Escola de Guardiões escrita por Tynn


Capítulo 15
Especial: Capturando um comedor de doces - Equipe 8




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Um portal azul surgiu atrás da montanha russa do parque. Três jovens saíram do portal: uma garota de cabelos pretos, espetados em todas as direções; um jovem de aspecto sério; e uma menina muito nova, de 11 anos, usando um longo vestido de babado. Eles ficaram algum tempo olhando ao redor, para ter certeza que ninguém os viu chegar, e logo entraram em ação.

A garota de cabelo espetado desapareceu num piscar de olhos e surgiu no telhado de uma lanchonete. Ela procurou alguém entre as várias pessoas que comiam na praça de alimentação até encontrar algo interessante correndo perto do carrossel. A menina se teletransportou de volta para os seus aliados.

– O que você achou, Lúcia? – Guilherme quis saber.

– Existe um monte de gente comendo sem parar naquele lugar. Nossa, tinha tanta comida: cachorro-quente, coxinha, refrigerante... E eu pude reparar em um casal de namorados que não paravam de brigar! Veja só que absurdo? – Ela contava tudo muito empolgada, andando para o lado e para o outro.

– Santa paciência! – O garoto bufou.

– Calma, Gui. Você sabe como a nossa amiga é hiperativa. – A mais nova, meiga como uma boneca, puxou as mãos de Lúcia. – Por favor, Lúcia, você poderia me dizer se viu o Magnusi?

– Aquele bicho de quatro patas que corre como um cavalo, mas que gosta de roubar doces dos outros? Eu o vi pegando um pirulito de uma criança e depois correndo para outro lugar. O bicho é feio, viu! Tem a pele meio verde e um focinho de lobo.

Guilherme saiu correndo em direção à praça de alimentação, passando por vários arbustos. Ele usava um sobretudo preto que escondia a longa espada presa em suas costas. A garota mais nova, Mariana, segurou na mão de Lúcia e as duas desapareceram dali, surgindo na frente de um fliperama. As pessoas olharam para elas com surpresa, até que viram um grupo ainda mais bizarro fantasiados de bichinhos de pelúcia ambulantes. Deduziram que as alunas da escola de guardiões faziam parte do entretenimento local.

Não demorou muito para que Guilherme passasse pelas duas, com a mão direita segurando o cabo da espada e seguindo o Magnusi, uma criatura de outro mundo capaz de fazer tudo por um pouco de doce. Inclusive de roubá-los das crianças indefesas. O rapaz se desviava das pessoas com agilidade, acompanhando o ritmo da criatura que parava de tempos em tempo para roubar um pouco de açúcar.

– Lúcia, me leve para a barraca de algodão doce! – Mariana pediu a sua amiga mutante.

– Claro. Eu só não estou com dinheiro para comprar um pouco para você. Se quiser, posso passar no meu cartão de crédito, não sei se ele aceita.

– Por favor... Vamos logo.

As duas sumiram repentinamente e reapareceram no local planejado. O Magnusi saltou para o lado direito da praça de alimentações, correndo exatamente para a barraca de algodão doce. Mariana sorriu, pois sabia que aquela criatura não resistiria uma guloseima tão saborosa. Ela mesma era fã de algodão doce.

A cada passo que a criatura dava, Lúcia ficava ainda mais agitada. Ela se teletransportou para inúmeros lugares do parque em apenas 3 segundos, o tempo suficiente para o plano da pequena Mariana entrar em ação. A menina puxou uma varinha de condão do bolso do vestido, ficando ainda mais delicada, e balançou-a no ar. Uma imensa parede cristalina surgiu na sua frente, como um escudo em forma de muralha, tão transparente quanto o ar. O monstro não reparou o escudo feito pela curandeira. O Magnusi bateu a cabeça com força na parede de cristal e caiu no chão, atordoado. Guilherme estava logo atrás e pulou para cima da criatura, prendendo-a com a sua espada. As pessoas ao redor aplaudiram com fervor a grande encenação. Todos elogiavam a ideia dos donos do parque de fazer uma peça teatral surpresa no meio da praça de alimentações. Lúcia surgiu ao lado de Guilherme e acenou para a multidão admirada. Mariana desfez a barreira mágica, correndo ao encontro dos dois.

– Lúcia, nos leve para um lugar isolado do parque. Daqui a pouco eles vão querer nossos autógrafos e nós não queremos chamar atenção. – A menina de 11 anos pediu.

– Tudo bem. – Lúcia disse. Ela surgiu ao lado de um menino que puxava um papel e uma caneta e assinou, voltando para a posição inicial. – Só um autógrafo porque eu sempre quis fazer isso. Acho que podemos sair daqui agora.

A mutante tocou no ombro de Guilherme, que se esforçava ao máximo para manter a criatura no chão, e segurou a mão de Mariana. Os três alunos sumiram num piscar de olhos e apareceram no fundo do parque, perto de uma cabine abandonada, onde não existia ninguém para vigiá-los.

Em poucos segundos, Lúcia se teletransportou para os pontos mais afastados do lugar e se assegurou do isolamento. Guilherme pressionou com força a cabeça da criatura no chão.

– Mari, pegue um pote do meu bolso e encharque a sua varinha com o líquido. O diretor disse que isso acalmaria o monstro.

Prontamente, a pequena puxou um frasco azul do sobretudo de Guilherme e o abriu, derramando o líquido na sua varinha de condão. O objeto mágico ficou brilhando intensamente, o que fez Mariana dançar de um lado para o outro como se fosse uma fada dos contos infantis. Só depois do olhar severo de Guilherme ela apontou a varinha para o rosto do Magnusi e lançou a magia. A criatura abriu a boca como se fosse espirrar e dormiu.

– Já foi tarde. – Guilherme comentou, soltando a criatura no chão. – Lúcia, ligue para escola e encomende um portal. Lúcia?

Ele olhou para os lados e não encontrou a companheira de equipe. Mariana a avistou primeiro e apontou para a pequena cabine abandonada a qual Lúcia puxava a maçaneta. Antes que eles pudessem avisar sobre o possível perigo, uma luz incandescente acendeu-se dentro da cabine e uma velha senhora, com roupas de cigana, apareceu atrás da porta.

– Boa noite, aventureiros. Vejo que vocês estão tão perdidos quanto às demais pessoas desse mundo. Querem um pouco de esclarecimento?

A mutante de cabelos espetados quase saltou de alegria com o convite. Ela passou correndo pela cigana e entrou na cabine. Guilherme bufou de raiva.

– Onde Lúcia está com a cabeça? Ei, cigana, solte a nossa amiga! – O guerreiro alertou, apontando sua espada no pescoço da mulher. – Ela é ingênua, não sabe o que faz.

– Nem você. – Argumentou Mariana. – Vamos, a cigana tem um bom coração. Eu posso sentir isso. Já você... Tenho minhas dúvidas.

Dando leves pulinhos, a mais nova do grupo foi até a cigana e fez reverência, se curvando e puxando o vestido com as pontas do dedo. Em seguida, entrou na cabine. Guilherme jogou o Magnusi no chão e seguiu as duas companheiras de equipe, apesar de ter certeza de aquilo ser uma armadilha. A cigana sorriu simpaticamente para ele e fechou a porta, quando todos entraram.

O lugar era apertado. Existia uma grande bola de cristal sobre uma mesa redonda, enfeitada de estrelas dos mais variados formatos. Cortinas violetas e azuis cobriam todas as paredes e existiam apenas duas cadeiras: uma para a cigana e outra para o seu cliente. Mariana perguntou se poderia se sentar e a cigana concordou. Mesmo naquele espaço miúdo, Lúcia se teletransportou umas cinco vezes até parar quieta no canto, olhando para a bola de cristal, desabafando:

– Eu sempre quis ter um negócio desses para mim, mas meus pais não queriam comprar. Você me disse que estávamos perdidos, não foi? Sabe, algumas vezes eu me sinto assim.

– Todos nós nos sentimentos. – Completou Mariana, concordando com a mutante.

– Eu vou contar para vocês uma história sobre como o mundo está mudando. Tudo começou quando um garoto misterioso encontrou uma criatura de outro mundo, sendo atacado por ela ferozmente. O garoto sobreviveu, mas outro teve que pagar seu preço.

Na bola de cristal, a imagem de Zeca sendo arrastado para um portal por um Largato-Come-Lixo apareceu. Mariana, Guilherme e Lúcia ficaram espantados, pois todos o conheciam muito bem.

– Esse garoto misterioso é muito especial. Todos os têm chamado como o menino do portal, contudo ninguém sabe ao certo quem ele é. A espada de Éron, uma das mais sagradas do mundo, decidiu que ele merecia tê-la. O garoto partiu para uma jornada perigosa, onde apenas o caos o encontrará no fim. Felizmente, foi com a companhia de outras duas criaturas igualmente importantes para essa trama, mas que não farão tanta desgraça quanto o menino do portal.

A imagem mudou outra vez, mostrando Marcelo, Jorge e Natália caindo do céu até uma tribo canibal, que os tentava atacar com lanças e flechas. Os três estavam protegidos pelo escudo mágico de Natália.

– A coragem fez com que ele salvasse a rainha envelhecida, com sua bravura e um pouco de rebeldia. A mistura entre tecnologia e natureza selvagem trouxe certo desconforto para os grandes sábios, mas eles são pacientes. Nada farão contra o menino do portal. O pior ainda estar por vir. Unindo-se com a rainha envelhecida, se aventuraram no mundo em busca do Mago Crispim, aquele que revelou os verdadeiros poderes da rainha e da espada de Éron.

A sucessão de imagens na bola de cristal foi rápida: Gustavo encontrando Samyra na oca dos indígenas; um celular no chão tocando música de rock; flechas e lanças tentando atacar os fugitivos; fadas coloridas tingindo a água de várias cores; o duelo entre uma árvore gigante e Jorge; Samyra mudando a sua forma na frente do espelho.

– O destino do garoto já está selado. Ele encontrou inimigos, os derrotou, mas existe algo que está além de suas forças: a sua própria índole. Agora que soube da verdade pela Mística de Floresta Encantada, só Deus poderá dizer o que acontecerá. Digo-vos logo que o futuro desse pequeno garoto não será bom. Ele carrega algo mais pesado do que pode aguentar e temo que o mundo ficará sabendo disso em breve. Vocês precisarão escolher em que lado ficar antes que sejam empurrados para uma única direção. Eu vos faço o convite: fiquem comigo. Eu sei de um lugar seguro, longe de todo o caos que irá surgir. Venham, venham comigo.

A cigana estendeu a mão para Lúcia, que quase a tocou se não fosse a barreira invisível que surgiu entre as duas, derrubando a mesa e fazendo a bola de cristal cair no chão. Mariana estava em pé com a sua varinha de condão, vendo Guilherme cortar as cortinas que ganhavam vida e agora tentavam-no pegá-los.

– Desculpa, Guilherme. Eu não sabia que isso ia acontecer. – Mariana falou, agitando Lúcia para que ela despertasse. – Lúcia, você precisa nos tirar daqui agora!

– Suas crianças perversas! Eu estou tentando salvá-los desse mundo cruel! Faço isso pelo bem de vocês, não sejam rebeldes.

Cortinas azuis viravam mãos e tentavam segurar o guerreiro, que lutava com todas as suas forças. A cigana estava presa contra a parede de cristal. Lúcia, com um olhar distante, começava a ficar mais esperta. Ela havia caído nos encantos da cigana e estaria disposta a abandonar a escola de guardiões, se não fosse o sacolejo de Mariana.

– Lúcia, nos tire daqui! Agora!

Foi o tempo de abrir e fechar os olhos. Os três já estavam do lado de fora, com a mutante segurando o sobretudo de Guilherme. O rapaz ainda dava espadadas no ar, crente que as cortinas estavam ali, até se dar conta de que estavam do lado de fora, junto com o Magnusi desmaiado. Mariana, com suas mãos delicadas, digitou o número de emergência e um portal azul surgiu ao lado deles, em poucos minutos. Guilherme carregou o Magnusi pelo ombro e esperou as duas garotas entrarem no portal primeiro. Ele ainda escutou os gritos da cigana de dentro da cabine. Respirou fundo e entrou no portal, voltando para a Escola de Guardiões.


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Notas finais do capítulo

Ficha Técnica

Nome: Magnusi.
Peso: 15 a 20 quilos.
Comprimento: cerca de 1 metro da cabeça à cauda.
Onde vive: no cerrado e campos, principalmente próximo de pequenos bairros e cidades. Alguns são domesticados e vivem dentro dos lares ou nas ruas da cidade.
Mundo de Origem: Shiruhana
Alimentação: pirulito, confeito, bolo, paçoca, torta, chocolate, mousse ou qualquer coisa doce e bastante saborosa. Os animais que vivem isolados no mato (raros nos dias atuais) se alimentam de frutas e sementes.
Filhotes: Até 6 filhotes por gestação.
Curiosidade: É comum em Shiruhana as pessoas adotarem os Magnusi como um cachorro doméstico. Contudo, as criaturas que não têm dono costumam vagar (até mesmo em outras dimensões) em busca de alimento. Eles fazem tudo por doce e possuem o focinho no formato de lobo como adaptação para ameaçar as presas. No mundo terráqueo, as pessoas tendem a confundi-lo com um Huskys Siberiano maltratado, magro e tingido de verde.