Caminhava pela floresta enquanto cantarolava baixinho junto com os pássaros. Havia levantado assim que o sol despertara no horizonte para vir colher ervas na floresta. E também para uma caminhada matinal. Fazia duas semanas desde que Sasuke viera me procurar para falar sobre Karin. Desde então ele não fizera mais contato, e, seguindo seus conselhos eu não o procurara.

Suspirei baixinho enquanto passava por umas árvores que escondiam um pequeno riacho e pousando a cesta com ervas de lado, sentei-me lá na beira e coloquei meus pés na água. Ah! A sensação relaxante que aquilo me trazia... Fazia-me esquecer minhas preocupações!

Embora tudo aquilo fosse ótimo eu não me demorei muito ali, logo peguei minha cesta e encaminhei-me para casa. Ino já havia se recuperado fisicamente, mas emocionalmente... Bem, aí as coisas já começavam a se complicar. Eu a ouvia chorar todas as noites durante a madrugada pelo filho que perdera, e todas as manhãs ascendia uma vela assim que acordava e começava a chorar de novo. De qualquer maneira, eu evitava deixá-la sozinha durante muito tempo.

Não demorou muito para que eu chegasse em casa, encontrei Ino sentada a mesa da cozinha tomando chá. Exausta pelo tanto que andei acabei me juntando a ela também.

– Sakura...- começou, hesitante, Ino.

– Sim...? – perguntei, também de forma hesitante.

– Eu... Eu resolvi que vou sair hoje para procurar trabalho. Quer dizer, precisamos nos sustentar, se eu não arranjar um emprego... De onde arranjaremos dinheiro para por comida na mesa e pagar as contas? Sei que não vai ser fácil, mas... Talvez isso acabe ocupando minha cabeça... Talvez....

–Ino, entendo o que você quer dizer, mas... Você acha que vai ser fácil? Acha que alguém lhe dará um emprego tão facilmente depois de todos estes escândalos? Quem empregaria uma bruxa? Ou alguém que convive sob o mesmo teto que uma?

– Eu sei, Sakura, eu sei! Mas é que já estou cansada disto tudo! É “bruxa” pra cá e “bruxa” pra lá! Até agora tudo o que fizemos, tudo o que eu fiz, foi ficar agüentando tudo isso! Mas pra mim já chega! Meus pais me expulsaram de casa, perdemos a Sarah, e tiraram meu filho de mim antes mesmo de ele nascer! Não posso mais simplesmente ficar parada sem fazer nada. Eu vou reconstruir minha vida. Não quero mais ao ouvir as pessoas me chamarem de “aprendiz de bruxaria” ou de “ei, olha lá, é a amiga da bruxa”. Vou arranjar um emprego para ME sustentar e vou pedir desculpas aos meus pais. Vou tentar restabelecer meus laços com eles.

– Ino... Eu entendo tudo isso. Eu passo por isso todos os dias, também. Mas... Você não pode simplesmente decidir recomeçar e pronto. As coisas não são tão simples assim. As pessoas não vão esquecer as coisas de um dia para o outro. Hoje se você for pedir emprego às pessoas ainda a chamaram destas coisas. Você ainda vai ser “a amiga da bruxa”. E seus pais... Eles te expulsaram de casa, Ino. Te expulsaram de lá sem você ter feito nada que justificasse. Acha mesmo que eles vão ficar felizes em verem você por perto?

Ino me olhou furiosamente por alguns minutos antes de sair batendo a porta atrás de si. Suspirei cansada. Droga, As coisas pareciam só se complicar. Levei um susto quando apenas alguns minutos depois alguém bateu a porta. Cautelosamente fui atender e dei de cara com um garotinho ruivo, cheio de sardas e todo sorridente, que deveria ter apenas uns 6 anos.

– Olá...? – disse eu de forma confusa e hesitante. Crianças não costumavam bater a porta de casa, os pais as amedrontavam com suas malditas histórias de bruxas.

– Pediram para te entregar isto. – disse o garotinho enquanto me entregava uma pequena folha de papel dobrada, e então saiu correndo em disparada.

Ainda mais confusa fechei a porta atrás de mim e sentei-me no sofá da sala. Desdobrei o papel e senti um sorriso se formar em meus lábios conforme eu o lia.

“Cara Sakura,

Tenho um plano para acabar com Karin e pretendo colocá-lo em prática o mais rápido possível. Sua ajuda será altamente necessária para o sucesso deste, admito dizer que sem ela talvez tudo falhe.

Precisamos nos encontrar. Me espere amanhã bem cedo na floresta, terá de antes mesmo que o sol nasça para que ninguém nos veja. Não podemos correr riscos.

P.S: Queime esta carta assim que a ler. Não quero deixar pistas para trás.

De seu odiado Uchiha,

–Sasuke.”

Seguindo as instruções de Sasuke, fui até a cozinha e queimei o pequeno bilhete. Então ele tinha um plano e precisava muita da minha ajuda. Não pude deixar de ficar curiosa com isso, afinal, no que ele precisaria da ajuda de um bruxa, certo? E mesmo me odiando com todas as minhas forças, sorri ao pensar nisto.