Uma da madrugada. Meus olhos estavam arregalados como se eu tivesse tomado energético. Minha cabeça doía como se houvesse milhões de culpas acumuladas gritando em minha mente. Como o Sr Jones conseguiu o livro mais precioso para os lobisomens?

Várias opções; Nenhuma resposta.

Meu índice de culpa aumentava a cada segundo. Se eu não pegasse o Lobosnausin para o Rudolph, seria um tipo de traição? Uma parte da minha mente dizia que sim, mas ao mesmo tempo me perguntava: E se tiver acontecido algo com ele? Você vai carregar uma droga de livro “super precioso”, que pode levar a sua morte, por aí?

Mente idiota, só me deixa mais nervosa. Índice de culpa: 64%

Droga de indecisão... O que eu faço? O que eu faço?

Índice de culpa: 79%

Uma lágrima desceu no meu rosto. Não poderia pedir ajuda a minha mãe, adultos não entendem a história como ela realmente é.

Levantei da cama e peguei meu celular. Tinha crédito suficiente para fazer apenas uma ligação. Disquei o numero.

–Alô...?

–Amanda!

Ela bocejou.

–Pelo amor de Deus, Rebecca, você sabe que horas são? –ela disse irritada.

–Sei, são...

–Ainda tem a cara de pau de dizer que sim? Aff... Escuta aqui, até amanha.

–Não, não desligue! É urgente!

–É bom que seja mesmo, porque você acabou com meu sono.

Outro bocejo.

–Eu preciso de ajuda para fazer um plano.

–Você me liga para uma droga de um plano? Não dava para esperar amanha, garota?

–Não!

–E por que não ligou para outra pessoa?

–Eu só contei essa parada de lobisomens para você.

–Lá vem com essa parada de novo...

–Por favor...

–... –eu ouvi um suspiro pelo telefone. –Ok, eu te ajudo. Fala o que você quer.

Um sorriso se abriu em meus lábios.

–Eu encontrei aquele livro.

–Que livro, garota?

Não sei por que, mas abri a porta para ver se ninguém estava por perto. Burrice, já que era de madrugada.

–Lobosnausin...

–VOCÊ ENCONTROU...

–SILENCIO!

–Pelas batatas fritas, não me diga que você quer...

–...

–Você quer pegá-lo, certo?

–Quero...

–Isso vai te meter numa furada...

–Não precisa dizer isso, apenas me ajude!

–Pra que você quer pegar esse livro, garota?

–Para entregar ao Rudolph.

–Você nem sabe se o Rudolph está vivo.

–Não. Repita. Isso. NUNCA.

–Ele não foi procurar essa droga de livro?

–Foi.

–Não disse para você se preocupar apenas com sua parte do plano?

–Disse...

–Então deixe-o procurar...

–Mas algo me diz que o que ele procura... Está comigo.

–Eita...

Um silêncio momentâneo na conversa.

–...

–Amanda...?

–Eu estou aqui.

–Tem um plano?

–Estou pensando...

–Ah, ok.

Passou um minuto e ela começou a falar de novo.

–Por que você não pede um livro emprestado para ele?

–Por que os livros dele são chatos...?

–Você não entendeu a proposta, não é?

–Não.

–Finja que está interessada e peça um livro emprestado, daí você leva o Lobosnausin “sem querer” para casa.

–...

–E então...?

–Já falei que você é demais?

*********

Eram três da tarde e meus pais já estavam arrumando as coisas para ir embora da fazenda. Só tinha uma hora para colocar meu plano em ação. Droga de domingo.

A casa estava silenciosa, o que me dava medo. A fazenda era bonita, claro, mas algo nela dava um clima assustador. Provavelmente os livros ou móveis.

Eu andava silenciosamente pelo chão de madeira até sentir uma mão quente no meu braço. Era o Nick.

–O que está fazendo?

–Estou procurando o Sr Jones, viu ele?

–Na biblioteca...

Droga, ele deve estar lendo a merda do livro.

–E-eu soube que você vai embora hoje...

–Ah, vou sim. Aula amanha, sabe como é...

–Eu não queria perder contato contigo, depois de tudo que contei.

–Entendo... Se você quiser, pode me dar seu numero.

–Numero de que?

–Do celular, oras...

–Ah, saquei... Eu te dou meu numero daqui a pouco, vou procurar papel, caneta...

–Ok, vai lá. Eu preciso falar com Sr Jones.

–Posso saber por quê?

–Na verdade, não pode não. Coisas minhas...

–...

–Já volto.

Ele soltou meu braço e eu corri até a biblioteca antes que o interrogatório continuasse.

Sr Jones estava em pé, arrumando livros na prateleira da biblioteca. Meu plano ainda tem chances de funcionar.

Bati na porta e ele olhou na minha direção.

–Posso entrar?

–Claro, Rebecca, fique a vontade.

Eu entrei. Minhas mãos estavam suadas.

–Eu percebi que o senhor tem muitos livros sobre lobisomens.

–É, tenho sim. A história deles é bem fascinante.

–Eu queria saber se o senhor não poderia me emprestar um livro sobre lobisomens. Eu gosto desse tipo de histórias...

–Te empresto sim, pode escolher um livro.

–Obrigada, Sr Jones!

–Queira me desculpar, mas eu tenho que fazer uma tarefa.

–Claro, sem problemas.

–Com licença.

Ele saiu da biblioteca e eu esperei um tempo para ter certeza que ele não ia voltar.

Corri até a prateleira e peguei o Lobosnausin. Ele exalava uma energia poderosa que parecia entrar na sua corrente sanguínea. Eu suspirei vitoriosa.

*********

Todas as coisas já estavam dentro do carro. Meu pai tentava fechar o porta-malas, enquanto minha mãe observava a cena falando para ele o que fazer.

–Empurra mais a sacola amarela que você consegue. –meu pai estava suando.

Sr Jones estava na porta da fazenda com o Nick ao lado. Demorou um pouco e meu pai conseguiu fechar o porta-malas, finalmente. Nick veio até mim e me entregou um papel. Era o numero do telefone.

–Tomara que você volte um dia, foi bom passar esse tempo contigo.

–Digo o mesmo...

Meus pais se despediram do Sr Jones e eu do Nick. Entramos no carro. Eu olhei para trás e vi a fazenda diminuindo. O Nick ainda estava em pé e eu vi uma garotinha ao lado dele. Deve ser a irmã dele.

Encolhi-me no fundo do carro, cumpri meu lado do acordo. Agora o Rudolph tem que cumprir o acordo dele. Será que está vivo?