Escola de Guardiões escrita por Tynn


Capítulo 9
Capítulo 9 - Água Encantada




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Tudo era borrado e confuso. Eu estava perto de um riacho, observando meu próprio reflexo nas águas cristalinas... Uma silhueta se aproximou de mim. Apesar de não saber quem era, eu não quis correr ou me esconder. Era uma mulher de voz aveludada. Ela me abraçou amorosamente... Eu senti o seu cheiro e a apertei ainda mais forte. Tinha o cheiro da minha mãe.

– Eu estou com saudade!

– Eu sei, meu filho. Não se preocupe, a sua mãe está em um bom lugar. Você precisa se concentrar na sua missão; encontre o seu verdadeiro poder e não se deixe levar pelas más influências. Por mais que a proposta seja tentadora, lembre-se do meu amor.

– Você morreu mesmo em um acidente de carro?

– Não.

– Então o que aconteceu?

– Você encontrará as respostas em breve.

– Mas eu não sou igual aos demais, sou? As pessoas têm medo de mim.

– Elas temem o desconhecido, querido, mesmo se ele for belo e puro. Não permita se abater com isto e siga o seu coração. Ele é a melhor bússola que você pode ter.

– Obrigado, mãe.

– Eu te amo!

Eu me acordei ao amanhecer. Pelo visto, a vigília havia ficado entre Natália e Jorge. Olhei para baixo e vi que Samyra ajeitava a fogueira com um longo graveto. Ela usava um vestido bege e um par de botas. Os demais companheiros não estavam lá e imagino se não foram procurar alguma comida fresca para o café-da-manhã. Eu desci da árvore com certa dificuldade, dando um bom dia para Samyra.

– Jorge foi pegar água, já Natália está coletando frutas silvestres.

– Hum...

Eu sentei perto da fogueira e pensei no meu sonho. Se aquela foi mesmo a minha mãe, por que só apareceu neste mundo? E logo agora? Havia algum mistério em tudo isso. Não tive tempo de continuar com as minhas divagações porque Jorge saiu do mato com um sorriso de orelha a orelha.

– Pessoal, olhem só o que eu encontrei.

Fomos correndo descobrir qual tinha sido o achado. O rapaz adentrou mais na floresta, quebrando alguns galhos com seu tacape. Em poucos minutos, estávamos próximos de um rio onde pequenos seres voavam de um lado ao outro. De início, pensei que fossem borboletas coloridas, em tons de azul, verde, vermelho e amarelo. Ao me aproximar de uma delas, contudo, percebi que eram seres mágicos. As mãozinhas pequenas bateram palma e um pó mágico me fez espirrar. As anteninhas se mexiam de um lado ao outro, comunicando-se com as outras amiguinhas. As fadas eram minúsculas e belíssimas! Existiam mais de dez delas ali que corriam até o rio, enchiam um pequeno balde de água e depois tomavam tudo. Elas nos avistaram e algumas até acenaram, voltando aos seus afazeres.

– Eu nunca vi nada assim! – Samyra disse, maravilhada.

– E tem mais!

Jorge parecia uma criança travessa. Ele foi até o rio e encheu um pouco a garrafa com água. Uma fadinha azul voou até a garrafa e deixou cair um pouco do pó de suas asas. A água na garrafa começou a ficar em um tom azul-celeste. Jorge tomou um gole, soltando um suspiro de gratidão em seguida.

– Tem gosto de amora!

Por um momento, pensei que poderia ser perigoso tomar água com pó mágico de fada. Samyra foi até a beira do riacho e encheu as mãos da água cristalina. Uma fada vermelha desceu até ela e balançou suas asas em cima das mãos da rainha.

– Morango! – Ela exclamou satisfeita.

Se eles estão gostando tanto, é porque deve ser bom. Fui até o riacho e juntei um pouco de água com as mãos. Duas fadas voaram até mim, uma de cor amarela e outra com asas verdes, depositaram um pouco de seu pólen mágico. Eu tomei tudo e senti uma mistura de abacaxi com limão, que saciou toda a minha fome. Ficamos brincando de misturar as cores até escutar Natália nos procurando. Ela apareceu lá com o seu arco-e-flecha armado, flagrando-nos saborear os aromas deliciosos das fadas.

– O que vocês estão fazendo? Por acaso sabem se essas fadas não são venenosas? Ou pior: podem ser criaturas da feiticeira negra!

Algumas fadas fizeram caretas para Natália, outras voltaram a pegar água do riacho, indiferentes.

– Natália, esse negócio é gostoso. E parece ser mais nutritivo do que água normal. Eu sei que não tem nada disso nas aulas de Criaturas do Outro Mundo...

– O que você sabe sobre as aulas, Jorge? Você dorme na maioria!

– Só porque nós estamos em uma missão, não significa que não possamos nos divertir!

– Fale isso para Zeca! Ele vai ficar feliz com o esforço que vocês estão fazendo!

A menina saiu com fortes pisadas, desaparecendo na floresta. Jorge saiu correndo atrás dela, deixando Samyra e eu para trás. Nós enchemos a garrafa com água do riacho; tampamos antes de alguma das fadinhas depositar o seu polén.

– A sua amiga está certa. – Samyra desabafou. – A feiticeira é perigosa e precisamos chegar rápido lá.

– Eu sei.

Percebi que Natália havia chorado, pois seus olhos estavam vermelhos quando nós dois chegamos. Ela colecionou várias frutas de aparência duvidosa da floresta, mas garantiu que todas estavam no livro de Frutas Comestíveis e que nós poderíamos comer sem passar mal. Depois do nosso desjejum, apagamos a fogueira e fomos à montanha, onde iríamos encontrar o velho mago Crispim.

Como iríamos passar por matar fechadas, Jorge foi à frente derrubando galhos e quebrando troncos de árvore. Eu fiquei ao seu lado, pois de vez em quando era necessário utilizar uma espada para cortar trepadeiras ou teias de aranha. No meio estava Samyra seguida por Natália, que preferiu ir atrás para proteger a retaguarda. Em caso de emergência, ela poderia projetar o seu campo de força e fazer com que todos ficassem em segurança. Apesar de estar bastante fraca, garantiu que conseguia fazer uma barreira que durasse ao menos 2 minutos, tempo suficiente para eles elaborarem um plano ou saírem correndo na mata.

O caminho era longe e passamos duas horas andando sem parar. Havia vários animais conhecidos no caminho, como guaxinins e andorinhas. Aproveitamos um momento em que as meninas estavam mais afastadas para conversar.

– Natália está passando por um momento complicado. – Jorge começou, chutando um tronco de árvore. – Ela geralmente não é tão explosiva assim.

– Eu sei. Ela é bastante apegada a Zeca, não?

– É a primeira missão que nós vamos sem ele. E está sendo difícil.

Passamos por debaixo de uma árvore, tão alta que o céu azul sumiu de nossas cabeças. Eu olhei para cima, admirado.

– Qual o tamanho máximo da barreira de Natália?

– Eu não sei, nunca testamos. Acredito que possa chegar a vinte metros de diâmetro. Ela não tem permissão para usar o campo de força no planeta Terra, já que isso interfere nas ondas sonoras de lá. Uma vez usada, vários aparelhos de telefonia, rádio e internet sem fio seriam prejudicados. Em casos extremos, permitem apenas um campo de força de dois metros. Muitos curandeiros usam o campo de força apesar da proibição, não Natália.

– Por isso que ela não pôde usá-lo para proteger Zeca?

– Foi. E agora ela se arrepende amargamente por não ter quebrado as regras. Ela não vai descansar até Zeca estar a salvo.

Nunca havia pensado naquilo; comecei a compreender um pouco a mente de Natália. Caminhamos por mais alguns metros até encontrar um enorme muro camuflado de tanta trepadeira. O muro era alto, mais alto que Jorge, e seria complicado escalá-lo. Atrás dela, podia-se ver o conjunto de montanhas.

– Chegamos à casa do mago.

Samyra caminhou para a esquerda, seguindo o muro até encontrar o portão. Todos nós fomos atrás dela, curiosos para saber o que tinha do outro lado. Paramos diante de uma grade enferrujada, também envolta por trepadeiras. A rainha tocou no metal.

– Não deveríamos chamar antes? – Sugeri.

– Ele não iria atender de todo o jeito. Vamos, não tenham medo.

Eu olhei para Natália, que assentiu e depois fitei Jorge. O grandão parecia um poço de tremedeira, pois essa história de magia não tinha muito a ver ele. Dei duas tapinhas em seu ombro e entramos no jardim mais esquisito de todos os mundos.


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