Auror Potter e o Mestre dos Disfarçes escrita por Leandro Zapata


Capítulo 7
Wendigo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/597979/chapter/7

Harry não olhava para trás, não tinha coragem. Tudo o que conseguia fazer era correr e correr. A criatura estava próxima. Podia sentir ela se aproximando cada vez mais. Iriam morrer. Os três nunca mais sairiam daquela biblioteca.

Com as varinhas em mãos, os três dobraram uma esquina e, ofegantes, trocaram olhares de pavor.

– O que nós vamos fazer? - Rony perguntou, tão medroso quanto sempre.

– Eu vou distraí-lo. - Lilá disse.

– E como você pretende fazer isso? - Harry duvidou.

Ela entregou a varinha para Harry e disse: - Assim.

Então ela iniciou a transformação. Seu rosto alongou, formando um focinho. Ela foi ficando mais alta e os braços mais fortes. Segundos depois, um imenso lobo andando nas patas traseiras e com feições humanas estava diante deles. Foi então que Harry lembrou que durante a guerra contra Voldemort em Hogwarts, Lilá fora atacada por Fenrir Grayback; por pouco a jovem não morreu, graças a Hermione que a salvara no último minuto. Contudo, não a impediu de se transformar em lobisomem. Outra coisa ocorreu a Harry: eles não estavam na lua cheia, mas ainda assim ela conseguiu se transformar e como não estava atacando os dois, devia estar consciente disso. Será que na lua cheia ela conseguia não se transforar? Com todos os avanços mágicos, era bem capaz que conseguisse. Pensou em Remo e como ele seria feliz sabendo que se transformaria a seu prazer. Sentiu saudade do amigo.

Lilá correu pelo corredor em direção ao monstro. Saltou com a boca escancarada, pronta para atacar o pescoço da criatura. Lilá era quase tão grande quanto ele.

Uma batalha feroz iniciou-se. Mordidas, arranhões e cortes profundos. A criatura e a lobisomem em um combate animalesco e sangrento. Lilá, apesar do tamanho, tinha uma desvantagem terrível. Ela conseguia defender-se dos braços longos, o problema eram os braços menores que rasgavam sua barriga a cada oportunidade. Harry tinha que ajudar... Não podia simplesmente fugir.

Ele e Rony iam dar um jeito naqueles braços.

– Temos que ajudá-la! - Rony disse determinado; em todos os anos de convivência com o amigo, Harry nunca o vira falar que precisavam enfrentar um monstro gigante e desconhecido para salvar alguém; nem mesmo Hermione.

– Eu sei. Tenho um plano! - O Auror respondeu. - Siga-me.

Harry foi por um corredor paralelo. Seu plano era chegar às costas da criatura; no final daquele corredor, dobraram a esquerda, de volta ao corredor onde Lilá gladiava ferozmente a criatura. Como calculara, estavam nas costas brancas do monstro. O herói entregou a varinha de Lilá para Rony.

– Use o feitiço Sectumsempra para cortar e distrai-lo. Cuidado para não acertar a Lilá.

– E você?

– Vou destruir aqueles bracinhos.

Harry voltou para o corredor paralelo. Pelos seus cálculos, assim que Rony iniciasse o ataque à criatura olharia para ele, dando as costas para Harry. Vamos, Rony, agora, pensou. Como se ouvisse o pensamento do amigo, Harry ouviu a voz dele:

Sectumsempra!

Rony bradava as duas varinhas balançando-as no ar para fazer o feitiço. Harry desatou a correr na direção dos monstros. A criatura soltou um urro de dor, socou Lilá com força, lançando-a em direção a Harry, que com um salto para o lado, desviou. O monstro virou para Rony, que fez uma careta de medo, provavelmente arrependido do que acabara de fazer.

No entanto, antes que a criatura corresse em direção ao amigo, Harry escorregou por entre as pernas pálidas dele, apontou sua varinha para o bracinho direito dele e disse:

Petrificus Totalus!

O bracinho ficou tão duro quanto gelo.

Com movimentos habilidosos de alguém que treinou anos para Auror, ele levantou e girou, ficando de frente para o monstro.

Reducto!

O braço desfez-se em centenas de pedaços. Um urro ainda mais alto ensurdeceu Harry, que encarou Rony e mandou que corresse pelo corredor paralelo da esquerda, enquanto ele corria pelo da direita. No instante que saíram do campo de visão do monstro, Lilá já estava com os dentes cravados em seu pescoço.

Enquanto corria, ele sentiu o chão molhado. Sangue do monstro. Tomou cuidado para não escorregar. Chegando à esquina no final do corredor, puderam ver Lilá ainda nas costas dele, arranhando-o e mordendo-o. A criatura, então, deu uma cotovelada no estômago dela, agarrou-a pela cabeça e lançou-a em direção a Torre dos Livros Ilegíveis. Pela primeira vez Harry pensou na possibilidade da criatura ser dotada de inteligência, ou então, que estivesse sendo controlada por alguém.

Ele trocou olhares com Rony, que estava tão desesperado como sempre. Harry ainda se perguntava como o amigo havia sobrevivido todos aqueles anos como Auror ou até mesmo durante a guerra. Felizmente, ele já tinha um plano.

– Dê-me a varinha dela. - O Potter pediu e Rony entregou. - Preciso que use o Petrificus Totalus no outro bracinho dele. - Acrescentou enquanto corriam na direção dele.

– Como?

– Escorregue pelo chão, entre as pernas dele enquanto eu o distraio. Agora!

Rony fez como ele mandou. O monstro virou-se para os dois e viu Rony indo a sua direção, provavelmente já imaginando o plano. Quando Rony estava ao alcance do braço grande dele, Harry, quando viu que ele levava o braço em direção ao amigo, gritou:

Sectumsempra! - Um rugido indicou que o feitiço fora perfeitamente eficaz; a pata dele sangrava.

O bracinho esquerdo dele estava petrificado. Era a vez de Harry.

O herói correu o mais rápido que suas pernas permitiram. As duas varinhas em mãos. Então escorregou por entre as patas dele, todavia, como imaginou, ele agarrou-o com uma das patas e prendeu-o ao chão. Ele mirou a varinha da esquerda no bracinho e a da direita em uma estante próxima e disse:

Reducto!

O bracinho explodiu em centenas de pedaços e toneladas de livros caíram sobre os dois. O plano dele funcionou exatamente como queria.

Enquanto os livros caiam em volta dele, Harry pensou na esposa Gina, de quem tanto sentia saudade. Quem será que havia de levá-la? Por quê? Será que ela era importante de alguma forma? E Lilian... Será que sua menininha estava bem? Ele tinha que salvá-las. Mas não se morresse ali. Como imaginou, Rony iria ajudá-lo. Ouviu-o gritar:

Carpe Retractum!

Uma corda de luz saiu da ponta da varinha de Rony, prendeu Harry pelas axilas e arrastou para fora dos livros caindo.

– Valeu. - Disse ao amigo enquanto levantava.

Ele sorriu em resposta.

– Está morto? - Lilá disse se aproximando deles na forma humana.

Quando o herói tornou os olhos a ela, viu que estava nua, todavia ela não parecia se importar, como se ficasse nua na frente dos outros com bastante frequência. Harry desviou os olhos, sabia que Gina não ia gostar nem um pouco que ele ficasse olhando para outras mulheres nuas. Notou que Rony não tirava os olhos dela, ou melhor, dos seios dela. Antes que ele perdesse a cabeça, Harry conjurou uma túnica lilás que a cobriu totalmente.

– Obrigada. - Ela respondeu.

Um barulho vindo dos livros chamou a atenção dos três mais do que a nudez dela.

– Ele ainda está vivo. - Rony, que estava vermelho como um pimentão, disse o óbvio.

– Nós destruímos os dois braços extras dele. - O Potter informou. - Ele não tem mais essa vantagem sobre você.

– Mas o que é aquilo? - Rony indagou.

– É um Wendigo peludo. - Lilá explicou. - São criaturas que viveram nas florestas geladas dos Estados Unidos e do Canadá. Eles são parentes do Wendigo quente, que moraram próximos à linha do Equador, na América Central e do Sul.

– Um Wendigo? Achei que estavam extintos! - Harry respondeu incrédulo.

– E estão. - Ela retrucou.

– Acho que não! - Harry replicou.

Rony apontou para a pilha de livros, que estava aos poucos sendo deslocado para os lados. Lilá tirou a túnica e virou lobisomem, mas não antes de Rony dar uma boa checada no corpo dela. Harry teria uma conversa bem longa com o amigo mais tarde.

O Wendigo estava finalmente livre dos livros. O corpo dele estava machucado e ele sangrava muito pelos tocos dos bracinhos e pelos cortes dos Sectumsempra de Harry e de Rony; não podia ter certeza, mas pela posição do braço dele, ele estava com o braço esquerdo deslocado. Lilá, então, atacou sem dó.

A criatura estava fraca demais para revidar e simplesmente deixou que Lilá mordesse seu pescoço. Devido ao movimento da corrida e do salto, ela acabou quebrando o pescoço do Wendigo. Um baque surdo indicou que ele caíra sem vida sobre os livros.

Lilá voltou até eles e, quando estava próxima, voltou à forma humana. Harry deu um soco em Rony, que virou a cara imediatamente, para que ele não visse a garota nua novamente. Harry simplesmente desviou o olhar em respeito à esposa desaparecida.

– Vamos indo. - Ela falou enquanto colocava a túnica. - Temos que contar o que aconteceu aqui ao Ministro Kingsley.

– Não acha melhor primeiro curarmos suas feridas? - Rony perguntou.

– Não se preocupe, Uon-Uon, já tive machucados piores.

Os três, cansados, suados e, no caso de Lilá, sangrando e vestindo apenas uma túnica lilás, foram em direção à saída da Casa do Conhecimento e, sem serem interrompidos, foram direto à sala do Ministro da Magia.

Os três, Harry, Rony e Lilá, entraram na sala do Ministro Shacklebolt sem bater e com Luna, sua secretária, atrás. Shacklebolt fora escolhido Ministro depois da guerra contra Voldemort. Desde então, há dezenove anos, ele vem exercendo muito bem o cargo. Ele levantou os olhos, e olhou para os três bruxos diante de si e disse imediatamente:

– Mande chamar Hilda e Baltazar. Preciso deles aqui imediatamente.

– Sim, senhor. - Ela respondeu de prontidão.

– Então, senhores, querem-me dizer o que aconteceu.

– Muitas coisas, Ministro, mas a mais recente foi essa. - Harry jogou o livro da Triskelium sobre a mesa.

– O Wendigo peludo. - Shacklebolt disse; ele já sabia. - Quem abriu o livro?

Rony levantou envergonhadamente uma das mãos.

– Imaginei. Esse livro está muito bem protegido há séculos. Ninguém sabe sobre ele a não ser os Ministros e as bibliotecárias da Casa do Conhecimento.

– Há uma forma de abri-lo? - Harry perguntou.

– Não sei. - Ele respondeu simplesmente.

Luna entrou novamente na sala, interrompendo a conversa. Baltazar e Hilda, uma mulher corpulenta, de cabelos curtos e tingidos de vinho - por alguma razão, a mulher lembrava o seu falecido tio Dursley de peruca -, logo atrás dela.

– Eu acho que você deve conhecê-los, não? - Shacklebolt perguntou.

– Sim. - Harry respondeu. - É difícil não conhecer os dois. Afinal, os dois descendem dos quatro, não?

– Certo, conte-me o que aconteceu. - O Ministro disse por fim.

Harry então relatou os acontecimentos desde a morte daquele garoto trouxa até a razão que os levou até a Casa do Conhecimento. Narrou a luta contra o Wendigo e como Lilá se machucara. Obviamente, ele sabia que ela era uma Lobisomem.

– Não sabemos quem matou o garoto, ou quem esvaziou Azkaban. Nossas únicas pistas são Lucius e esse livro. - Shacklebolt resumiu a situação deles.

– Exato.

– Hilda, como está Lucius?

– Se recuperando. Anos naquela prisão são destrutíveis demais. Não importa o bruxo, é certo que você enlouquecerá ali. - A mulher respondeu.

– Quanto tempo levará para que ele fique são? - Harry perguntou.

– Algumas horas.

– Você conseguiu combater os efeitos de dezenove anos de prisão em algumas horas? - O Auror estava estupefato.

– Eu sou Hilda Hufflepuff, descendente de Helga Hufflepuff. Então sim, eu possuo sim poder para fazer isso. - Ela sentiu-se insultada pela pergunta do rapaz. - Minha família praticamente inventou a herbologia.

– Desculpe-me. - Ele disse.

– Com sua permissão, Ministro, voltarei ao meu trabalho.

– Sim. Assim que ele voltar aos sentidos, mande-me chamar e a Harry.

– Sim, senhor. - E saiu.

– Baltazar. - Shacklebolt virou-se para o homem de cabelos cinza. - Preciso que reúna alguns Aurores e dê um jeito no corpo do Wendigo na Casa do Conhecimento. Não se esqueça de retirar a maior quantidade de sangue dele que conseguir.

– E para que? - Baltazar perguntou.

– É um elemento mágico raríssimo. E sinto que precisaremos dele mais tarde.

Harry preferiu não questionar o Ministro; ele conhecia a lenda de que o sangue de Wendigo poderia prolongar o efeito de qualquer poção, podendo deixar seu efeito vitalício. Exatamente por isso que eles foram caçados até a extinção. Se você colocar o sangue em uma poção de rejuvenescimento, você poderia até tornar-se imortal.

– Senhor Potter, volte para sua casa e descanse...

Harry não o deixou terminar:

– Não! - Vociferou. - Minha esposa está desaparecida e você quer que eu vá para casa dormir? Eu preciso encontrá-la!

– Mas como você mesmo disse, não temos pistas.

– Temos Lucius! - O Auror retrucou.

– Ele não estará bem para responder suas perguntas por algumas horas.

– Estarei em minha sala, me preparando! - Deu as costas para o Ministro; Rony seguiu-o.

Esse rapaz... Se ele não fosse o herói de nosso mundo, com certeza eu o mataria aqui mesmo, o Ministro Shacklebolt pensou.

Harry entrou bufando em sua sala. Se fosse a esposa do ministro que fosse sequestrada ele iria sentir na pele. Assim que Rony passou, bateu a porta. Sua sala era um ambiente oval. Havia uma janela de frente para porta, em que cortinas vinho com detalhes dourados impediam a luz direta do sol. As paredes tinham prateleiras que sustentavam diversos livros, nada muito raro, apenas livros sobre magia; a maioria deles eram os que Harry usou em seus anos em Hogwarts. Havia uma porta à esquerda; um pequeno banheiro para os dias em que ele precisava trabalhar até mais tarde. Dentro dele, havia um pequeno armário com roupas para qualquer emergência.

– Vou tomar banho. Fique a vontade, Rony.

Harry entrou pela porta.

Sozinho, Rony olhou os livros que estavam ali. Não era muito fã de leitura, mas desde que começara sua carreira como Auror, ler era cada vez mais importante. A quantidade de informações que os antepassados passavam para as próximas gerações era impressionante. Mesmo nascendo em uma família de bruxos, as coisas que eles eram capazes de fazer ainda tiravam o folego dele.

Harry encontrou Rony fitando um livro em sua prateleira. Era o livro de poções do Príncipe Mestiço. Estava diferente de quando, anos atrás, ele encontrou o livro pela primeira vez. Ele tinha as bordas chamuscadas.

– Quando foi que você recuperou isso?

– Logo após nossa batalha contra Voldemort. Eu voltei a Sala Precisa, e uma das poucas coisas que sobreviveram ao fogo foi esse livro.

Algo passou na mente de Harry: ele não parecia estar preocupado com Hermione. Havia algo de errado com ele. O jeito que ele falara com Lilá, as iniciativas que tomou e o ar despreocupado em relação à esposa e irmã desparecidas. Aquele não era o Ronald que Harry conhecia há anos.

– Rony, você se lembra de como foi que nos conhecemos?

– É claro. Foi no Expresso Hogwarts. Eu estava em uma cabina e você entrou e comprou todos aqueles doces para mim. - Respondeu sem hesitar. - Mas, por que a pergunta?

– Nada. - Apesar de ser útil perguntar coisas que só os dois lembrariam, ainda não era uma estratégia infalível.

De repente, Ted entrou com tudo na sala. Tinha um olhar furioso, como se quisesse socar Harry até suas seus ossos da mão quebrarem. Seu cabelo estava vermelho como fogo, um indício de que realmente estava muito, muito irritado mesmo.

– Rony - Ele se virou ao velho amigo. -, será que nos pode dar licença. Acho que vamos ter uma longa conversa aqui.

– Mas é claro! - O Weasley levantou e saiu da sala sem dizer mais nada.

– Sente-se, Ted.

– O que você fez com o Espelho?

– Desculpe que espelho?

– Você sabe muito bem de que espelho eu estou falando, padrinho! Você o comprou.

– Ah sim. Esse espelho.

Harry observava o afilhado e, por alguma razão, sempre via Remo e Ninphadora Tonks atrás dele, como se o protegendo. Era como se Ted os tivesse invocado usando a Pedra de Ressurreição. Harry respirou fundo e, apesar de tudo que estava acontecendo, precisava ter aquela conversa com o afilhado, afinal o Auror conhecia os poderes do Espelho de Ojesed; já fora tentado por ele e sabia os motivos de Ted querê-lo. Foi exatamente esse o motivo que fez com que Harry adquirisse-o. Livrar seu afilhado do sofrimento que ele poderia causar.

– Ted, sente-se. - O Potter soou o mais compreensivo possível. - Vamos conversar sobre o Espelho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!