A princípio foi um leve encostar de lábios, mas para minha surpresa (e secretamente satisfação também) ele começou a aprofundar o beijo. A língua dele pediu passagem e eu cedi sem nem mesmo perceber direito. Quando me dei conta meus braços já enlaçavam o seu pescoço enquanto uma das mãos dele segurava firmemente em minha cintura e a outra em minha nuca trazendo-me cada vez mais para perto dele. Parecia que não havia mais nada no mundo além de nós. Era como estar presa em um “transe.” Então eu acordei deste “transe.” O cara com que eu estava me agarrando era responsável pela morte de minha irmã. Isso não podia estar acontecendo.

Tentei afastá-lo de mim, mas ele apenas emitiu um gemido de frustração em meio aos meus lábios. Tentei mais uma vez com mais força e mais decidida e então ele parou. Os grandes e intensos olhos negros dele me encaravam de maneira irritada.

– Chega – consegui dizer em um murmúrio – Vá embora.

– Éh? E por quê? Você parecia estar gostando – disse ele enquanto beijava meu pescoço.

– Não. Eu não estava. Então pare com isso! – menti. Sasuke me olhou com raiva e então me largou e caminhou em direção a porta.

– Você não é mais a mesma, Haruno – disse Sasuke antes de ir embora e me deixar sozinha. Quando ouvi o barulho da porta batendo um nó pareceu ter se formado em minha garganta e algo se quebrou dentro de mim. Corri para meu quarto e assim que tranquei a porta escorreguei e caí no chão frio. E foi ali que fiquei com o meu coração destroçado e me afogando nas minhas próprias lágrimas.

Acordei com um barulho estranho vindo de trás da porta. Levantei-me do chão onde eu havia adormecido sem nem mesmo perceber. Droga. Passei a mão pelo rosto tentando em vão limpar as marcas que as lágrimas haviam deixado e destranquei a porta.

Fui até a cozinha, mas não havia ninguém. Foi então que descobri quem era a responsável pelo barulho que me acordara: Ino. Recostei-me na porta do quarto dela enquanto observava tudo de forma confusa. As portas do guarda-roupa estavam abertas e não havia mais nada ali. Havia malas em cima da cama. Ino estava fechando a última delas.

– O que está fazendo? – perguntei. Ino se virou assustada, ainda não havia me notado no quarto até aquele momento.

– Sakura... – começou a dizer de maneira... Apreensiva – Não esperava vê-la acordada esta hora... O sol nem nasceu ainda...

– O que diabos são essas malas? – perguntei ignorando o que ela havia dito. Aquilo não podia ser o que eu estava pensando... Podia?

– Estou indo embora, Sakura – Ino respirou fundo antes de continuar – Eu falei com meus pais... E eles disseram que me aceitam de volta. Que estão felizes por eu querer voltar. Disseram que vão até me ajudar a encontrar um bom emprego. Mas... Mas para isso eles querem que eu corte todos os meus laços com você.

– Ino... –comecei, mas ela me interrompeu.

– Sakura, me escuta, tah?! Sei que você acha que meus pais me expulsaram de casa sem motivo algum, mas não foi isso que aconteceu. Eles me expulsaram porque eu era sua amiga. E alguém da nobre família Yamanaka não deveria ser amiga de uma bruxa. E desde então eu me transformei em uma renegada. As pessoas desta vila olham para mim e tudo que vêem é “a maldita amiga da bruxa.” Eu cansei disto! Quero minha vida de volta! Você pode continuar nesta vida de renegada, mas eu não. Isso não é para mim.

– Você nunca deveria ter falado comigo. É isso que você quer dizer, Ino? Que se arrepende de ter me conhecido?! Que alguém de uma das três famílias mais nobres da aldeia não deveria interagir com uma cidadã qualquer?Com uma “bruxa”?! – gritei

– Sakura...

– Não me venha com isso! Admita que é isso mesmo!

– Tem razão. Eu me arrependo todos os dias por ter sido sua melhor amiga por todos estes anos. Eu nunca deveria ter falado com alguém tão inferior. Mas isso acaba aqui. Estou deixando qualquer traço de nossa amizade para trás. Estou cortando todos os meus laços com você. Não vou mais deixar você desgraçar minha vida!

– Desgraçar sua vida...? Do que está falando?!

– De tudo, sua bruxa!

– Sinceramente, Ino, você me dá nojo. No final você é igual a todos os outros. Não passa de uma garota fútil e mimada!

Ino me olhou uma última vez antes de pegar suas coisas e ir em direção a porta. Não ousou olhar para mim quando passou por mim. Fui atrás dela, mas parei quando cheguei à sala. Ino estava parada em frente à porta. Sem olhar para mim, disse:

– Você sabia Sakura, que quando meus pais me expulsaram de casa eu estava noiva de Sasuke Uchiha? Eu havia sido considerada a melhor mulher da aldeia para se casar com ele. A única digna disso. Eu não sentia nada por ele além de amizade, mas estava feliz por ser digna de se casar com um Uchiha. Eu nunca te disse nada porque tinha medo de te magoar. Mas no segundo mês de noivado, faltando cinco meses para o casamento que já havia sido marcado eu me recusei. Eu disse que não me casaria com ele. Disse que não queria ele como marido. Mas a verdade é que só fiz isso porque tinha visto a forma como você olhava para ele. Eu tinha certeza que você o amava. Minha mãe percebeu isso. No dia seguinte eu fui expulsa de casa e com o passar do tempo acabei me envolvendo com o Itachi. – ela fez uma pausa – Já que vou reconstruir minha antiga vida, quem sabe não acabo me tornando noiva do Sasuke de novo? Eu iria adorar me casar com ele.

Quando Ino foi embora meu coração pareceu ter se partido mais ainda. Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto novamente.

Minhas pernas fraquejaram e eu caí de joelhos.

Estava sozinha. Não havia mais ninguém com quem contar.

Não havia mais motivo para me manter viva.

Senti meu corpo batendo contra o chão antes de tudo escurecer a minha volta.

Eu realmente não tinha mais por que viver.