No escuro da floresta o único som que se ouvia era o dos meus próprios passos e os pássaros. Tudo calmo. Suspirei, cansada. Como eu invejava aquela calma, aquela tranqüilidade. Fechei os olhos por alguns instantes tentando me lembrar quando havia sido que minha vida se transformara naquela confusão. Quando foi que tudo se complicou tanto? Eu já nem sabia mais...

Apressei-me mais um pouco ao ver que logo o sol nasceria e eu teria que estar em casa, Ino estava dormindo e nem poderia sequer desconfiar que eu houvesse saído no meio da noite, mas, é que depois de me recordar de Mikoto... Havia um lugar que precisava ver.

Parei em frente à cortina de flores que recobria a entrada da árvore robusta, passei por ela adentrando o interior do vegetal. Respirei fundo inalando aquele ar puro. Sentei-me ali no chão em frente a uma pequena lápide recoberta de flores mortas. No meio de tudo aquilo eu havia esquecido de colocar flores novas.

– Como vai, mamãe? – perguntei para a escuridão. Ali havia sido onde eu havia criado um pequeno lugar memorial para a alma de minha mãe, eu sentia a falta dela e precisava de um local em que eu pudesse ao menos criar a ilusão de sua presença. Às vezes só precisamos de um abraço apertado de nossa mãe. Naquele momento eu precisava de conselhos. E, ah, meu Deus, estava tudo tão confuso. Tão complicado. Tão doloroso.

– Eu sinto muito, mãe. Eu falhei com a senhora e falhei com Sarah também. Não consegui salvá-la e nem sequer estava na vila quando Sarah se foi. – senti as lágrimas turvando minha visão – Eu prometi para você que cuidaria dela. Mas eu falhei. Eu sinto tanto, mas tanto. Perdão. Por favor, me perdoe.

Respirei fundo tentando manter o controle. Não era fácil dizer aquilo para minha mãe. Quer dizer, para a lembrança dela.

– Mas a senhora já deve saber disso. Está cuidando de Sarah aí em cima, não éh? Também deve saber que Mikoto... Tia Mikoto – me corrigi ao me lembrar de minha lembrança – também está morta. Ela também deve estar aí com você não, éh? Vocês já devem estar colocando as conversas em dia e tomando chá, como antes.

Mais lágrimas mancharam meu rosto em minha frágil tentativa de fingir que tudo estava normal. Meu Deus, como eu queria poder fugir dali, como eu queria que alguém me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem. Que era só um pesadelo e que ia passar. Porque era tão difícil ser forte? Imaginei braços me envolvendo em um abraço caloroso. Ali dentro me senti mais segura do que jamais me senti. “Tudo vai ficar bem” uma voz rouca sussurrou em meu ouvido “Eu estou aqui para você. Sempre vou estar.” Ao olhar por cima do ombro levei um susto ao perceber que quem me abraçava era Sasuke Uchiha. Balancei violentamente a cabeça e abri os olhos afastando de minha cabeça o que acabara de imaginar. Aquilo estava errado. Visualizei uma última vez aquele maldito sorriso de canto dele que me deixava tão feliz antes de estilhaçar a imagem. Não. Ele era meu inimigo. E eu não ia me apaixonar por ele.

– Prometo que vou me vingar, mamãe. – murmurei antes de sair correndo lá.

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– Então é verdade? – perguntou-me Ino. – Saí para comprar umas frutas e... A cidade inteira está comentando sobre a morte da matriarca dos Uchihas. Ninguém sabe o motivo. Todos estão chocados e os próprios Uchihas não foram vistos desde que a notícia se espalhou. Quer dizer, eles não falaram nada no funeral e simplesmente foram embora. Ninguém sabe o que pensar. Nem eu, a propósito.

Suspirei pesadamente antes de levar a xícara de chá a boca. Então Ino havia finalmente descoberto que Mikoto havia morrido.

– Ela era uma boa pessoa. – murmurei

– O quê? – perguntou Ino, surpresa – Você está falando bem de um Uchiha? Está lamentando a morte de um deles?!

– Mikoto era a melhor amiga de minha mãe, Ino – disse tristemente – Eu não conseguia me lembrar antes, mas agora as lembranças são bem vivas. Ela vinha sempre visitar a gente em certa época começou a trazer o Itachi e o Sasuke. Ela não é como Fugako. Assim como Itachi e Sasuke também não eram. Consegue se lembrar de quando eles brincavam com a gente? Éramos tão amigos...

– Eu lembro. – uma pausa – São as únicas lembranças boas que ainda tenho. Uma época em que não ligávamos para “bruxa” e ninguém pensava em morte.

– Quando foi que tudo mudou, Sakura? – perguntou-me Ino. Demorei alguns segundos para finalmente dizer alguma coisa:

– Eu não sei Ino. Eu não sei...

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– O que faz aqui? – disparei. Uma semana depois da morte de tia Mikoto (é eu estava voltando a chamá-la assim) Sasuke estava parado a porta da minha casa enquanto Ino colhia ervas na floresta. Não havia sequer um resquício de dor em seus olhos negros. Sinceramente, eu não sabia o que ele estava fazendo aqui. – Veio me atualizar sobre mais alguma coisa de que estão me acusando por aí?

– Claro. Você andou matando coelhinhos agora. – ironizou ele, revirando os olhos. De repente ficou sério. – Não posso ser visto aqui. Não vai me convidar para entrar?

Dei um passo para o lado, abrindo passagem para ele que logo se jogou no sofá da sala, e bati a porta.

– Diga logo o que veio fazer aqui. – exigi.

– Vim avisá-la de que nosso trato está acabado. Não tenho mais interesse em acabar com Itachi. Meu alvo agora é outro: Karin Uzumaki.

– Eu já imaginava que você não fosse fazer nada quanto a Itachi mesmo. Sempre soube lá no fundo que você desistiria de acabar com ele. Nós nem chegamos a fazer alguma coisa contra ele. – disse de maneira tediosa. Entretanto algo se ascendeu dentro de mim. – Karin Uzumaki? A filha da vadia com quem seu pai traía sua mãe?

Pude notar que ele ficou tenso ao me ouvir falar sobre a traição de seu pai. Aproveitei a deixa para mais uma pergunta:

– Porque está me contando isso? Porque acha que vou ajudá-lo? Éh sua culpa Sarah estar morta! Sua e de seu irmão!

– Tem razão. Eu destruí a sua vida junto com meu irmão mais velho. Mas... Sarah foi enforcada como “bruxa”, o que significa que não carrega honra nenhuma na morte. Você não quer mudar isso? Posso te ajudar a mudar o julgamento. Não vai trazê-la de volta, mas ao menos vai limpar o nome dela. Com o tempo as pessoas se esquecerão de que ela já foi considerada uma bruxa. Ela seria apenas uma cidadã da aldeia que morreu injustamente.

– Está me propondo que...

– Que você me ajude a acabar com Karin. Em troca eu juro que nunca mais te perturbarão com esta história toda de “bruxa” e limparei o nome de sua Irmã mais nova. Você poderá recomeçar, junto com sua amiguinha, Ino, e nunca mais precisará agüentar todos estes insultos. E tem mais uma coisa: Se depois disso você ainda estiver decidida a destruir meu irmão... Eu não vou ajudá-la, mas tem minha palavra de que não vou tentar impedi-la ao denunciá-la.

Fiquei olhando para ele pasma. Não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Eu não entendia porque ele queria tanto assim destruir Karin. Para mim ela era uma vadia qualquer que vivia me infernizando, acabar com ela seria algo que eu faria com prazer... Sem contar, é claro, que ela parecia estar envolvida com a morte do filho de Ino. Se eu aceitasse o que ele me propunha eu poderia acabar com Karin, limpar o nome de Sarah, e recomeçar minha vida longe de todas essas malditas histórias de bruxaria. E depois poderia me vingar de Itachi sem ser impedida, o que é claro, eu aproveitaria para me vingar de Sasuke também. Afinal, ele era tão culpado quanto o irmão. Mas... Eu poderia mesmo me aliar com ele? Ele era culpado pela morte de Sarah! Mas, pensando bem... Quando ele me ofereceu um acordo para acabar com Itachi, mesmo que não tivesse rendido absolutamente nada disto, eu havia aceitado... Porque eu hesitava tanto agora?

– Tudo bem. – eu disse por fim. – Eu aceito.

– Bem, neste caso eu já vou indo, então. Espere eu fazer contato. Não quero que suspeitem de nós. Para todos os efeitos nós nos odiamos. O que, bem, não é uma mentia completa. – disse ele. Enquanto ele abria a porta para ir embora algo se agitou dentro de mim. A lembrança de Mikoto também acabara me trazendo lembranças de uma época em que eu era amiga de Sasuke e Itachi. Talvez até apaixonada pelo Uchiha mais novo... Incapaz de me segurar, eu o chamei

– Sasuke?

– O que é?

Olhei bem findo nos olhos dele, olhos de um negro tão profundo... E finalmente falei:

– Quando foi que as coisas mudaram tanto?

Ele ficou me encarando. Seus olhos fixos nos meus. Pela primeira vez em muito tempo eu poderia jurar ter visto um misto de dor e amor em seus olhos. Mas afastei depressa estes pensamentos. Ele era o assassino de minha irmã. Nada de se distrair com amizades e... Amores passados.

– Eu não sei Sakura. Realmente não sei. – então ele se foi, deixando a porta bater atrás de si, enquanto para minha surpresa eu senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto.