Londres 2010

Fazia um mês que Hermione chorava sem parar. O motivo? O término de seu namoro com Ronald Weasley, um rapaz de cabelos tão vermelhos quanto fogo, e olhos tão azuis como o fundo de um oceano.

O namoro durava mais de um ano quando chegou ao fim. Ronald, ou Rony como era conhecido, era muito ciumento, e não aceitava que Hermione tivesse amizades masculinas. E o grande problema era que o melhor amigo da moça era um rapaz, o jovem Harry.

Certo dia, enraivecido pelo ciúme, o ruivo acabou terminando o relacionamento que tinha com a morena sem dar chance para que ela pudesse se defender.

Hermione já estava apresentando um quadro de início de depressão quando recebeu uma proposta de se tornar modelo, mas para isso precisaria ir para Paris. Em qualquer outra circunstância ela não teria aceitado, mas devido à tristeza em que seu coração se encontrava, a jovem viu ali a oportunidade como uma forma de esquecer o ex-namorado.

É claro que se relacionou com outros rapazes, até chegou a namorar um, mas nenhum deles a fez esquecer o que sentia por Rony. Talvez porque ele fora seu primeiro namorado, o primeiro cara que reparou nela como uma garota, ou o primeiro que a beijou. Na verdade não sabia o real motivo por não tê-lo esquecido.

A história dos dois terminou de forma incompleta. Ambos eram ainda muito jovens para entender o que era um sentimento verdadeiro, mas já o sentiam sem ao menos saber seu real significado.

Cinco anos se passaram desde então, e no ano de 2015, a morena que agora era uma das mais bem pagas estilistas da França, estava de volta a sua cidade natal.

Era o dia vinte e três de Dezembro do ano de 2015 quando Hermione chegou a Londres.

Depois de chegar em casa, rever seus pais, e guardar sua bagagem, a jovem decidiu caminhar calmamente pelas ruas do centro da cidade como sempre fazia. Ainda se lembrava perfeitamente de como era antes.

É claro que voltar era bom, afinal poderia rever sua família, mas implicava também em recordar toda a infância e adolescência. Os amigos que deixou pra trás, as histórias, os lugares que tanto gostava, mas principalmente a pessoa pela qual decidiu ir embora.

Fazia apenas três horas em que voltara, o que foi o suficiente para que todas as suas lembranças voltassem, inclusive o sentimento que ainda nutria pelo rapaz de cabelos ruivos.

Estava parada em uma ponte que passava por cima do Rio Tâmisa e tinha vista para o grande relógio Big Ben quando uma mão tocou em seu ombro.

– Não acredito que é você! - disse a voz rouca às suas costas. Sim, a voz poderia ter mudado um pouco, mas ela ainda se lembrava, era Rony.

Seu corpo estremeceu por alguns segundos, mas não deixou que ele percebesse. Postou um sorriso no rosto e virou-se de frente.

Notou que os anos fizeram muito bem ao ruivo. Ele ganhara ainda mais músculos do que já tinha na adolescência, e estava ainda mais alto e mais bonito.

– O gato comeu sua língua? Não acredito que não se lembre de mim. - ele disse brincalhão.

– Hã? Que? - respondeu ao "despertar" do transe em que se encontrava. - Desculpe, eu estava aérea.

– É eu percebi, estou há quase duas horas te chamando, e você nem me deu atenção. - ele disse maroto.

– Também não é pra tanto. Só estava distraída. - respondeu meio envergonhada.

A jovem estava se sentindo uma completa idiota por estar agindo daquele jeito. Não tinha porque ficar com vergonha de alguém que não via há anos.

– Sei. E o que faz por aqui? Soube que tinha mudado de país. - perguntou curioso.

– Como soube disso? - respondeu com outra pergunta.

– Bom... - começou, coçando a cabeça, e continuou. - foi o Harry quem me contou.

– O Harry? Mas você sempre o detestou.

– É, mas... - parou por um momento e dessa vez ele pareceu estar envergonhado. - as coisas mudaram um pouco. Nós agora somos cunhados.

– Vocês o que? - indagou completamente surpresa. Em todas as conversas trocadas com o amigo, ele não havia tocado no assunto.

Rony afirmou com a cabeça.

– Pois é. Ele e a minha irmã casaram há pouco mais de dois meses, mas namoraram por quatro anos.

– Nossa, eu preciso me informar mais sobre as coisas.

– Eu poderia fazer isso. É claro...se você quiser. - ele disse. Hermione hesitou por um momento, mas acabou aceitando.

Rony convidou-a para irem até um dos vários Pubs que havia na cidade.

Sentaram em uma mesa ao ar livre, onde se podia ver a grande London Eye, a terceira maior roda gigante do mundo. Ele contou-lhe tudo o que havia acontecido durante os anos em que a jovem esteve fora, sobre o que mudou na cidade, sobre o namoro de Harry e Gina, sobre vida profissional, mas não chegou a comentar o que havia acontecido em sua vida amorosa.

Hermione estranhou, e curiosa que era, acabou perguntando se ele também tinha arrumado alguém.

As orelhas de Rony ficaram vermelhas instantaneamente, e mesmo que estivesse tentando fugir do assunto, acabou confessando que desde que terminaram, nunca conseguiu firmar um relacionamento com ninguém.

– Mas e você, não namorou ninguém mais? - ele perguntou, e curiosidade era a palavra estampada em sua face.

Hermione também se sentiu envergonhada, mas lhe disse a verdade. Chegou a namorar um rapaz, mas nada que tenha sido sério. Era mais como uma amizade colorida.

– Eu estraguei tudo, não foi. - não era uma pergunta, mas uma afirmação de que se não fosse o seu jeito possessivo, ambos ainda estariam juntos.

– Não precisamos falar disso agora, já se passou tanto tempo. Estamos maduros agora, e estou feliz com a minha carreira.

– Eu sei Mione, mas...

– Rony, por favor, passado é passado, não temos como saber o que teria acontecido - ela disse talvez áspera demais.

Rony calou-se, e ambos permaneceram assim por alguns minutos, até que Hermione decidiu ir embora. Ele foi atrás, mas a morena praticamente corria. Insistente, Rony apertou o passo até que conseguiu alcançá-la na mesma ponte em ele que a viu. Pegou em seu braço, e a virou de frente para ele.

Hermione estava ofegante, assim como Rony. Os olhos castanhos derretiam-se nos azuis que faiscavam desejo.

Rony aproximou os corpos, encostando Hermione na mureta da ponte. Acariciou a pele macia da jovem, e aspirou seu perfume. Sim, ainda era o mesmo perfume, o mesmo que lhe enfeitiçou da primeira vez. Estava tão ansioso quanto a morena.

– Negue Hermione, negue que ainda me quer. Pude ver em seus olhos - ele disse com a voz rouca, colando suas testas.

A jovem custou a responder, e não mostrava nenhuma resistência ao ruivo, muito pelo contrário, estava abraçada aos braços fortes daquele que sempre dominou seu coração.

– Porque faz isso comigo, Rony? - indagou ofegante.

– Porque nunca deixei de te amar. Mesmo longe, mesmo que eu tenha sido um idiota, um estúpido, eu nunca consegui te tirar daqui. - ele levou a mão da jovem até seu coração, e ela pôde constatar que batia aceleradamente, assim como o seu. - Eu nunca perdi as esperanças de que um dia eu veria você novamente, que teria a oportunidade de pedir perdão por tudo que fiz.

O que o ruivo sentiu no segundo seguinte foram os lábios da jovem chocando-se com os seus. As mãos dela indo direto para sua nuca, do mesmo jeito que era antes. O mesmo sabor, a mesma doçura, porém muito mais intenso que antes. Havia desejo naquele beijo, um desejo acumulado por anos, e o beijo só foi interrompido porque o celular de Hermione tocava sem parar.

– Oi mãe. - falou como se estivesse irritada. Enquanto ela falava ao telefone, ele acariciava seus cabelos castanhos ondulados. - Ta tudo bem. Estou indo pra casa.

Precisa ir agora? - ele perguntou curioso. Ela confirmou com a cabeça, e Rony parecia pensar no que fazer.

– Meus pais fizeram um almoço, e chamaram meus avós, tios e primos pra irem lá pra casa.

– Entendo. - disse ele frustrado.

– Podemos terminar esse assunto amanhã. - Rony alargou o sorriso o melhor que conseguiu.

Trocaram telefone, e antes de deixá-la em casa, o ruivo lhe fez um convite especial: um jantar a dois para relembrarem um antigo, novo amor.