Escola de Guardiões escrita por Tynn


Capítulo 26
Capítulo 22 - Uma equipe renovada




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Eu acordei meio grogue. Estava dentro de um quarto de hospital, com uma intensa luz branca ofuscando minha vista e um saco de soro injetando algum medicamente na veia. O meu pai dormia em uma poltrona que ficava ao lado do armário com minhas coisas. Ele percebeu a minha inquietação e abriu os olhos, cheio de alegria.

– Filhão! – O homem se levantou e me apertou. – Você precisa parar de dar susto ao velho aqui. Um dia eu não vou aguentar.

– Pai, onde eu estou?

– Na Escola de Guardiões. Eles têm uma ala de enfermaria. – Meu pai possuía profundas olheiras e eu vi dezenas de copinhos de café no lixo. – Eles ligaram para mim assim que você voltou da missão.

– Estou aqui há quanto tempo?

– Dois dias.

Eu cocei a cabeça. Ainda existia um hematoma, mas não acredito que foi por causa dele que eu passei tanto tempo desacordado. Quando o anel explodiu, uma força descomunal passar por dentro do meu corpo. Era como se cada parte de mim fosse atraído por aquela energia e ao mesmo tempo soubesse que era perigosa. Eu me lembro de ver o mundo girar antes de bater a cabeça em alguma coisa. Pensei em perguntar mais ao meu pai, entretanto alguém bateu à porta.

– Com licença, Paulo. – A voz de Natália era baixinha, quase um sussurro. Ela abriu a porta lentamente para que eu não me acordasse. Atrás dela, Jorge carregava uma bandeja com um café-da-manhã para meu pai. Ele tinha o braço engessado e os dois quase surtaram ao me verem sentado. – Marcelo! Finalmente você acordou!

Desde quando Natália era tão forte assim? O abraço dela quase me sufocou! Eu tive que bater três vezes na cama para indicar que estava rendido antes que ela me soltasse do abraço. Depois foi a vez de Jorge, que mesmo com o braço engessado, conseguiu apertar a minha garganta e dar cascudos na minha cabeça.

– Calma, galera, eu nem passei tanto tempo assim dormindo.

– Cara, você quase nos matou de preocupação. – O bárbaro deixara a bandeja em cima do armário antes de se aproximar. – Nós já contamos ao seu pai como você destruiu tudo lá.

Aquele comentário me deixou inquieto. Será que eles contaram ao meu pai sobre Margarida? Que era casado com uma feiticeira? E que essa feiticeira tinha uma parte má querendo dominar a Terra? Eu olhei para Natália, pedindo socorro, e ela pareceu captar o meu pensamento, pois comentou:

– Lógico que os principais detalhes da batalha nós deixaremos para você falar depois a Paulo. Não é mesmo, Jorge? – Ela cutucou o amigo.

– Claro! Nem precisa se preocupar com isso. Falamos só o que foi mais legal.

Eu quis saber tudo o que havia perdido durante aqueles dias. Eles falaram que Samyra tinha conseguido recuperar a sua aparência e que resolveu ficar no reino para arrumar tudo que a feiticeira negra bagunçou. A equipe 8 estava bem; eles tiveram que passar um tempo na enfermaria, mas os médicos da escola tinham seus próprios mecanismos para curar os ferimentos de batalha. Só não conseguiram fazer Lúcia parar de falar porque isso já seria um milagre.

– E o que aconteceu com Zeca? – Eu quis saber, finalmente.

Os meus dois aliados entreolharam-se. Eu percebi que a notícia não seria boa; eu tinha tocado em um assunto delicado. Natália segurou a minha mão sem soro e olhou diretamente para mim.

– O ferimento nos olhos de Zeca já estava cicatrizado quando nós o resgatamos. Além disso, os métodos que usaram para deixá-lo cego ainda é desconhecido, nós não sabemos qual parte do sistema ocular foi afetada. Infelizmente, o diretor pediu para avisar que não seria capaz de restaurar a visão de Zeca. Isso não significa que iremos parar de procurar por uma solução; as pesquisas continuarão e o próprio Lulu está vendo se encontra algo.

Era impossível não ficar comovido ao ouvir essas palavras, mas eu tentei ser forte. Jorge mexia no celular e meu pai tinha voltado a se sentar na poltrona. Ele sabia que aquela hora deveria ser para meus amigos, depois nós teríamos todo o tempo do mundo para conversar. De repente, Jorge abriu um grande sorriso.

– Acabei de falar com Pâmela. – E onde está a boa notícia? Não entendia como alguém poderia esboçar um sorriso por ter falado com aquela louca. – Ela já está na porta com Zeca e...

A porta se abriu com um solavanco. Pâmela marchou para dentro como um general, fitando meus olhos com uma raiva extrema. Ela escorou a porta para que não voltasse a fechar enquanto puxava Zeca para dentro do quarto com o seu... Aquilo era um dragão?

– Eu só vim aqui porque Zeca implorou para falar contigo quando você acordasse. Infelizmente ainda não consegui livrá-lo dessa ideia estúpida de te agradecer. Então aproveita logo.

O manipulador sorria. Existia um dragãozinho, do tamanho de um lagarto, movendo-se no ombro do rapaz. O animal tinha escamavas verdes, duas asas com espinhos na ponta e um focinho longo, ao qual saia uma fumaça das grandes narinas. Zeca chegou mais perto da maca.

– Olá, Marcelo. Pessoal! – Todos cumprimentaram o manipulador, que usava óculos escuros no rosto e roupas normais: calça jeans e camisa verde. A única coisa estranha era seu dragão de estimação. E o cabelo branco. – Muito obrigado por ter arriscado a vida para me salvar. Eu ficarei eternamente grato.

– Não foi nada. Além disso, fui eu que acabei te metendo nessa confusão. Sinto muito por tudo o que aconteceu.

– Eu não sinto. – O garoto alisou o dragão que agora estava enroscado em seu braço. – Tudo ocorre por um motivo, Marcelo. Você, mais do que ninguém, deveria ser capaz de perceber isso. Eu agradeço por tudo o que aconteceu, afinal agora tenho um amigo para todas as horas, literalmente.

– Como você conseguiu um dragão? Está em liquidação em alguma loja para Guardiões?

Todos riram da minha pergunta. Eu também entrei na onda, apesar de realmente estar curioso para saber como conseguiria um bichinho como aquele. O dragão me encarou, como se tivesse entendido a minha piada, e fez menção de morde a minha mão com seus dentinhos afiados.

– Não, não. Luc, o mago ajudante de Crispim, me entregou um ovo pedindo para que eu cuidasse da criatura que estava se desenvolvendo dentro dele. Na mesma hora, percebi que eu e o dragão teríamos uma conexão especial, apesar de não saber na época que seria um dragão.

Eu encarei os meus novos colegas. Por mais que toda a minha vida tivesse se transformado em uma loucura desde que entrei aqui, eu tinha feito novos amigos; pessoas que eu posso contar e que estão realmente preocupadas comigo. Nunca recebi tantas visitas quando estava em um hospital. Na verdade, o único que me visitava antes era o meu pai.

– Eu não vim aqui apenas para falar do passado. – Zeca continuou depois de uma pausa. – Conversei com o diretor Bartolomeu. Ele me explicou que eu ficaria afastado das missões enquanto estivesse me adaptando à nova vida. Por isso, queria que eu escolhesse uma pessoa para me substituir na equipe 4. A ideia seria colocar outro manipulador, mas consegui convencê-lo de que você seria o membro ideal para acompanhar Natália e Jorge em suas próximas missões. O diretor, depois de muito argumentar, concordou. E espera apenas a sua resposta.

Pâmela colocou o dedo na boca e fingiu que ia vomitar com a conversa. Mesmo assim, eu a ignorei e encarei meus dois companheiros que pareciam se preparar para pular de alegria a qualquer momento. Os olhos dos dois fitavam o meu com uma esperança que me entusiasmou, contudo eu fiquei apreensivo.

– Mas eu só fui para uma missão. Não sei se serei a melhor pessoa para completar o trio.

– Não me venha com essa, Marcelo! – Natália bufou, a alegria se transformando em irritação. – Você pode ter qualquer desculpa para não fazer parte da equipe e entendo se quiser entrar em outra, mas não querer entrar por se achar incompetente, por favor, né? Todo mundo viu como você é incrível!

– Fugir de uma tribo de canibais? Incrível! Salvar escravos de brutamontes? Muito irado! Destroçar armaduras com uma espada flamejante? Isso foi demais! Abrir portais com a própria força de vontade? Cara, você é o melhor guerreiro que alguém poderia querer! Se você fizer um currículo e pendurar no quadro de avisos da escola, existirá uma fila de pessoas querendo você no time. – Jorge comentou sorridente.

– O que você me diz? – Zeca estava realmente ansioso.

Eu olhei para meus colegas. Poder fazer parte de uma equipe como aquela era a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida. Finalmente eu me sentia incluído em um grupo que me aceitava e gostava de quem eu era. Eu fiz todas aquelas coisas porque havia um motivo para continuar: ajudar os meus novos amigos. Eu precisei fazer tudo por eles.

– Eu topo! Quero ser o novo membro da equipe 4!

Todos, com exceção de Pâmela, me aplaudiram e sorriram. Até mesmo o pequeno dragão ensaiou um voo, mas acabou caindo em cima de um jarro de flores e espatifou tudo no chão. Nós demos uma gargalhada, até que ele começou a cuspir fogo da boca (tão letal quanto um isqueiro!) e escalou a perna de Zeca até o ombro.

– Então irei agora mesmo avisar ao diretor Bartolomeu, ele está me aguardando. Melhoras, Marcelo! – Ele saiu acompanhado de Pâmela que simplesmente nos ignorou.

– Ei, eu também quero ir! Com licença, pessoal! – Jorge avisou, correndo para fora do quarto. Natália ficou em dúvida se iria ou ficaria mais um pouco comigo.

– Vai lá. – Eu disse. – Para ter certeza que o diretor não vai mudar de ideia.

– Está bem. Fique bom logo, Marcelo! – Ela me deu um beijo na bochecha e saiu gritando pelo bárbaro.

A porta se fechou em seguida. Eu olhei para o teto, tentando me acostumar com a sensação boa que envolvia meu peito. Eu estava contente. Respirei fundo e fechei os olhos, para ter certeza de que quando os abrisse, eu não estaria me acordando de um sonho.

Ao em vez disso, encontrei meu pai mordendo um sanduíche. Só então lembrei que algumas coisas precisavam ser esclarecidas.

– Eles te contaram sobre a feiticeira? – Perguntei.

– Ela roubou a identidade de uma rainha chamada Samyra. E você conseguiu acabar com ela no final.

Eu assenti. Não queria estragar a imagem que meu pai tinha da mamãe, mas escondê-lo da verdade parecia ser cruel demais. Como ele reagiria ao saber que a mulher que ele amou era outra pessoa? Será que ele já sabia de algo? Meu pai reparou o meu conflito interno e falou:

– Marcelo, sei que você passou por momentos difíceis, a sua mente deve estar um turbilhão agora. Eu terei todo o tempo do mundo para escutar a sua versão da história, apenas não se esforce tanto. Você precisa descansar.

Eu senti um alívio ao escutar isso. O meu pai deve ter passado os últimos dois dias ao meu lado, visto que estava com a cara amassada e a barba por fazer, mas parecia incrivelmente feliz. Ele sorriu para mim com sinceridade e eu senti que minha família estava ali, completa.

– Obrigado, pai. Eu te amo.

– Também te amo, filhão. Agora descanse.

Eu voltei a me deitar na cama, girando meu corpo para a parede. Escutei o meu pai terminando o sanduíche e tomando um gole do suco. O cabo da espada de Éron estava no chão, com a lâmina escondida embaixo da maca; eles tinham deixado a arma perto de mim no fim das contas. Tudo o que aconteceu comigo até ali foi incrível e eu só tinha a agradecer aos meus amigos pela ajuda. Eu poderei confiar neles para o que der e vier. E agora sabia que meu pai também estaria ao meu lado sempre que eu precisasse. Sorri, satisfeito, com a sensação de que finalmente eu tinha encontrado meu lugar no mundo. Mas que a verdadeira jornada estava apenas começando.


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Notas finais do capítulo

Mensagem ao leitor:

Pois é, pessoal, Escola de Guardiões chegou ao fim! E aí, gostaram da história? Escrevam nos comentários como foi a experiência de acompanhar Marcelo e sua turma até aqui.

Além disso, quero agradecer a todos vocês pelo apoio e por todos os comentários que a fic recebeu. MUITO OBRIGADO! Eu só consegui chegar até aqui por causa de vocês, podem acreditar. Abraços a todos e, novamente, obrigado!