Monotonia escrita por Sverige


Capítulo 1
Capítulo Único




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Monótono.

Basicamente o resumo da vida de Antônio desde que este se casara legalmente com seu colega de escritório holandês, Lars de Vries.

De fato seu irmão Afonso havia lhe avisado que “tudo fica mais chato depois do casamento”, porém Antônio não havia ligado muito para aquilo, a exemplo de seu sobrinho. Luciano pode ser se casado muito precocemente, mas não havia um tédio interminável entre ele e Martín; sempre felizes, mesmo brigando (o que era muito comum entre o brasileiro e o argentino).

Mas com Antônio, era completamente o contrário. Sua vida era simples: acordava às seis e meia em ponto, tomava banho e preparava o café para o holandês que sempre acordava mais cedo para esperá-lo. Ia para o trabalho sem nem mesmo demonstrar alguma afeição maior do que “Te vejo hoje à noite. Amo você.”. Fazia uma pilha de relatórios, ia almoçar com seu amigo estagiário Lovino e voltava. Mais relatórios e finalmente o dia acabava, libertando-o. Chegava em casa por volta das sete da noite, jantava, se lavava e finalmente pulava na cama. Dormia tão rapidamente que mal conseguia dizer “boa noite” para Lars. E isso se repetia no dia seguinte. E no outro, e no outro. Um ciclo interminável.

Foi então que Antônio percebeu que aquilo estava levando seu casamento a uma crise. Sempre que o holandês lhe dirigia a palavra, era para reclamar de alguma coisa. É claro que aquilo era do feitio dele (o que explicava porquê ele levara tanto tempo para admitir que não odiava Antônio), mas o espanhol percebeu que as reclamações estavam se tornando constantes e que ele havia começado a retrucar. Gritarias eram rotineiras, tapas e até socos (!) também. Antônio nem se lembrava de quando fora a última vez que os dois dividiram um beijo.

Então, naquela manhã de Dia dos Namorados, o espanhol não esperava por absolutamente nada vindo de Lars. Não só pela crise matrimonial; o holandês nunca fora o tipo de pessoa que demonstra esse tipo de afeto. Talvez ele pagasse o almoço de Antônio, mas nada além disso. Saiu mais cedo naquele dia, já que haviam menos relatórios, e foi para casa de táxi. A primeira coisa que Antônio fez foi se deitar na cama e adormecer quase imediatamente ainda com suas roupas de trabalho.

Acordou algumas horas depois e estranhou o ambiente que o cercava. Antes o quarto estava arrumado, limpo e “branco”; agora, estava completamente decorado com lírios e estranhas decorações de tomate. O espanhol coçou sua cabeça, sem entender nada daquilo e observando o lugar. Havia um pequeno e esquecido pedaço de papel em cima da mesa, e, quando Antônio se aproximou, viu a elegante letra de Lars ali. “Para você”, ele leu. Pegou a carta e cuidadosamente a abriu, logo sentindo um leve molhado no papel. E enfim começou a lê-la.

“Antônio,

Fazem quatro anos que estamos juntos. Acho que é o relacionamento mais longo que já tive, e possivelmente o mais importante que terei. Sei que você deve achar tudo isso bem estúpido ridículo infantil inusitado vindo de mim, e admito que não sei exatamente como fazer isso. Mas, por você, não custa tentar. Eu só quero que você saiba que eu amo você mais do que qualquer coisa nesse mundo; você, Antônio, é a minha razão de viver. Não seria exagero dizer que eu morreria por você, porque isso é a mais pura das verdades. Mesmo errando, mesmo brigando, mesmo quando eu sinto raiva de você, algo me impede de continuar. Eu sinto culpa; sinto-me um lixo quando vejo você me olhando daquele jeito, num misto de raiva e tristeza. Me perdoe por tudo isso, e me perdoe pelo o que farei no futuro, isso se ainda houver um futuro para nós. Se você não me amar mais, não tem problema nenhum. Para mim, o que importa é a sua felicidade e sua felicidade apenas, mesmo que isso signifique o fim para mim. Então, nesse Dia dos Namorados, você me perdoaria uma última vez?”

Lágrimas caíram e as mãos do espanhol tremeram. Olhou para o lado e encarou a figura alta do holandês; ele estava sério como no dia que se conheceram, segurando o mais belo buquê de lírios que Antônio vira em sua vida. O outro, invés de desviar o olhar de imediato, se aproximou e estendeu as flores, ainda sem sorrir.

Um longo silêncio tomou conta do quarto por alguns poucos minutos, interrompido pela leve risada do espanhol. As lágrimas ainda caíam de sua face e seu sorriso estava radiante, fazendo Lars arquear as sobrancelhas. “Por que não?” Foi a resposta, que veio leve e sorrateira como um “eu te amo” sussurrado entre dois amantes proibidos. “Ik hou van jou.*” Lars disse antes de selar o beijo que finalmente destruiria aquela tão odiada monotonia.


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Notas finais do capítulo

*: Ik hou van jou (neerlandês; eu te amo)

E acabou c:
Bem curtinha mesmo, desculpe >