Escola de Guardiões escrita por Tynn


Capítulo 12
Capítulo 11 - Mago Crispim




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A sala do mago Crispim possuía um grande caldeirão no centro, ao qual saia uma fumaça cinzenta. O teto era abobadado e bastante alto, com uma fissura para permitir a saída da fumaça. Nas paredes existiam várias prateleiras e armários contendo os mais variados tipos de poções e ingredientes mágicos, além de uma estante repleta de livros antigos. O mago estava sentado em uma cadeira de três pernas, encarando Samyra. Eu entrei no meio da conversa entre os dois.

– O que a senhorita me pede é impossível.

– Eu terei que ser uma velhinha para sempre?

– Não foi isso que lhe informei. Pediste para que eu a transformasse na rainha Samyra novamente. Este feito não será realizado. Todavia, a senhorita ficará como velhinha se quiser.

– Eu não entendo!

O velho mago levantou-se da cadeira e foi até uma prateleira, procurando uma poção específica. Ele puxou um vidro de cor âmbar e o mexeu próximo ao rosto, vendo a coloração ficar mais intensa. Voltou para frente de Samyra. Ela imaginou se teria que tomar aquilo, até o mago molhar as pontas do dedo com o líquido.

– O problema não está na pedra de safira verde. – Ele passou o dedo molhado na testa da garota. – Está na tua mente. A senhorita colocou na cabeça que é uma velha e a pedra de safira respondeu obedientemente. Se pedir para se tornar jovem novamente, assim acontecerá. A feiticeira negra não te deixou confinada neste corpo, apenas roubou a sua aparência atual. Os outros verão o que tu quiseres, exceto a aparência da rainha Samyra, pois aquele corpo agora pertence a bruxa.

– Você está me dizendo que a feiticeira me deu um colar mágico? Ela não pensou que eu poderia, de alguma forma, aprender a usá-lo?

– As pessoas ambiciosas tendem a menosprezar os seus inimigos. Prove a ela o teu real valor e o feitiço será lançado contra o feiticeiro.

A garota levantou-se destemida. O mago mostrou um antigo espelho, onde Samyra poderia ver como estava na forma ilusória. Eu aproveitei para espiar levando um susto. O reflexo da garota era horrível, parecia uma senhora de orelhas grandes e cabelo desgrenhado. A moça tocou levemente as mãos no colar, fixando à mente a imagem a qual queria ser. Aos poucos, os cabelos brancos ficaram loiros como o sol, a pele deixou de ser flácida e sua altura diminuiu. Ela estava jovem, uma garota com 16 anos. Olhos negros, nariz pequeno, cabelo cacheado. Até mesmo as suas roupas mudaram, adquirindo um vestido cor anil. Entretanto, o colar de safira continuava amostra, por mais que ela desejasse cobri-lo com novas vestimentas.

– Um detalhe para lembra-la de que esta não é a sua verdadeira forma. Por mais que mude de aparência, o colar nunca desaparecerá.

– Como eu faço para recuperar minha verdadeira identidade?

– Ao fazer a maldição, a feiticeira deve ter ficado com algum item teu, talvez um pedaço do teu cabelo. Assim como o colar, ela precisa de uma joia a qual fique permanentemente em seu contato. Pegue a joia e a maldição acabará. Quebre a joia e a própria bruxa chegará ao fim. A senhorita não reparou, mas a cada dia parte da sua juventude está sendo retirada. A feiticeira negra é conhecida por roubar a juventude das pessoas.

O mago virou-se e começou a procurar um livro antigo, abrindo em uma página qualquer e lendo entusiasmado. Por um momento, pensei que ia procurar alguma coisa importante para a conversação, até ter certeza de que eu ainda não tinha sido reparado. Samyra estava radiante com o novo poder, apesar de querer mais do que tudo acabar com aquela feiticeira. Eu, por outro lado, queria achar Zeca e voltar logo para casa.

Percebi que precisaria chamar a atenção do velhote, por isso acenei. Fui novamente ignorado. Samyra deu de ombros, sem saber o que fazer.

– Velho Crispim! Velho Crispim! – Gritei.

A minha voz deve ter chegado sorrateiramente, pois o mago ainda passou um bom tempo me ignorando. Só então pareceu se lembrar de alguma coisa e olhou para mim, descendo um par de degraus que nos afastava do caldeirão. Ele apertou a minha mão, sorridente.

– Minha nossa, como tu cresceste! – Falou, fitando o meu corpo da cabeça aos pés. – A tua mãe ficaria orgulhosa de ver-te tão saudável, meu jovem! Apesar da falta de músculo, tu estais bem conservado. Veja só o que carregas!

O maluco pegou a minha espada e começou admirá-la. Eu estava atônico, o que ele quis falar com isso?

– Você me conhece? Conheceu a minha mãe?

– Como não? Todos do reino conheciam a incrível magia da feiticeira... Como era mesmo o chamamento dela? Feiticeira bondosa! Ou era amorosa? Tanto faz, senhor! O que importa é que esta é uma legítima espada de Éron!

Samyra olhou pasma para mim. Eu também não sabia dessa história. Fui atrás do mago, que agora caminhava para a fogueira. Ele colocou a espada no meio do fogo e deixou-a lá, esperando não sei o quê.

– A minha mãe era uma feiticeira?

– Para de repetir o que eu falo, criança! – O mago puxou uma espada em chamas da fogueira. A lâmina dela não estava derretendo, mas sim pegando fogo, literalmente! Era como se tivesse adquirido a capacidade de soltar labaredas. – Muito interessante.

Ele balançou a espada até o fogo sumir completamente, depois caminhou para um jarro com água no chão. Enfiou a espada dentro do mesmo e a puxou, agora completamente molhada. A espada começou a ficar deforme, tornando-se líquida até se desmanchar no chão.

– O que é... Velho Crispim, você sabe como a minha mãe morreu?

Ele parou de súbito. A lâmina da espada voltou a ser sólida, como o ferro; o mago passou um tempo admirando-a. Pensei que iria falar um pouco mais sobre o passado da minha matriarca, mas ele voltou a andar de um lado ao outro, dessa vez enfiando a espada em um buraco na parede. A lâmina ficou marrom como a terra e rachaduras surgiram nela. O mago finalmente entregou-a para mim.

– Não tentarei a habilidade relativa ao ar, já que será difícil recuperá-la quando estiver dispersa. Use-a com cuidado, meu jovem. Honre o sangue que corre nas tuas veias.

– Você pode parar de me ignorar? – Eu gritei. O mago ficou sério, encarando meu rosto. – Preciso saber o que aconteceu com a minha mãe. Até ontem ela era uma pessoa normal, que havia morrido em um acidente de carro. Agora você vem me dizer isso?

– Acidente de cavalo? Foi isso não, meu jovem. Tua mãe era forte, nunca iria morrer por causa de algo tão banal. Infelizmente, não sou a pessoa mais indica para revelar estas informações. Preciso que vós saiais daqui, estou querendo fazer algumas poções novas. Use a espada de Éron com sabedoria e lembre-te que o maior poder está dentro do teu coração.

Eu precisava saber mais sobre minha mãe, entretanto Samyra insistiu para irmos embora. O mago havia nos ensinado várias habilidades poderosas, não poderíamos exigir mais dele. Luc estava na porta e esperou que nós saíssemos para fechar tudo. Eu e Samyra caminhamos até a sala, onde Natália e Jorge esperavam impacientes. Eles levaram um susto ao ver a nova aparência de Samyra, que para mim continuava com a mesma aparência de quando a conheci. Nós nos sentamos; eu contei toda a história, desde a habilidade da minha espada até a parte sobre a minha mãe.

– Então ela era uma feiticeira... – Natália repetiu. – Isso faz sentido. Deve ser por isso que a bruxa quer você. Existe algo que você tem muito importante. A sua mãe não deixou nenhuma joia ou presente?

– Nada. – Retruquei. – Não consigo nem imaginá-la como uma feiticeira.

– Qual era o nome dela? – Samyra perguntou.

– Margarida.

– Esse deve ser o nome terráqueo. – Jorge anunciou. – Ela com certeza tem outro nome por aqui, algo mais feio.

– Então os nomes daqui são feios? – Samyra reclamou. - Você se chama Jorge!

– Jorge é um bom nome, fique sabendo!

Luc apareceu todo sorridente. Ele esperou que fizéssemos silêncio para anunciar a boa-nova:

– O mago Crispim quer convidá-los a passar a noite conosco. Podem jantar fartamente e dormir nos quartos de hóspede, que ficam no primeiro andar. Existem roupas e água morna para todos! Aproveitem a estadia!

A ideia de adiar a ida ao castelo para o outro dia não era boa, mas a lua já estava se impondo no céu, indicando o fim da claridade. Chegamos ao consenso que ficaríamos ali apenas mais um dia, tempo de descansar e recuperar a energia gasta com a caminhada. Cada um possuía um quarto bastante velho e empoeirado. Os mais importantes, entretanto, era a cama fofinha e os lençóis para nos cobrirmos. Eu aproveitei para tomar um bom banho, trocar de roupa e usar uma calça bege que me fazia parecer um matuto desajustado. Todos trocaram a roupa para usar as vestimentas locais, uma vez que entrar no castelo com calça jeans nos faria alvos fáceis.

A mesa do jantar estava farta, com frango assado, várias opções de frutas e pães. Eu comi o máximo que podia, assim como os demais. O mago Crispim não saiu da sala de poções nenhum momento, deixando-nos apenas na companhia simpática de Luc. Comemos tudo com ferocidade e capotamos na cama, cientes de que o outro dia seria ainda mais desafiador.


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