Eu já estava me sentindo bem mais relaxada enquanto nos encaminhamos para a próxima aula, a visão advindo da primeira aula já estava quase esquecida (ou pelo menos, por enquanto), estávamos ainda parcialmente cobertos de purpurina prateada, mesmo usando alguns encantamentos de limpeza não conseguimos limpar de forma eficiente a sujeira gerada pela explosão mágica... Hades (ou professor Heitor) parecia muito satisfeito com o resultado, acho que nunca fora a sua intensão fazer com que a pedra se transformasse em prata!

–Até que ela ficou bonita...-Disse Fernando ao meu lado mostrando a pedra prateada, sim, no final das contas conseguimos transmuta-la, depois da explosão deveríamos coloca-la no caldeirão e esperar alguns minutos. Pelo menos conseguimos aprender alguma coisa, no final das contas.

–Verdade. –Sorri para ele, finalmente comecei a relaxar ao seu lado, afinal ele não era como um deus grego (apesar de ser belo como um) a qual nenhum reles mortal poderia alcançar. Era apenas um garoto como qualquer outro, amigável e divertido, perfeito para se fazer amizade.

–Pode ficar! –Disse pegando a minha mão e pondo a pedra no meio.

–Tem certeza? Digo...Você pareceu gostar tanto dela! –Era verdade, pois ao fim do experimento Fernado mais parecia uma criança ao ver um truque de mágica a qual o mago tira o coelho da cartola (uma analogia estranha tendo em vista que somos bruxos de verdade e não ilusionistas ! De modo que não deveríamos ficar impressionados com esse tipo de coisa).

–Não! Tudo bem! –Sorriu amigável, da forma que fazia meu coração dançar sapateado em meu peito.

–Eu posso te dar uma pedra transfigurada em ouro. –anunciou Arthur, ao meu lado, quase tinha esquecido de sua presença –Seria bem melhor que a pedrinha de prata...Sem falar que a poção que fizemos não é para sempre, pois as leis mágicas impedem a transmutação de metais de caráter permanente justamente para evitar problemas com os humanos. Já imaginou várias pessoas ficando milionárias, misteriosamente, encontrando pedras preciosas sem retirar de minas ou algo do tipo? Causaria muita suspeitas...

–Mesmo assim, eu aceitarei o presente do Fernando. –Falei meio ríspida, sabia que uma hora ou outra a pedra voltaria ser uma simples pedra, mas a intensão é que importa!

–Que seja... Sentimentalismo tolo. –Deu os ombros, mas pude ver que estava meio chateado.

–Não liga para ele, o Artie tem coração de gelo. –Brincou Fernando que, por sua vez, parecia extremamente animado. Isso tudo por ter aceitado o seu presente? Ele realmente era um fofo...

–Não me chame de Artie...-Rosnou o outro.

Oh! Céus... Já iriam começar brigar de novo?

–Acho melhor nós apressarmos, não? Já nos atrasamos para uma aula, não gostaria de nós atrasar para outra! –Disse rapidamente pegando a pulso de ambos e os forçando a caminhar mais rápido, pude ver um olhar admirado de Paola e Carlota. Ora, não tinha nada demais em escoltar aqueles dois encrenqueiros para a estufa, aonde seria nossa próxima aula.

–Aposto que o senhor Abobora ficaria tão bravo com nosso atraso que cuspiria suco pelas cavidades! –Falou Yuri sorridente.

–Isso seria muito nojento...-Reclamou Paola emitindo um gemido de enjoo.

–Yuri! Não o chame de senhor Abobora...Sabe como ele fica sensível com esse apelido! –Repreendeu Arthur.

–Ora, eu não o chamaria assim se ele não fosse uma abobora!

–Ele tem razão, Yuri. Ele não foi transformado em abobora por que quis! –Também o repreendi, ora, o senhor abo...Digo...o senhor Truman era nosso professor de herbologia, devido uma briga com seu irmão gêmeo e rival, outro especialista no estudo das ervas mágicas, acabaram, ambos, lançados sobre um e outro uma maldição de transformação... Senhor Truman virou uma abobora e seu irmão, pelo o que ouvi falar, se transformou em uma melancia. De acordo com o professor Arquimedes, aquele feitiço não iria durar muito tempo, pois não tratava-se mais de um travessura de que uma praga eterna, mas até o feitiço se desfazer e perder a sua força devemos conviver com o professor Abobora falante.

Yuri fez biquinho e cruzou os braços diante de si, tal como o garoto mimado e levado que era. Arthur me lançou um olhar e sorriu levemente. Seu sorriso era diferente se comparado ao do Fernando, pois era mais contido e meio aristocrático, mas gerava o mesmo efeito... Meu coração agora dançava samba em meu peito... Esses dois garotos ainda vão me causar um enfarto!

Conforme chegávamos na estufa, em um local afastado e semelhante a um grande ginásio só que as paredes e teto era feito de vidro, ouvimos os gritos e comandos do nosso querido professor vegetal.

–Margareth! Coloque isso direito! Não consigo ver direito! –Esbravejava.

–Oh...Querido, sinto muito, mas esse chapéu foi feito para cabeças humanas e não para uma...

–Nem pense em falar essa palavra!! –Ouvi o som de cuspidas, ele deve ter soltado algumas sementes da boca, era um ato comum quando ficava irritado, devíamos tomar cuidado para não sermos o alvo destes projeteis em alta velocidade.

Chegamos finalmente à estufa. Abrimos relutantemente a porta e logo encontramos nosso professor, uma grande abobora com o rosto gravado tal como aquelas abóboras de Halloween e sobre a sua “cabeça” estava um chapéu de abas, talvez para protegê-lo do sol. Ao seu lado uma velha senhora usando um vestido com tema florido e com o rosto gordo e corado nos observou adentrar e sorriu amável, aquela era a senhora Truman, esposa do professor abobora, ela era a personificação da perfeita vovó! Paciente, doce e pronta para servir guloseimas diversas aos seus netinhos (no caso seríamos nós).

–Ora, queridos, bem vindos! –Disse ela alegremente.

–Já era hora! –Resmungou a abobora – Vocês andam mais lento que uma lesma!

–Querido, não fale desta forma, os garotos tem que descer várias escadas para vir a estufa, você não quer que eles caíssem e se machuquem, não é? Aqui, anjinhos, fiz uma limonada para vocês! –Ofereceu.

Nós logo aceitamos, saboreado o suco perfeito feito pela a senhora Truman.

–Ei! Eu também quero um suco! –Comandou o senhor Truman, a sua esposa logo deu um copo gelado com um canudinho para o marido.

–Isso não seria meio que canibalismo? Tipo...Ele está bebendo o sangue de uma irmã fruta! –Falou Yuri.

Bati com a palma da minha mão na minha testa... Aquilo seria sinônimo de confusão.

–O que disse garoto?! –A abobora tremeu, sementes começaram a ser expelidas de sua “boca” e lançadas em direção a Yuri que choramingou tentando se defender do “ataque” –Canibalismo? O que pensa que sou? Eu sou um grande bruxo formando com louvor na arte da Herbologia! Não confunda as coisas só devido a minha aparência momentânea... Isso tudo é culpa do Arnold! Aquele irmão maldito! Eu espero que ele seja levado a uma feira e seja vendido pela metade do preço!!

–Querido, não faça isso com o garoto! –Repreendeu a velha senhora –Lembre-se do que o druida disse sobre cuspir sementes! Isso pode deixar a sua forma atual instável!

–Que seja! –Resmungou por fim – Vamos começar logo a aula! Camilla, quero que faça suco de melancia... Agora estou com uma imensa vontade de beber isso!

Eu fico imaginando para onde vai toda a comida e bebida que nosso professor sempre se banqueteava... Mas tento não me perder nesses pensamentos, afinal me assusta um pouco que uma cabeça falante tenha estomago ou tenha uma espécie de buraco negro mágico em seu interior.

–Como quiser...-A senhora rolou os olhos e sorriu.

–Moleques! Espero que suas mentes pequenas não tenham esquecido o quão é importante a aula de herbologia! Trata-se de uma ciência que estuda as plantas mágicas, fungos e suas propriedades! Isso inclui desde o processo de plantação e desenvolvimento destas plantas quanto a colheita e o preparo para o uso posterior em poções, matérias mágicos e amuletos. Hoje nós iremos colher o néctar da flor lágrima-de-anjo! Espero que não falhem nessa tarefa tão simples!

E era assim que começaria nossa aula na grande e perigosa estufa...