Apaixonada Por Um Lobisomem escrita por RebOS


Capítulo 29
Eu quero você.


Notas iniciais do capítulo

HEY HEY HEY!
Capítulo novo aqui gente. Podem achar que o título é romântico, mas não é não. Na verdade esse capítulo é o prolongamento do mesmo dia do capítulo passado. Espero não ter feito uma bagunça na mente de vocês.
Sem mais delongas: Boa leitura e até lá embaixo!



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 Vincent terminou de encher o terceiro potinho do meu sangue. Mesmo que eu odiasse agulhas, minha mente estava em outra dimensão. Eu não conseguia parar de pensar no Rudolph, em uma forma de pedir ajuda ou em alguma forma de fugir. Meu corpo pedia para se livrar das garras do Scott, que até então se mostrava ser alguém cruel e impiedoso.

 Eu jurava que Vincent iria partir para o quarto potinho, mas felizmente retirou a agulha do meu braço.

 –Pronto. –Ele falou, preparando a agulha para ser descartada.

 Saí do meu transe e pisquei os olhos.

 –Não quero parecer chata, mas para que o Scott quer três potes do meu sangue? –Perguntei enquanto observava o Vincent colocando um curativo de ursinhos no meu braço. –Que bonitinho.

 Ele sorriu.

 –Eu não sei exatamente, mas ouvi que dois destes potinhos vão ter algo adicionado e depois vão voltar para o seu corpo.

 –Só por curiosidade, isso não vai me matar, certo?

 –Creio que não. –Ele pegou um dos potinhos e colocou sobre a sua bancada. –O pote que sobrar, eu irei fazer análises.

 –Já dava para adivinhar. –Dobrei o braço.

 –Nunca tivemos humanos puros dentro do acampamento, o Scott quer saber como o corpo de vocês funciona. –O Vincent continuou organizando suas coisas.

 Franzi o cenho.

 –Exatamente como o de vocês, só que nós não viramos lobisomens com a lua cheia.

 –Mais ou menos. –Ele tirou as luvas de borracha. –A força, velocidade, visão, audição, resistência e outras características são muito diferentes.

 –Mas o funcionamento corporal é o mesmo. –Continuei. –Ou vai dizer que vocês respiram como cachorros?

 –Só quando estamos transformados, mas isso não vem ao caso. –Ele respondeu sorrindo. –Eu só quero dizer que a organização cromossômica é diferente e isso afeta muitas características.

 –Entendo. –Respondi.

 Ficamos em silêncio por um tempo.

 –Vincent. –Eu o chamei.

 –Sim? –Ele observava algumas coisas em sua bancada.

 –Você tem alguma ideia do que o Scott está planejando para mim? –Perguntei. –Pelo menos por essa tarde?

 –Sinto muito, mas não sei. Se eu soubesse, te contaria, com toda certeza.

 Passaram alguns segundos e ele parou e então me encarou.

 –Espere, eu acho que ouvi sobre experiência de amanhã.

 Esperei que ele continuasse.

 –Vai ser um treino ao ar livre ou algo do tipo.

 –Eles vão colocar uma prisioneira ao ar livre? –Indaguei.

 –Sim, vão testar as habilidades ou algo do tipo.

 –Sabe onde vai ser?

 –Algo me diz que vai ser no bosque.

 Fiquei pensando por alguns segundos, até que falei baixinho:

 –Então eu tenho chances de fugir.

 –O QUÊ? –Ele indagou. –O que eu te disse sobre fugas?

 –Que são impossíveis... –Repeti as suas palavras. –Mas não custa nada tentar. Vincent, você tem que me ajudar.

 –Não, obrigado. Eu gosto de ter minha cabeça grudada ao meu pescoço.

 –Não precisa segurar na minha mão e correr, pode ser indiretamente. Alguma forma de atrasar o Scott, ou alguma ferramenta, ou uma arma.

 Vincent suspirou.

 –Você vai piorar tudo, se fugir. O Scott vai ficar bravo e possivelmente vai achar a pessoa que te ajudou e arrancar a cabeça dela com as próprias unhas.

 –Por favor. –Implorei. –O acampamento dos Amarelos não deve ser tão longe. Eu sei que pode parecer burrice, mas eu preciso tentar.

 Ele me olhou cabisbaixo. Deu outro suspiro e assentiu com a cabeça.

 –Eu vou deixar uma escada. Ela vai te ajudar a pular o muro que delimita o espaço do acampamento.

 –Vincent, você é a melhor pessoa que existe. –Dei um abraço como agradecimento. –Se tudo der errado, eu vou receber o ódio do Scott no seu lugar.

 –Não estou me importando com o Scott. –Ele tentou sorrir. –Eu só quero que você volte a ser feliz com o seu namorado e sua família.

 Por um momento tudo ficou em câmera lenta. As palavras dele eram verdadeiras, eu sentia. A forma como desejava que eu conseguisse fugir e ter uma vida feliz fez com que, mais uma vez, o Vincent provasse não fazer parte das descrições que faziam dos Vermelhos.

 –Eu vou te tirar daqui. –Prometi. –Algum dia.

 Ele sorriu.

 –Para ter liberdade nesse acampamento, apenas uma coisa é necessária. –Ele deu uma pausa. –Se livrar do Scott.

 Parei de abraçá-lo. Eram as palavras mais verdadeiras que eu tinha ouvido.

 –Eu... –Ele suspirou. –Vou te levar até a sua cela e entregar essas coisas no laboratório.

 –Ok. –Estiquei as mãos para por as algemas. –Espero que o Scott não invente nada para mim hoje.

 Vincent colocou as algemas rapidamente e me guiou para fora, carregando os dois potinhos consigo.

 –Eu também. –Ele falou, antes de me guiar pelos corredores.

 ***********************************

 Passei praticamente o resto de dia todo dentro do meu cubículo de concreto. O tédio e o medo chegavam a ser insuportáveis. Cada barulho que acontecia naquela prisão era uma pontada no meu coração e um frio na barriga, esperando que o Scott não abrisse a porta da cela e me forçasse a fazer algum experimento que eu não queria.

 Suspirei.

 O Vincent não aparecera, devia estar ocupado. Minha barriga pedia por comida e meu cérebro pedia por uma distração. Sentei na minha cama improvisada pelo Vincent e peguei uma garrafa de água quase vazia que ele tinha deixado num banco ao lado da cama.

 Esvaziei o conteúdo da garrafa enquanto pensava nos meus pais. Eles deviam estar pensando que eu estava numa viagem adorável com os meus amigos. Se o Scott me encontrasse no dia seguinte, o que seria provável, eu pediria um telefonema para os meus pais antes da minha morte.

 Enxuguei minha boca com as costas da minha mão e arregalei os olhos quando algo soou pelos meus ouvidos.

 Era a voz do Scott.

 A garrafa caiu de minhas mãos e eu me encolhi em um canto, esperando que ele não viesse para minha cela. Meu coração apertou quando ouvi o barulho da chave se movendo na fechadura e então o rosto com par de olhos vermelhos adentrou a minha cela.

 Scott agarrou meu braço e fez com que eu levantasse.

 –Hora da diversão. –Ele sorriu, enquanto enfiava as algemas nos meus pulsos com força.

 Eu fui levada exatamente como estava para fora da cela. Meus pés estavam descalços e sentiam o chão gelado em cada passo. Alguns guardas iam a nossa frente e atrás de nós. Eram quatro ao todo.

 Caminhei entre os corredores gigantes do prédio. Pessoas saiam do caminho quando viam o Scott e suas companhias passando. Elas se encolhiam e abaixavam o olhar, como se tivesse medo de que algo acontecesse.

 Os corredores não acabavam nunca. Cada esquina, cada porta pareciam iguais, mas pelo menos eu lembrava que um caminho era familiar. Procurei uma sala em específico e consegui achá-la.

 De repente a porta que eu encarava se abriu e o Vincent saiu de lá. Olhei para ele, pedindo socorro pelo olhar. Ele continuou observando até que eu o perdesse de vista.

 Scott continuou me arrastando. Saímos do prédio e chegamos à área externa. Descemos as escadarias rapidamente. O sol da tarde iluminava todo o acampamento. As pessoas conversavam felizes e iam até os seus chalés.

 Com os degraus pequenos, meus pés sentiam dificuldade em acompanhar os passos do Scott. Tropecei e quase girei escada abaixo, mas Scott agarrou o meu braço e me pegou no colo, acelerando o processo.

 Tentei olhar por trás de seus ombros e vi Vincent saindo do prédio e tentando manter distância, mas se aproximando de nós devagar.

 Scott caminhava rapidamente e o meu peso parecia não incomodá-lo. Nem prestei atenção no caminho que estávamos seguindo. Eu só observava as pessoas me encarando.

 Então nos aproximamos de uma construção branca com aparência moderna. As portas de vidro foram abertas e então entramos no local. Passamos por uma recepção e então atravessamos mais um corredor com várias portas de vidro. Pessoas trabalhavam do lado de dentro das salas.

 Atravessamos mais uma porta e então chegamos a uma sala estranha. Scott me pôs no chão e tirou minhas algemas, enquanto seus guardas fechavam a porta.

 –Espere! –Uma voz familiar gritou do lado de fora. –Deixe-me entrar!

 Era o Vincent. Scott foi até a porta e encarou o garoto.

 –Eu tenho que acompanhar o procedimento. –Vincent afirmou.

 –E por quê? –Scott perguntou.

 –Porque eu fiz exames com ela e se algo der errado, eu estarei aqui para ajudar a solucionar o problema.

 –Não vamos colocar nenhuma substância no corpo dela. –Scott protestou.

 –Mesmo assim. Por favor, eu não atrapalharei.

 Scott revirou os olhos e deixou que o Vincent entrasse. A porta de vidro foi fechada e uma cortina fez com que as pessoas do lado de fora não pudessem ver o que estava acontecendo.

 Engoli seco.

 Virei finalmente para olhar ao redor. Na minha frente havia outra parede, branca como todas as outras, e uma porta de metal. Na parede, tinha uma tela bem grande passando vídeos. Cada vídeo mostrava um cômodo de vários ângulos diferentes. Deviam ser gravações do quarto que estava atrás da porta de metal.

 Do meu lado havia outra parede, com duas portas de vidro mostrando um laboratório do lado de dentro. Pessoas colocavam luvas e preparavam uma agulha com um líquido estranho.

 Os guardas, agora apenas dois, abriram a porta de metal e me empurraram para dentro do local, fechando a porta atrás de mim.

 O quarto era todo de concreto e bem espaçoso. O teto, a parede e o chão eram todos de uma mesma cor e tonalidade de cinza. Percebi uma câmera pequena bem longe do meu alcance e caixas de som. Também percebi que em um dos cantos havia correntes escuras e grossas, então me encolhi no canto aposto.

 Depois de alguns segundos, a porta de metal foi aberta novamente. Um homem tatuado e de pele bronzeada entrou, vestindo apenas uma bermuda de tecido apertado e elástico. Ele tinha olhos vermelhos e cabelo louro.

 Franzi o cenho, até ouvir uma voz soar pelo quarto.

 –Boa tarde. –Era a voz do Scott, sarcástica como sempre. –Caros convidados, se acomodem e permaneçam em silencio enquanto eu dito o que vai acontecer no experimento LXY010. –Ele deu uma pausa e continuou. –Bem, depois de muitos testes e pesquisas, conseguimos finalmente achar uma forma de... Ah, espere um minuto. Senhorita Rebecca, por favor, coloque o braço no espaço que vai abrir em 3, 2...

 Um pequeno buraco abriu na parede, a alguns centímetros ao lado do cara tatuado. Franzi o cenho e continuei olhando para o espaço.

 –Garota, nós não temos a tarde toda. Coloque logo o braço no espaço.

 –O que vão colocar em mim?

 –É só uma pulseira, ela vai medir seus batimentos.

 –E o que mais?

 –Phill, faça-me o favor e coloque o braço dessa garota na droga do...

 –Não! Eu mesma coloco.

 Atravessei o quarto e fiquei ao lado do meu companheiro de sala, que parecia se chamar Phill, e coloquei o braço no local indicado.

 Senti algo se prendendo no meu braço e então o retirei novamente. Observei melhor. Era uma pulseira preta feita com um material estranho com uma luz vermelha acesa.

 –Pronto, pode voltar para o seu canto agora.

 Retornei ao meu lugar e continuei olhando para a pulseira enquanto ouvia a voz do Scott.

 –Escutem com atenção, não irei repetir novamente. Continuando... –Ele fez uma pausa novamente. –Depois de muitos testes e tentativas, nós finalmente conseguimos fazer uma a substância capaz de alterar o corpo de um ser humano para se tornar um lobisomem.

 Arregalei os olhos. O medo invadiu meu corpo.

 –Dentro do corpo de cada ser com licantropia existem células únicas. Elas se modificam no estado de transformação, fazendo com que os autossomos presentes no corpo, e que dão características físicas a cada pessoa, sejam modificados. Existe sempre uma sensação, ou algo presente no corpo do lobisomem, que faz com que todas as características humanas sejam mudadas para a de um lobo meio homem. –Ele deu uma pausa longa. –Conseguimos achar a substância perfeita que, ao contato com essas células, transforma o corpo do ser com licantropia, atiçando as características de lobo a tomarem conta do corpo.

 Eu estava boquiaberta, meus pensamentos começaram a girar.

 –Tendo todas essas informações em mente, eu irei explicar o procedimento. Antes, por favor, Phill, algeme-se.

 O rapaz seguiu as ordens do Scott e algemou-se rapidamente.

 –O Phill irá colocar o braço dentro do mesmo buraco. Iremos injetar a substância em questão no seu braço e em pouco tempo ele irá se transformar. A bermuda que está usando é feito com um material especial, que não irá sofrer danos significativos mesmo com a mudança de corpo, ou seja, permite que ele não fique nu durante a transformação. –Scott parecia ter bebido alguma coisa. – Não sabemos qual é a duração da substância, mas acreditamos que seja um pouco menos de dez minutos. 

 –E por que eu estou aqui, Scott? –Perguntei.

 –Porque você faz parte do experimento sobre o medo. Está vendo a sua pulseira? –Ele deu um tempo para que eu observasse o que eu já tinha visto há um bom tempo. –Ela mede seus batimentos e suas sensações. Não há com que se preocupar, você não irá morrer.

 Uma lágrima desceu pelo meu rosto.

 –Por favor, me tire daqui. –Pedi. –Eu faço tudo que você quiser.

 –Mas é exatamente isso que eu quero que você faça. –Ele riu. –Eu não te aconselho a sair desse canto e... Boa sorte.

 –Não! Scott! Por favor. –Lágrimas desciam pelo meu rosto. –Deve haver uma forma de...

 Meus olhos se arregalaram ao ver que o buraco tinha sido aberto novamente.

 –Não! –Gritei. –Por favor!

 Encolhi meu corpo no canto oposto ao cara acorrentado. Ele colocou o braço no espaço e depois de um tempo retirou novamente. Ele movia os dedos, fechando e abrindo a mão.

 Poucos segundos depois, suas veias ficaram alteradas. Seus olhos se reviraram e ele caiu ajoelhado no chão.

 –Phill? –Scott chamou. –Phill, reaja. Phill?

 –Tire-me daqui enquanto tem tempo! –Continuei.

 –Phill? –Scott ignorou o comentário.

 Então o rapaz, que estava no chão, começou a respirar pesado. Seus pelos se arrepiaram e começaram a modificar, ficando mais grossos e tomando conta do corpo todo.

 –Reagiu positivamente. –Scott falou.

 –Scott! Vincent! –Gritei.

 Phill gemeu. Algo parecia incomodá-lo. Seu rosto começara a ficar cheio de pelos, as orelhas estavam pontudas, o nariz se transformou em um focinho, os dentes estavam afiados e grandes. O corpo estava aumentando o tamanho, criando músculos e se cobrindo todo de pelo. As mãos e pés estavam monstruosos, com unhas amareladas e gigantescas.

 O rapaz respirou fundo e então abriu os olhos. Girou sua cabeça de um lado para o outro e então me encarou. Meu corpo tremia e meu rosto estava coberto de lágrimas.

 Ele levantou, rosnou e avançou.

 **************************************

 POV Rudolph. –No mesmo dia, horas atrás.

 Todos os meus amigos e eu estávamos sentados na mesa do refeitório saboreando o café da manhã. Eu permanecia em silencio, enquanto mastigava um hambúrguer, enquanto as pessoas ao meu redor conversavam.

 Mal percebi quando Sarah sentou do meu lado com sua bandeja.

 –Aqui tem comidas muito boas. –Ela tentou puxar assunto. –O hambúrguer está gostoso?

 Apenas assenti enquanto largava o hambúrguer sobre o prato e pegava o copo de suco.

 –Uau, que animação. –Ela falou ironicamente enquanto passava geléia no seu pão.

 –Eu só estou me sentindo inútil. –Falei. –Não posso fazer nada por mim mesmo e vou ter que pedir ajuda ao meu irmão idiota.

 –Mas você vai conseguir pegá-la de volta e...

 –Eu nem tenho certeza se ele vai realmente me ajudar. –Eu a interrompi. –Enquanto isso, Rebecca está nas mãos daquele Scott.

 –O que ele está fazendo com ela...? –Sarah jogou a dúvida no ar.

 –Não sei, mas aquele cara é o fruto do inferno, então coisa boa não é.

 Ela franziu o cenho.

 –O que vai fazer o dia todo? –Perguntei.

 –Nós não vamos dar um passeio? –Ela perguntou de volta.

 –Sinceramente, não afirmo nada com toda certeza, porque o meu objetivo é conseguir apoio para...

 –Trazer a Rebecca de volta. –Ela completou com raiva em sua voz. –Já entendi.

 –Por que está com raiva? –Perguntei, irritado também.

 –Eu só pedi um passeio.

 –E eu só peço que entenda a minha dor e a situação que nos cerca.

 –É só um passeio, Rudolph. –Ela retrucou.

 –Nós temos vários amigos, chame um deles.

 –Não posso passear contigo?

 Bati com os punhos na mesa.

 –Eu quero a Rebecca de volta, você não entende? Quer que ela continue sofrendo?

 –Você só pensa em si próprio.

 –Não Sarah, eu só penso no que pode estar acontecendo com a Rebecca. VOCÊ só pensa em si própria. –Respondi e saí da mesa, indo em direção ao Tristan.

 Meu irmão, mantendo o bom humor como sempre, conversava com as meninas. Nick comia ovos mexidos em silêncio, com uma lente amarela no lugar do olho vermelho e Jim tomava o resto do seu suco.

 –Tristan. –Chamei o meu irmão. –Vamos.

 –Agora? –Ele perguntou.

 –Sim, agora.

 –Sente e relaxe um pouco, nós acabamos de comer.

 –Por favor.

 –Agora sim. –Ele levantou. –Já volto.

 Revirei os olhos. Tristan se levantou e então me guiou até o lado do acampamento que tinha os chalés. Se tivessem vídeos mostrando aqueles chalés na internet, provavelmente ninguém suspeitaria que eles se localizavam em um acampamento de lobisomens. Cada um era perfeitamente bonitinho e organizado. Os chalés tinham dois andares, eram pequenos e confortáveis. Na frente de cada um, tinha uma pequena varanda com pisos de madeira. Um era ao lado do outro e cada um tinha um número de identificação.

 –Qual o número do chalé do Benjamin e da Akanta? –Questionei.

 –Enquanto eu tava me servindo na fila do café da manhã, eu perguntei para algumas pessoas e elas me disseram que era o dezesseis. –Tristan respondeu enquanto olhava para os lados.

 Olhei para o chalé na minha esquerda. Doze. Nós estávamos nos aproximando.

 Andávamos por uma trilha de terra e pedrinhas acinzentadas, que era extensa. De cada lado, havia um chalé. As proporções de um chalé para o outro eram muito bem feitas, o que fazia qualquer um pensar, por exemplo, que numa invasão dos vermelhos tudo seria destruído.

 –Acho que é aqui. –Tristan parou de frente para um chalé não muito diferente dos outros, com o número dezesseis acima da porta. –Vamos?

 Respirei fundo e assenti com a cabeça.

 Subimos as escadas de madeira, atravessamos a pequena varanda e então paramos. Tristan olhou para mim, eu afirmei e ele bateu na porta.

 Um nervosismo percorreu todo o meu corpo. Eu ouvi passos se aproximando da porta. A maçaneta girou. Ela abriu.

 Uma moça com pele clara, cabelos pretos e curtos, lábios delicados e meio rosados, nariz delgado e olhos grandes e curiosos, que eram amarelos e meio esverdeados, apareceu na porta. Era a minha irmã. O esverdeado dos olhos não deixava dúvidas.

 –Olá, o que desejam? –Akanta perguntou, franzindo o cenho.

 Não me reconheça. Não me reconheça. Não me reconheça.

 —Olá, bom dia. –Tristan estendeu a mão. –Eu sou Kevin e este aqui é... –Meu irmão olhou para mim. –Jonathan. Estamos procurando Benjamin Ehrlich.

 –Ele não está. Saiu para trabalhar. –Ela continuou com cenho franzido. –Podem entrar, eu dou o endereço.

 Tristan acenou com a cabeça e entrou na casa. Eu fiz o mesmo.

 –Bonita decoração. –Ele elogiou, apesar de não ser verdade.

 Era uma sala sem graça e normal, com um sofá acinzentado, um tapete marrom, uma estante de madeira com alguns livros e plantas e uma mesa de jantar quadrada.

 –Agradeço. –Minha irmã falou.

 –Espero não estar incomodando. –Tristan falou.

 –Não. Não está. –Ela pegou um bloco de notas e uma caneta. –É o meu dia de folga.

 –Legal.

 Akanta rabiscou algumas palavras na folha do bloco e a arrancou em seguida.

 –Aqui está. –Ela entregou para a pessoa mais próxima, eu. –Aposto que vão conseguir achar o Benjamin.

 Assenti com a cabeça e olhei para o papel, relembrando da sua caligrafia bonita.

 –Obrigado. –Falei.

 –Temos que ir. –Tristan me puxou. –Agradecemos sua ajuda, senhora...?

 –Até quando vai fingir? –Ela perguntou.

 Eu respirei fundo. Akanta olhou para mim.

 –Eu não achei que vocês fossem capazes de fazer isso comigo.

 –Não queríamos envolver coisas de família em negócios. –Respondi. –Já é horrível estar procurando o Benjamin.

 –Depois de tanto tempo, continua o mesmo. –Ela fazia uma expressão indecifrável. –Você cresceu tanto.

 Ela ergueu os braços.

 –Não pode estar falando sério. –Falei.

 Akanta me envolveu em seus braços e me abraçou com força.

 –É bom te ver de novo.  –Ela falou e me observou com olhos enchendo de lágrimas.

 Eu franzi o cenho, enquanto ela olhava para o Tristan.

 –E você... –Ela o abraçou também. –Está um adulto bonito e responsável. Papai ficaria orgulhoso.

 Uma lágrima escorreu dos olhos de Akanta.

 –Achei que não iria vê-los novamente.

 Tristan sorriu.

 –Temos que falar com o Benjamin. –Quebrei o clima. 

 Meu irmão olhou para mim com cara feia. Dei de ombros.

 –Tão insensível. –Ele revirou os olhos.

 –Por que querem ver o Benjamin? –Akanta perguntou.

 –A namorada do...

 –Não! Ela não está do nosso lado. –Interrompi o Tristan.

 –O que? –Ela indagou.

 –Nunca esteve.

 –Que papo é esse? Eu te ajudei. –Ela protestou. –Eu amo vocês dois.

 –Diz isso da boca pra fora. 

 –Não, não digo.

 –Eu não confio em você. –Cuspi as palavras, que estavam presas em minha garganta. –Eu só vim aqui porque preciso resgatar a Rebecca. Agradeço sua ajuda, Akanta, mas não quero voltar a fazer parte dessa família. 

 –Você nunca saiu dela. –Ela falou. –Rudolph, você precisa parar com isso urgentemente. Nós somos a sua família e tanto você quanto o Benjamin precisam achar um jeito de voltar a serem unidos novamente.

 –Por que todo mundo me diz o que fazer em vez de perguntar o que eu quero fazer? –Perguntei irritado.

 –Porque é assim que a vida de um lobisomem é. Não é apenas correr para a floresta quando sente o corpo mudando. É muito mais que isso! –Ela tomou fôlego. –Temos que fazer nossas responsabilidades e deveres.  Você é uma pessoa importante e tem que por isso na sua cabeça.

 –Nunca pedi para ser importante. –Respirei fundo. –Coloquem outra pessoa no meu lugar. Alguém que realmente queira estar na droga desse acampamento.

 –Ninguém tem o que você...

 –Akanta, eu não quero saber! –Gritei. –Eu não vou ficar aqui.

 Tristan estava com uma expressão vazia. Seus olhos encaravam a situação e sua boca estava em silêncio. Ele suspirou e então olhou para mim.

 –Eu sabia que isso não iria dar certo. –Falei para o meu irmão. –Vou te esperar lá fora.

 Olhei para a Akanta uma última vez até sair.

 Atravessei a porta e desci as escadas até dar de cara com um homem alto, de pele branca, cabelo preto curto e barba da mesma cor, lábios finos e expressão severa.

 Benjamin.

 Respirei fundo e continuei o encarando. Ele parou poucos metros de mim e então sua expressão severa foi embora.

 Ele havia me reconhecido?

 –Rudolph. –Tristan desceu as escadas, mas parou ao ver o nosso irmão.

 –Benjamin, os meninos estavam te procurando. –Akanta falou.

 Olhei feio para ela. A vontade de responder algo era quase incontrolável.

 –Vocês voltaram? –Ele voltou à cara carrancuda de novo.

 –Não. –Respondi antes que o Tristan tentasse falar algo. –Nós estamos aqui porque precisamos de ajuda. 

 –Só voltaram aqui para isso?

 –Para ver a sua cara que não...

 –Sim, foi por isso. –Tristan me interrompeu. –Estamos aqui porque os Vermelhos estão planejando algo contra o acampamento. O Rudolph é a vitima principal e eles sequestraram a nossa amiga, a Rebecca, que também é namorada dele.

 Benjamin olhou para mim com um pequeno sorriso no rosto.

 –Ah, é por isso. –Akanta falou sorrindo. –Quem diria, hein!

 Revirei os olhos.

 –ENFIM. –Falei tentando colocar a conversa em outro rumo. –Coisas ruins vão acontecer, mesmo que vocês não nos ajudem.

 –O que quer que a gente faça? –Benjamin perguntou.

 –Ótima pergunta. –Ironizei. –Que tal partir para cima com tudo? Organize seu exército e vamos para a luta.

 –Está fora de questão! Não temos guerra desde que...

 –Nossos pais morreram, eu já entendi, mas vocês não estão entendendo. Ou tem guerra ou tem guerra. Não tem saída.

 –Rudolph, eu sei que você quer bancar o herói e salvar a mocinha, mas não queremos caos e destruição. Vamos achar o melhor jeito para lidar com isso.

 –Não existe “melhor jeito”. –Continuei falando. –A Rebecca está sofrendo nas mãos do Scott e não podemos perder tempo para resgatá-la, ou ela morrerá. Por favor. –Encarei o Benjamin. –Eu queria te xingar de todos os nomes possíveis, mas não consigo achar ódio por você no meio de tanto medo, preocupação e raiva do Scott. Eu estou pedindo ajuda do fundo do meu coração, por mais amargo e escuro que ele seja.

 Meus irmãos pareciam pasmados. Era a primeira vez que eu tinha falado como um humano, como alguém com coração e isso fazia com que até eu ficasse surpreendido.

 –Ok, Rudolph. –Benjamin assentiu. –Eu preciso falar com o pessoal do acampamento e...

 –Ei! –Ouvimos alguém gritando.

 Olhei para o lado. A Sarah vinha correndo até nós.

 –Finalmente achei vocês. –Ela falou enquanto respirava fundo.

 –O que aconteceu? –Tristan perguntou.

 –Tem uma caixa no portão principal e está dizendo que é para a família Ehrlich.

 –Uma caixa? –Benjamin indagou. –De quem?

 –Não sei, mas estão esperando vocês para abrirem.

 Eu e meus irmãos nos entreolhamos e seguimos a Sarah até o portão principal. Uma caixa de tamanho médio estava no gramado principal. Todos estavam olhando para nós, enquanto nos aproximávamos da caixa.

 Benjamin cutucou a caixa para prevenir de alguma bomba ou algo do tipo. Em seguida pegou uma faca e cortou a tampa, que estava fechada com fita adesiva.

 Lá dentro havia vários papeis coloridos e confetes até a borda. Um envelope estava sobre tudo. Era branco e tinha escrito em caligrafia bonita “Para família Ehrlich”.

 Benjamin o abriu e puxou o papel de dentro, para ler em voz alta.

 –Hora das surpresas. –Ele começou a ler. –Dentro de toda essa caixa cheia de confetes coloridos existem quatro presentes, que vocês vão adorar receber. É só por o braço lá dentro, mexer até esbarrar a mão num objeto e puxá-lo. Comecem a se divertir. Abraços, Scott.

 Franzi o cenho.

 –Será que não tem nada de perigoso lá dentro? –Akanta perguntou.

 –Acho que não. –Benjamin respondeu. –Eu começo.

 Meu irmão pôs o braço dentro da caixa, mexeu e então elevou a mão novamente, mostrando que tinha pegado um CD. Akanta fez o mesmo, tirando um bloco de anotações e o Tristan tirou outro CD.

 Respirei fundo e me aproximei. Revirei a caixa com meu braço e esbarrei meus dedos em algo parecendo um cilindro no canto da caixa. Puxei e então vi que era um papel enrolado.

 Tirei a fita e desenrolei. Era uma foto do Scott sentado numa poltrona preta segurando uma faca em uma mão e apontando para frente com a outra, como se estivesse fazendo o gesto e olhando para mim.

 Em letras em branco, dizia: Eu quero você.

 Saí do meu transe de pânico, quando o Tristan levantou a cabeça após ler algo no CD.

 –Ei, gente, venham ver isso.

 Eu me aproximei do CD primeiro que meus outros irmãos e então pude ler o que estava escrito em tinta vermelha.

 A morte do Alfa.


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Notas finais do capítulo

SR SCOTT ATACA NOVAMENTE!
Gente, ajudem o Rudolph a conter esse homem, porque está difícil -qqqq
Espero que tenham gostado do capítulo e que tenham paciência para esperar o outro.
Como sempre: ABRAÇOS PELUDOS DE LOBISOMEM E ATÉ A PRÓXIMA.



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