotecária.

–Esquece a pergunta.

–Já conheceu a Eleonora?

–Leoa?

–Você entendeu.

–Ok, ok...não, ainda não conheci.

–Vá na cantina. Ela está com a Angel e a Manda.

–Não vou agora não.

–Sim, sim. Agora eu tenho que ir, tchau.

Eu continuei vagando pelo pátio. Tenho que pensar alguma forma de me vingar da Sophie...

–Hum...você é o Rudolph?

Eu levantei a cabeça e vi uma garota totalmente gata na minha frente. Ela tinha um cabelo longo e com fios negros, as pontas do cabelo estavam pintadas de azul. Seus olhos eram azuis claros que pareciam até vidro e os lábios rosados. Ela usava uma blusa azul claro regata e calças pretas. Além disso, um tênis preto com canos altos.

–Sim, sou o Rudolph.

–Eu...posso falar contigo?

–Claro.

Ela me puxou para um canto atrás de uma arvore.

–E-Eu soube que você foi chamado na direção...por causa de Sophie.

–É, basicamente eu fui sim.

–A Sophie é uma idiota, mete todos em confusão.

–E a vaca da diretora nem acreditou em mim.

–Lógico que não! Sophie é sobrinha dela.

A noticia foi tão infernal que eu me engasguei com a minha própria saliva. A garota bateu nas minhas costas.

–...isso...é sério??

–Você não sabia?

–Não!

–Pois é, descobri isso quando fui parar na direção...

–Por qual motivo?

–Eu era amiga da Sophie quando cheguei na escola...

–VOCÊ JÁ FOI AMIGA DAQUILO?

–Sim, ok? Mas foram tempos antigos! Eu tenho minhas razões para odiá-la tanto quanto você.

–Imagino como foram esses tempos...

–Horríveis, mas o que interessa é que ela aprontou comigo e eu meio que dei uma surra nela.

–Então ela te denunciou por isso?

–Sim...

–Se você já foi amiga dela...pode me ajudar numa vingança?

–Te procurei exatamente por isso.

–Duas vinganças de vez numa pessoa só?

–Essa pessoa é a Sophie, qual é!

–É, não podemos esquecer esse detalhe.

–Então...estamos num acordo?

Ela colocou a mão na minha frente. Eu apertei com um sorriso maligno.

–Então, quais são as suas ideias?

–Rudolph, eu quero que você conheça a...–era a Amanda com duas garotas.

–Ah, oi Amanda.

–Oi, eu não sabia que estava acompanhado.

–Nós já estávamos nos despedindo. –disse a garota gata –Tchau, Rudolph.

–Espere! Qual seu nome?

–Sarah.

–Nos encontramos mais tarde, Sarah.

–Ok, tchau.

Ela saiu andando pelo pátio.

–...Rudolph?

–O que?

–Você está todo caidinho por ela.

–De onde você tirou isso?

–Fica olhando fixamente para ela...

–Fala sério, cara! São interesses de trabalho.

–Trabalho?

–Trabalho de vingança, mas isso não interessa.

–Ok...quero que você conheça a Eleonora.

Uma garota saiu de trás da Amanda. Era fofa, com cabelos meio ondulados e pretos, pele clara e olhos castanhos claros. Tinha um pouco de sardas no rosto.

–O-Oi.

–Oi, eu sou o Rudolph.

–...

–Ela esta com medo de mim.

–Eleonora, ele não vai te matar.

–É, disso eu sei.

–Por que todos têm medo do Rudolph? –Angel chegou atrás de mim.

–São esses olhos dele –Amanda apontou para meu rosto.

–Como você nasceu com esses olhos? –Leoa perguntou.

–Sei lá, mas eu gosto dos meus olhos.

–Sabe aquele filme Avatar? Dos bichos com o corpo azul?

–Parece o olho do Rudolph.

–HEEEEEY.

Rebecca apareceu e pulou nas minhas costas.

–Estão fazendo o que?

–Falando do olho do Rudolph.

–Onde você estava? –perguntou a Angel.

–Eu estava devendo umas visitinhas na biblioteca.

–O que você e a Sarah estavam conversando? –Angel perguntou.

–Sarah? A amiga da Sophie?

–Ela mesma.

–EX-amiga da Sophie, agora são inimigas. E nós estávamos descobrindo um jeito de nos vingar da Sophie.

–Isso vai ter que ficar para outro dia, porque sexta de manha eu vou para a fazenda do Sr Jones...

–SEUS PAIS ACEITARAM?

–Sim e agora eu vou ter que ficar o fim de semana na fazenda dele.

–Vai me ajudar, né?

–Mas o que eu vou falar para ele?

–Conversa com ele no meio da noite, chama para algum jogo...

–Ele não vai cair nisso.

–Tem uma idéia melhor?

–Vamos comprar amendoim salgado, fiquem aí com o papo chato de vocês –Amanda falou, se retirando com a Leoa e a Angel.

–Rebecca, você tem que me ajudar. Eu vou passar o final de semana na mata procurando o esconderijo do lobisomem e...

–VOCÊ TÁ MALUCO, GAROTO?

–Mas eu preciso fazer isso.

–Não, não precisa. E se você morrer?

–Qual é, só vou procurar o esconderijo dele.

–Você quer pegar o Lobosnausin que eu sei.

–...Não se preocupe comigo.

–Ok, se você morrer não foi por falta de aviso.

–Rebecca, confia em mim.

–Se eu não confiasse, você achava que eu estava me metendo nessa loucura?

Isso só foi fofo para mim? Acho que sim.

–Eu peço para que você faça o Sr Jones não matar o lobisomem, custe o que custar.

–E eu peço para que você volte vivo, segunda-feira.

Os olhos de Rebecca brilharam e eu a abracei.

–Eu prometo.