Conheço o Jacob.

Durante a manhã a avó de Jessica tentava faze-la comer.

“ Que tal uma maçã pela manhã, querida?” Dizia em um tom doce e delicado, como avós devem fazer.

Durante a tarde, todo o esforço era para fazer Jessica pegar um pouco de sol ou ao menos ir para a varanda, respirar um ar puro.

Quando conseguia, Jessica se sentava no balanço debaixo da arvore e olhava a movimentação.

Sua avó tricotava na varanda com um radio na estação de musicas antigas.

“Ei”. Jessica escutou um garoto falar.

Olhou-o de longe, 10 anos no máximo? Quem será ele? O novo vizinho ou alguma criança perdida?

O garoto de olhos verdes a encarava de longe, era da mesma altura de Jessica, com cabelos negros iguais aos dela.

Ela saiu da arvore, caminhou até a criança , mas antes de falar algo, a criança correu.

Jessica deu de ombros e voltou ao balanço.

Por um momento, por uns 3 minutos, ela pensou que talvez falar oi para o garoto fosse algo bom.

Mas lembrou-se do que o coelho do globo de neve havia dito:

“Não confie”. Sussurou.

Quando a noite chegava, a avó de Jessica a colocava para dormir. Repetia palavras carinhosas, mas que para Jessica eram vagas.

A rotina se repetia: frutas de manhã e balanço na arvore durante a tarde.

Mas agora a rotina tinha um novo membro, o garoto de olhos verdes.

“Jacob”. Disse ele, mas ela ignorou.

O menino correu e desapareceu, mas por ela tudo bem, continuou a se balançar.

Quatro , quem sabe cinco ou seis minutos depois o garoto voltou com um boneco, um soldadinho.

“Gostou”? Ele perguntou empolgado, mas a garota olhou, deu de ombro e voltou a fitar o nada.

De longe sua avó observava, o garoto estava amedrontando-a? ou só queria fazer amizade?

“Globos de neve”. Disse ela, com sua voz de sussurro amedrontadora.

“Globos de neve? Você prefere globos de neve?” O garoto sorriu por escuta-la, mas aquilo foi tudo. Ela correu para dentro da casa e a avó foi atrás.

O menino correu para o lado oposto, estava determinado a escuta-la novamente.

Jessica se sentou com o globo de neve em mãos.

Depois que a avó foi embora d quarto o coelho surgiu e disse:

“Confiastes em alguém hoje, pensas que pode confiar nele? Ele vai embora, você deve odiá-lo, pois ele vai te deixar.”

Jessica não sabia o que dizer, fitou a janela de madeira.

O sol que já ia embora deixou o tom alaranjado entrar pela janela.

“Ele me mostrou um boneco”.

Disse Jessica, no momento em que a gata Lili entrou pela porta.

O coelho do globo de neve permitia a gata em sua presença, mas a gata parecia não percebe-lo.

“Jessica, querida, eu lhe mostrarei um mundo”.

Disse o coelho, com um sorriso forte e olhos fixos no rosto da garota.

Nada mais disse.

Os passos de sua avó subindo as escadas eram perceptíveis, então logo o coelho do globo de neve se escondeu.

Na manhã de um sábado o garoto de olhos verdes, Jacob, apareceu segurando um globo de neve.

Nele havia um homem barbudo e de gorro vermelho.

“Veja, minha mãe e eu procuramos por esse”.

Disse ele mostrando alegremente para Jessica.

Ela nada disse, apenas olhou.

Imaginou se o garoto passava a falar com o homem de gorro vermelho todas as manhãs e noites.

Era assim que ela imaginava ser a vida de crianças como ela.

Sentar-se no chão de madeira das casa e conversar com os globos de neve.

“Você não fala muito, certo? Me diga, seu nome é Jessica não é mesmo?”

Ela e espantou o que fez o garoto sorrir.

“Não devo confiar em garotos”. Foi o que disse. Então voltou a balançar na arvore. O garoto então percebeu que fazer amizade com ela seria difícil mas não iria desistir.

“Mas serei seu amigo, então verá que poderá confiar em mim”.

A menina nada disse. Apenas fitou o nada.