Escola de Guardiões escrita por Tynn


Capítulo 16
Capítulo 14 - Disfarçados




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Liderar um exército contra a humanidade? Esse não é o pior dos meus pesadelos. Na verdade, eu estava sofrendo bem mais agora. O plano de Samyra para invadir o castelo era muito bom, mas eu precisava fazer coisas que nunca imaginei fazer antes. Como, por exemplo, despir um homem na frente das minhas duas aliadas.

– Eu realmente preciso tirar a roupa desses soldados? – Perguntei, olhando para os dois grandalhões que eu tinha nocauteado com a minha espada. Eles adormeciam no chão, alheios a tudo. Samyra cruzou os braços.

– Não é a roupa deles, é apenas a armadura. Você e Jorge deverão se passar pelos soldados e assim nós iremos entrar no castelo.

– E se eles não estiverem vestindo roupa de baixo? Eu nem sei se existe cueca nessa época! – Samyra olhou séria para mim. – Você por acaso está usando...

– Marcelo, deixa de ser mole e tira logo a roupa desse cara! – Natália esbravejou, de uma maneira que eu torcia para que nenhum amigo meu pudesse escutar (mesmo eles estando em outra dimensão).

Enquanto isso, Jorge retirava os prisioneiros da carruagem. Ele usou o seu tacape para quebrar a enorme fechadura e ajudava cada pessoa a descer de lá. A maioria estava bastante desnutrida e ferida, mas todos abriam um largo sorriso com o gesto. O rapaz agradecia educadamente. O último a descer foi um senhor bastante idoso, que logo explicou a Jorge o que havia acontecido. Depois que a rainha Samyra surtou (ou seja, que a bruxa malvada tomou o lugar da verdadeira rainha), as regras do reino mudaram. As pessoas passaram a pagar altíssimos impostos; o toque de recolher foi estabelecido para todos os cidadãos e os rapazes, a partir dos 14 anos de idade, deveriam se alistar para o exército. O sistema de escravidão voltou a funcionar, mesmo depois de 100 anos sem essa prática, fazendo os ladrões e malfeitores se transformarem em escravos humilhados. Quando o sistema carcerário não tinha mais nenhuma pobre alma para virar escrava, a falsa Samyra mandou comprar escravos de outros lugares. Diversos reinos aliados voltaram a aderir esta prática, influenciados pelo poder da rainha Samyra. Poucos eram as pessoas que viviam felizes no novo reinado.

Assim que eu despi o segundo guerreiro, que por sorte possuía roupa de baixos, nós nos juntamos perto da carruagem e Jorge nos contou toda a história. Lágrimas caíram dos olhos da verdadeira Samyra, que estava inconformada e sofria pelo seu povo.

– Não se preocupe, em breve essa bruxa receberá a punição que merece. – O bárbaro disse.

– Eu faço questão de dá um pé na bunda dela na frente de todo mundo. Eles vão chamar esse dia do Feriado do Desmascaramento da Bruxa Malvada. – Eu contei e pude ver um leve sorriso no rosto da rainha.

– Eu fico imensamente grata por todo o apoio que vocês estão me dando. Contudo, precisamos ser corajosos se queremos derrubar o reino. Tenho certeza que a bruxa já está esperando a nossa vinda, já que ela aparenta ter tanta influência. – Nós assentimos, esperando o resto do plano. – Eu e Natália vamos atrás, onde os prisioneiros estavam. Eu posso criar uma ilusão e fingir que existem algumas dezenas de pessoas presas além de nós duas. Você e Jorge devem ir na frente e agir como se fossem soldados ignorantes e cruéis. Lembrem-se de nunca se intimidar ou agradecer. Vocês são brutamontes sem coração.

Eu olhei para Jorge e ele fez o mesmo. Nos imaginar ferozes e malvados era meio difícil, mas precisávamos fazer isso pelo bem do nosso grupo. Natália nos lembrou que Zeca, provavelmente, estaria no calabouço junto com os outros prisioneiros do castelo. Deveremos fingir que não o conhecemos para não ter o disfarce revelado. Depois de todos concordarem com o plano, fomos para a nossa posição.

Eu peguei a armadura e coloquei sobre o meu corpo, que parecia minúsculo diante da minha nova vestimenta. O capacete era grande demais e eu não conseguia ver muito bem as coisas na minha frente. Ao contrário de mim, Jorge pareceu um verdadeiro soldado real com a armadura, que caiu perfeitamente bem em seu corpo. Imaginei se era assim que eles treinavam nas aulas de lutas medievais na Escola de Guardiões. Eu faltei às aulas práticas por motivo de forças maior (o celular não despertou). Samyra e Natália sentaram-se na jaula dos prisioneiros e eu vi, pelas reações de Jorge e Natália, que a ilusão de Samyra era realmente espetacular. Eu fui para a frente da carruagem, ficando ao lado do bárbaro.

– Todo mundo pronto? – Jorge perguntou.

– Sim! – Respondemos, e ele gritou um “IÁ!” para os cavalos.

A carroça finalmente estava em movimento.

Foram aproximadamente 20 minutos de viagem até vermos o castelo da rainha Samyra, onde uma enorme muralha protegia os habitantes da cidade. Em cada ponta da muralha, uma dupla de arqueiros se posicionava e mirava em qualquer coisa que se movimentasse. Nesse exato momento, todos os arcos apontavam para a nossa direção.

Eu engoli em seco e percebi o quanto estávamos ferrados. Se nosso plano desse errado, se de alguma forma eles percebessem a nossa farsa, não teríamos para onde correr. A barreira de Natália não dura para sempre. Eu tentei afastar esse pensamento, vendo que Jorge mantinha a posição séria dentro da sua armadura, que possuía vários amassados da batalha. Eu, por minha vez, estava inquieto dentro da minha, principalmente porque me esforçava para a luva não cair das minhas mãos de tão grandes que elas eram. A carroça parou em frente ao portão principal do castelo onde dois soldados nos encaravam.

– Er... – Comecei. – Bom dia.

Eles olharam para mim com estranheza. Acho que não era comum existir educação no novo reino.

– Estamos trazendo prisioneiros para a rainha Samyra. – Jorge falou pausadamente, como se planejasse cada palavra em sua mente.

– Salve a rainha Samyra! – Os dois soldados gritaram em uníssimo. Eu olhei curiosamente para Jorge, até que nos damos conta que precisávamos fazer o mesmo.

– Salve a rainha Samyra! – Gritamos eu e Jorge.

O soldado da esquerda olhou para a minha armadura, reparando os estragos em vários lugares. O elmo dele não permitia que eu visse a expressão do seu rosto, mas pelo jeito de caminhar, eu sabia que ele estava desconfiado de alguma coisa. Eu tentei sorrir, e o meu capacete quase caiu para frente. Tive que ser rápido antes que nosso disfarce fosse para o ralo. O soldado continuou andando até a parte de trás da carruagem, encarando os falsos prisioneiros.

– Vocês estão trazendo quantos escravos? E de onde?

– São cerca de 20 prisioneiros. – Jorge respondeu, rapidamente. – E viemos de...

– De Castlevânia! – Completei. Os dois soldados olharam para mim com espanto. Até mesmo Jorge parecia que ia me estrangular. – É, fica perto da cidade de Pallet. Vizinho do povoado de Townsville.

Os próximos segundos de silêncio me deixaram aflito. Eu sabia que tinha falado besteira, mas saiu na hora. O soldado que inspecionou a carruagem voltou para frente, onde me encarou demoradamente. Em seguida, estendeu a mão.

– São 20 moedas de prata, uma para cada prisioneiro. Esse é o imposto pago para entrar no reino com escravos. Vocês receberão a gratidão da rainha, então devem se sentir satisfeitos em contribuir.

Dessa vez, eu gelei. Nós não tínhamos moedas de prata nem qualquer coisa de valor que pudesse dar em troca. Tudo o que eu falei deixou os vigias do castelo desconfiados e eu pude ver os arqueiros sobre a muralha apontando para as nossas cabeças. Jorge manteve-se no papel dele durante todo o tempo, mas eu falei coisas que não devia. O outro soldado, parado como uma estátua durante esse tempo todo, tirava a espada da bainha lentamente. Estávamos fritos. Jorge já se preparava para pegar o seu porrete e atacar, quando escutamos o grito de Natália no fundo da carruagem.

– Ai, socorro! Minha irmã está passando mal, acho que uma criança vai nascer agora mesmo! Me ajudem, vocês não podem ser tão cruéis! Já aprisionaram meus irmãos, mataram meus pais! Salvem ao menos meu futuro sobrinho!

Eu pulei da carruagem no mesmo instante. A encenação foi tão boa que até eu acreditei ser verdade. Os soldados correram para trás da carruagem e ficaram atônitos. Depois começaram a girar a espada no ar ameaçando cortar os braços de Natália caso ela não fizesse silêncio. Eu vi que Natália balançava as grades da jaula e chorava (de verdade!), chamando a atenção de todos. De repente, as mãos de Samyra agarraram minha armadura.

– Tome, entregue esse saco para eles. – Ela sussurrou, aflita, e me entregou o objeto.

– Mas o saco está vazio.

– Está vazio para você que não consegue ver minhas ilusões. Agora volte para a carruagem e finja que sempre carregou esse saco contigo. Rápido!

Eu olhei para Jorge e fiz um sinal de legal com a mão direita, para dizer que tudo estava bem. Eu acho que os soldados não sabem o significado disso. Natália parou de fazer escândalo e se comportou dentro da jaula dos prisioneiros. Quando os guardas voltaram para o portão, eu mostrei o saco.

– Tome, aqui está o nosso pagamento. – Respondi, tentando imitar a voz grossa de Jorge. Ele segurou o riso.

O soldado, que estava mais desconfiado, pegou o saco e soltou uma gargalhada alta com o que viu.

– Isso tem bem mais do que 20 moedas de prata. Na verdade, tem mais do que eu vou receber durante minha vida toda! São moedas de ouro! De ouro! Entrem, entrem logo.

O portão se abriu ruidosamente e adentramos no reino mais triste de todos os tempos.


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Notas finais do capítulo

Lulu entrevista a equipe 8!

Lulu: Boa noite, pessoal! Estamos mais uma vez aqui no Vlog: Lulu entrevista! Pois é, vocês que achavam que duendes verdes e nerds não gostavam de youtube estão enganadíssimos! Hoje tenho o prazer de entrevistar a equipe 8!

(Aplausos gravados são ouvidos pelos convidados. Guilherme, Mariana e Lúcia entram no laboratório do cientista. Eles tomam cuidado para não derrubar a papelada nem apertar algum botão perigoso. Lúcia dá tchau para a câmera e banda beijos; Mariana sorri e faz reverência enquanto Guilherme cruza os braços)

Lulu: Guilherme, é verdade que você é um guerreiro?

Guilherme (mostra a espada): Sim.

Lulu: Mas que seu sonho sempre foi ser um bárbaro?

Guilherme: Quem te contou?

Lulu (olha rapidamente para Lúcia): Não fique assim, todos nós temos sonhos frustrados. Não é mesmo?

(Guilherme pula em cima de Lúcia e começa a balançar o ombro dela.)

Guilherme: Sua tagarela de meia tigela! Eu disse para você não abrir a boca sobre isso.

Lúcia: Me desculpa, eu juro que foi sem querer. Eu só twittei uma vez, mas pouca gente retwittou.

Guilherme: VOCÊ O QUÊ?

(Mariana puxa a varinha e cria uma muralha de cristal entre os dois)

Mariana: Por favor, vamos nos acalmar. Lulu, pode continuar com as perguntas.

Lulu: Bem... Er, acho que Guilherme não toparia responder mais algumas perguntas.

Guilherme (careta de raiva): ...

Lulu: Então vamos para a próxima convidada! A adorabilíssima Mariana! Soube que você é a curandeira mais inteligente de toda a escola!

Mariana: Eu só tirei notas acima de 9,6 em todas as disciplinas até agora. Não foi tão difícil assim.

Lulu: Você veio de uma nobre linhagem de curandeiros europeus?

Mariana: Sim. Meus pais são curandeiros e eles me treinam desde os 4 anos de idade. Eu nasci para isso.

Lulu: Que coisa boa! Agora eu quero saber de Lúcia, nossa querida mutante, qual foi o lugar mais inusitado que ela já visitou? Com o seu dom, aposto que pode ir para vários lugares legais.

Lúcia: Que bom que perguntou! Primeiro, quero dizer para todos os meus fãs que eu vou responder os comentários que fizerem para mim assim que eu chegar em casa. Ou que o vídeo for postado. Tanto faz! Então, eu já fui para o Japão, onde eu dei de cara com um festival lindo cheio de gente dançando e venerando uma espécie de dragão gigante, que eu não sei bem se era dragão de verdade porque eu vi um monte de pezinhos no chão. Aí, eu dancei com eles e...

(Mariana se levantou da cadeira e balançou a cabeça em sinal de reprovação)

Mariana (sussurrando para Lulu): Essa daí quando começa a falar, não pára nunca.

(Guilherme se levanta e sai da sala, batendo a porta com força. 5 minutos depois Mariana sai, deixando Lúcia falando com o duende. Depois de um tempo, o próprio Lulu se cansa)

Lulu (enquanto Lúcia fala sobre suas férias no Havaí): E assim encerramos o nossa entrevista de hoje! Até o próximo vídeo interessantíssimo do Lulu Entrevista!

Lúcia (tagarelando sozinha): E aí eu fui para o Alasca, onde eu encontrei um alce, daqueles bem grandes que aparecem nos filmes de comédia...