Apaixonada Por Um Lobisomem escrita por RebOS


Capítulo 23
Hotel de histórias.


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei... Demorei uma década para postar esse capítulo. Por favor, larguem essas pedras. Não! Não joguem em mim! Eu imploro! ~ok, parei de presepada. Vamos ao que interessa: HISTÓRIA.
Nesse capítulo a Tia Beks oferece uma quantidade absurda de palavras para que vocês saibam mais um pouco da história do nosso Ruru ♥ Boa leitura.



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Estávamos todos juntos novamente na casa do Rudolph. Foi meio longa a despedida com os meus pais, por isso fui a ultima a chegar. Todos estavam parados e em silencio, esperando um sinal para partirmos. Cada um com sua mala no colo ou no chão, simplesmente encarando uns aos outros. Jim havia vindo com Amanda e eu contava cada vez que eles trocavam olhares. Pela minha contagem, umas sete vezes. Opa, outra... Oito então.

–Olá, senhoras! Nós, finalmente, estamos prontos para partir. –Tristan apareceu com os braços abertos e sua mochila pendurada no ombro esquerdo.

–Senhoras? –Jim perguntou.

–Oh, desculpe, amiguinho. Senhoras e senhor. –Tristan sorriu.

–Grato.

Rudolph apareceu com várias garrafas d’água na mão.

–Cada um precisará de uma dessas, mesmo que tenham trazido as suas. –Ele entregou uma para cada um. –Por precaução.

A minha foi a ultima. Rudolph me entregou e segurou minha mão, colocando um bilhete entre meus dedos. Abri secretamente.

Guarde um lugar para mim, ao seu lado. Sempre. –R. Ehrlich.”

Sempre? Mas que diabos ele quer dizer com isso?

–Ok, agora nós vamos checar para ver se está tudo em ordem. –Tristan tirou um papel do bolso. Uma lista. –Malas?

–Confere. –Falamos em uníssono.

–Água... Confere também. Comida para viagem?

–Confere. –Angel respondeu. Nós assentimos com a cabeça.

–Saco para vômito?

–Super confere. –Jim respondeu.

–Ele estava brincando. –Rudolph falou.

Tristan sorriu.

–Ok... Parece que estamos preparados. Todos para fora, por favor!

Nós levantamos e saímos para a porta da casa. Uma van nos esperava do lado de fora. Era branca e até grandinha. Um homem saiu da parte do motorista e cumprimentou o Tristan. Em alguns minutos, eles conversaram e o homem partiu com o carro do Tristan.

Rudolph abriu a porta lateral da van para nós e então entramos para nos acomodar. Sentei na primeira fila. Devia ter umas cinco ou seis filas com três assentos cada. Menos a ultima, a última era um grande banco único, assim como a cabine do motorista. Joguei minha mochila no chão e tirei uma pequena almofada para acomodar melhor minha cabeça.

Rudolph sentou ao meu lado e jogou a mochila dele no chão também.

–Obrigado por guardar meu lugar. –Ele sorriu.

–Por nada.

–Estão todos aqui? Vou fazer a chamada. –Tristan estava do lado de fora com uma prancheta.

–Mas que diabos... Argh, que presepada. –Rudolph comentou.

–Por favor, respondam quando eu chamar. Amanda?

–Aqui! –Olhei para trás. Ela estava na fila atrás da minha, com o Jim.

–Angel?

–Eu! –Angel estava com a Eleonora na terceira fila.

–Eleonora?

–Estou aqui! –Eleonora respondeu, levantando as mãos.

–Jim?

–Estou aqui. –Jim estava comendo uma barra de cereal.

–Rebecca?

–Presente. –Levantei a mão.

–Rudolph? Esta aqui, eu sei. E Sarah?

–Aqui no fundo! –Sarah estava no ultimo banco, sortuda.

–Alguém não foi chamado?

–Eu.

Olhamos para um homem que estava atrás do Tristan.

–Posso me juntar a vocês?

–Nick? –perguntei, levantando do assento. Rudolph levantou ao mesmo tempo.

–Você disse que ele não vinha. –Ele cochichou.

–E ele não vinha, mas... –Virei o rosto para o Nick. –O que está fazendo aqui?

–Eu decidi ir com vocês, se não for incomodo.

–Mas e sua irmã pequena? –perguntei.

–Eu conversei com seus pais e eles disseram que podiam cuidar dela. Eu só vou ficar até a metade da viagem. Posso ir?

Todos ficaram em silencio. Eu olhei para o Rudolph, que estava de olhos fechados e com uma expressão raivosa. Decidi negar, afinal a viagem é do Rudolph.

–Nick, eu acho melhor você não...

–Bem vindo a bordo, parceiro. –Tristan bateu nas costas do Nick. –Será bom ter um membro da mesma faixa de idade que eu.

–Tristan você tem...

–Absoluta. –Tristan piscou para mim e levou o Nick até a porta da carona.

Sentei no assento. Não sei se deveria me desculpar ao Rudolph, ou até ter impedido o Nick, mas agora ele está na nossa viagem.

Rudolph tirou uma barra de cereal da mochila e mordeu com força. Dava para ouvir o barulho de sua mastigação.

–Desculpe. –falei, sem encará-lo.

–Pelo que? –ele perguntou, com a cabeça baixa.

–Eu não sei, mas...

–Não precisa se desculpar. Eu devia ter dito não.

Fiquei em silencio e acabei comendo uma barra também. Aos poucos a van ficou geladinha por causa do ar condicionado. Puxei meu cobertor, tirei meus sapatos e coloquei sobre as pernas. Músicas iriam ajudar a me distrair, então coloquei os fones. Rudolph parecia sonolento e acabou adormecendo no meu ombro. Coloquei sua cabeça sobre a almofada no meu colo. Ele deitou na poltrona e ficou se movendo até achar uma posição confortável. Depois, adormeceu por um bom tempo.

Acordei com o rosto no ombro do Rudolph, nem me lembrava de ter adormecido. Rudolph estava ouvindo música com olhos fechados. Esfreguei os olhos e olhei para a janela, já estava de noite.

–Sabe que horas são? –cutuquei-o.

Ele tirou os fones e ergueu as sobrancelhas.

–Falou o que? –perguntou.

–Que horas são?

–Ah, falta pouco para chegar ao hotel. Mas não, não sei o horário.

–Ok.

Coloquei novamente os fones e continuei ouvindo música até sentir as rodas da van parar e ouvir a porta lateral se abrindo.

–Podem sair. –Tristan estava em pé na porta.

O primeiro que saiu foi Jim, que parecia enjoado. Deu um pulo e correu para o mato.

–Graças a deus que essa porta abriu. O Jim estava quase vomitando em mim. –Amanda saiu nervosa, segurando sua mochila e a do Jim. Uma em cada ombro.

–Estou com fome. –Angel desceu comendo uma barrinha. –Barrinhas de cereal não enchem.

–Nós já vamos comer. –Tristan respondeu sorrindo.

–Estou morrendo de sono. –Eleonora saiu se arrastando e Nick teve que ajudá-la a carregar as coisas.

Sarah saiu normalmente, mascando chiclete. Levantei e caminhei até a porta da van. Desci com cuidado para não cair e o Rudolph desceu também.

Tristan pegou as mochilas, entregou para nós e trancou a van. Seguimos para o hotel.

O hotel era simples, com o chão de madeira e paredes de tijolos. Tinha aspecto rústico. Na frente, um balcão de madeira com um computador e atrás um painel com chaves. Alguns papéis estavam sobre o balcão. À direita estavam algumas portas que deviam ser banheiros e outras coisas mais. Algumas plantas estavam dispostas em alguns cantos.

Tristan seguiu na frente e tocou o sininho que estava no balcão. Demorou alguns segundos, mas ouvimos uma das portas da direita se abrindo e de lá saiu uma moça. Tinha pele clara e olhos grandes e dourados. O cabelo era grande e loiro. Usava uma saia azul cobalto e uma blusa regata e branca. Além disso, calçava sapatilhas.

Estava tudo bem, até ela pular no Tristan e dar um abraço apertado. Ele sorriu e devolveu o abraço. Todos nós olhávamos para a cena.

–Addison, quanto tempo! –Tristan sorria como uma criança.

–Digo o mesmo de você! Como cresceu e está bonito. –Ela era bonita e me deixava curiosa. O que ela era do Tristan? –Rodolfo, você...

–RUDOLPH. –Rudolph a encarou com raiva.

–Hein?

–Meu nome é Rudolph. –Ele repetiu.

A garota continuava sorrindo.

–Desculpe, querido. Eu acabei esquecendo.

–Percebe-se. –ele revirou os olhos.

Tristan o encarou com cara feia, mas voltou a falar com Addison.

–Vamos passar um dia aqui. –ele sorriu. –Há quartos disponíveis para nós?

–Para Tristan Ehrilich? Claro! Se for possível até expulso alguém da suíte.

–Não é para tanto. –Tristan continuava sorrindo. –Você é adorável.

Olhei para Rudolph, que revirava os olhos a cada minuto.

–Estes são os quartos disponíveis. –Addison entregou um folheto grande, parecia um cardápio, com os quartos disponíveis. –Pode escolher.

–Nossa, tem cama beliche nos quartos? –Tristan observava o folheto com os seus olhos amarelados.

–Em alguns sim. Gostamos de ter... Diversidades. Alugamos estes para estudantes, coisas assim. –Addison respondeu.

–Eleonora, Sarah, Angel e Amanda. Querem dois beliches ou duas camas de casal? –Tristan perguntou.

Elas conversaram entre si, tirando Eleonora que estava dormindo no colo de Nick, e decidiram que ficariam com as duas camas de casal. Provavelmente Eleonora aprovaria a escolha depois.

–Nick, Jim e eu podemos ficar numa suíte com... Um beliche e uma cama de solteiro? –Tristan olhou para os garotos.

Nick mostrou o polegar positivamente e Jim fez que sim com a cabeça.

–Espere aí. –Franzi o cenho. –Eu vou ficar num quarto com o Rudolph? Só eu e o Rudolph?

–Ah, fui eu que pedi. –Rudolph saiu do seu transe e voltou à Terra.

–Huuumm... –Ouvi um murmúrio atrás de mim.

Virei indignada e a Amanda estava rindo. Ela havia feito isso.

–Por quê? –Perguntei.

–Para com isso, Rebecca. Não é tão ruim. –Sarah comentou.

–Então fique você com ele. –sugeri.

–Eu não preciso ser protegida.

–Sarah tem razão. Eu escolhi que nós dois ficássemos juntos pelo caso de acontecer algo e...

–Se eu estivesse com as outras garotas, teriam mais quatro pessoas para gritar. –protestei.

–Gritar não é o suficiente, Rebecca. –Rudolph estava sério. –Por favor, eu lhe peço. Fique comigo.

Suspirei. Ele havia vencido.

–Ok, eu fico. –falei.

–Obrigado.

Addison mexeu no computador e voltou a olhar para nós.

–Está disponível um quarto com cama de casal e outro com cama de casal e um de solteiro. –falou. –Qual que vocês querem?

–Cama e casal e uma de solteiro. –Rudolph falou.

Ela digitou mais algumas coisas e resolveu o resto da conta com o Tristan. Depois, deixou três chaves encima do balcão. Tristan pegou as chaves e veio até nós.

–Bem, uma para cada quarto. A-10 para as garotas. –Tristan entregou a chave para Angel. –A-15 para nós e B-1 para Rebecca e Rudolph.

Peguei a chave da mão dele.

–Vamos passar dois dias aqui, para relaxar um pouco da viagem e passar um tempo entre amigos. Neste mesmo horário, depois de amanhã, estaremos partindo, ok?

Assentimos com a cabeça.

–Podem ir.

Subimos a escada na lateral esquerda do balcão e chegamos até um corredor cheio de portas. Caminhei até estar um pouco mais afastadas das garotas. Rudolph estava logo atrás de mim. Procurei até achar a porta B-1.

–Aqui está. –falei, colocando a chave na fechadura e girando-a.

Entramos no quarto de tamanho médio. Na frente dava para ver logo as duas camas, a de casal do lado direito e a de solteiro do lado direito. Do lado esquerdo da porta tinha um guarda roupa pequeno e dava para ver uma porta marrom.

Nas camas, uma fronha grossa e branca. Nos travesseiros uma fronha listrada preta e branca. As paredes eram brancas e o chão de madeira escura e polida. Rudolph foi até a porta marrom e girou a maçaneta. Quando abriu, vimos que nosso quarto tinha também um banheiro simples.

Ladrilhos brancos e o chão também de madeira escura e polida. Sabonetinhos estavam encima da pia de mármore de cor claro e tinha algumas toalhas brancas dobradas também.

Abri o guarda roupa e coloquei minha mochila dentro. Pedi para que o Rudolph me entregasse a mochila dele também e segui o mesmo procedimento.

–Gostou do quarto? –Ele perguntou.

–Sim, é confortável. –fui até a porta principal e fechei.

–Espero que não tenha ficado brava comigo.

–Brava contigo? Não. Eu só não esperava ficar num quarto a sós contigo. –olhei para o Rudolph. –Somos amigos, podemos dividir um quarto normalmente.

Rudolph sorriu e pulou na cama de casal.

–Nossa, estava precisando de uma cama dessas.

–Eu também, mas primeiro preciso de um banho. –peguei algumas roupas na minha mochila e fui até o banheiro. –Já volto.

Tranquei a porta do banheiro e coloquei uma toalha pendurada na maçaneta, caso algum engraçadinho queira espiar pelo buraco da fechadura. Peguei a outra toalha e segui para o banho.

Passei um tempo pensando na vida dentro do banho, depois segui para a ação de verdade. Lavei o cabelo rapidamente e me lavei com o sabonete do hotel mesmo. Até que eram cheirosos.

Vesti meu velho pijama confortável. Calça azul escuro com bolinhas brancas e a regata azul claro com um coala na frente.

Abri a porta e vi Rudolph sem camisa, sentado na beira da cama, folheando um livro.

–Voltei. –falei.

Ele olhou para o mim e sorriu.

–Blusa legal, marsupial. –ele falou sorrindo.

–Faz tanto tempo que não te chamo assim.

–Nem é tanto tempo assim. –ele bateu no espaço da cama ao seu lado, indicando para que eu sentasse. –Coalas são marsupiais.

Olhei para a camisa.

–Nem tinha percebido, acredita? –fui até a cama e me sentei, ao lado dele.

–Acredito sim. Às vezes você fica desligada do mundo.

Sorri, era verdade.

–Lendo o que? –perguntei.

–Trouxe uns livros de lobisomem que eu tinha lá em casa, para contar umas histórias para você.

–Eu vou adorar. –Sorri. –Mas, primeiramente, vá tomar um banho.

–Seu desejo é uma ordem. –Rudolph se levantou e foi até o banheiro.

Após alguns minutos ele saiu, com o cabelo molhado e penteado para trás. Usava uma calça de pijama preta e uma blusa regata branca.

–Pronto. –Ele colocou suas outras roupas dentro da mochila e voltou a sentar perto de mim. –Agora, vamos para as histórias.

–Espere, são que horas? –perguntei.

–Deve ser umas oito da noite.

–Não temos que jantar? Estou morrendo de fome.

–Tristan disse que vai nos avisar no horário.

–Ok. Agora, vamos para as histórias.

Ele pegou o livro e abriu em algumas páginas interessantes, que mostravam figuras e algumas histórias narradas.

–Rudolph, você pode me explicar um pouco mais sobre as espécies? –pedi.

–Claro. O que quer saber?

–Bem, a história que você me contou está meio vaga na minha cabeça.

Ele sorriu.

–Fico feliz que esteja se interessando. –ele se ajeitou na cama. –Como eu havia te contado, existiu um lobisomem que nasceu com olhos amarelos e...

–Essa parte eu sei. –interrompi. –Eu quero saber como eles vivem, como é que tudo funciona.

–Ah, entendi. Bem, na verdade faz muito tempo que não vou lá, mas é basicamente um acampamento normal. Tem refeitório, chalés, dormitórios, laboratórios, casa grande...

–Laboratório?

–Sim, eles precisam fazer exames com novos visitantes para ver se tem o sangue de um lobisomem correndo nas veias. Ninguém sabe.

–Entendo. Mas é um laboratório comum?

–Nem tanto. Precisam desenvolver algumas substancias para que o sangue de lobisomem seja encontrado.

–Esse sangue não é encontrado normalmente?

–Não, o que é uma sorte. Afinal, ninguém iria querer que qualquer laboratório descobrisse algo assim.

–Tem razão... Mas você sabe o que é injetado? A substância?

–Não... Infelismente não. Os lobisomens de olhos vermelhos curtem mais essa parada de ciência.

–Eles são malucos?

–Bem, nunca passaram imagens positivas deles. Só mostraram o lado agressivo, determinado a ter o que quer e loucos por ciências. Dizem que eles sempre tentam fazer substancias novas para causar diferentes efeitos no corpo das pessoas.

–Eles injetam em pessoas?

–Sim, mas é o que dizem. Eu não sei se é verdade. Será que o vermelho dos olhos simboliza o amor?

Sorri. Só poderia ser o Rudolph para fazer um comentário desses.

–Por acaso já foram atacados por eles? –perguntei.

–Sim. E acabam sempre em desastre ou em guerra.

–Nossa.

–Eu não queria me envolver com isso.

–Você fez uma ótima escolha. –falei.

–Guerras me levam ao passado, que é triste e cheio de perdas.

Decidi mudar de assunto. O passado do Rudolph mexia muito com a perda dos pais e o tempo em que ele viveu em conflito com ele mesmo e a própria família.

–Está ficando deprimente. Vamos comer? –perguntei, levantando da cama.

Ele sorriu.

–Claro. Ótima ideia.

Saímos do quarto e seguimos até a suíte do Tristan. A porta estava aberta e ambos estavam em pé conversando... Ou discutindo.

–Tristan, nós vamos comer que horas? –Rudolph interrompeu.

–Pode ir na frente, tenho que resolver coisas. –Tristan respondeu.

–Que coisas?

–Estão discutindo para ver quem fica com a cama de cima. –Nick saiu do quarto. –Porque eu fui rápido o bastante para pegar a cama de solteiro. Rebecca, sabe em que quarto as garotas estão?

–Eu vou contigo, siga-me. –puxei o Nick.

–Vou com vocês. –Rudolph falou e virou para o irmão novamente. –Tentem não se matar.

Saímos rumo ao quarto A-10, mais conhecido como o quarto que eu devia estar. Dei umas batidas na porta.

–Podemos entrar? –Perguntei.

–Entra! –A voz da Angel gritou do lado de dentro.

Abri a porta e nós entramos. O quarto era maior que o nosso e tinha paredes azuis claros. As fronhas eram azuis, a da cama azul escuro e a do travesseiro azul claro. Tinha uma porta branca que devia levar ao banheiro e um guarda roupa grande.

–Quarto maneiro. –Nick falou.

–Onde está Amanda? –perguntei.

–No banho. Já vamos comer? –perguntou Angel.

–O que tem nessa barriga, hein? –Rudolph comentou, sentando na cama.

–Um animal, Rudolph. Um animal selvagem e faminto. –Angel respondeu. Nós rimos.

–Vamos esperar as garotas e descer para jantar. –Rudolph falou. –Ah, Angel, se quiser pode ir na nossa frente.

–Obrigada. –Ela sorriu. –Quero alguém comigo... Sarah?
Sarah levantou e foi com Angel para o refeitório. Amanda saiu do banheiro poucos segundos depois. Nick conversava com Eleonora, que havia tomado banho e tirado um cochilo. Agora, ela estava pronta para jantar. Seguimos até o quarto dos meninos, que ainda discutiam e Amanda pediu para que o Jim desistisse dessa briga idiota, ele desistiu. O que a paixão não faz?

Nós seguimos até o refeitório.

Havia várias mesas espalhadas no local. Uma delas era bem grande. Pelo visto, Addison tinha organizado tudo isso para nós. Em algumas mesas ao redor do espaço, tinham o local para se servir, com aquelas travessas com fogo embaixo. Havia espaço para comidas normais, sobremesas e sopas.

Todos nós fizemos fila para comer. Enquanto a fila andava, cada um ia colocando as coisas. O prato do Tristan ficou enorme e ele repetiu tudo de novo depois. O mesmo aconteceu com o Rudolph. Após dois pratos cheios de comida, ele ainda comeu um pedaço de torta de chocolate. Angel comeu bastante, mas menos que os meninos. Os outros comeram na média, exatamente como eu.

Depois de todos estarem satisfeitos, continuamos conversando na mesa.

–E então, Rebecca, como é dividir o quarto com o Rudolph? –Sarah perguntou. Ás vezes ela tinha umas perguntas estranhas, acho que não ia muito com a minha cara.

–Normal. Afinal somos amigos. –respondo, tentando soar de forma normal.

–Compartilhamos histórias. –Rudolph acrescentou me observando.

–Histórias? –Tristan sorriu. –Que tipo de histórias?

–Tristan, não comece. –Rudolph resmungou.

–Ok, ok. Você venceu.

–Agora fiquei interessada. –Sarah falou.

–Não precisa ficar. – Eu falei. –Se quer ficar num quarto com ele, para ouvir as histórias dele, era só pedir. A propósito, lá no quarto tem uma cama de casal e outra de solteiro, se estiver afim...

–Rebecca, eu quero ficar com você. –Rudolph falou.

–Eu também já entendi isso. –resmunguei.

–Ok... Que tal mudarmos de assunto? –Tristan sugeriu. – Nosso amiguinho Rudolph tem um recadinho para vocês.

Rudolph olhou furioso para o irmão.

–Desembucha. –Tristan sorriu. –O papai aqui vai dar uma olhada nas tortas.

–Obrigado pelo apoio. –Rudolph revirou os olhos.

Tristan deu umas batidinhas no ombro dele e saiu falando “Oi amorzinhos, papai chegou” para as tortas.

–O gato comeu sua língua? –Amanda perguntou. –Ou uma gata...

Ela olhou para mim e eu franzi a testa.

–Ok. Eu... Espero que vocês entendam. E eu vou entender caso vocês queiram voltar imediatamente para a cidade, mas quero que alguém fique aqui para acompanhar Rebecca. Pelo menos uma pessoa.

–Credo, você tem alguma doença? É isso? –Angel perguntou.

Tristan voltou com um prato enorme de torta.

–Alguns acham que é doença. –ele comentou e meteu uma garfada na boca.

–Tristan, permaneça calado, por favor. –Rudolph falou. –Continuando... Eu e Tristan temos isso e espero que não fiquem muito apavoradas. Rebecca não ficou e eu espero que vocês também...

–Espera ai, você sabia? –Sarah perguntou.

–Sabia, mas o segredo é do Rudolph, não meu. Ele que decide a quem contar. –respondi.

–Rudolph, fala logo. –Amanda pediu.

–Eu sou um lobisomem.

O silencio reinou na mesa, o que era óbvio. Cada um ia pensar o que ia fazer. Não ter medo e confiar no Rudolph, ou matá-lo enquanto ele dormia.

–Rudolph, todo mundo já suspeitava. Você é um péssimo mentiroso. –Tristan comentou.

–O que vocês dizem? –Rudolph perguntou.

–Se Rebecca está aqui, sendo que você é o maior medo dela, acho que está tudo bem para mim. E sim, já suspeitávamos. –Angel falou enquanto todas assentiam.

–Ah, Nick, vamos ter que dar um jeito nesses olhinhos. –Tristan falou.

–Já vim preparado para isso. –Nick sorriu. – Nós estamos indo para um acampamento lobisomem eu...

–O QUE? –Eleonora quase cuspiu o refrigerante que estava tomando.

–Vão querer ir para casa, não é? –Rudolph perguntou.

–Não, mas... Meu deus! Que viagem louca é essa, senhor... –Eleonora continuou bebendo o refrigerante, enquanto Nick mexia nos seus cabelos.

–Mais algo que vocês querem contar? –Sarah perguntou.

–Não, vamos dormir! –Tristan levantou. –Alguém quer me acompanhar?

–Eu. –Angel levantou.

–Também vou. –Sarah falou.

–Vamos? –Nick perguntou para Eleonora.

–Vamos. –Ela segurou no braço dele e eles seguiram para o quarto.

–Bom, como todos estão indo, vou também. Boa noite. –Amanda levantou e Jim a seguiu.

Rudolph olhou para mim e sorriu.

–Quer dar um passeio? –Ele perguntou. –Para compartilhar mais histórias?

–Adoraria. –Levantei. –Piscina?

–Piscina.

Levantamos e seguimos até a piscina. Addison disse que poderíamos tomar banho, se quiséssemos.

–Você quer tomar banho? –Rudolph perguntou.

–Podemos deixar para amanhã.

–Amanhã vai ter muita gente.

–Ok. Vamos.

Em pouco tempo, trocamos de roupa e voltamos para a piscina. A água estava meio gelada, então demorei um pouco para entrar, já o Rudolph se jogou de vez. Aos poucos, nós já estávamos adaptados com a temperatura da água.

–Quer falar sobre o que? –perguntei.

–Tem duvida de alguma coisa? –ele se aproximou de mim.

–Eu queria saber a sua história, mas isso te deixa triste.

–Não me deixa tão triste assim.

–Rudolph...

–Quer que eu te conte?

–Bem, quero, mas...

–Shhh... –Ele colocou o dedo indicador no meu lábio. –Eu vou contar.

–Ok. Obrigada, eu acho.

Ele parou um pouco para pensar.

–Bem, eu nasci numa sexta feira...

–Pode adiantar mais um pouquinho.

–Ok. –Ele falou sorrindo. –Como eu já te disse, quando eu era criança, eu era muito apegado ao meu pai e ele tinha uma “aliança” com o acampamento. Não morávamos lá, mas mesmo assim ele tinha que fazer tudo pelo acampamento, afinal ele era um lobisomem.

–E sua mãe? –perguntei.

–Também era e ela também tinha a aliança com o acampamento. Então eu era bem pequeno, uns sete anos, e meus pais foram chamados para uma guerra.

–Vocês ficaram sozinhos?

–Sim, meu irmão Benjamin era maior de idade, ele poderia cuidar de nós,

–Quais eram as idades de vocês?

–Eu tinha sete, Tristan onze, Akanta treze e Benjamin dezesseis. –Ele nadou um pouco e depois voltou a falar. –Meu pai me falou que eles iam voltar em um mês. O tempo foi passando e eu esperava por eles, eu estava contando os dias. Passou um mês e estava quase passando o segundo, quando Akanta apareceu um dia com mochilas prontas. Ela disse que teríamos que partir.

–O que você fez?

–Fiz o primeiro escândalo da minha vida. Disse que ia ficar sozinho, que não ia fugir de casa com ela. Eu achava que ela queria abandonar nossos pais, para escapar da escola.

–E o que ela fez?

–Explicou que estávamos indo para encontrar nossos pais. Que havia recebido uma ligação e eles estavam nos esperando na casa do nosso tio. Era uma grande mentira.

–Você fez o segundo escândalo da sua vida?

–Não, na verdade eu quase entrei numa depressão profunda. Só não fiquei em total depressão porque eu fazia desenhos. Foi a partir daí que eu comecei a desenhar lobisomens. Eu desenhava chorando e então estragava todo o papel com as lágrimas. Eu terminava os desenhos e colava na parede do quarto. Aos poucos minha parede foi enchendo de lobisomens com os rostos borrados. Minha irmã teve uma séria preocupação com meus desenhos. Ela dizia que eu estava produzindo tristeza e me alimentando dela, ficando mais triste ainda. –Ele olhou para a mim e voltou a falar. –Então o nosso tio sugeriu que fossemos para o acampamento. Lá eu teria atividades para fazer e conviveria com outras pessoas. Na verdade, eu acho que ele queria se livrar de nós e do garoto de baixo astral que ficava o tempo todo trancado em casa.

–E então ele te levou para o acampamento?

–Sim e eu fui aos poucos aprendendo coisas novas. Aprendi a lutar e fiz a aliança com o acampamento. Comecei a me interessar mais por lobisomens e fiquei lendo todos os livros que via pela frente. Certo dia, um cara lá comentou que estava ansioso para lutar numa guerra e eu fiz várias perguntas para ele, então descobri que a aliança traz a guerra. Fiquei furioso.

–É aí que vem o segundo escândalo?

–Exato! Eu queria uma forma de fugir da guerra, porque eu não queria ir para o caminho que quase causou minha destruição. Então, eu falei para meus irmãos que queria sair do acampamento. Benjamin ficou arrasado e me proibiu de repetir aquilo de novo. Fiquei mais furioso ainda, porque ele não poderia mandar na minha vida e nas minhas escolhas. Então decidi fazer um escândalo na frente de todos.

–Fiquei curiosa.

–Numa data lá que o Lobo Maior estava presente do jantar, eu fui até ele e perguntei se poderia ter uma forma de não participar da guerra. Ele negou e eu gritei um discurso que eu mesmo havia escrito. No final, ele falou que eu deveria sair do acampamento caso não quisesse participar da guerra.

–Você tinha quantos anos?

–Uns doze anos. Tristan, com dezesseis anos, falou que ia morar comigo. Nos primeiros dois anos ele estava mantendo o contado com Akanta e Benjamin, mas depois nos mudamos para cá.

–Você morava na Austrália? –perguntei.

–Não, eu nasci na Austrália, mas quando era muito pequeno me mudei para uma cidade perto daqui.

–Ok, mas se você se mudou para cá com mais ou menos com quatorze anos, passou dois anos nessa cidade, certo?

–Certo.

–E por que só foi entrar na escola no final desse ano? E por que no final e não no começo?

–No primeiro ano aqui, eu estava me adaptando e eu não saia de casa. Meu irmão queria que eu entrasse na escola, mas eu já estava seguindo meus estudos em casa mesmo. Ele falou que eu devia conviver mais com as pessoas e me colocou nas aulas de natação. Eu não fiz amizade com ninguém e eu não queria me socializar com as pessoas. O ano passado todo foi basicamente isso. Mas, no começo desse ano, que era para eu ter entrado na escola, eu tive minha primeira transformação de lobisomem.

–Oh...

–Eu estava com medo de ter algum efeito colateral e sair machucando as pessoas, não queria ser um fugitivo. Permaneci em casa boa parte do ano progredindo nos meus estudos.

–E o que aconteceu? Por que você foi para a escola?

–Eu via Tristan com amigos, saindo para beber e se divertir, então tirei a conclusão que eu era um total idiota. Que eu estava em casa enquanto poderia conhecer lugares novos e pessoas novas. Acordei cedo um dia e sem a permissão de ninguém fui para a escola, então conheci você.

Fiquei em silencio.

–Você é uma pessoa estranha. –ele falou.

–E você não? –perguntei.

–Não estou falando isso. Estou falando que... Você é diferente.

–Por que eu sou diferente?

–Porque não é a garota mais perfeita do mundo, tem vários defeitos e parece que não liga para ninguém. Mas, mesmo assim, você me encanta.

Corei. Essa parte sentimental do Rudolph sempre me deixava confusa.

–E foi esse encanto que me fez continuar indo para a escola todos os dias. Eu só queria saber se você sente a mesma coisa, se você pelo menos sente que sou especial para você.

Olhei para ele.

–Eu não estou com muito humor para falar de sentimentos hoje, mas posso afirmar que sim, você é especial para mim. –respondi e me movi até a escada da piscina. Subi os degraus, peguei a toalha e tremi de frio.

Enxuguei meu corpo por algum tempo e olhei para o Rudolph. Ele movia seus braços na água, estava pensativo. Eu devia ser a pior pessoa para se amar na face da Terra e eu me senti mal por isso. Eu devia dar um sinal para ele, um sinal que não fosse apenas um beijo. Eu devia... Prosseguir para uma relação. Sim, devia dar sinais para demonstrar que gosto dele e que eu queria estar junto dele.

–Rudolph? –chamei.

–Quer que eu te acompanhe para o quarto? –ele se moveu até a escada.

–Não é isso. Eu... Quero que você durma na cama, ao meu lado. Não estou acostumada com esse novo quarto, tem problema?

–Não, nenhum. –ele tentava ficar sério.

–Além disso, vou estar pronta para falar de sentimentos, amanhã. Estou te esperando no quarto.

Segui até o quarto com passos rápidos, tentando segurar o sorriso. Espero que isso tenha sido um sinal.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Querem que eu adicione uma ideia no proximo capitulo? Então por favor: COMENTEM )o)
Qualquer erro me avisem. PS: Tia Panda isso foi para você.
ABRAÇOS PELUDOS DE LOBISOMEM (Sim, eu tenho que falar essa bosta sempre) E ATÉ O PROXIMO CAP DE APUL (Apaixonada. Por. Um. Lobiomem).



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